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Democracia da briga, da latrina e da covardia
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Democracia da briga, da latrina e da covardia

A democracia está sob ataque e há uma parcela da culpa por isso que nos cabe de maneira direta
Tipo Análise
0906gualter.jpg (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 0906gualter.jpg

Fechamos uma semana péssima para a política, a partir do conjunto de maus exemplos que o parlamento, em várias instâncias, deixou marcado pelos últimos dias. Um contexto que nos exige ligar fatos que até não parecem ter relação entre si, dada a característica de cada um, mas, na verdade, integram um mesmo problema, relacionado à péssima qualidade dos políticos que o eleitor tem escolhido ultimamente. Ou seja, a democracia está sob ataque e há uma parcela da culpa por isso que nos cabe de maneira direta.

Quais episódios preocupantes da semana devemos relacionar entre eles, então, mesmo que pareçam distantes um do outro? Entendo que fazem parte de um mesmo problema, com a mesmas causas, a bagunça no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados que acabou numa baixaria generalizada e quase agressão física entre parlamentares; o vereador flagrado sentado no vaso sanitário, em plena atividade, quando participava de uma sessão dos debates do legislativo do Rio de Janeiro; e os deputados do Paraná largando às pressas a sede física da Assembleia estadual e optando por uma questionável sessão remota como forma de fugir de manifestantes que lotavam as galerias em protesto contra projeto polêmico ligado ao tema da educação que seria votado ali.

Estamos diante de uma das piores gerações de políticos da história. Do Brasil com alto grau de certeza, havendo razões para se acreditar que o ambiente global esteja igualmente ocupado por representantes de muito baixa qualidade. No entanto, voltando ao problema que nos diz respeito e nasce das escolhas ruins que fazemos, a ideia de democracia termina por ser atacada diante de um contexto no qual representantes agem diariamente como autênticos moleques (com todo respeito à boa molecagem) e que não têm ideia do papel representativo, no sentido de exemplar, que lhes é conferido pelos mandatos que exercem.

Deputados federais da bancada cearense ouvidos nos últimos dias para uma análise do cenário afirmam vir recebendo recados do presidente da mesa, Artur Lira (PP-AL), segundo os quais também para ele o limite bateu. Alguns em posição de liderança, inclusive, foram contactados para antecipar a volta a Brasília na perspectiva de uma reunião ainda neste domingo para a definição e anúncio de um conjunto de medidas duras que visariam dar um freio na turma sem freio. A expectativa é de que, no limite legal do que é permitido ao comando da Câmara, apareçam as primeiras punições.

Desde o começo do novo período político do País, com a virada de chave determinada pelo resultado eleitoral de 2022, o ambiente parece dominado por gente que faz da ação pública um espetáculo permanente com foco nas redes sociais e que possibilite engajamento, visualização, viralização ou qualquer desses termos novos que a comunicação absorveu em seu dicionário básico. Espera-se que a resposta chegue ainda a tempo de reverter o quadro.

Leia editorial do O POVO sobre o assunto: Congresso Nacional: é preciso pôr ordem na casa

Não é questão de ser de esquerda ou de direita, muito embora a maior parte dos maus exemplos de hoje estejam mesmo situados neste último campo. Ter compromisso real com a democracia, no contexto difícil em que nos encontramos, necessariamente significa contribuir para o restabelecimento de um ambiente civilizado na briga legítima de todo dia pelo controle político do poder ou convencimento da opinião pública. Um jogo que exige regras para ser bem jogado e uma delas determina que haja disposição para conviver com o contrário e respeitar o diferente. Não é o que tem prevalecido.

O apelo da força

O novo discurso do governador Elmano de Freitas (PT) em relação à segurança pública, inaugurado quando da posse do Roberto Sá, andou assustado vozes do chamado mundo progressista, gente ligada à base aliada, até do seu próprio partido. A história do "bandido será tratado como bandido", de "caçar e prender" etc, além do aspecto em que coloca em xeque o tratamento que até então era dispensado, pode não passar uma ideia correta acerca das prioridades do novo secretário e sua equipe. Nesse clima de enfrentamento, por exemplo, qual a atenção que se dará às ações de inteligência? Um especialista no assunto, ligado à esquerda, destaca para coluna que o assunto até foi tratado na mesma fala com o anúncio de um comitê estratégico multidisciplinar, com outros poderes envolvidos inclusive, mas acabou ignorado pelo apelo popular da linha mais dura adotado na ocasião.

Os guardas da esquina

Da mesma forma que pedetistas históricos expressaram à coluna, nos últimos dias, grande incômodo com a postura do prefeito e correligionário José Sarto em relação à crise no setor, na mesma linha da aposta no confronto, anunciando que vai armar a Guarda Municipal para suprir em Fortaleza uma deficiência da política estadual de segurança pública. Além de contrariar uma postura partidária, que sempre foi de compreender o problema a partir de suas nuances sociais, colocando a ideia de combate frontal numa linha sempre de alternativa, teme-se que o treinamento insuficiente e apressado gere ações abusivas, e até erros, dos agentes ligados ao município pelas quais o gestor pode acabar responsabilizado. Isso acontecendo, a conta pode ser cobrada ao candidato.

Izolda e a paz de volta, parece

Clima de muito alívio no PT com o encaminhamento de um desfecho feliz para a novela de Sobral, mantendo-se a aliança de vários anos e eleições com o grupo dos Ferreira Gomes. Hoje, com a parte relacionada aos irmãos Cid e Ivo. A tendência é de que o partido indique o nome para ser vice na chapa que deverá ter o comando de Izolda Cela na disputa pela prefeitura do município. A paz foi praticamente confirmada com a decisão agora de Ivo Gomes de passar o comando à sua vice Cristiane Coelho, que é petista, após longo tempo ignorando-a nas situações em que precisava se afastar. Ele teria feito uma autocrítica, inclusive, e o diálogo se restabeleceu.

O Ceará tem um plano

É impossível pensar uma estratégia de longo prazo sem um planejamento que indique as metas a serem buscadas, o prazo adequado e os caminhos necessários para alcançá-las. Resumidamente, a plataforma colaborativa Ceará 2050 contempla tudo isso numa perspectiva de 30 anos, considerando diagnóstico que identifica ponto de partida, entraves e potencialidades. Um trabalho necessário ao Estado - realizado durante a gestão Camilo Santana em parceria com a Universidade Federal do Ceará - hoje seu guardião -, que definiu 20 eixos principais no horizonte de tempo proposto e com ações de atualização previstas ao longo da caminhada. O Grupo de Comunicação O POVO decidiu tornar-se signatário do documento, decisão que a presidente Luciana Dummar oficializa na próxima quarta-feira, dia 12, em evento na sede da avenida Aguanambi, 282, junto com o reitor da UFC, Custódio Almeida, parceira do governo na iniciativa, e outras autoridades.

Novo "comunista" na praça

Na base do fogo amigo, adversários do Capitão Wagner, pela direita, fazem circular nas redes sociais vídeo no qual ele, de olho nos eleitores de Luizianne Lins - preterida pelo PT -, atribui o quadro crítico da segurança pública em Fortaleza à "desigualdade social". O material, distribuído pela turma que prega a violência de Estado como melhor jeito de combater a violência das ruas, funcionaria como uma espécie de "denúncia" contra o pré-candidato do União Brasil, que estaria abraçando um "velho discurso da esquerda blá blá blá". Os termos direcionados ao ex-aliado, em conteúdos que chegam às pessoas via whatsapp, são duros, pesados e indicam a dificuldade nova que ele terá no projeto eleitoral de 2024. Sua estratégia de defesa exigirá argumentos novos em relação a uma parte dos ataques.

Muito barulho, pouco efeito

O PT tem medido a temperatura dos ataques de Ciro Gomes a lideranças do partido, em especial, no caso cearense, ao ministro da Educação (e ex-governador) Camilo Santana. Está claro que ele será, pelo peso político que demonstrou na disputa de 2022, um dos alvos preferenciais de quem quiser atingir os candidatos do partido nas disputas estratégicas, o que justifica a insistente disposição do ex-presidenciável pedetista em atacá-lo, com golpes baixos em muitas das situações. Claro que um dos objetivos já definidos é causar prejuízo à caminhada de Evandro Leitão em Fortaleza. Pois bem, fonte que viu uma pesquisa recente abre um sorriso ao informar que apenas 2% das pessoas ouvidas nela tinham ouvido falar nos ataques recentes, abaixo da linha de cintura alguns deles, que Ciro andou lançando contra Camilo.

 


 

Foto do Guálter George

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