A quatro meses do primeiro turno das eleições municipais, adiadas para 15 de novembro e 29 do mesmo mês, partidos e pré-candidatos ainda traçam planos e estratégias para a disputa. Em Fortaleza, sete concorrentes que se apresentaram até o momento para a sucessão fazem apostas para o pleito.
Para dirigentes partidários ouvidos por O POVO, as eleições terão duas características: serão fragmentadas e nacionalizadas, replicando o ambiente da política atual.
Deputado federal do PT e membro do grupo que elabora a tática eleitoral da legenda, José Guimarães conta que os petistas estão agora "discutindo em todas as cidades as alianças com os partidos do campo progressista, em primeiro lugar".
Segundo Guimarães, o PT tem três prioridades nas eleições que se avizinham: "Defender os legados dos governos Lula, Dilma e Camilo, disputar com candidaturas bolsonaristas e nacionalizar as eleições em
algumas cidades".
É o caso da capital cearense, onde a sigla apresentou o nome da deputada federal e ex-prefeita Luizianne Lins, escolhida como representante no dia 5 de julho.
Sobre o leque de apoios para cumprir esses objetivos, Guimarães admite entendimento com agremiações como PDT e Psol. "O que não aceitaremos é aliança com candidaturas bolsonaristas. Nosso objetivo central no Ceará é derrotar Bolsonaro", avisa.
Pré-candidato ao Executivo Municipal e principal nome da oposição ao prefeito Roberto Cláudio (PDT), o deputado federal Capitão Wagner (Pros) projeta uma campanha casada entre Fortaleza e Caucaia, segundo maior colégio eleitoral do estado e único, além da Capital, onde pode haver segundo turno.
"Temos uma candidatura consolidada em Fortaleza para prefeito e em Caucaia, com Vitor Valim (deputado estadual)", avalia. Legenda hoje sem qualquer gestor no Ceará, "o Pros pode sair das eleições com prefeitos em cidades estratégicas e importantes na análise geoeconômica", calcula o parlamentar.
Alinhado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Wagner recebeu apoio do PSC da vereadora Priscila Costa e do Podemos do senador Eduardo Girão, que coordenará sua campanha. É um dos atores cuja projeção faz com que o pleito assuma contornos nacionais, por suas ligações com os grupos aliados do presidente.
Único que poderia dividir esse capital com Wagner, o deputado federal Heitor Freire (PSL) rompeu com os Bolsonaro - o parlamentar chegou a denunciar no Supremo o chamado "gabinete do ódio".
O ex-deputado tucano Carlos Matos pondera, todavia, que qualquer esforço de desvio dos temas locais será ruim para o eleitorado da capital cearense e colocará em risco quem adotar essa estratégia. "Espero que a eleição não seja uma guerra ideológica, mas que se discutam propostas", afirmou.
Ungido pelo PSDB como postulante na briga pelo Paço, Matos defende que "toda tentativa de nacionalizar a campanha não é boa para Fortaleza, nem essa guerra de direita contra esquerda".
Questionado sobre como deve furar essa polarização descrita por ele entre os grupos pró e anti-Bolsonaro, Matos disse que "a cidade tem desafios gigantes" e que a eleição terá "suficientes candidaturas para oferecer diferentes visões e soluções". A do PSDB, acrescenta, se constituirá dos marcos que formam "um histórico e um DNA de transformação social" legado pelo partido, como o projeto de saneamento básico.
Deputado estadual pelo Solidariedade, Heitor Férrer é outro concorrente que aposta no discurso contrário ao da nacionalização. O parlamentar entende que eleição municipal é oportunidade para debater assuntos locais e urgentes, como a saúde.
"Saúde é uma coisa ampla, não apenas o leito do hospital ou medicamento. O que foi feito durante esses anos todos de administrações em Fortaleza com relação a isso?", pergunta o deputado. "Vamos apresentar um novo modelo de gestão da saúde, que envolve moradia, saneamento, emprego e renda."
De acordo com Férrer, "essa polarização entre o que seria hoje o Bolsonaro e o anti-Bolsonaro não contempla a sociedade, que quer uma coisa mais equilibrada".
"Somos aliados, mas os partidos são independentes"
Deputado federal e presidente do Pros no Ceará, Capitão Wagner comentou o apoio do senador Eduardo Girão (Podemos) à pré-candidata Emília Pessoa (PSDB) à Prefeitura de Caucaia.
"Somos aliados, mas os partidos são independentes", disse o parlamentar ao O POVO.
Coordenador da campanha de Wagner, Girão assegurou sustentação à candidatura da vereadora tucana no município da Região Metropolitana de Fortaleza - o segundo maior colégio eleitoral cearense.
Pessoa foi candidata a vice-governadora na chapa entre Pros e PSDB ao Abolição em 2018, encabeçada por General Theophilo, hoje presidente do Podemos em Fortaleza.
Em Caucaia, porém, Wagner apoia o deputado estadual e correligionário Vitor Valim para o Executivo municipal. A reportagem tentou contatar Valim sobre o assunto, mas não houve retorno.
Outra dificuldade que os atores presentes no xadrez eleitoral de Caucaia terão de contornar envolve o PSD de Domingos Filho, o PDT e o PSL do deputado federal Heitor Freire.
Na cidade, o PSL apoia Naumi Amorim (PSD), candidato à reeleição que também conta com o aval do PDT, o que pode causar uma saia-justa para pedetistas, já que o PSL ainda é um partido ligado ao presidente Jair Bolsonaro e pelo qual ele se elegeu dois anos atrás.
Presidente do PSD, Domingos Filho fala que essa aliança com o PSL "é uma articulação feita diretamente com ele (Naumi)" e que, dessa maneira, não teria passado por conversas com a sigla sob seu comando.
Se PSD e PDT se entendem em Caucaia com vistas às eleições de 2020, outros dois partidos estão praticamente fechados naquele município: PT e PSB.
Presidente da executiva municipal petista, professor Evando de Sousa informa que o pré-candidato Elmano de Freitas "já conversou com Dênis (Bezerra, deputado federal e dirigente do PSB), e dessa conversa saiu uma aliança com PSB e PT".
Segundo o dirigente, para arrematar a composição, "falta apenas aval final da executiva nacional". O petista considera ainda que, "a partir desse núcleo, estamos procurando outros partidos para formar uma frente de esquerda".
Esse bloco, segue o professor, poderá incluir ainda siglas como o Psol e o PCdoB, que já sinalizaram que estão dispostas a lançar nome próprio. "A ideia é formar a frente de esquerda com PSB, PCdoB, Psol e Unidade Popular", avisa.