Paula Vieira, socióloga e cientista política. Professora. Pesquisadora do Laboratório de estudos sobre política, eleições e mídia (Lepem-UFC)
Paula Vieira, socióloga e cientista política. Professora. Pesquisadora do Laboratório de estudos sobre política, eleições e mídia (Lepem-UFC)
Até se tornar inelegível, Bolsonaro esteve como o principal nome para disputar pela direita presidencialmente.
Após a semana do trânsito em julgado, reaparecem as possibilidades de substituição à competição presidencial: Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (UB-GO), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Romeu Zema (Novo-MG) estão entre as possibilidades mais cogitadas, além da família bolsonarista. Como, então, a direita vem construindo o caminho à presidência até então?
Michelle Bolsonaro tem sido figura estratégica na mobilização das mulheres conservadoras. Embora alguns ventilem seu nome, é pouco provável que o conservadorismo da direita abra espaço para uma mulher ser cabeça de chapa, ou seja, seja a candidata para o principal cargo do País.
Seu papel, me parece, é mais estratégico no processo de consolidação partidária do PL, o que indica que há uma estratégia de composição ao Legislativo nacional (Câmara dos Deputados e Senado) e estaduais.
O Congresso Nacional de maioria da direita, por sua vez, ao longo do segundo semestre de 2026, tem intensificado sua oposição ao governo federal e cria impeditivos à agenda do Executivo com frequência, mesmo que à despeito dos interesses da população.
Sóstenes Cavalcante, líder do PL, enfatiza que a base conservadora irá dificultar para o Governo Lula pela desconfiança e retaliação.
Enquanto o Governo Lula busca reforçar a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até 5 mil reais, o principal capital político mobilizado pela direita continua sendo a segurança pública e uma falsa ideia de que a ostensividade é resolutiva.
Há o que explorar, principalmente depois da inquietante aprovação popular dirigida à operação massacrante ocorrido no Rio de Janeiro.
Existe uma ideia na Ciência Política que considero interessante para examinar esses cenários: os interesses das opiniões que compõem o “centro político” são mais voláteis que as pontas direita-esquerda.
Esse ponto de interseção que chamamos de centro se apresenta nas opiniões públicas, por vezes, como “neutras”. Não o são. Seguem movimentos da sociedade que pesquisas já têm demonstrado que estão, predominantemente, à direita. Ou, então, são eles que evitam o comparecimento às urnas, seja por justificativa do voto ou por votos brancos e nulos.
É o centro, portanto, que movimenta as disputas eleitorais. É esse ponto que faz com que se chegue à proposição de nomes que representem uma “terceira via”, numa ideia de nem lá, nem cá.
Porém, há de se atentar para o fato de que, no Brasil, sempre foi o lá ou o cá que conseguiram manter competitividade para ir ao segundo turno e, portanto, ou o lá ou o cá saíram vitoriosos. É por isso, também, que assistimos sinalizações de ambos os lados para adesão ao discurso de centro-direita.
Acompanhando esses desdobramentos, é relevante analisar quem poderá se consolidar como representante da direita e qual figura ocupará o espaço da chamada terceira via, que tende a se posicionar ao centro-direita.
O desenrolar desse processo será determinante para a qualidade e a pluralidade do ambiente democrático nos próximos anos.
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