É o(a) profissional cuja função é exclusivamente ouvir o leitor, ouvinte, internauta e o seguidor do Grupo de Comunicação O POVO, nas suas críticas, sugestões e comentários. Atualmente está no cargo o jornalista João Marcelo Sena, especialista em Política Internacional. Foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO e de Política
Por que a derrubada do decreto do governo sobre o IOF foi uma "derrota para o Planalto" e a manutenção do mesmo decreto determinada pelo STF não foi considerada uma vitória para o governo?
Foto: @HugoMottaPB/Reprodução do X
Congresso e Governo Federal tentam mostrar imagem de unidade nacional e foto de Hugo Motta, Geraldo Alckmin e Davi Alcolumbre é postada
Mais uma semana daquelas nas quais o que acontece na segunda ou na terça-feira parece um passado já bem distante com tantos breaking news. Na última e nem tão longínqua quarta-feira, 16, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), manteve a validade do decreto editado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que aumentou as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
O tema foi a manchete do O POVO na edição de quinta-feira, 17, com um enunciado que foi direto ao ponto: “MORAES MANTÉM DECRETO DO GOVERNO SOBRE ALTA DO IOF”. No abre, a mesma objetividade com um pouco mais de detalhamento da decisão: “Ministro restabelece decreto de Lula que aumentou alíquotas do imposto, mas exclui cobrança sobre operações de ‘risco sacado’, que afetaria pequenas empresas”.
Foto: O POVO
Manchete do dia 17 de julho de 2025
A matéria publicada nas páginas de Economia e assinada pela Agência Estado traz detalhes da decisão do ministro, explica como ficam as regras do IOF e relembra brevemente a disputa entre Poderes que fez a discussão chegar ao STF. Em resumo, uma visão bem geral do caso, sem muita margem para uma leitura analítica.
Ao ler as duas manchetes, a pergunta que surgiu foi: por que a derrubada do decreto do governo sobre o IOF foi uma “derrota para o Planalto” e a manutenção do mesmo decreto determinada pelo STF - com a exclusão de apenas um item do texto - não foi considerada uma vitória para o governo?
Vez ou outra essa discussão volta à tona. Como se define que um determinado ator político sai vencedor ou perdedor em uma ação de disputa diante de tanto acirramento? Esse debate foi muito forte há uma década, no biênio 2015-2016, no auge da crise política no governo Dilma Rousseff (PT).
Em um cenário de guerra aberta da ex-presidente com o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, muitos jornais foram criticados à época por darem um destaque muito maior às (muitas) “vitórias” do deputado e suas pautas-bomba no Congresso e tratarem com maior frieza os (poucos) triunfos da articulação da petista.
A partir desse período e ao longo dos últimos dez anos, as disputas entre os Poderes ganharam novos contornos e dimensões. Há uma geração que passou a acompanhar política mais recentemente que possivelmente não faça ideia de como deve ser olhar para a Praça dos Três Poderes e enxergar um mínimo de harmonia e estabilidade entre os agentes que ocupam seus vértices.
Diante desse clima de conflagração quase permanente, pode ser tentador para o jornalismo nos episódios de maior acirramento querer vaticinar vencedores e perdedores. Mas isso precisa ser feito com prudência, equilíbrio e também um pouco de memória. Do contrário, no perde-ganha das manchetes quem pode sair perdendo é a coerência.
Ausência da coluna Elio Gaspari
Alguns leitores têm enviado, não é de hoje, questionamentos ao ombudsman acerca da ausência da coluna Elio Gaspari no O POVO nas nas edições das quartas-feiras e dos domingos. A última publicação da coluna ocorreu no dia 9 de abril.
Semanas depois, no início de maio, foi veiculado no O POVO um aviso de que o colunista estava de férias, algo que ocorreu em outros jornais nos quais Elio Gaspari também escreve como O Globo e Folha de S.Paulo. Chegou junho e o jornalista voltou a publicar suas colunas nesses periódicos. Menos no O POVO, onde segue ausente e desta vez sem aviso aos leitores.
Enviei à Redação questionamentos em busca de esclarecimentos a serem levados aos leitores, mas não obtive resposta. A coluna Elio Gaspari é historicamente um dos espaços com maior procura dos leitores no jornal impresso. Algo natural tendo em vista a trajetória e a reputação do jornalista e escritor, uma das maiores referências nacionais em análise política. Também é natural que haja queixas em meio a ausência dele no O POVO por tanto tempo e sem muitas explicações para quem sente falta de uma leitura que se tornou hábito.
Declarações de Cid mereciam maior destaque
Cid Gomes (PSB-CE) chamou a imprensa na tarde da última quarta-feira, 16, para uma entrevista coletiva na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece). O motivo foi revelado no local, com o senador saindo mais uma vez em defesa veemente de Júnior Mano (PSB-CE). O deputado federal, alçado pelo próprio Cid à condição de pré-candidato ao Senado em 2026, é investigado pela Polícia Federal por supostamente ter encabeçado esquema de desvios de recursos de emendas parlamentares. As acusações são negadas por ambos.
Uma declaração feita por Cid durante a coletiva, contudo, recebeu um destaque menor que o devido na cobertura do O POVO como um todo. Para defender Júnior Mano das acusações de que o deputado teria recebido dinheiro para enviar recursos a um determinado município, o senador praticamente admitiu que as emendas eram distribuídas em troca de apoio político dos prefeitos ao parlamentar. Reproduzo logo abaixo trecho das declarações de Cid.
“Quem faz isso (e) quer objetivo financeiro, não tem voto. Ou você acha que o cara vai dar o dinheiro e ainda vai dar os votos? É uma coisa ou outra. Ou ele dá o dinheiro, eu estou falando de alguma coisa lamentável”, afirmou Cid para todos ouvirem. O senador declarou ainda que consultou prefeitos, os quais confirmaram a ele que Júnior Mano “apenas pedia votos” em troca das emendas.
A essa altura do campeonato é de conhecimento geral o uso promíscuo e pouco transparente de muitas das emendas parlamentares (dinheiro público) como moeda de troca para apoio político. Desde a revelação do chamado “orçamento secreto”, em 2021, deu para entender como as coisas funcionavam em relação a esses recursos. Mas ainda assim não deixa de ser espantoso como isso é falado tão aberta e desavergonhadamente.
Esses trechos da fala de Cid na coletiva da última quarta-feira deveriam ter sido mais destacados. E ainda podem ser retomados e repercutidos. Por mais que algumas práticas tenham se tornado paisagem no cotidiano da política brasileira, o jornalismo precisa evitar a naturalização daquilo que não deveria ser natural.
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