Jornalista, repórter do O POVO+ e professor de Linguagens, graduado em Letras/Inglês pelo Centro Universitário Unicesumar. Homem pansexual, foi ativista organizado do Movimento LGBTQIA+ de 2014 a 2021. Em 2020, foi um dos idealizadores do festival artístico Tomada Drag, que mais tarde se tornaria o Coletivo Tomada.
A violência contra a mulher diz respeito aos homens gays?
A luta por direitos e o enfrentamento à violência são causas que exigem a união de diversos grupos sociais, reconhecendo as diferentes formas de opressão e construindo pontes de solidariedade
No mesmo dia, o influenciador e ex-BBB Fred Nicácio usou suas redes sociais para relatar a experiência que teve ao participar da manifestação nacional em São Paulo.
Aparentemente emocionado, ele contou ter saído do ato impactado não somente pelos relatos fortes das mulheres presentes, mas, principalmente, pela suposta baixa presença de homens, em especial, homens gays.
A fala de Fred levanta um debate crucial sobre a responsabilidade masculina no combate à violência de gênero.
Foto: Reprodução/GShow
Fred Nicácio usou suas redes sociais para relatar a experiência que teve ao participar da manifestação nacional contra o feminicídio, em São Paulo
É inegável que a violência contra a mulher é um problema estrutural e sistêmico, cuja raiz reside no patriarcado e na masculinidade tóxica hegemônica, exigindo, portanto, que os homens sejam agentes ativos de mudança.
No entanto, ao centralizar a crítica e a responsabilidade de forma generalizada, e ao focar a ausência em um único evento, corre-se o risco de invisibilizar o engajamento já existente e de simplificar uma questão complexa.
É bem provável que o círculo social dos influenciadores, elitista, autocentrado e distante da realidade, estivesse de fato ausente.
Mas fora desse recorte específico, há inúmeros homens – incluindo muitos homens gays – que estão engajados em trabalhos de base, em ONGs, em coletivos e em movimentos que operam longe dos holofotes e das redes sociais, dedicando-se incansavelmente à educação e à desconstrução do machismo em seus próprios círculos.
Bem, mas apesar da crítica parecer generalizada, ela serve como um importante chamado. O papel dos homens gays nesse combate é fundamental e inegociável.
Ao serem marginalizados pela norma heterossexual, temos a possibilidade e, em certa medida, a obrigação ética, de questionar e desmantelar os pilares da masculinidade tradicional.
Viver fora da norma heterossexual, dá aos homens gays a possibilidade de desmantelar ativamente as expectativas de uma “masculinidade” baseada em agressividade, dominação e repressão emocional.
É importante percebermos e escolhermos modelos alternativos “de ser homem”, que não dependem da subordinação das mulheres.
Além disso, a experiência de ser uma minoria oprimida nos permite desenvolver uma sensibilidade maior para as opressões de gênero.
Por isso, homens gays podem atuar como aliados vocais e ativos, utilizando seus espaços sociais (familiares, profissionais e de amizade) para educar outros homens sobre as raízes da misoginia e da violência.
A experiência como alvo de opressão deveria ampliar nossa sensibilidade e aliança com outras causas.
A luta feminista e o combate à misoginia são peças-chave para criar modelos de ser homem que rejeitam a agressividade e o domínio, e de quebra, desconstroem modelos de masculinidade usados, precisamente, para segregar identidades que não se adequam a eles.
Por isso é importante, que homens, sejam héteros, gays, bissexuais, pansexuais, ou de qualquer outra orientação, usem seu lugar social para confrontar outros homens sobre seus privilégios e comportamentos violentos, seja em casa, no trabalho ou na rua.
Essa postura aliada e proativa é importante inclusive para fortalecer o protagonismo das mulheres no movimento LGBTQIA+.
Mulheres, em toda a sua diversidade – lésbicas, bissexuais, e especialmente mulheres trans e travestis, as mais vulneráveis à violência e ao apagamento –, foram e continuam sendo as pioneiras e arquitetas da luta por direitos no seio da comunidade.
Elas trouxeram a perspectiva da interseccionalidade, mostrando como o machismo, a LGBTfobia, o racismo e a transfobia se combinam para criar violências múltiplas e agravadas.
O movimento só avança quando reconhece a liderança feminina e quando homens assumem sua responsabilidade de lutar ao lado e contra as estruturas que oprimem a todos, entendendo que a liberdade de um grupo não pode existir sem a segurança e o respeito de todos.
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