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Ciro Gomes e a armadilha da oposição
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

Ciro Gomes e a armadilha da oposição

A opção do nome de Ciro Gomes como única da oposição disponível no Ceará leva ao esvaziamento de alternativas que poderiam, eventualmente, liderar o palanque
Tipo Análise
A movimentada semana política com a filiação de Ciro Gomes ao PSDB (Foto: Ilustração Carlus Campos)
Foto: Ilustração Carlus Campos A movimentada semana política com a filiação de Ciro Gomes ao PSDB

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O oba-oba em torno do nome de Ciro Gomes pode estar criando uma armadilha para ele e para o bloco de oposição ao qual está integrado em sua nova fase política. O clima de unanimidade que envolve sua desejada candidatura faz crer que se trata da única opção disponível, meio que eclipsando outras alternativas existentes para liderar um palanque que reúna as forças políticas representadas naquele ato de quarta-feira que marcou o festejado retorno dele ao PSDB.

É uma situação ruim para figuras como Roberto Cláudio e Capitão Wagner, para citar dois exemplos que se destacam. O ex-prefeito de Fortaleza, em especial, gestor público já testado no plano do executivo, aprovado nas duas experiências que comandou, e que se movimenta com a perspectiva preferencial de ser candidato ao governo. De volta ao evento tucano da última quarta, alguém viu RC por lá? Pergunta retórica, claro, porque todos sabemos que ele estava presente, foi um dos oradores, inclusive um dos mais entusiasmados, etc etc.

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Foto: carlus campos 2610gualter.jpg

Há pouca dúvida de que RC ou o próprio Wagner, este com a desvantagem de não ter experiência vivida à frente de uma gestão para oferecer à análise, parecem dotados de capacidade política para a liderança de um projeto que reúna o conjunto das oposições - estrutura de apoio que lhes faltou em 2022. A postura de sugerir, até dizer em alguns casos, que "é Ciro ou nada", ofusca além da conta a força dos que ocupam uma linha alternativa no debate sobre candidaturas no próximo ano. Por esse campo. 

Até entendo que não seja algo deliberado, mas vai acumulando situações que, na soma, fragilizam quem não merece ser fragilizado em função da simpatia maior por outro nome. Há quem lembre, até hoje, do constrangimento que representou o fato de a festa de aniversário alegadamente organizada para RC em propriedade do deputado estadual Felipe Mota (União Brasil), em agosto último, ter-se transformado em palco para Ciro Gomes, que ali estava como convidado, brilhar. O homenageado foi notado de forma muito discreta, como balanço final dos efeitos políticos daquele acontecimento.

Aliás, o próprio Felipe Mota, que lidera o bloco de oposição na Assembleia, tem exposto uma linha de pensamento que sugere só haver um nome viável na oposição para uma disputa pelo governo. "Sem o Ciro", diz ele, "o governador Elmano de Freitas será facilmente reeleito". Se é fato que o neotucano (de segunda temporada) apresenta-se hoje como a opção mais competitiva, parece injusto com as demais dizer que sem ele à frente da aliança a vaca terá ido antecipadamente para o brejo.

O próprio Ciro, que tem oferecido sinais mais recentes de que pode mesmo assumir o desafio de uma candidatura no Ceará, diz que Roberto Cláudio seria seu nome preferencial. Voltou a falar sobre isso na quarta, em meio a citações bem humoradas sobre a vantagem que representa o fato de o ex-prefeito fortalezense ser muito mais novo, numa fala que talvez devesse ser ouvida com mais atenção pelo conjunto da aliança. Extraídas as gracinhas. 

A dependência que se está criando de apenas um nome pode, mais adiante, acabar sendo danosa ao esforço de juntar todas as oposições locais numa só frente. Esta união, por si, já teria consistência política e eleitoral bastante para gerar uma candidatura forte e capaz de fazer balançar o grupo que hoje detém o poder. O ato da semana passada foi barulhento, deixou um bom saldo, mas terá valido pouco, na perspectiva de quem está de olho, de verdade, no governo do Ceará, se apenas Ciro Gomes houver saído dele mais forte.

Girão e o prefeito do PT

Uma das ausências destacadas na festa oposicionista da semana, o senador Eduardo Girão (Novo) segue sua trajetória para se viabilizar como candidato ao governo independente dos apoios que venha a receber. Um dos argumentos que utiliza é, no mandato, a capacidade que estaria tendo de tratar as questões sem olhar para ideologias ou partidarismos.

É o que diz fazer com os recursos disponíveis de emendas parlamentares, em valores que acumulariam desde sua posse, no começo de 2019, aproximadamente R$ 330 milhões. Atitude que garante ter reconhecimento até de prefeitos do PT, citando Francisco Salomão, de Monsenhor Tabosa, que, de fato, recentemente o agradeceu de público por verba de R$ 1 milhão que viabilizou para o município. É chato registrar isso como uma qualidade, quando deveria ser uma obrigação, mas, infelizmente, a realidade se impõe.

Foi apenas um sinal

O prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra (Podemos), andou animando muita gente na oposição com sua resposta evasiva a uma pergunta sobre a ideia de ser candidato a vice-governador numa chapa liderada por Ciro Gomes. "Quero terminar meu mandato atual", afirmou, "mas não digo que dessa água não beberei".

Liderança do Interior, de uma região forte e influente, largamente aprovado numa população que tem dificuldade de lidar com quem elege, ele é visto como político de perfil ideal para o posto na chapa. Uma coisa é certa: a resposta gerou esperança, mas Glêdson não sai de onde está para uma aventura.

Pacobhayba, um "Grande Nome"

A nova temporada da série "Grandes Nomes - Grandes Entrevistas" começa bem nessa segunda-feira, dia 27, ouvindo a presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), a cearense Fernanda Pacobahyba. Ela chegou ao cargo no MEC junto com o ministro Camilo Santana, de quem já tinha sido secretária da Fazenda, e desde então atua como uma das estrelas na equipe do conterrâneo.

Vale destacar que em 183 anos de história da Sefaz, foi a primeira mulher (e ainda única até hoje) a sentar na cadeira destinada a quem comanda a secretaria. A série "Grandes Nomes" vai ao ar de 27 a 31 de outubro, com entrevistas de uma hora de duração que serão transmitidas, a partir das 16h, pelas redes sociais do O POVO, pela Rádio O POVO CBN (FM 95.5) e no Canal FDR (48.1) na TV.

A posição é do secretário

O governador Elmano de Freitas (PT) certamente está alinhado com o pensamento da gestão petista de Luiz Inácio Lula da Silva no debate sobre a categorização das facções criminosas brasileiras como organizações terroristas. Ou seja, rejeita a proposta, que tem nos segmentos de direita os principais fiadores e, por exemplo, é defendida (até cobrada) pelo governo de Donald Trump, dos Estados Unidos.

Eis que o secretário de Administração Penitenciária do Ceará, Mauro Albuquerque, vai às redes sociais para se dizer favorável a uma mudança nas leis alegando, por exemplo, que a pichação de muros nas cidades brasileiras é parte da estratégia criminosa de fazer "terror psicológico". Seria bom o governo buscar um alinhamento oficial sobre a questão, que é séria demais para comportar voluntarismos.

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Política na horizontal

Javier Milei enfrenta hoje seu teste mais forte desde a posse, com a eleição que renovará parte do parlamento e, na verdade, definirá os próximos anos do seu governo. As pesquisas indicam chances maiores de derrota do governismo, em meio a uma crise econômica que não dá trégua. O clima é de crise e, durante a semana, dois ministros entregaram seus cargos

Antonio Gregório, secretário de Administração e Planejamento de Várzea Alegre, foi afastado do cargo depois de agredir, a socos e pontapés, o vereador de oposição Michel Martins, do PSB. Coisa feia mesmo, durante uma reunião, intermediada pelo vereador, que buscava algum acordo entre a gestão e o sindicato dos servidores. Acertou o prefeito Flávio Silvino (MDB) ao determinar o afastamento.

Leo Suricate, artista e influenciador que assumiu cadeira de deputado estadual com licença de Renato Roseno, tem aproveitado bem a passagem pela Assembleia. Ambos pertencem ao Psol. No campo prático, deixa aprovada emenda constitucional que garante o direito à internet segura e livre para todos no Estado. Tem gente com vários mandatos que até hoje não tem esse tipo de feito no currículo.

 

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