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Haroldo Martins e o foco em avanços dentro e fora de campo: "O Ceará quer ser um clube referência"
Reportagem Seriada

Haroldo Martins e o foco em avanços dentro e fora de campo: "O Ceará quer ser um clube referência"

Hoje CEO do futebol do Vovô, dirigente relembra diversas passagens pelo clube, recorda conquistas, elogia Léo Condé e aponta foco em evolução extracampo do clube nos próximos anos

Haroldo Martins e o foco em avanços dentro e fora de campo: "O Ceará quer ser um clube referência"

Hoje CEO do futebol do Vovô, dirigente relembra diversas passagens pelo clube, recorda conquistas, elogia Léo Condé e aponta foco em evolução extracampo do clube nos próximos anos
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De perfil discreto e observador, Haroldo Martins vem se tornando uma das peças cruciais na engrenagem do Ceará. Responsável pela montagem dos elencos de 2024 e 2025 do Alvinegro, o contador e advogado atualmente ocupa o cargo de CEO de Futebol e está à frente do carro-chefe do clube.

Todavia, a jornada em Porangabuçu iniciou há 20 anos. Como um "faz-tudo", como ele mesmo diz, o dirigente já passou por áreas vitais no Vovô, com departamentos financeiro e jurídico. Na trajetória, também teve chateações, especialmente durante sua passagem na diretoria de futebol em 2016, na gestão do então presidente Robinson de Castro.

Para Haroldo, até os momentos de baixa foram importantes para evolução profissional e pessoal. Alvinegro desde que "se entende por gente", o dirigente é mais um daqueles casos de torcedor que saiu das arquibancadas para viver o dia a dia do clube de forma profissional. Em Porangabuçu, viveu quase tudo: acessos, títulos, momentos financeiros complicados, festas da torcida, conheceu ídolos. 

Haroldo Martins é CEO de futebol do Ceará(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Haroldo Martins é CEO de futebol do Ceará

Por outro lado, toda sua dedicação ao futebol permite apenas momentos raros de lazer com a família. De acordo com Haroldo Martins, porém, a esposa e os filhos, que também têm o Vovô como um "integrante da família", entendem o cenário.

Em pouco mais de uma hora e 20 minutos minutos de entrevista ao O POVO, dias depois da conquista do bicampeonato estadual e da estreia no retorno à Série A do Brasileirão, na sala de imprensa da sede do Ceará, o dirigente revelou um lado que os holofotes não mostram e contou diversos episódios inéditos da sua trajetória no Alvinegro.

 

 

O POVO - Como foi a sua infância? Foi criado em Fortaleza mesmo?

Haroldo Martins - Minhas raízes são do bairro Joaquim Távora, mas eu sou meio criado no sertão, passei boa parte da minha vida lá também. Então eu sou "dos matos". Região de Hidrolândia, Ipu, na zona norte do Estado. Eu até brinco que eu saí dos matos e os matos não saíram de mim (risos).

OP - E o lado familiar? 

Haroldo - Tenho duas irmãs, morei com meus pais a vida toda, muito próximo ao meu pai e tenho uma idolatria pela minha mãe, que, pra mim, é referência de vida, de profissão, de valores, enfim. Eu sou realmente muito próximo da minha família.

Haroldo Martins relembrou a curta passagem como diretor de futebol do Ceará em 2016(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Haroldo Martins relembrou a curta passagem como diretor de futebol do Ceará em 2016

Minha mãe é "workaholic". Já passou dos 70 anos, mas continua trabalhando, continua na ativa. Ela quebrou tabus nos anos 1990. Na função dela, ela foi a primeira mulher a dirigir um banco, chegou à presidência do banco.

OP - Houve alguma influência dentro de casa para torcer Ceará?

Haroldo - No meu núcleo direto, não. Meu pai nunca foi muito próximo de futebol, minha mãe também não. É algo meu. Por exemplo, eu passei a frequentar o ambiente do Ceará por causa do Castelo Camurça, que era um colega de banco da minha mãe.

Ele é uma figura histórica aqui, um conselheiro que já exerceu diversas funções. Havia um outro amigo, um outro colega dela também, o Heraldo, que me levava aos jogos. Um tio, do lado paterno, que me levava aos jogos. Um materno também, enfim. Desde que eu me entendo por gente, eu torço Ceará.

OP - E qual sua primeira memória com o Ceará? E quem é o seu ídolo?

Haroldo - Lembro de ter feito, no colégio, uma redação inteira transcrevendo o que seria uma narração do Gomes Farias de um jogo. Tinha que falar de alguma coisa que você gostasse. Eu escrevi sobre futebol e era uma narração imaginária com a narração do Gomes Farias (risos).

Inclusive, tive o prazer aqui, desses dias, o clube fez uma homenagem com ele e eu pude estar aqui. Sensacional [...] Hélio Carrasco, o Feijão, mas, assim, eu acho que o ídolo da minha geração é o Sérgio Alves, indiscutivelmente. Sérgio Alves, com certeza absoluta.

Não lembro exatamente a primeira vez, mas há jogos marcantes para mim. Um jogo, tem um clássico, por exemplo, que o Ceará ganha de virada com o Osmar, com o Mirandinha, com o Sérgio Alves. Depois, um jogo de final de turno do Campeonato Cearense, que o Sérgio Alves faz um gol no final do tempo regulamentar e depois no final da prorrogação, e o Ceará é campeão nos pênaltis.

OP - Quando se iniciou sua aproximação com o Ceará em termos de convivência?

Haroldo - Desde quando eu comecei a ter alguma autonomia na minha vida, estive sempre próximo ao Ceará. Eu participo daqui, entre idas e vindas, desde o final de 2005. A gente está falando aí de quase 20 anos, é quase a metade da minha vida. Então, é realmente algo que faz parte da minha história como pessoa. Está na minha história de vida, o Ceará faz parte de uma forma significativa.

OP - E qual a influência do clube na sua vida profissional e pessoal?

Haroldo - Eu conheci minha esposa por causa do Ceará. Então, assim, realmente faz parte da minha vida. A minha família vê o Ceará de uma forma diferente. É quase como um outro filho. Minha família acompanha, torce, antes desse momento de vir de novo ao futebol, meus filhos torcem, minha esposa torcia antes de me conhecer.

Dirigente relembrou apoio da esposa para seguir no Ceará em 2025(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Dirigente relembrou apoio da esposa para seguir no Ceará em 2025

Inclusive, a família dela morava aqui próximo ao Ceará, eles são realmente torcedores, o pai dela, a mãe dela. Eu sempre dividi a minha vida profissional com o Ceará, embora, em alguns momentos, eu estive afastado do clube, mas para mim foi algo natural dividir a minha vida profissional com o Ceará desde sempre.

OP - Como surgiu o convite para entrar no Ceará em 2005?

Haroldo - Eu fazia parte de um grupo que se chamava CIA (Central de Inteligência Alvinegra), que nasce exatamente no começo dos anos 2000, num momento complicado do Ceará, mas buscava colocar o Ceará em evidência. A gente fazia ações do tipo "blitz" no caminho da Praia do Futuro para distribuir material do Ceará, adesivos, camisas.

A gente trocava camisa: o pessoal chegava no estádio com camisa de outro clube, a gente trocava por uma camisa do Ceará, dava a camisa do Ceará e pegava do outro clube. Havia também um outro grupo, chamado Impacto Alvinegro, que fazia ações sociais em comunidades carentes, levava serviços sociais, médicos, odontológicos, assistentes sociais, jurídicos, enfim.

Haroldo abriu o coração e discorreu sobre a dificuldade de ficar longe da família pela rotina no clube(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Haroldo abriu o coração e discorreu sobre a dificuldade de ficar longe da família pela rotina no clube

A partir desses movimentos, eu passei a conviver de uma forma mais próxima com o Ceará. E como eu estava aqui muitos dias na semana, organizando movimentos, a gente acaba se aproximando das pessoas que estão dirigindo o clube.

Me aproximei, na época, do Eugênio Rabelo, do Joel, e o Joel me traz para o financeiro para dar uma ajuda lá. Eu tinha um bom conhecimento contábil. Depois, quando veio a formação jurídica, eu assumi a direção jurídica e passei por diversos cargos no clube.

OP - A pressão do clube naquela época não te afetou?

Haroldo - Eu acho que isso, primeiro, são características inatas da pessoa. A questão da resiliência, da liderança, da maturidade para conviver com diversos momentos de pressão, dificuldade, de saber conviver em colegiado, de saber construir consensos.

Eu considero que eu tenho alguma facilidade com isso porque, em todos esses anos, construí, consegui conviver bem aqui. Ao lado disso, o Ceará é uma escola. Para mim, como eu disse, metade da minha vida está aqui, participando efetivamente do Ceará em alguma coisa.

O futebol exige maturidade. O futebol não admite arroubos, não admite a vaidade exacerbada e isso bota a perder qualquer trabalho. Se eu estou aqui há tanto tempo fazendo alguma coisa e acredito que tenha bom trânsito com as pessoas do Ceará, depois de todo esse tempo ainda me suportam aqui, é porque eu acredito que eu fui bem.

Contador e advogado já passou também pelas diretorias financeira e jurídica do Vovô(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Contador e advogado já passou também pelas diretorias financeira e jurídica do Vovô

OP - Conta um pouco da sua trajetória no clube. Ocorreram algumas saídas durante esse tempo...

Haroldo - Eu já fui e voltei algumas vezes. A gente veio ali no final de 2005 para 2006. Depois, eu assumo o (departamento) jurídico de 2007 pra 2008. O clube vivia um caos no jurídico. Era uma enxurrada de ação trabalhista, de execuções. A gente inicia ali uma organização, um freio nisso, já apontando para o norte de organização.

Depois, eu fico até 2010. Naquele momento foi melhor para mim e para o clube. Depois volto, em seguida tenho uma passagem pela Federação Cearense (de Futebol), na direção jurídica. Depois o STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) do Futsal.

Aí, eu volto para o clube, no financeiro, 2014 a 2016, vou ao departamento de futebol, saio e aí retorno agora. Esse, com certeza, é o maior período que eu fiquei distante da gestão do Ceará, de 2016 até o ano passado.

Haroldo Martins atendeu a equipe do O POVO por mais de uma hora, em Porangabuçu(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Haroldo Martins atendeu a equipe do O POVO por mais de uma hora, em Porangabuçu

Naquele momento (em 2016), havia uma incompatibilidade com a presidência do clube. Não guardo mágoas do período, já, inclusive, pude conversar com o presidente da época (Robinson de Castro) sobre isso. Então, assunto superado e o foco aqui é o Ceará e não as pessoas desavenças, enfim, isso não leva ninguém pra frente.

OP - E como começou sua relação com o futebol do Ceará, diretamente?

Haroldo - Quando eu estava no financeiro, em 2014, 2015, eu era quase um faz-tudo aqui. Tinha envolvimento no jurídico, no financeiro, no futebol, era muito próximo. Eu já tinha um contato muito próximo com o futebol, com agentes, atletas, treinadores, enfim, com a gestão do futebol efetivamente, e por isso, exatamente por isso, eu fui para o futebol no ano seguinte.

No entanto, naquele momento não havia o nível de autonomia necessário para isso, pela conjuntura do clube da época. Mas, sim, após a minha saída, eu continuei mantendo contato com o mundo do futebol. Eu permaneci atualizado sobre o que era futebol, convivendo com pessoas, convivendo com clubes, com empresários, gestores, atletas, eu mantive contato. Eu não chego de paraquedas de novo, sem saber o que fazer.

OP - Você já chegou a reencontrar o Robinson desde a saída em 2016?

Haroldo - Eu chego aqui de novo no final de 2023, então a gente está falando aí de um ano e quatro meses. Eu estive presencialmente com o Robinson uma vez. Acho que por menos de meia hora, talvez. Então não conversei sobre aquele período.

Como eu disse, pra mim é uma coisa totalmente superada. Até porque não vai voltar. Então não adianta ficar discutindo isso. Totalmente superado.

Haroldo garantiu que sempre houve confiança interna no acesso à Série A, em 2024(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Haroldo garantiu que sempre houve confiança interna no acesso à Série A, em 2024

OP - Quais foram as lições para focar no profissionalismo do clube?

Haroldo - De tudo que a gente vive, em qualquer setor da vida, a gente tem que extrair aprendizado. É óbvio que a experiência que eu vivi aqui nesse período me trouxe aprendizado sobre como gerir determinados assuntos.

Para você ter uma ideia, nessa ida ao Red Bull, por exemplo, eu encontrei o Fernando Seabra, que é treinador agora. Ele foi o primeiro analista de desempenho do Ceará, isso em 2014, se eu não me engano. Era uma coisa ainda incipiente naquele momento, mas que é essencial hoje.

Então, a gente está buscando investir fortemente aqui nesses setores para que o clube tenha um diferencial. A gente quer um crescimento sustentável do clube. O clube tem que ter ferramentas estrategicamente competitivas. Se eu não consigo ter a paridade financeira, eu tenho que ser melhor em outras áreas.

OP - Como foi o período fora do Ceará?

Haroldo - Bom, fiz o meu papel de torcedor, né? Torci, cornetei (risos), como todo torcedor faz. Inclusive compreendo bastante a torcida, não me irrito com "cornetagem". Não me chateei de jeito nenhum porque poderia estar ali, se não eu estava é porque não era para estar.

As coisas acontecem no tempo de Deus, não é no nosso. Por mais que a gente planeje alguma coisa, o tempo é o de Deus, às vezes a gente não compreende, outras vezes compreende mais tarde. As experiências que a gente vive não são para o mal, quaisquer que sejam elas. Mas a gente se resigna, segue em frente, espera.

Segui minha vida normalmente e torcendo bastante, porque, mesmo saindo, nunca deixei de torcer um milímetro a menos. Meus filhos continuaram os mesmos torcedores, minha esposa continua a mesma torcedora. Como eu disse, o Ceará para a gente é quase um ente familiar.

OP - O que te fez querer retornar ao clube no fim de 2023?

Haroldo - Na verdade, de primeira, eu recusei. Porque, para mim, era algo definido, entendia que ali é uma história encerrada. Eu estava com foco em outras coisas da minha vida. Quando eu me afastei, eu realmente me afastei. Eu parei de conviver aqui no Ceará. Do dia que eu saí, em 2016, fui voltar a pisar aqui no CT em meados de 2023, porque eu trouxe meus filhos para conhecer o clube.

Eu me afastei totalmente, até porque eu precisava fazer isso, porque senão eu ia ficar mal, porque ia ser aquela relação, como o namoro que fica mais ou menos terminado, né? Então, era namoro terminado de fato, eu me afastei.

 

"O que me interessa é buscar eficiência, um crescimento a médio e longo prazo, não só imediato"

 

Aí surge o convite do João Paulo (Silva, presidente do Ceará) e, realmente, no primeiro momento, eu recusei, mas ele coloca tudo o que ele estava vivendo, a necessidade do clube, e a gente passa a discutir sobre condições de trabalho.

O que me interessa é fazer um trabalho, buscar eficiência, resultados, o crescimento do clube, um crescimento a médio e longo prazo, não só imediato, porque a gente precisa fazer uma construção aqui pensando em anos seguintes. E aí isso me motiva. Então foi para isso que eu vim aqui.

Haroldo diz que Ceará quer ser vanguardista em avanços estruturais extracampo(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Haroldo diz que Ceará quer ser vanguardista em avanços estruturais extracampo

OP - Como você vê o investimento em melhorias para a evolução do Ceará?

Haroldo - Eu sou entusiasta dessa parte tecnológica, mas, paralelamente a isso, considero a parte humana dessa relação essencial. A gente busca cuidar da parte psicossocial, não só dos atletas, mas das pessoas que trabalham aqui, a gente busca ter um bom ambiente de trabalho. O gestor de futebol não precisa gerir só futebol, ele tem que gerir pessoas.

Ele é o cara que tem que estar aqui para facilitar o trabalho dos demais, para dar ferramentas, dar condições para que os diversos profissionais exerçam seus trabalhos da melhor forma possível. O futebol nunca é feito por uma pessoa. O futebol é feito a muitas mãos e não cabe o termo "eu" no futebol. É sempre "nós". É muita gente para fazer o futebol acontecer.

OP - E como é sua relação com o presidente João Paulo?

Haroldo - Eu conheço o João Paulo, a pessoa João Paulo, além do Ceará. Eu sei dos valores, sei do caráter. E eu vi o momento que ele estava passando, é o quinto presidente com que eu convivo, são quatro da (diretoria) executiva, um do conselho (deliberativo).

Por tudo que ele estava passando ali, naquele momento, pessoalmente e como presidente, não considerei justo não atender o convite. Nunca quis que ele estivesse longe do futebol e não é esse o caso, ele é o presidente do clube. Ele tem a decisão final, a caneta é dele. E ele, além de permitir que o trabalho aconteça, tem feito isso sem vaidade.

OP - Quais os maiores desafios que você encontrou ao chegar a Porangabuçu?

Haroldo - O Ceará viveu um momento pós-rebaixamento, 2023 é o ano imediato a isso, isso impacta diretamente no orçamento do clube, é uma queda brusca, tinha passivo de 2022, de 2021.

Financeiramente foi um ano difícil, todo mundo sabe disso. Adicionalmente, o clube viu um cenário da aproximação de um período eleitoral, tinha acabado de passar por uma eleição pós-renúncia do Robinson. É uma renúncia, é sempre muito ruim, é uma quebra repentina de um ciclo. O João Paulo assume como presidente, diante de todo esse cenário de dificuldade, para, em breve, em cerca de um ano, ter outra eleição. 

Nesse período, o clube vive esse cenário político inflamado. Os problemas são superexpostos. Não é que o clube não tivesse problemas, mas os problemas são muito mais expostos. O clube sangra, sofre com isso, mas a gente tinha que seguir. As dificuldades, todo mundo sabia e elas não iriam sumir, então a gente tinha que seguir e trabalhar para que essas dificuldades afetassem no mínimo possível o futebol, o andamento do futebol.

João Paulo Silva, presidente do Ceará, e Haroldo Martins, CEO de futebol(Foto: Israel Simonton/Ceará SC e Gabriel Silva/Ceará SC)
Foto: Israel Simonton/Ceará SC e Gabriel Silva/Ceará SC João Paulo Silva, presidente do Ceará, e Haroldo Martins, CEO de futebol

E, desde a minha primeira conversa com conselheiros, com a direção do clube, o que eu sempre pedi e deixei claro que precisava acontecer é que nós precisamos preservar o futebol do Ceará, porque é o carro-chefe e é o que vai nos fazer mudar esse cenário. É voltar a uma Série A, que traz orçamento. A gente tinha que, naquele momento, lutar para que isso acontecesse, que é o que vai reverter o cenário financeiro. 

Mesmo com os problemas que o clube vinha vivendo, a gente conseguiu construir um bom ambiente aqui, de boa convivência, de transparência em relação aos profissionais. Os profissionais eram informados das coisas que estavam acontecendo, das soluções que estavam sendo aplicadas, do que era verídico ou do que não era verídico, do que ia surgindo ao longo do tempo.

OP - Conta um pouco dos bastidores durante a Série B. Em algum momento vocês desacreditaram do acesso?

Haroldo - A gente vai para uma Série B que começa oscilante. Nos primeiros sete jogos, a gente até tem uma boa pontuação, depois tem oscilação e vem uma sequência muito ruim tecnicamente e de resultados, que é ali uma sequência de jogos, salvo engano, com Brusque, Ponte Preta, Sport. A gente precisou, naquele momento, fazer uma mudança (de técnico). A partir daí, a gente busca uma retomada.

No jogo contra o Goiás, a gente perde de uma forma muito ruim, com interferência de arbitragem, erros de arbitragem. E aquilo, por mais paradoxal que pareça, chamou a torcida. A torcida comprou a briga. Eu disse isso no vídeo após o jogo, inclusive: "Desrespeitaram o Ceará, mas a gente vai brigar". Porque é isso, essa é a identidade do clube, está no nosso hino, e é isso que a gente trabalha aqui com os atletas, é a identidade dos grupos que vão se formando aqui, o Ceará luta.

Mesmo nos piores momentos que a gente teve na Série B do ano passado, a gente nunca achou que não fosse subir. A gente trabalhou sempre com esse pensamento de que a gente iria conseguir esse sucesso.

O Ceará precisa se enxergar como o time do povo. O Ceará precisa criar essa sinergia. E quando ela acontece, o Ceará é muito forte. Naquele momento, naquela reta final, a gente consegue emendar essa sequência de vitórias que culminam com o acesso.

OP - Como foi o processo de montagem do elenco para 2024?

Haroldo - A gente definiu diversos critérios que a gente queria para a construção de um elenco. E, entre eles, a gente analisou fortemente a questão comportamental dos atletas. A parte da análise bio-psicossocial é muito forte. A gente busca informações muito profundas dos atletas que a gente tenta trazer para o clube. Claro que isso não nos isenta de erros. Os erros podem acontecer, mas a gente tenta minimizá-los.

Haroldo destaca critério no processo de contratação dos jogadores para o Ceará(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Haroldo destaca critério no processo de contratação dos jogadores para o Ceará

E o nosso elenco do ano passado, assim como desse ano, tem muito dessa formação, do aspecto mental, comportamental, do atleta que se entrega, do atleta que quer crescer junto com o clube. Alguns já com carreira consolidada, mas que têm respeito ao clube, que se entregam, que não são acomodados. Porque o atleta mesmo, já na parte final da carreira dele, ele tem que ser competitivo, ele tem que querer mais e não pode se acomodar. 

A acomodação não cabe no futebol. A acomodação faz mal ao futebol. E a gente buscou aqui nesses elencos, teve bastante esse critério aqui de gente que vem aqui pra lutar, pra ter essa identificação com o que é o Ceará.

O Ceará não tem mecenas, o Ceará não é um clube rico, o Ceará não é um clube que tenha um investidor, um grande investidor de uma SAF. O Ceará é um clube popular, feito por pessoas, pessoas do povo, e que quer crescer, e a gente quer atletas que tenham essa identidade.

 

"A acomodação não cabe no futebol. A acomodação faz mal ao futebol."

 

OP - O Lucas Drubscky, executivo de futebol, é um bom parceiro de trabalho? Vocês dividem tarefas no dia a dia...

Haroldo - O Drubscky é a primeira contratação que eu faço aqui. Logo depois da minha chegada a gente vai buscar a contratação do executivo. Busquei informações sobre o Lucas e aí, a partir disso, eu tive uma conversa muito longa com ele sobre tudo que eu pensava sobre futebol, que casa com o que ele pensa também. Tem sido uma parceria muito boa. A gente tem um bom entendimento, tem conseguido gerar consenso, é uma equipe com um trabalho muito fluido.

Haroldo Martins (à esquerda) e Lucas Drubscky (à direita)(Foto: REPRODUÇÃO/VOZÃO TV)
Foto: REPRODUÇÃO/VOZÃO TV Haroldo Martins (à esquerda) e Lucas Drubscky (à direita)

OP - E como acontecem as negociações? Processo de análise, sondagem, contato, assinatura...

Haroldo - Dentro das nossas divisões de tarefas aqui, muitas vezes o Lucas faz esse papel, algumas vezes eu faço também, mas a gente tem que ter convicção no que a gente tem como alvo, e tem que saber esperar o momento certo para as melhores negociações.

A gente não pode ser precipitado, também não pode ser acomodado e não ter o senso de urgência de fazer os movimentos que a gente precisa fazer. Mas esperar o tempo certo.

Às vezes acontece do clube não liberar no primeiro momento, mas que a gente tem forte convicção de que aquele atleta vai se integrar bem aqui, então vale a pena aguardar um pouco por esse atleta para a gente conseguir contratar daqui a pouco, porque acredita que vai dar o negócio, vai acontecer o negócio.

 

"De tudo que eu já vivi em estádio, foi o dia mais espetacular que eu vi da torcida do Ceará, ou de uma torcida que eu tenha presenciado."

 

Mas, assim, nesse período, a gente criou mecanismos aqui para a apresentação do clube. Para os atletas estrangeiros, por exemplo, tem um material desenvolvido em vários idiomas, com a apresentação do clube, da cidade, da força da torcida, enfim, para ele saber qual é o clube que está interessado nele, né? Como é o clube que está interessado nele?

Os atletas do Brasil conhecem bem o clube, claro, e a cada demonstração de força da torcida. Muitos desse ano, por exemplo, viram o jogo do América-MG no passado, um espetáculo que a torcida fez ali e, para mim, de tudo que eu já vivi em estádio, foi o dia mais espetacular que eu vi da torcida do Ceará, ou de uma torcida que eu tenha presenciado.

Aquele dia foi diferente, diferente de tudo. Muitos viram, muitos comentam aqui: "Ó, eu vi aquele jogo. Pô, aquilo é absurdo e tal". Então a gente não tem tido grande trabalho de convencimento, alguém que a gente precise convencer a vir pra cá, não.

 

 

OP - Qual sua projeção para a Série A de 2025, após dois anos do Ceará na Série B?

Haroldo - A gente está enfrentando um campeonato difícil, tecnicamente difícil, com clubes com muito mais condições financeiras que nós. A gente vem de uma realidade de Série B, onde o Ceará tinha a sexta maior folha, e está indo para uma Série A que o Ceará está entre os cinco menores orçamentos. A gente quer estar na Série A e brigou para estar na Série A. Então, nós temos que chegar na Série A para competir.

Como eu disse, a gente está trabalhando o clube para se desenvolver em áreas que permitam uma competição, enfrentar a disparidade financeira com outras ferramentas, se desenvolvendo em outras áreas.

Fernandinho marca gol Ceará x Maracanã pelo Campeonato Cearense no Estádio Presidente Vargas(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Fernandinho marca gol Ceará x Maracanã pelo Campeonato Cearense no Estádio Presidente Vargas

E, em campo, formar um elenco capaz de competir, um elenco de força física, de mentalidade forte, não que a gente não precise também da qualidade técnica, e nós acreditamos que temos. Sem desviar nosso foco, sabendo da realidade do campeonato que a gente enfrenta, da nossa posição em relação ao campeonato e buscando, claro, no primeiro momento, permanecer. E depois, confirmado desse objetivo, buscar voos mais altos, buscar competições internacionais.

OP - Desde sua chegada, o Ceará vem investindo fortemente em tecnologias para análise de desempenho e departamento médico, por exemplo. Qual a importância disso?

Haroldo - O maior investimento é sempre em pessoas, nos profissionais, seja nos atletas, na comissão técnica, no estafe, enfim. A tecnologia não vai se mover sem os melhores profissionais. Então a gente busca ter uma equipe com os melhores profissionais, e nós temos, tanto que profissionais saem daqui para a seleção brasileira, para outros grandes clubes.

Paralelamente a isso, nós precisamos dar a esses profissionais as melhores ferramentas. E eu sou entusiasta da tecnologia no futebol. Eu acho que é o caminho para o qual o futebol está seguindo. Para que esses profissionais tenham o melhor trabalho, eles precisam do suporte tecnológico. Hoje, em relação ao futebol brasileiro, o Ceará está no top-5 dessa área.

A gente tem ferramentas aqui que pouquíssimos clubes têm no Brasil hoje. Isso é muito bom, a gente está falando de um trabalho de um ano e pouco e, nesse período, a gente já desenvolveu bastante. E o Ceará tem que seguir isso, independentemente da minha presença aqui ou não, é um caminho que o Ceará precisa seguir e isso vai dar um diferencial competitivo.

CEO do futebol alvinegro elogiou o trabalho do técnico Léo Condé(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES CEO do futebol alvinegro elogiou o trabalho do técnico Léo Condé

OP - A ideia da diretoria é manter o Léo Condé como técnico por muitos anos?

Haroldo - Quando se contrata um treinador, a expectativa é que haja um trabalho longevo. Sempre se espera isso. Como você disse, o futebol realmente tem essa coisa de imediatista, mói profissionais diversos, não só treinadores. A gente espera, sim, construir um trabalho longevo com o Condé.

Ele se adaptou muito bem ao clube. Muito bem com a convivência com os profissionais. É aberto ao uso dessas tecnologias que o clube entrega. Ele usa efetivamente as soluções do clube. O Condé, no dia a dia, é uma pessoa muito fácil de lidar, ele é um cara que é o bom mineiro, que fica longe dos holofotes, que fala pouco. A gente tem um bom diálogo, ele não é um cara fechado, e eu espero muito que haja um trabalho longevo com ele.

OP - Falando do lado pessoal, como a família reage em meio à pressão por resultados? O futebol é um ambiente muito desgastante.

Haroldo - Minha família é minha sustentação, é meu alicerce. Nos momentos que a gente imagina ganhando o campeonato, aquele momento de premiação e tal, a minha visualização do momento, imaginando aquilo acontecer, é recebendo a minha família. Não é indo para o pódio levantando o troféu, é eu olhando para a minha família, mostrando aquilo para eles, porque eu entendo que eles ganham junto aquilo ali.

As famílias de quem lida com futebol, os diversos profissionais do futebol, normalmente sofrem muito. Porque a gente está em constante viagem, fica longe, é estressante e tem que se trabalhar para não levar para casa esse estresse. São poucos finais de semana que a gente tem inteiro com a família, são raros. É muito raro, no futebol, eu dispor de um final de semana pra estar com a minha família.

Então, sempre que eu posso, imediatamente é o que eu busco, estar com eles. Minha esposa me dá um suporte maravilhoso. Ela tem todo o conhecimento da minha vida, eu divido com ela os problemas que eu vivo aqui, eu faço minhas orações com ela, ela participa do meu suporte espiritual, mental, torce junto comigo.

Torcida do Ceará. Fortaleza x Ceará.  Clássico Rei na Arena Castelão. Primeiro jogo da final do Campeonato Cearense(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Torcida do Ceará. Fortaleza x Ceará. Clássico Rei na Arena Castelão. Primeiro jogo da final do Campeonato Cearense

Felizmente eles têm uma boa concepção do trabalho, até meus filhos também. Eles sabem o que eu preciso fazer aqui, dos momentos de mais pressão e que eu preciso estar de tranquilidade em casa, eles dão esse suporte. E eu sempre digo pra eles, a cada conquista que a gente tem aqui: "Vocês ganharam junto, vocês são campeões". Eu chego em casa, minha medalha eu tiro, boto na minha esposa, entrego a faixa para o meu filho, camisa para os meus filhos, porque eles fazem parte disso aqui.

Meus filhos mais velhos nasceram enquanto eu fazia parte da gestão do Ceará. O mais novo, não, ele nasce exatamente no período que eu estava afastado, mas ele é meio um mascote daqui. Todo mundo gosta dele aqui, às vezes eu trago ele para o treino, os atletas gostam dele, o Léo Condé é alucinado por ele, o Vagner Mancini, quando estava aqui, também gostava muito dele, todo mundo gosta do Alexandre, o meu filho mais novo, é uma figurinha.

OP - Qual a participação da sua esposa para você continuar no Ceará em 2025?

Haroldo - A participação foi total. Eu não toparia se ela me dissesse "eu não estou junto com você nessa", eu não iria. Eu tinha um compromisso com ela. Eu disse: "Vou topar, o João Paulo está precisando, mas é para essa temporada (2024). Eu não vou além".

E aí, no final do ano, vem essa coisa, tem que permanecer. Aí, de novo, eu vou para ela e disse: "Você está junto comigo? O que é que eu faço?". Porque eu prometi que eu não ia passar de um ano. E aí ela revê a posição dela e diz: "Estou junto com você de novo e vamos em frente". É uma construção que eu faço a dois, sempre.

OP - Vai seguir no futebol no futuro, depois que sair do Ceará?

Haroldo - Não sei o que é que Deus tem para minha vida para frente, não sei o que vai acontecer, eu tenho que pensar no agora. O planejamento é de longo prazo, não na minha permanência que eu estou falando, mas de construir algo sólido pro Ceará.

A minha ideia é que a gente consiga construir aqui um padrão Ceará de fazer futebol. A gente não precisa aqui ter referência em outro clube. A gente tem que criar o nosso padrão, com as nossas características, com as nossas necessidades. Cada clube tem sua necessidade e sua conjuntura.

Ceará x Juazeirense pela Copa do Nordeste na Arena Castelão(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Ceará x Juazeirense pela Copa do Nordeste na Arena Castelão

OP - Como enxerga o Ceará daqui cinco ou dez anos?

Haroldo - Um clube inovador, na vanguarda de determinados departamentos em relação ao futebol brasileiro, para que a gente compense a disparidade financeira. Então, eu enxergo o Ceará como um clube sólido, que não fique totalmente sujeito simplesmente a momentos financeiros para que o trabalho aconteça de uma forma sem solução de continuidade.

Nossos processos são esses, o clube respeita os processos, aplica com solidez, esses processos são bem elaborados, e isso dá sustentação a longo prazo. Não é algo que varie conforme a gestão do momento, conforme a competição do momento, esses processos têm que ser os processos do Ceará. É isso que eu pretendo, junto com a gestão de todo mundo aqui, o presidente, os demais diretores, os profissionais que trabalham no clube.

Eu tenho forte convicção de que é isso que dá solidez a longo prazo. Não é uma montagem de elenco a cada ano. Esse ano acerta-se, no outro ano erra-se e gera prejuízo desportivo. Aí, no outro ano acerta de novo, ganha desportivo. Não pode ser assim.

Dirigente do Vovô elogiou o Brentford, clube da Inglaterra, em paralelo com o Ceará(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Dirigente do Vovô elogiou o Brentford, clube da Inglaterra, em paralelo com o Ceará

OP - Algum clube inspira vocês nessa parte tecnológica?

Haroldo - Eu não acho que a gente deva ter uma referência para pensar o Ceará. A gente tem que construir a nossa ideia aqui com a convicção e com a conjuntura do que a gente tem aqui, mas tem o Brentford, da Inglaterra, que é bem legal o que eles fazem, que eu considero bem interessante.

Ele chegou à Premier League, vem de divisões inferiores, e eles investem fortemente em ciência e tecnologia. Não que eu queira ser o Brentford, não é essa a questão. O Ceará não quer ser o Brentford, o Ceará quer ser um clube referência. O Ceará quer ser inovador, ser vanguardista.

OP - Qual seu sentimento após feitos importantes com o clube, como o bicampeonato estadual e o acesso?

Haroldo - Pessoalmente, a satisfação de torcedor de estar no clube do meu coração à frente disso, isso é algo indescritível. Eu construo memórias para a minha família, para os meus filhos. Eu já disse a eles que eles estavam ali no campo vendo o pai receber uma premiação e tal: "Contem para os meus netos, viu?". Eu já disse a eles: "No dia que vocês tiverem filhos, contem para os meus netos, para eles saberem o que o avô deles fez".

Então, para mim, pessoalmente, é algo que eu construo com eles. Eu acho que eu me sinto um privilegiado. Às vezes, eu até me pergunto se eu mereço isso, porque quantas pessoas não queriam? Quantas pessoas no mundo não gostariam de viver isso? E quantas efetivamente vivem? São pouquíssimas. E eu sou uma delas. É um presente de Deus que eu vivo. Isso é muito bom. 

Também tem algo que, para mim, a essência desse clube, essa coisa do time do povo, quando a gente sai do ônibus, indo para o PV, por exemplo, a gente passa em frente a uma comunidade que sempre tem umas cinco, seis crianças muito pobres, que a gente percebe, mas que saem ali com as camisas do Ceará, que ficam esperando o momento da passagem do ônibus para estar pulando.

Torcedor do Ceará, CEO do futebol exaltou a alcunha de time do povo(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Torcedor do Ceará, CEO do futebol exaltou a alcunha de time do povo

Sempre no estádio, eu observo o tanto de gente que a gente está fazendo feliz naquele momento. O Ceará é o time do povo. E aí, num estádio com 60 mil pessoas, tem um cara que tem um carro de R$ 600 mil e tem um cara que deixou de pagar uma conta básica, a conta de luz dele, para comprar um ingresso.

A gente tem todas essas pessoas naquele universo. E a gente está entregando ali, às vezes, a única alegria que a pessoa tem. E a gente está podendo fazer parte daquilo. Isso é outra coisa que pouquíssimas pessoas conseguem viver no mundo. Então, realmente, eu me sinto um privilegiado.

OP - Por fim, o que o Haroldo faz quando está fora do trabalho?

Haroldo - Eu vou para dentro da minha casa gastar o pouco tempo que eu tenho para ficar com a minha família. Eu gosto muito de música. Inclusive, o clube fez uma releitura de uma música esses dias. De uma música dos anos 1960, 1970, não lembro agora. Do José Jatahy, que é o mesmo autor do hino do Ceará. Que ele fala muito do que é o clube, né? Que diz "operário, doutor, estudante, agricultor, cada um do Ceará é torcedor".

Haroldo Martins em entrevista no Trem Bala(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Haroldo Martins em entrevista no Trem Bala

Então, é isso. Minha sexta-feira, por exemplo, quando eu estou em casa com tempo, um vinho, um jantar com minha mulher e música. Esse é o meu lazer preferido. Eu já disse a ela, inclusive, que eu entendo como um dos segredos do casamento. Como um casamento funciona? Como é que um casamento acontece? Por que um casamento dura? A gente acaba se apaixonando pela mesma pessoa várias vezes, por motivos diversos. Eu já me peguei apaixonado pela minha mulher várias vezes.

Um desses dias, um mês atrás, eu estava olhando para ela jantando, tomando vinho e falei: "Como eu gosto de estar aqui". Eu fiquei pensando: "Se ela não estivesse aqui, como é que seria a minha vida?". Uma dessas sextas de vinho, uma comida boa e música é o suficiente. Não preciso mais do que isso.

 

 

 

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