Os princípios de governança ambiental, social e corporativa, ESG na sigla em inglês, serão nortes na modernização da cadeia produtiva de moda no Ceará. A reformulação do setor está sendo conduzida pelo Programa 100%Ceará, idealizado em parceria entre todos os sindicatos e órgãos de desenvolvimento relacionados ao segmento de moda, confecção, calçado e vestuário no Estado.
Com a união do Sindiroupas com Sindconfecções, Sindcalf, Sinditêxtil, Sindalgodão, Sindredes e da Federação das Indústrias do Estado (Fiec), o 100%Ceará será dividido em ciclos de três anos, com metas anuais até 2029.
Uma delas é a geração de 15 mil empregos, conforme revelado com exclusividade pelo O POVO. Entre as metas estão ainda a redução da informalidade no setor, capacitação profissional e expansão de produção, com ganho de mercado nacional e internacional.
Documento assinado por todas as entidades estabelece que o foco das iniciativas é “garantir o renascimento da moda cearense, a partir do fortalecimento e da competitividade das empresas cearenses do setor de moda, através do desenvolvimento de diferentes iniciativas para favorecer a ampliação dos negócios de forma sustentável, com foco em inteligência competitiva, inovação e tecnologia.”
"Nossa preocupação vem em primeiro lugar do conhecimento de que a indústria da moda em si, como um todo, ela é uma indústria muito poluente em todos os seus processos desde o plantio do algodão", afirma Lélio Matias, presidente do Sindicato das Indústrias de Confecções de Roupas de Homem e Vestuário do Ceará (Sindiroupas).
O plano de metas fala em novos negócios do setor já com foco em inovação e sustentabilidade por meio da formação de empreendedores em parceria com a política de desenvolvimento sustentável do Estado, com apoio de entidades como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).
Além disso, uma das ações previstas é a criação de um selo de autenticidade para marcas locais, que irá levar em consideração práticas de sustentabilidade como um dos princípios necessários para a obtenção.
Para as empresas que já atuam no mercado e possuem linhas de produção instaladas no Estado, Lélio frisa a necessidade da adoção de novas tecnologias para aprimoramento de processos que tradicionalmente geram impacto maior no meio ambiente. “Antes era preciso entre 40 e 45 litros de água para produzir uma peça de jeans, hoje, conseguimos o mesmo com um quarto de litro.”
De acordo com o plano do 100%Ceará, a preocupação imediata para os próximos anos da indústria da moda cearense será a mudança de matriz energética. “Nossos processos exigem muita energia e água, a indústria da moda puxa muito do meio ambiente, então nossa preocupação imediata é conseguir dar essa contrapartida. As empresas do setor já estão sendo orientadas e focadas na busca por alternativas e a principal buscada tem sido a de energias limpas como a solar e a eólica”, complementa.
O representante do setor finaliza destacando que as preocupações com ESG estão sendo implementadas de forma gradual e destaca que as demais práticas de governança e de impacto social serão trabalhadas na sequência dos temas ambientais.
"Estamos em um excelente momento para essas mudanças, empresários estão enxergando isso como uma oportunidade de negócio, como ganho de competitividade e atração de investimento”, afirma Lélio.
Do ponto de vista comercial, conforme Helena Rocha, sócia da PwC Brasil, empresa especializada em consultoria empresarial, as estratégias são adequadas e necessárias para que o setor tenha um novo aporte de investimento.
“Os investidores estão cada vez mais atentos às empresas que possuem aderência e compromisso com as práticas de ESG, priorizando e direcionando seus investimentos para essas empresas”, destaca.
A especialista alerta ainda que além de ser atuantes em ações de ESG, as empresas devem envolver os investidores na implementação destas, para que o processo de desenvolvimento sustentável não fique apenas como uma obrigação a ser cumprida.
“O ESG é cada vez mais um diferencial competitivo de todas as empresas, independentes de seu setor de atuação e tamanho, e essa aderência e compromisso ao ESG vai ajudar a definir os vencedores no futuro”, explica. Ela reforça ainda a necessidade de um plano adequado de ESG e que ações espaçadas e não complementares podem ter um efeito reverso na atração de investimentos.