Com memorando de entendimento assinado com o governo cearense desde o fim de julho, a Mercúrio Asset, proprietária da UTE Pecém I, estima entre R$ 800 milhões e até R$ 4 bilhões o investimento necessário para a conversão da usina térmica de carvão mineral para gás natural.
A cifra foi revelada com exclusividade ao O POVO por Carlos Baldi, CEO da usina instalada no Complexo Industrial e Portuário do Pecém.
"Considerando os volumes envolvidos, o financiamento faz parte da equação financeira para o projeto. Com relação à fonte dos recursos, estamos avaliando as condições com diferentes agentes", acrescentou.
O projeto de mudança no insumo da usina termelétrica do carvão mineral para gás natural é pioneiro no Brasil. A conversão para hidrogênio verde (H2V) também é planejada pela empresa.
Mas antes de iniciar a conversão, a usina terá de atender a demanda do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que acionou a UTE Pecém I já em agosto.
Com isso, a capacidade instalada de 720 megawatts (MW) deve ser aplicada ainda usando o carvão mineral como insumo principal da geração de energia.
O tempo de conversão estimado, de acordo com os cálculos revelados pelo CEO, podem levar entre seis e até 36 meses. O trabalho inclui troca de equipamentos-chave para a geração e também entrada e saída de combustível da planta.
O processo, explica ele, vai depender dos critérios a serem definidos no próximo leilão de reserva de capacidade - previso para 2024.
"Dentro das condições adequadas para o próximo leilão, temos total interesse de viabilizar o terminal de gás natural e fazer a conversão da Energia Pecém no menor prazo possível", reforça.
Perguntado sobre o planejamento para o fornecimento de gás natural da UTE Pecém I, Baldi afirmou que "a solução passa pela Cegás" (Companhia de Gás do Ceará, controlada pelo governo do Estado e principal fornecedora do insumo no território cearense).
O projeto prevê que a usina deverá consumir, diariamente, até 7 milhões de metros cúbicos (MMm³) de gás natural para manter a capacidade de geração de energia.
A projeção se ancora no hub de gás natural projetado pelo Complexo do Pecém e que pretende pôr fim à dificuldade no fornecimento do insumo na região industrial.
Desde a saída do navio regaseificador da Petrobras do Porto do Pecém, devido ao fim do contrato entre as partes, térmicas a gás natural encerraram atividades no Ceará. Para reverter isso, o Complexo anunciou o projeto do hub.
Carlos Baldi também confirmou a intenção de converter a usina, no futuro, para hidrogênio. Ele afirma que o compromisso com o governo cearense inicia com o uso do gás natural e, "assim que disponível em volume e preço adequados, migrar para o H2V."
"Seremos o primeiro projeto convertido de carvão para gás natural, com a opção de operar com H2V no Brasil, assim que tivermos H2 disponível em condições adequadas de volume e preço", afirmou.
O CEO recorda o fim do contrato de operação da usina, previsto para 2027, após 15 anos de operação. Sob o controle da EDP nos últimos anos, a unidade teve 80% comprada pela Mercúrio Asset.
A intenção, diz ele, é "ficar por pelo menos mais 15 anos, contribuindo com o fornecimento de energia segura e confiável para o Estado do Ceará e para o Brasil."