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Aumenta uso de álcool, cigarro e outras drogas na pandemia
Ciência e Saúde

Aumenta uso de álcool, cigarro e outras drogas na pandemia

Pesquisa da Fiocruz mostra que 18% das pessoas relataram aumento no consumo de álcool e 34% de tabaco na pandemia. Uso de psicoativos está ligado a sintomas de ansiedade e depressão
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FORTALEZA - CE, BRASIL, 22-09-2020: Imagem de uma pessoa através de um vidro com o reflexo de garrafas de bebida sobre a mesa. Aumento do uso de drogas ilícitas e lícitas durante a pandemia. Ciência e Saúde.  (Foto: Júlio Caesar / O Povo) (Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR FORTALEZA - CE, BRASIL, 22-09-2020: Imagem de uma pessoa através de um vidro com o reflexo de garrafas de bebida sobre a mesa. Aumento do uso de drogas ilícitas e lícitas durante a pandemia. Ciência e Saúde. (Foto: Júlio Caesar / O Povo)

Mesmo com parte da população em casa devido à pandemia, o consumo de álcool e de cigarro tem sido mais frequente para os brasileiros. O uso abusivo dessas e outras drogas, lícitas ou não, preocupa. Isso porque o consumo de psicoativos está estreitamente ligado a sintomas de doenças mentais, como ansiedade e depressão.

Para quem faz uso das drogas, estas parecem ajudar a lidar com o estresse e preocupações acentuados com a pandemia da Covid-19. Contudo, o abuso no consumo de psicoativos, a médio e longo prazo, traz riscos de dependência.

Conforme pesquisa de comportamento Convid, realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 18% das pessoas relataram aumento no consumo de álcool e 34% de tabaco na pandemia. Na ingestão de bebida alcoólicas, os maiores aumentos foram registrados na faixa etária de 30 a 39 anos (24,6%) e de 18 a 29 anos (18,6%). Esses acréscimos foram associados à frequência de se sentir triste ou deprimido. Dos que relataram maior uso, 24,2% se sentiram dessa forma sempre que beberam.

Paulo Borges, pesquisador do Laboratório de Informação em Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), responsável pela pesquisa, alerta para "relação forte com problemas de saúde mental tanto no aumento no consumo de álcool como no de cigarro".

Renata Brasil Araújo, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), explica que as pessoas fazem uso das substâncias como estratégia de enfrentamento para lidar com os sentimentos e incertezas da pandemia. "Em um primeiro momento, há sensação de alívio, mas depois causa desequilíbrio neuroquímico que induz os sintomas de ansiedade, por exemplo, que a pessoa quer evitar", relaciona a psicóloga, que é chefe da Unidade de Desintoxicação e coordenadora dos Programa de Transtornos Aditivos e Terapia Cognitivo-Comportamental do Hospital Psiquiátrico São Pedro.

Para o psiquiatra Rafael Baquit, que atua no Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto e no Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas (Caps AD) de Caucaia, o consumo de psicoativos faz parte de uma cultura. "Acontece para aliviar. Algumas vezes, é abusivo e está associado a riscos e danos. A gente já vivia um contexto de saúde mental preocupante e crescente", alerta o médico, que integra o Movimento Brasileiro de Redução de Danos e o Coletivo Rebento - Médicos em defesa da Ética, da Ciência e do SUS.

Ele aponta que, além da questão socioeconômica, com as perdas e lutos por causa do novo coronavírus, principalmente em um período em que os rituais foram proibidos para evitar o contágio, "as pessoas tiveram uma total mudança nos jeitos de viver". "A droga nunca é um problema que se explica por si só. Tem algo por trás. Quase sempre tem comorbidade psiquiátrica, como psicose, esquizofrenia. É importante entender o que leva a esse uso problemático", detalha.

INFOGRÁFICO CIÊNCIA E SAÚDE
INFOGRÁFICO CIÊNCIA E SAÚDE (Foto: .)

 

SINAIS DE ALERTA PARA USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS

Prejuízos na rotina:

1 Perde o tempo no qual deveria exercer atividades domésticas, trabalho ou estudos;

2 Tenta mas não consegue reduzir a quantidade ou frequência de uso;

3 Aumento de tolerância: precisa usar maior quantidade para obter os mesmos efeitos;

4 Tem fissura: desejo intenso;

5 Problemas sociais, como conflitos familiares recorrentes;

6 Deixa atividades sociais ou ocupacionais para fazer uso da substância;

7 Dificuldade em controlar o início e fim do uso: começar a beber de manhã, por exemplo;

A partir da identificação de pelo menos dois sinais é recomendado procurar ajuda médica


Fontes: Renata Brasil Araújo, psicóloga e presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), e Ana Cristhina Sampaio Maluf, pesquisadora do Grupo de Pesquisas em Toxicologia Analítica da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.

 

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