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Se exercitar é terapêutico, mas talvez você precise de terapia
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Redatora de Capa e Farol do O POVO. Quadrinista e jornalista entusiasta de temas relacionados à saúde e bem-estar. Uma ex-sedentária em busca de se manter em movimento

Se exercitar é terapêutico, mas talvez você precise de terapia

Práticas esportivas comprovadamente fazem bem para a saúde mental, mas há casos em que os cuidados precisam ir além
Exercícios físicos são aliados na manutenção da saúde mental (Foto: Adobe Stock)
Foto: Adobe Stock Exercícios físicos são aliados na manutenção da saúde mental

“É para manter minha sanidade”. Essa frase ou variações mais jocosas dela, a depender do interlocutor, têm sido repetidas por mim há mais de dois anos, desde que decidi mudar hábitos alimentares e, principalmente, deixar o sedentarismo em uma página virada da vida. Claro que os elogios vêm quase sempre relacionados ao que as pessoas veem, acompanhados de algo como “você é muito determinada”. A força propulsora dessas mudanças, no entanto, veio num dia qualquer em que, às 5 horas da manhã, vi os primeiros sinais de uma crise de ansiedade se aproximarem.

Peguei um par de tênis velhos, de tentativas passadas de ir para academia, vesti uma roupa do meu namorado, que era o que me cabia naquele momento, e fui andar na avenida perto de casa. Voltei, uma hora depois, suada, sem o solado do calçado, mas com a ansiedade afastada, pelo menos por algum tempo. Nos dias seguintes, fui pegando gosto no novo hábito e variando as atividades ao meu dispor. Quando criei coragem, um ano depois, iniciei no crossfit e na musculação.

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As atividades passaram a ser um respiro no meio do dia, as horas em que eu fazia algo por mim, o tempo que eu ia para ouvir música ou diminuir a cadência dos meus pensamentos. Foi a estratégia que achei para tornar os episódios de ansiedade mais espaçados e menos avassaladores. Não foi a minha primeira tentativa de aderir a uma atividade física rotineira, mas foi a primeira vez que fiz pelo motivo certo: a minha saúde, principalmente a mental.

Não à toa, manter uma rotina de exercícios está entre as principais recomendações de psicólogos e psiquiatras. Pontuando sobre a liberação de hormônios responsáveis pelo bem-estar, como a endorfina e a serotonina, a psicóloga Bárbara Mendes Dodt Cetira, coordenadora da Comissão de Psicologia do Esporte do Conselho Regional de Psicologia 11ª Região (CRP11), indica que o exercício apropriado resulta em reduções em vários indicadores de estresse, como tensão neuromuscular, frequência cardíaca em repouso e alguns hormônios do estresse.

“A atual opinião clínica diz que o exercício físico tem efeitos emocionais benéficos em todas as idades e sexos”, reforça, citando ainda literatura científica que estabelece a relação entre exercício físico e a redução da ansiedade e da depressão, bem como com o aumento de sensações de bem-estar geral.

Vivo isso empiricamente e digo, sem medo de parecer exagerada, que o esporte me salvou. E não apenas isso: me apresentou uma nova pessoa em mim mesmo por quem eu tenho muito mais apreço e admiração. Ainda assim, a ansiedade ainda me acompanha e espera momentos vulneráveis para se mostrar. Vi, então, que, mesmo todas as minhas estratégias e doses de endorfina diárias não eram suficientes e busquei ajuda especializada.

Dodt pondera que nem toda pessoa diagnosticada vai precisar de auxílio psicológico ou medicamentoso, como foi o meu caso. Mas há quem precise e negligencie a saúde mental ao ponto de nem mesmo investigar um possível diagnóstico. Aposta todas as fichas em uma prática esportiva, como uma tábua de salvação. Sem o tratamento convencional devido, o exercício se torna mais uma compulsão, ou mesmo motivo de competição ou comparação, muitas vezes alimentadas pelas redes sociais, e, em consequência, de ansiedade.

Por isso, a psicóloga alerta que a “prática corporal é uma ferramenta que, associada à psicoterapia e outros acompanhamentos interdisciplinares ou multidisciplinares, pode trazer inúmeros benefícios, porém não exclui o auxílio medicamentoso nos casos com recomendação médica para tal. Dentre os prejuízos que podem acometer este indivíduo está a perda de autonomia, perda de aptidão para trabalhar e dificuldade de socialização”, pontua.

A psicóloga ensina: não se compare, questione suas motivações e observe a sua relação com a atividade física. E, sim, movimentar o corpo é terapêutico, mas talvez você precise também de terapia.

Foto do Domitila Andrade

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