Logo O POVO+
Por que Fernando Santana
Foto de Guálter George
clique para exibir bio do colunista

Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Por que Fernando Santana

Ninguém melhor para argumentara do que o deputado estadual De Assis Diniz, líder do bloco liderado pelo PT na Assembleia e um dos principais articuladores do nome de Fernando Santana
1711gualter.jpg (Foto: carlus campos)
Foto: carlus campos 1711gualter.jpg

.

Pode ser uma pergunta, cabe também como uma resposta, mas, de minha parte, manifesto como uma dúvida. O governo Elmano de Freitas tem realmente convicção de que ocupar mais uma cadeira de influência no poder político cearense com um nome do PT é um passo que lhe dá tranquilidade para a confusa travessia dos dois últimos anos de gestão? Destaque-se que no meio desse tempo está incluso um processo eleitoral que certamente marcará uma tentativa de reeleição do atual governador.

O governo dispõe de uma base folgada na Assembleia e não parece vislumbrável que o desfecho imediato do que venha a ser decidido quanto à sucessão de Evandro Leitão, que segue presidente da mesa diretora até o final do ano, impacte nessa realidade. Boa parte dos deputados que se aliam ao Palácio da Abolição o fazem por "convicção" e não seria um tropeçozinho qualquer que os faria mudar de postura. Para quem não captou a ironia escondida nas aspas, falo daquela turma que é governista desde sempre, independente de quem esteja de plantão no poder, e que assim continuará.

Deputado De Assis Diniz (PT)(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Deputado De Assis Diniz (PT)

De volta à dúvida, ninguém melhor para esclarecê-la do que o deputado estadual De Assis Diniz, líder do bloco liderado pelo PT na Assembleia e um dos principais articuladores do nome de Fernando Santana. Seu temor de que isso se volte contra o governo é nenhum, fiando-se no que considera personalidade política e pessoal do escolhido, um parlamentar sem arestas, de livre trânsito, de diálogo inclusive com as vozes de oposição, enfim, disse ele à coluna, está tudo muito bem encaminhado para uma eleição pacífica e tranquila. Na ponta do lápis, adianta, já são 38 ou 39 deputados comprometidos em apoiar a indicação, caso ela venha a ser oficializada. Para que se tenha ideia, a composição total é de 46 parlamentares.

O fato é que não se trata de um chute do otimista De Assis Diniz. É verdade que Fernando Santana não encontraria resistência incontornável ao seu nome, mesmo entre parlamentares oposicionistas, mais interessados em discutir, para além da presidência, a participação na partilha geral de cargos distribuídos pela estrutura da Assembleia, tanto na mesa diretora como nas estratégicas comissões técnicas. Quem assim já se manifestou de público, para citar um exemplo importante, foi o atuante pedetista Queiroz Filho, integrante da bancada mais próxima à gestão atual de Fortaleza, em especial ao ex-prefeito Roberto Cláudio.

Quanto ao tal hegemonismo, o deputado De Assis Diniz minimiza, valendo-se de aspectos históricos que, a rigor, deveriam mais preocupar do que tranquilizar o PT. Lembra que grupos que no passado controlaram o poder do Ceará, sem nominá-los, ocupavam todos o cargos mais importantes como resultado natural de um momento de força junto ao eleitorado.

"Apenas não eram do mesmo partido", ressalta, o que me dá a oportunidade de colocar a essência do que está em debate: a questão é que caminhamos para ter sob o mesmo abrigo partidário, pelo voto direto que seja na maior parte dos casos, os comandantes do Palácio do Planalto, do Palácio da Abolição, da Assembleia Legislativa e da prefeitura de Fortaleza. Mais do que do mesmo partido, personagens 100 por cento alinhadas, situação rara ao nosso ambiente político.

É uma decisão que cabe às forças políticas, imaginando-se que os prós e contras estejam pensados de maneira conveniente por todas elas. Resta-nos tentar entender a postura, até agora, do senador Cid Ferreira Gomes (PSB), cujo grupo na Assembleia dispunha de nomes para apresentar como opção e até outro dia demonstrava otimismo com as chances de emplacar um deles. Como há outros interesses e posições em jogo, o que inclui o cenário eleitoral de 2026, aguardemos o desfecho de tudo para compreender melhor a prevalência atual de um silêncio, muitas vezes, barulhento.

A crise (anunciada) veio

Muita gente já previa dificuldade de convivência entre o prefeito eleito Oscar Rodrigues (União Brasil) e quem ele nomeou coordenador da transição pelo seu lado na passagem de poder em Sobral, o combativo ex-vereador Luciano Linhares, pedra no sapato dos Ferreira Gomes há muito tempo. Portanto, surpreendeu uma minoria a crise que eclodiu entre eles e o consequente anúncio por Linhares de que estava deixando a missão.

São duas personalidades fortes demais para a administração pacífica de uma relação entre que manda e quem obedece, parecendo até melhor que tudo tenha acontecido logo no início para os ajustes de rota serem feitos. No mais, não se acredite muito na burocrática troca de elogios e nos agradecimentos mútuos, são apenas parte de um rito.

O filho da mãe

O prefeito eleito de Orós, Simão Pedro (PSD), está no seu direito de explicar a insólita situação na qual se vê envolvido, mas dificilmente conseguirá convencer. Para lembrar, ele renunciará ao cargo logo após assumi-lo, no começo do próximo ano, deixando na cadeira a própria mãe, Teresa Cristina Pequeno (PSB), para efetivar-se como deputado estadual na vaga que será aberta por Gabriella Aguiar, sua correligionária, que será vice-prefeita de Fortaleza também a partir de 1º de janeiro.

Sua tese, questionável, é de que o eleitor sabia da possibilidade quando optou pela chapa que liderava, meio que transferindo a responsabilidade da escolha para quem é vítima dela. Do ponto de vista da gestão pode até nem ser um problema para a cidade, considerando que se trata de alguém que já administrou o município, sabe onde está pisando, portanto, mas bonita a história não é.

A articulação se move

Desenha-se aquilo que já era esperado desde quando a vitória de Evandro Leitão (PT) se confirmou na disputa em Fortaleza: independente de quem venha a ser o futuro presidente da Câmara, quem de fato representa uma extensão do pensamento do futuro prefeito no ambiente do legislativo será o vereador reeleito Eudes Bringel (PSD).

Poder real, concreto, não aquilo que às vezes acontece quando se tenta estabelecer aproximações artificializadas, o que nos impõe lançar o radar para onde o fiel aliado estejas como forma de entender melhor os movimentos políticos do futuro gestor petista. Há quem crave que há chances de a opção ser por levá-lo ao Paço Municipal para cuidar, de lá, da articulação política, o que faria muito sentido. O que precisa ver é se convém tirá-lo do dia-a-dia nem sempre previsível do cotidiano legislativo.

As oposições unidas

O encontro em Brasília do deputado federal André Fernandes com o ex-presidente Jair Bolsonaro meio que oficializa o primeiro ato das oposições no Ceará com vistas a 2026. Há sinais apenas, alguns deles ainda confusos, de como a figura forte do ex-prefeito Roberto Cláudio pode ser absorvida no novo contexto, mesmo que o clima seja, no bolsonarismo, de muito respeito a ele pela forma como entrou na campanha do 2º turno do PL em Fortaleza.

Havia uma expectativa de que se conseguiria uma manifestação de apoio a André Fernandes, mas o (ainda) pedetista entrou de verdade na briga, gravou programa, esteve em vários atos, participou de adesivaço etc. Ou seja, gente de influência no grupo de direita e extrema direita entende que o caminho ficou aberto para uma boa conversa mais adiante, considerado o "inimigo" comum que os une: o PT e aliados que hoje controlam a política no Ceará.

SEQUÊNCIA de explosões na Praça dos Três Poderes fez o local ser isolado pela Polícia Militar(Foto: Wilton Junior/ESTADÃO CONTEÚDO)
Foto: Wilton Junior/ESTADÃO CONTEÚDO SEQUÊNCIA de explosões na Praça dos Três Poderes fez o local ser isolado pela Polícia Militar

 

 

Quem pode parar os extremistas

O militante extremista que se explodiu diante do Supremo Tribunal Federal (STF) era muito mais do que uma pessoa com problemas mentais disposta a qualquer coisa para expressar uma indignação quase incontrolável e direcionada ao poder que parecia tentar atacar ao tirar sua própria vida, além do foco destacado do seu ódio na figura do ministro Alexandre de Moraes. Pensar assim é simplificar uma situação muito preocupante que somente conseguiremos superar dando-lhe o peso grave que apresenta.

Jair Bolsonaro, com o símbolo institucional que carrega pela condição de ex-presidente da República, precisa se sentir um pouco responsável por figuras como Francisco Wanderley Luiz, o personagem em questão, o lobo solitário da vez. Ao contrário, ei-lo mantendo-se no mesmo script ao correr às redes sociais, sob pretexto de lamentar o caso, para sugerir que cabe ao STF e seus ministros a tarefa de acalmar as coisas. Não, não cabe.

A pessoa que se explodiu aos olhos de todos nós alimentava-se de um discurso que tem no próprio Bolsonaro seu principal expoente. Nesse caso, no sentido literal, como demonstra uma fala dele recuperada nos últimos dias, de quando ainda era presidente da República, no momento exato em que se lançava à reeleição no ano de 2022, na qual se fazia uma incitação direta e objetiva ao público sugerindo inclusive, por duas vezes, que repetissem os termos que ali proferia: "Eu juro dar minha vida pela minha liberdade". O grave é que ele foi atendido na ocasião e elogiou aquilo que definiu como "seu exército".

É muito possível que o senhor Francisco Wanderley Luiz não estivesse presente àquele evento político e que não tenha participado do coral assustador que fez a alegra de Bolsonaro. Porém, o que ele materializaria nesta noite de 14 de novembro de 2024 tem a muito a ver com um espírito de extremismo e violência política que segue circulando entre nós e que cabe aos ministros e ao STF, ao contrário do que tem sido sugerido, combater de forma implacável. O que pode acalmar de verdade essas pessoas, tirando-as da mira das autoridades, é uma palavra serena e realmente pacificadora de quem as lidera, coisa que até hoje não tiveram.

 

 

Foto do Guálter George

A política do Ceará e do Brasil como ela é. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?