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Os limites nos passos do PT e do PSD
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Os limites nos passos do PT e do PSD

Após o resultado das urnas, tiveram início imediato as conversas em torno da sucessão dos comandos da Câmara de Vereadores e da Assembleia Legislativa.
0311gualter.jpg (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 0311gualter.jpg

A temperatura eleitoral ainda nem baixou para muita gente. No entanto, o fim da briga pela prefeitura de Fortaleza funcionou meio como uma senha, considerado o resultado, para o começo imediato das conversas em torno da sucessão dos comandos da Câmara de Vereadores e da Assembleia Legislativa. Este último caso em processo um pouco mais acelerado devido à necessidade de Evandro Leitão (PT) renunciar ao mandato atual de deputado ainda em dezembro para assumir em 1º de janeiro o cargo para o qual acaba de ser eleito. Seu desejo é de trocar de posto deixando as coisas bem encaminhadas quanto à própria sucessão.

Evandro Leitão (PT) no momento está ausente das discussões, buscando se recuperar de uma fase muito desgastante, que nas suas contas corresponde aos últimos 10 meses, desde quando entrou no PT já articulando indicação para uma candidatura em Fortaleza. Apesar disso, porém, as conversas seguem seu fluxo normal, nas duas Casas, já existindo algumas pré-conclusões importantes, sendo a principal delas a exclusão de nomes petistas da lista de prováveis indicados.

Uma declaração do influente deputado federal petista José Guimarães, outro dia, em plena campanha, assustou um pouco gente da base aliada, de outros partidos. O que ele sugeria, ali, era que o nome de Fernando Santana, derrotado na disputa pela prefeitura de Juazeiro do Norte, deveria ser considerado como opção para presidência da Assembleia Legislativa, inclusive pelo fato de ser hoje o 1º vice-presidente. A fala trouxe de volta o fantasma, e a crítica, de uma alegada busca petista pelo "hegemonismo". Pegou mal e, experiente, Guimarães abandonou logo a ideia, não voltou a considerá-la para não agitar o ambiente de unidade que Evandro Leitão precisava para a dura caminhada final rumo ao Paço Municipal. Nesse sentido a coisa aparenta calma.

Certo mesmo é que o nome sairá da base e a pressão é crescente para que a escolha recaia sobre alguém do PSB, o partido de Cid Gomes. Presidente da executiva municipal, Osmar de Sá Ponte não usa meias palavras para exigir a vaga, destacando que a sigla ficou de fora da partilha na chapa fortalezense. Além de ser a maior bancada, argumenta-se com os resultados da eleição municipal e os 64 prefeitos vitoriosos. Nomes? Osmar Baquit, Salmito Filho, Guilherme Landim e Sérgio Aguiar estão à disposição.

Acontece que mesmo sem o PT apresentando sugestões, há outras alternativas com seus times em campo. Zezinho Albuquerque, do PP, com o peso de quem ocupou o cargo e que segue influente internamente, é o mais notório deles. Mandou o recado de que está disponível para a tarefa, caso escolhido.

O quadro na Câmara parece semelhante e o horizonte abriu-se com a perda de espaço do atual presidente Gardel Rolim (PDT), que seria a escolha natural em caso de vitória de André Fernandes (PL), que ele apoiou no segundo turno. Nesse caso, Leitão teria um nome de preferência pessoal: Eudes Bringel (PSD). Um aliado de sempre, que veio com ele desde os tempos de Ceará Sporting, mas que perde força pelo aspecto da vinculação partidária, considerando ser a mesma sigla que indicou a vice, Gabriela Aguiar, o que torna quase impossível a ocupação de duas vagas de destaque dentro de uma aliança tão larga.

A escolha a ser feita não pode (nem vai) atender somente ao desejo pessoal do futuro prefeito. Será uma operação complexa, para ele, chegar a uma solução final que compatibilize todos os interesses sem deixar feridos pelo caminho. Até em função do "grito" que já deu Osmar de Sá Ponte, em nome do PSB, a aposta mais lógica de hoje seria no nome do reeleito Leo Couto, mas isso precisaria ser bem discutido com outros interessados na cadeira, valendo citar Ronaldo Martins (Republicanos) e Adail Júnior, pedetista que não titubeou em anunciar apoio a Evandro Leitão ainda enquanto seu partido decidia o que fazer no segundo turno.

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Quem ganhou, além de Evandro

Uma fonte do Palácio da Abolição confirma algo que parece perceptível como um dos saldos principais do processo eleitoral recém-findo: cresceu muito ali o respeito pela vice-governadora Jade Romero (MDB), diante do seu comportamento aguerrido na reta final do segundo turno em defesa da candidatura de Evandro Leitão na disputa de Fortaleza. Há quem considere, inclusive, que o fato de ser uma mulher se contrapondo de maneira clara a André Fernandes ajudou a dificultar o esforço dele de reduzir a rejeição da maioria do eleitorado feminino captado pelas pesquisas.

Para onde vai Catanho

Entre as coisas certas do pós-eleitoral está a reacomodação de Valdemir Catanho nas estruturas petistas de poder, agora ampliadas com a conquista da potente máquina administrativa de Fortaleza. Uma corrente defendia que o melhor seria reacomodá-lo no Abolição, de onde saiu para a inédita aventura eleitoral em Caucaia, mas começa a ganhar corpo a ideia de aproveitar sua experiência de oito anos da gestão Luizianne Lins para ajudar na articulação com a Câmara de Vereadores. Claro que a palavra final sobre isso será do prefeito eleito Evandro Leitão.

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A explicação mais fácil

O recado parte do Sargento Reginauro, deputado estadual e um dos nomes mais próximos ao Capitão Wagner dentro do União Brasil: a derrota em 2024 foi dolorida, mas não o tira do jogo. Uma primeira avaliação sobre o que aconteceu em Fortaleza, deixando-o fora até do segundo turno, concluiu que foi resultado da tal polarização que divide o mundo (e a política) entre petistas e bolsonaristas. É uma forma meio rasa de interpretar o mau resultado e não parece abrir brecha para identificar os erros que a própria campanha pode ter cometido. Como a próxima empreitada eleitoral será apenas daqui a dois anos há tempo de sobra para uma reflexão melhor dentro do grupo na perspectiva de localizar as causas reais e criar soluções prévias para que não se repitam.

Por que fomos às urnas

Gente da justiça eleitoral do Ceará queixa-se, até com alguma razão, do pouco destaque que está sendo dado ao fato de termos registrado em Fortaleza a menor abstenção dentre as 51 cidades nas quais houve segundo turno no dia 27 de outubro último. Apenas 15,% contra 29,2% da média nacional. Vale elogio porque algo deve ter sido feito, em termos de chamamento, estímulo etc, mas, no final das contas, o que realmente estimulou o eleitor foi a disputa quase voto a voto pela vitória. A maioria das pesquisas apontava isso e a apuração confirmou.

De prefeito(a) para prefeito(a)

O Tribunal de Contas do Estado (TCE) atualiza, para coluna, seus números do processo de transição nos municípios cearenses: são, até agora, de 93 nos quais houve mudança de gestão ou de prefeito, 60 com transição formalizada. Uma parte pequena deles, 15, com os trabalhos já em plena execução e encaminhando uma passagem de governo sem sobressaltos maiores. O balanço final será feito dia 16 próximo, quando terá sido encerrado o prazo para definição das regras de transição, mas, de início, entende-se os números disponíveis como aceitáveis.

O case goiano é fake

É inacreditável, mas o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), recebeu muitos elogios, à direita, por sua participação na reunião organizada pelo presidente Lula no Palácio do Planalto para discutir a necessidade de uma articulação nacional na política de segurança pública. Para lembrar: ele se anunciou contra alguns pontos das medidas inicialmente sugeridas pelo Governo Federal alegando que em seu estado o problema (da segurança pública) tinha sido resolvido. Meu Deus do do céu! Uma mentira logo desmentida através dos vários vídeos que circularam depois da tal declaração, com exemplos de trapalhadas e erros da polícia goiana, expondo um despreparo que chega a doer. Voltando ao ponto inicial, pelo simples fato de ter peitado uma iniciativa de Lula que merece elogios, diferenças à parte, Caiado ganhou pontos com muita gente em seu projeto de candidatura presidencial para 2026. Não são tempos fáceis, definitivamente.

 
 
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