Logo O POVO+
Surfar e a coragem de ser ruim em algo novo
Foto de Domitila Andrade
clique para exibir bio do colunista

Redatora de Capa e Farol do O POVO. Quadrinista e jornalista entusiasta de temas relacionados à saúde e bem-estar. Uma ex-sedentária em busca de se manter em movimento

Surfar e a coragem de ser ruim em algo novo

Contato com a natureza, caráter terapêutico, força e equilíbrio são alguns dos fatores que podem te convencer a pegar onda
COLUNISTA Domitila Andrade testa aulas de surfe no Titanzinho  (Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR COLUNISTA Domitila Andrade testa aulas de surfe no Titanzinho

Eu sempre fui medrosa. Isso porque eu penso muito. Não existe decisão que eu tome sem que antes eu não antecipe todas as possibilidades do que pode dar errado. E foi assim que, ao longo dos anos, fui deixando passar algumas coisas por pensar: “e se não der certo?”. Mas esta vida em movimento que eu inventei de viver, como um lembrete de Guimarães Rosa, tem requerido de mim coragem. Nem que seja a coragem de me permitir ser ruim em algo novo. Foi então, munida dessa intrepidez novinha em folha e não muito mais do que isso, que me meti com uma prancha nas ondas do Titanzinho.

Não havia um grama sequer no meu corpo de pretensão de ser boa tentando surfar. Ainda bem. Eram 5h da manhã, porque no surfe quem escolhe a hora da aula é a maré, o sono ainda entupia todos os meus poros, e o Eduardo Lima, o professor que me guiou, me passava as instruções em terra firme, numa prancha imaginária desenhada na areia molhada. Levanta o tronco, puxa o pé esquerdo, e depois o direito entre as mãos, mantém os calcanhares na prancha, agacha, mas não muito, e coloca os braços como guia e suporte.

“Busca teu equilíbrio”, ele disse logo para mim, que, com pezinhos 35, custo a andar pela vida sem tropeços, ainda mais tendo toda uma gama de novos movimentos para coordenar. Mas, é uma máxima que tenho percebido em todas as modalidades que experimento: tudo é novo para um corpo que está aprendendo, por isso, seja gentil e dê tempo a ele.

Professor de surfe e surfista Eduardo Lima(Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Professor de surfe e surfista Eduardo Lima

O mar bravo, a maré cheia e as pedras logo ali à direita, quase me fizeram desistir. Cria do Interior, água grande, para mim, é rio. Mar ainda me remexe. Mas é no raso, tem o Dudu, e o máximo que pode acontecer, bem, é cair. E, ainda bem, que eu tinha isso em mente, porque se teve uma coisa que eu fiz nas aulas de surfe foi cair. De novo e de novo. E bate o bumbum no chão, e engole água e sente arder os olhos desacostumados do sal. Mas também é um respiro quando vê o alvorecer entre as espumas das ondas quebrando na prancha e o colorido da orla bonita do Serviluz.

LEIA MAIS | O que vai te fazer começar?

O contato com a natureza e o ambiente é, para o profissional de Educação Física Lino Délcio Gonçalves, um dos fatores que podem ajudar na adesão à prática do surfe.

Profissional de Educação Física Lino Délcio Gonçalves (Foto: João Paulo Moliterni/ divulgação)
Foto: João Paulo Moliterni/ divulgação Profissional de Educação Física Lino Délcio Gonçalves

“A gente tem um conceito na literatura científica que é o Green Exercise, o exercício verde, que é aquele exercício que você faz em contato com a natureza, em ambientes livres, em que você sente mais prazer em realizar. Então, partindo daí, já seria o surfe uma atividade que entra dentro desse conceito e que facilmente você teria aderência. Fora que é um esporte que estimula diversos grupos musculares, traz diversos benefícios, você trabalha força, equilíbrio e a parte cardiorrespiratória”, pontua.

Além dos benefícios para o corpo, Dudu me conta que nenhuma experiência no mar é igual a outra e que, por isso, cada nova prática traz novas motivações. “É uma evolução e é também uma terapia. Quem surfa, esquece um pouco de tudo, pega as ondas e relaxa. Você entra no mar e sai com outra energia”, conta.

Foi justamente essa energia que conquistou a advogada Nara Marques, 36. Nara foi quem me puxou pela mão e me levou para surfar, assim como fizeram com ela há três anos. Era pós-pandemia e ela buscava algo que a ajudasse nas crises de ansiedade. E encontrou isso no surfe. “Eu não pensava em nada, só pensava naquilo. Foi isso que me fez ficar no surfe, porque eu me desligava do que estava acontecendo fora, só me preocupava em pegar minha onda, em ficar em pé. O surfe não é uma atividade física só para o corpo. Acho que ajuda muito a cabeça da gente, porque o surfe preenche a alma”, confia.

Surfar ou tentar surfar, que é o meu caso, é aprender entre as ondas a ter a resiliência necessária para levantar. De novo e de novo. Até achar aquele “cai da prancha, sobe na prancha” em looping divertido. E fica. Ainda mais quando, por ventura, o corpo segue todas as instruções e você ganha de recompensa alguns segundos deslizando no mar. É um estalo, uma conexão. Pode ter quem for por perto, mas você só escuta o chiado das ondas e o teu coração batendo nas costelas. Pelo menos, até cair de novo. Mas eu te garanto: ter coragem é sal!

Nara Marques, 36, advogada e surfista(Foto: Davi Fernandes/ Divulgação)
Foto: Davi Fernandes/ Divulgação Nara Marques, 36, advogada e surfista

Colunista de Esportes do O POVO Domitila Andrade testa aulas de surfe no Titanzinho (Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR Colunista de Esportes do O POVO Domitila Andrade testa aulas de surfe no Titanzinho

 

Foto do Domitila Andrade

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?