As apostas on-line, a manutenção dos juros elevados e a incidência de mais feriados devido ao Mundial de Futebol estão entre as principais preocupações dos líderes do varejo cearense para 2026. Especialmente os dois primeiros fatores podem reverter os efeitos do crescimento da renda da população sobre o negócio dos comerciantes, segundo destacaram ao O POVO.
O empresário Maurício Filizola, que assumirá como presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Fortaleza, no próximo dia 19, alerta para um dreno de recursos que ameaça o ciclo virtuoso de consumo: a atuação das plataformas de apostas eletrônicas (bets).
Fiizola participou do Encontro de Líderes Cedelistas do Ceará, realizado sexta e sábado, no Hotel Sonata, em Fortaleza, juntamente com representantes de CDLs cearenses. O evento teve como objetivo a avaliação de resultados de 2025 e o planejamento das próximas ações do movimento lojista.
Ele citou um estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o qual aponta que o volume de dinheiro direcionado às plataformas de apostas, incluindo os cassinos online (como o "Jogo do Tigrinho"), causa um prejuízo bilionário anual aos estabelecimentos comerciais do País, com perdas estimadas em R$ 103 bilhões em 2024.
De acordo com Filizola, o comércio é fundamental para a economia nacional, pois participa com cerca de 70% do PIB. Uma economia pujante depende intrinsecamente do ciclo de movimento, ou seja, o "comprar e vender", que faz a roda girar. “Quando este ciclo é interrompido, os reflexos são imediatos e danosos", alerta o empresário.
Estudos de nível nacional demonstram o quão prejudicial é a influência das bets. Segundo Filizola, o mecanismo de aposta retira dinheiro do mercado e, pior, esse dinheiro não é reposto para circular nas áreas mais vitais para a população.
De acordo com a pesquisa da CNC, o fácil acesso às apostas online aumenta o nível de endividamento das famílias brasileiras, afetando a saúde financeira doméstica.
Segundo os dados levantados, os recursos desviados pelas apostas não retornam para setores básicos como educação, saúde e, crucialmente, para a aquisição de alimentos e itens essenciais do dia a dia.
A preocupação se intensifica, argumenta Filizola, quando se considera o destino do dinheiro de programas sociais ou de renda do governo, que visa aquecer a economia e garantir a manutenção familiar. Segundo ele, se o dinheiro destinado a comprar comida ou vestuário é retirado para ir a outro fim — ou seja, para as apostas — o objetivo do governo de injetar recursos para o aquecimento econômico é enfraquecido.
Devido a esses impactos, a CNC inclusive acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) contra a Lei das Bets (Lei 14.790/2023), pedindo a suspensão da eficácia da norma que regulamenta a atividade no Brasil.
A entidade defende um equilíbrio na tributação e regulação do setor, sugerindo que a ausência de controle adequado facilitou a proliferação de cassinos online não regulamentados e a evasão de divisas.
Outra perspectiva tratada pelos comerciantes diz respeito à política monetária brasileira, conduzida pelo Banco Central, e que vem escalando os juros básicos da economia (Selic) em dois dígitos por todo o ano de 2025.
A perspectiva de um movimento de baixa no percentual atenua os ânimos, mas ainda assim a taxa elevada mira justamente o que o varejo não quer: reduzir o ritmo de consumo das famílias no Brasil.
Também esteve sob atenção dos líderes reunidos em Fortaleza no último fim de semana os jogos da seleção brasileira de futebol no Mundial de 2026. A tradicional dispensa dos funcionários e fechamento dos negócios durantes os jogos preocupa os empresários.
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Otimismo e desafios no varejo 2026: ano atípico
O ano de 2026 vem se anunciando como um ano bom para o varejo. O principal indicador que sustenta essa expectativa favorável é a medida governamental que aumenta a base de isenção tributária do Imposto de Renda para rendas de até R$ 5 mil.
• Aumento do Poder de Compra: Essa ampliação da base de isenção é vista como altamente positiva. Ao retirar a obrigação tributária dessa faixa de renda, o governo aumenta consideravelmente o número de consumidores, pois eles passam a ter mais dinheiro disponível, o que impacta diretamente o varejo.
• Reflexos Positivos para a População: O benefício traz "reflexos positivos, não resta menor dúvida" para uma "massa grande" de pessoas, especialmente porque, no Brasil, o cidadão de baixa renda é mais penalizado pelo desconto direto do imposto. Essa medida foi aplaudida pelo setor, pois mais dinheiro circulante na economia é benéfico.
• Inflação Contida: Soma-se a essa boa expectativa o fato de que a inflação se encontra "regrada" ou "contida", o que é considerado muito positivo para os negócios.
• Expectativa sobre a Taxa de Juros: O setor ainda mantém a expectativa de uma melhora nas taxas de juros (como a Selic) para facilitar investimentos, embora o cearense seja resiliente.
Apesar do otimismo econômico, o ano de 2026 será "um pouco atípico" e apresentará desafios para o varejo,. Esses desafios incluem:
• Um número elevado de feriados.
• A ocorrência da Copa do Mundo,.
• O período de eleições,