Logo O POVO+
Por que 95% dos projetos de IA generativa nas empresas estão falhando
Foto de Vladimir Nunan
clique para exibir bio do colunista

Vladimir Nunan é CEO da Eduvem, uma startup premiada com mais de 20 reconhecimentos nacionais e internacionais. Fora do mundo corporativo, é um apaixonado por esportes e desafios, dedicando-se ao triatlo e à busca contínua pela superação. Nesta coluna, escreve sobre tecnologia e suas diversidades

Vladimir Nunan tecnologia

Por que 95% dos projetos de IA generativa nas empresas estão falhando

De acordo com o MIT, a pesquisa se baseou em 300 implantações públicas de IA, 150 entrevistas com executivos e 350 respostas de funcionários
O ChatGPT disse:

Um robô com design futurista e olhos iluminados em tom alaranjado olha para frente, cercado por luzes desfocadas ao fundo. Sua superfície metálica reflete brilhos em azul e laranja (Foto: Imagem gerada por Inteligência Artificial (script próprio): Midjourney)
Foto: Imagem gerada por Inteligência Artificial (script próprio): Midjourney O ChatGPT disse: Um robô com design futurista e olhos iluminados em tom alaranjado olha para frente, cercado por luzes desfocadas ao fundo. Sua superfície metálica reflete brilhos em azul e laranja

Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) deixou de ser uma promessa futurista para se tornar uma realidade concreta dentro das empresas. Ferramentas como ChatGPT, Copilot, Gemini e Claude invadiram o vocabulário corporativo.

Muitos executivos passaram a enxergá-las como a nova revolução capaz de transformar processos, reduzir custos e criar modelos de negócios inovadores.

No entanto, a euforia inicial começa a ser confrontada com um dado duro: 95% dos projetos de IA generativa implantados em empresas não conseguem gerar impacto financeiro real.

O alerta vem de um estudo robusto do Massachusetts Institute of Technology (MIT), divulgado em agosto de 2025 e analisado pela revista Fortune.

O relatório, intitulado “The GenAI Divide: State of AI in Business 2025”, expõe um abismo entre expectativa e realidade. Bilhões de dólares foram investidos, mas o retorno ainda é ínfimo para a maioria das organizações.

Mais do que números, o relatório escancara um momento crucial. A bolha do hype acabou. A era de marketing exagerado, de promessas de transformação instantânea e de soluções vendidas como milagres tecnológicos precisa dar lugar a uma fase de profissionalismo, pesquisa e ciência aplicada.

Como se costuma dizer, já tivemos chantilly demais. Agora é hora de servir o bolo.

O panorama global da IA generativa

A IA generativa se popularizou em 2022 com o lançamento de sistemas capazes de produzir textos, imagens, vídeos e até linhas de código de forma quase instantânea.

Desde então, empresas em todos os setores, de bancos a varejistas, de hospitais a companhias de tecnologia, correram para testar pilotos de implementação.

De acordo com o MIT, a pesquisa se baseou em 300 implantações públicas de IA, 150 entrevistas com executivos e 350 respostas de funcionários. O resultado é um retrato abrangente: apenas 5% dos pilotos realmente aceleraram a receita ou criaram impacto mensurável nos lucros.

Esse contraste deixa claro que o problema não está na tecnologia em si. A falha está na forma como ela é implementada, contextualizada e absorvida pelos processos internos das organizações.

A bolha do hype fez com que muitas empresas investissem mais em marketing de inovação do que em valor prático, criando uma distância enorme entre discurso e realidade.

As causas do fracasso

1. O “gap de aprendizagem”

Ferramentas como ChatGPT foram projetadas para uso generalista. As empresas, no entanto, operam com fluxos de trabalho específicos, regulamentos rígidos e integrações complexas.

O resultado é que os modelos funcionam bem em testes, mas não conseguem se adaptar à realidade diária das operações corporativas.

Essa lacuna de aprendizagem mostra que não basta aderir à moda. É preciso pesquisa, ciência e adaptação real aos processos.

2. Investimento mal direcionado

Mais da metade dos orçamentos de IA estão sendo alocados em vendas e marketing. São áreas de visibilidade rápida, mas de retorno limitado. Já setores como finanças, back-office e atendimento ao cliente, que poderiam gerar impacto mais direto, ficam em segundo plano.

Isso revela o peso do hype. Em vez de pensar estrategicamente, muitas empresas correram atrás de visibilidade. Foi o chantilly da vitrine, não o bolo que alimenta o negócio.

3. A tentação de construir tudo internamente

A taxa de sucesso de soluções internas é de apenas 33%, contra 67% de sistemas comprados de fornecedores especializados.

A ilusão de que “construir em casa” é sempre melhor levou muitas empresas a desperdiçar tempo e recursos. Aqui, mais uma vez, o marketing interno falou mais alto do que o pragmatismo técnico.

4. A “Shadow AI”

Com funcionários usando IA sem supervisão corporativa, surge o risco de vazamento de dados, falta de compliance e ausência de governança. A pressa em “não ficar para trás” fez com que muitas companhias permitissem que a IA se espalhasse de forma desorganizada, sem estrutura ou política clara.

5. Automação pela omissão

Ao invés de cortes em massa, empresas estão simplesmente não substituindo funcionários em cargos administrativos e de atendimento.

É a automação silenciosa, que mostra que os impactos da IA já estão sendo sentidos, mesmo que fora dos holofotes.

Quando a IA funciona: o bolo de verdade

Apesar do alto índice de fracasso, há empresas que colheram resultados concretos. E, nesses casos, o que existe é menos glamour e mais substância.

Os casos de sucesso se caracterizam por:

Alinhamento estratégico. A IA faz parte do plano de negócios, não de uma campanha publicitária.
Foco em eficiência interna. Áreas de back-office, logística e compliance, em vez de apenas marketing.
Escalabilidade controlada.

Projetos que começam pequenos e só crescem depois de provarem valor. Governança sólida. Regras claras de uso e integração com sistemas corporativos.

Esses são os projetos que representam o “bolo”. Consistentes, nutritivos, sustentáveis. Sem firulas, mas com impacto.

O fim do hype e a chegada da IA agêntica

O relatório também destaca o surgimento da IA agêntica, sistemas capazes de aprender, lembrar e agir de forma autônoma dentro de parâmetros definidos. Esse é um salto qualitativo. A IA deixa de ser apenas um assistente passivo para se tornar um agente ativo.

Mas, para que essa nova etapa não repita os erros da fase do hype, será necessário profissionalismo, regulação, pesquisa e liderança baseada em ciência.

A metáfora é clara: de nada adianta decorar a mesa com chantilly se não existe bolo suficiente para sustentar o banquete.

Implicações para o Brasil

No Brasil, onde recursos são mais escassos e a cultura de inovação ainda enfrenta barreiras, o risco de cair no hype é ainda maior. Muitas empresas brasileiras seguiram a onda global, comprando soluções “de prateleira” apenas para dizer que estavam “fazendo IA”, sem avaliar impacto ou aderência real ao negócio.

A boa notícia é que também podemos aprender com os erros de fora. Se os gigantes investiram bilhões em chantilly sem bolo, temos a chance de inverter a lógica: menos discurso, mais substância.

As empresas brasileiras que enxergarem a IA como ciência aplicada, e não como peça de marketing, podem ganhar vantagem competitiva ao focar em eficiência operacional e impacto real.

O que executivos precisam fazer agora

  • Tratar IA como ciência, não como slogan. Criar times interdisciplinares que unam tecnologia, negócios e pesquisa.
  • Reduzir o marketing e aumentar a prática. O foco deve ser em métricas de impacto, não em “aparecer inovador”.
  • Começar pequeno e crescer com base em resultados. Um piloto sem bolo não deve ir para a vitrine.
  • Estabelecer governança rígida. Sem regras, a shadow AI pode virar risco corporativo.
  • Investir em educação corporativa. IA exige profissionais preparados, não apenas tecnologia comprada.

Conclusão

O relatório do MIT deixa uma mensagem clara: a bolha do hype da IA generativa acabou. O tempo de soluções mágicas, anúncios chamativos e promessas vazias está no fim. A tecnologia segue poderosa, mas agora precisa ser conduzida com rigor, disciplina e pesquisa séria.

Chega de chantilly. O mercado não precisa de brilho superficial, mas de consistência, profundidade e resultados concretos.

O que separará as empresas vencedoras das demais não será quem gritar mais alto que “faz IA”, mas quem tiver coragem de tratar a inteligência artificial como ciência aplicada e não como marketing digital.

Se a primeira onda da IA foi movida pela euforia, a próxima será movida pela maturidade. E nessa nova fase, só haverá espaço para quem souber servir bolo, e não apenas decorar a mesa com chantilly.

Foto do Vladimir Nunan

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?