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Famílias descobrem a diversidade da Caatinga em evento comemorativo
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Famílias descobrem a diversidade da Caatinga em evento comemorativo

Comemorando o Dia Nacional da Caatinga, a Associação Caatinga organizou um evento de divulgação e preservação do bioma unicamente brasileiro no Parque do Cocó
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PARQUE do Cocó, em Fortaleza, recebe adultos e crianças  (Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo)
Foto: Yuri Allen/Especial para O Povo PARQUE do Cocó, em Fortaleza, recebe adultos e crianças

Quando Gabriela Oliveira, 8 anos, viu as cobras conservadas em formol na exposição do Dia Nacional da Caatinga, no Parque do Cocó, a vontade foi de chorar. "Elas não mereciam isso!", lamentou. Para o choro acalmar, foi necessário explicar que elas provavelmente foram encontradas mortas e agora podem ser estudadas para ajudar a conhecer e a proteger outras cobras.

Depois, a menina viu besouros, grilos e borboletas expostos e o rosto alumiou: "Eu também coleciono borboletas! E uma libélula!" Pronto, identificou-se e desandou a admirar a fauna da Caatinga com tranquilidade, descobrindo novos bichos e plantas da terra natal.

Organizado pela Associação Caatinga em parceria com a Seara da Ciência da Universidade Federal do Ceará (UFC), o evento de domingo, 28, promoveu a diversidade invisibilizada da Caatinga, bioma 100% brasileiro.

Dezenas de adultos e crianças visitaram o espaço para descobrir as maravilhas da mata branca (significado do nome Caatinga, em tupi-guarani) e se sensibilizar, assim como Gabriela, sobre a importância da preservação do bioma.

A maioria dos visitantes desconhecia as espécies de fauna e flora da floresta, imaginando que o bioma era representado apenas por árvores secas e “mortas”.

Na verdade, explica Marília Nascimento, coordenadora de programas da Associação Caatinga, nos períodos de seca, as árvores desfazem-se das folhas para evitar a perda de água, descansando até a quadra chuvosa para voltar a esverdear.

As milhares de espécies de animais catingueiros também compartilham estratégias de sobrevivência variadas.

“A Caatinga tem uma capacidade de adaptação incrível”, reforça Marília. “A origem do nome e essa capacidade de resiliência transparece totalmente no nosso jeito sertanejo, cearense, de ser. Que busca sempre adaptações, soluções, para que a gente consiga viver bem e com harmonia.”

Por meio da exposição, os moradores do meio urbano puderam ter talvez o primeiro contato com a verdadeira imagem da Caatinga, desde o sertão até a serra.

Além das espécies empalhadas e conservadas admiradas por Gabriela e a irmã, Isabela, 8, as meninas também tiveram acesso a informações sobre o ciclo de água no bioma, as espécies endêmicas e os fatores que ameaçam a preservação da Caatinga, como a crise climática, o desmatamento e a caça de animais silvestres.

“A gente achou muito legal, porque além de aprender, a gente conhece e preserva mais a natureza da Caatinga”, diz Pedro Soares, 10 anos, outro visitante da exposição. Natural do Rio de Janeiro, Pedro mora em Fortaleza há seis anos e já começou a estudar sobre o bioma na escola. Mesmo assim, acreditava que a Caatinga era apenas seca.

“Eu pensava em seca, seca, seca; eu não sabia dessa biodiversidade de animais e plantas”, concorda o pai do menino, Airton Soares, 49, engenheiro de segurança.

Eles foram surpreendidos com o fato de a ararinha-azul (Anodorhynchus leari) ser natural da Caatinga, mais especificamente da Bahia; até então, pensavam que a espécie vivia na Mata Atlântica e na Amazônia. Outra espécie que adoraram conhecer foi a carnaúba (Copernicia prunifera), árvore símbolo do Ceará.

A partir de agora, o objetivo da família é divulgar para os colegas a diversidade da Caatinga e a importância de preservá-la.

“Eu acho muito bacana ver uma nova juventude chegando envolvida com a causa ambiental. E o Pedro tem muito conhecimento sobre”, comemora Thaian Costa, graduando em Ciências Biológicas na UFC e voluntário da Associação Caatinga.

Ele foi o responsável por guiar Pedro e o pai pela exposição, acompanhando a empolgação do menino em compartilhar e adquirir conhecimento.

“Essa nova geração vai precisar disso, da sustentabilidade. O que será que as próximas gerações vão possuir (se não preservarmos o bioma)? A gente precisa tomar cuidado. Por isso, é muito bacana ver ele envolvido com a causa ambiental.”

“Eu me deparei com uma criança super curiosa que, na parte dos invertebrados, começou a perguntar onde tava a parte dos crustáceos e dos anelídeos”, conta Ana Clara Leite, graduanda em Biologia na UFC e bolsista na Seara da Ciência. “Eu olhei e perguntei: ‘Menina! Cê tem quantos anos pra saber disso?’”, riu.

A Caatinga é um bioma unicamente brasileiro, cobrindo 10,1% da extensão territorial do País, 70% do Nordeste (100% do Ceará) e 2% de Minas Gerais. A riqueza de espécies envolve 3.150 plantas, 463 invertebrados e 1.361 vertebrados.

Entre as plantas, por exemplo, 318 espécies são exclusivas da Caatinga, como a carnaúba, o pau-branco, a aroeira e a catingueira.

No entanto, segundo dados do MapBiomas, foi o bioma mais desmatado no Brasil em 2023, seguido do Cerrado. Somente no ano passado, foram desmatados 203.343,6 hectares, uma média diária de 596,3 hectares/dia.

O desmatamento se dá principalmente pelo avanço do agronegócio, assim como o aumento de queimadas intencionais ou não. Outros fatores que ameaçam a Caatinga envolvem a crise climática, a desertificação, a exploração de recursos naturais e a caça e tráfico de animais silvestres.

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