A velocidade da evolução na forma de se comunicar é grande. A fluidez nas relações, a diferença dos formatos e o desafio de alcançar as massas são grandes questões para o mercado publicitário.
Esses desafios fazem parte do dia a dia do publicitário Bob Santos, diretor da SG Propag, que em 2025 completa 50 anos de história.
Ao O POVO, o publicitário destaca o legado de Assis Santos, seu pai, fundador da SG e pioneiro na publicidade cearense, como um homem de diversidade de talentos e à frente de seu tempo.
No mercado, Bob busca constantemente inovação e adaptação às mudanças. Ele destaca a relação da agência com clientes de longa data, o valor da comunicação local e a importância de se manter relevante em um mercado competitivo.
Para Bob, nenhuma inovação tecnológica pode podar a criatividade humana, mas potencializar o lado inventivo dos profissionais de comunicação.
“Eu fico preocupado quando vejo um outdoor com template comprado e de ver que grandes empresas estão indo por esse caminho. A nossa essência é a de fazer o diferente, a de criar”.
O POVO - Qual o papel do seu pai, Assis Santos, no início do trabalho, com a fundação da SG Propag? E o que de inspiração e do legado podemos destacar do Assis na construção da propaganda cearense?
Bob Santos - Eu tive a sorte de estar dentro de uma dentro de uma casa onde meu pai foi meu professor. No dia a dia aprendi o ofício que eu tenho hoje. Logicamente, é graças a ele que eu pude respirar todas as etapas. E a forma que ele me criou é uma forma que eu criei os meus filhos. É sempre ali, com a barriga no balcão, sempre com a mão na massa.
Bom, eu passei por todas as etapas que você pode pensar dentro de uma agência de propaganda. Até hoje continuo aprendendo com os com os os nossos colaboradores. Até hoje eu tenho o mesmo sentimento e a mesma forma de atuar quando eu cheguei na agência oficialmente, aos 16 anos. Tenho carteira assinada desde os 16, embora eu já vivia esse dia a dia da agência, ela foi minha vida desde 6, 7 anos.
Quando eu entrei oficialmente na SG, a agência já tinha 7 anos de existência. Então, desses 50 anos de fundação, eu tô aqui há 43 anos, ainda persistindo. Então, eu fui criado com o professor dentro de casa e uma referência para mim, profissional, fantástica, um nome no mercado que era acostumado realmente a ter ideias, mergulhar e ir para cima. Assis Santos é um nome que é unanimidade, é tanto que o prêmio da propaganda tem o seu nome, é o Fest Pro Assis Santos.
Ele foi o primeiro cearense a ser a ser contemplado como Publicitário Latino-Americano do Ano, pela Associação Latino-Americana de Propaganda (Alap), da qual eu fiz parte também, da qual eu fui presidente aqui no Ceará, na qual eu tive a oportunidade e o orgulho de também de ser agraciado junto com outros: o Sérgio Fiúza, o Maninho Brígido. Ou seja, grandes nomes da propaganda cearense tiveram esse reconhecimento da Alap e o meu pai foi pioneiro.
Foi ele o criador do Sindicato das Agências de Propaganda. Então ele sempre foi assim um cara que vai buscar o que tem de novidade, sempre esse olhar pra frente, esse olhar pro futuro e eu consegui manter vivo comigo, manter junto com o meu filho. A SG sempre foi uma agência pioneira, dentro dos seus limites, dentro do seu tamanho.
OP - O pioneirismo é realmente uma marca da SG ao longo de sua história...
Bob - A gente foi a primeira agência a ter site, computador. À época, a SG foi a primeira a ter
Hoje a gente tem uma busca incessante, um trabalho bacana de inteligência artificial. Temos criado jingles, apresentações... Isso aprendi muito com o meu pai. Então essa referência de criatividade, de relação, de respeito à verba do cliente, carregamos isso e nos faz ter um posicionamento de mercado muito, muito bacana. Nós temos clientes de casa com 45 anos de relação semanal com o cliente há 40 anos.
São poucas as agências que podem ter uma carteira com essa longevidade. Nós temos uma campanha que é o "Pá-Pé-Pio" (Casa Pio), que fez 40 anos no ar, sem nunca ter deixado de anunciar um ano sequer. Então, essa relação de confiança com os clientes, de confiança com o mercado, isso a gente vem construindo.
Nos últimos 20 anos - papai faleceu em 2004 - a gente tem tocado isso de uma forma de respeito ao legado dele, mas também com o mesmo respeito aos clientes, que é a nossa responsabilidade com os resultados que vão aparecendo.
Nesses 50 anos já vimos muita agência chegar e muita agência ir embora. Eu acho que é um caminho que a gente escolheu para traçar. É um caminho mais longo, mas não somos um corredor de 100 metros, somos maratonistas.
O POVO - Seu perfil é um pouco diferente do seu pai. Ele aparecia muito à frente da câmera, assumindo como rosto da promoção...
Bob - Era um outro momento do mercado e um outro talento também. Eu tenho que admitir meus limites, né. Papai trabalhou muito no momento que era a chegada da televisão. Ele era um homem de rádio, locutor de rádio e naquele momento quem era locutor ir pra televisão era um pequeno passo.
Então, as primeiras pessoas que apareceram na televisão, nomes como Augusto Borges, Torrinho e papai, foram umas pessoas que migraram para a televisão na época da TV Ceará. Eu tive a oportunidade de viver isso também, a TV Ceará tinha comerciais ao vivo.
Então os breaks às vezes quando só tinha um apresentador de plantão - e às vezes era o papai que ficava lá no estúdio da TV -, ele saía de um comercial, a câmera já pegava o cenário seguinte de outro cliente e ele entrava com a mesma roupa.
Saía de um cenário para ir pro outro e normalmente o texto não era o mesmo, sempre tinha uma coisa diferente porque não tinha TP (teleprompter), não tinha nada, era tudo na memória. Então eles saíam de um comercial da Mesbla para ir para um comercial do Carvalho Borges, no seguinte era um comercial da Lobras (Lojas Brasileiras) e aí emendando texto atrás de texto.
Isso me deu uma vivência também muito bacana, mas sim, ele tinha esse dom de ser radialista, de ser de de estar na frente da televisão. A maior experiência de visibilidade dele foi ser garoto-propaganda do Romcy, que era um grande magazine que tinha aqui.
Para você ter uma ideia do que era antigamente, nós produzimos aqui dentro da SG e eu tive o prazer de ser o produtor. A gente gravava 54 comerciais por semana. Então, o Romcy anunciava oito comerciais diferentes por dia. E isso era somente do Jornal Nacional em diante, só no horário nobre.
A gente tinha um volume de gravação, um volume de inserção que nos permitiu montar a minha produtora. Quando eu vislumbrei que nós tínhamos um cliente que tem um volume bacana de gravações e não tinha produtora no mercado, todo mundo gravava no canal 10, foi uma oportunidade que eu tive de montar a primeira produtora daqui, a Vide-Video (junto a Naves Ximenes).
E logo em seguida, um mês, dois meses depois, eu fundei a ProVideo, que é aberta até hoje, mas com o nome de Uno. Então, temos uma história também muito bacana em termos de volume, a gente tinha de produção.
O momento era outro totalmente diferente, hoje o volume de anúncios na televisão é diferente, vemos poucos anunciantes locais. O custo de veiculação é alto, o custo-benefício que cada empresa está traçando e sabe o que vai fazer.
"Muita gente acha que o digital resolve tudo. Eu ainda sou um pouco reticente porque o digital veio para complementar e não para salvar."
O POVO - A chegada da Era Digital acaba influenciando diretamente a forma de comunicar em detrimento aos modelos tradicionais?
Bob - Muita gente acha que o digital resolve tudo. Eu ainda sou um pouco reticente porque o digital veio para complementar e não para salvar. É importantíssimo você ter presença digital, mas não pode estar só no digital. Em termos de empresa, né? Em termos de profissionais, de alguma coisa, aplicação, tudo bem. Mas você não pode ter uma empresa tipo Casa Pio somente nas redes sociais.
Quando você tem uma demanda, você tem um público muito grande, você realmente tem que ir pros grandes, grandes canais de comunicação. Ir para uma televisão, ir para uma rádio, ir para um jornal - mesmo que seja digital, não importa. Mas você tem que ir para grandes, realmente grandes canais de comunicação, que tenham um público para que a gente consiga levar a comunicação e assim consiga ter um resultado.
Porque, senão, a gente fica aqui criando, vai somente pro digital, mas não funciona dessa forma... Quando se propõe a colocar uma empresa no mercado com um trabalho que a gente está fazendo, de soluções que a gente tem dentro de casa, de compra de mídia que a gente faz, para que façamos investimento de estratégia de mídia em cima de dados e não não achômetro.
É um investimento alto que fazemos em pesquisa, um investimento muito alto em treinamento pessoal, em compra de software, então, tem um peso, tem um custo, e a gente acredita que o mercado ainda absorve esse tipo de trabalho, porque alguns clientes conseguem enxergar a qualidade que tem isso.
OP - Esse perfil de clientes é exceção, tendo em vista o quão fluido está o mercado?
Bob - Logicamente tem clientes que querem volume, enfim, querem outras soluções que, infelizmente, esse tipo de empresa (como a SG) não consegue dar, né, mas é nichado. De qualquer maneira, eu acredito muito na competência e nos resultados de uma empresa de propaganda.
Continua sendo uma ferramenta muito eficaz para você realmente distanciar seu produto dos outros. Porque senão você fica ali raso igual a todo mundo. Então a gente tem tido resultados disso, grandes empresários estão com a gente há vários anos, porque a gente tem resultado.
O POVO - Seu modelo de trabalho e gestão da equipe é notabilizado pela atuação nos bastidores, sendo até a ser um perfil um pouco mais tímido...
Bob - É, eu nasci dessa forma, fui criado dessa forma e embora o meu pai fosse de uma maneira um pouco diferente, eu tenho levado isso na minha vida em várias coisas. Logicamente, a gente acaba transferindo isso para a empresa como um todo.
Empresa normalmente é um reflexo de posicionamentos da liderança... Eu até tenho até dificuldade de dizer que eu sou o chefe, que eu sou o diretor, alguma coisa desse tipo. "Você que é CEO?"... "Não, cara, eu sou diretor", sempre respondo assim. Diretor-diretor e aí resolve. A minha coisa sempre foi operacional, eu acredito muito, isso é o que me motiva a acordar todo dia para vir trabalhar.
Nós temos um cliente aqui, que é o Totolec, que efetivamente nós temos um programa ao vivo na televisão todo domingo há 21 anos. E todo domingo eu vou à televisão. São raras as vezes no ano - talvez duas, três ou quatro vezes, no máximo - que eu deixo de ir no domingo. Mas quando não tô, meu filho está. Muitas vezes vamos juntos, mas, nos últimos 20 anos, e aí se vão mais de 1.200 domingos.
A minha família sabe que minha primeira obrigação é o cliente. Então, às vezes, eu tô fora de Fortaleza, mas pego um avião e volto, porque eu tenho esse compromisso com o cliente. Já aconteceu uma vez de domingo ser 1º de janeiro e quando eu chego lá na TV onde a gente faz a transmissão, o cliente tava na porta esperando e me disse: 'Só vim ver se você vinha e agora eu tô indo para casa comemorar meu Réveillon.'
Então essa é a nossa forma de trabalhar, a gente mergulha muito, eu levo trabalho para casa. Isso é uma coisa que minha família acabou entendendo, mas é o que me motiva e o meu time também vai vendo essa forma de trabalhar. Aqui não tem grito, aqui a gente tem uma forma de trabalhar em cima de resultados.
Eu quero compromisso na entrega, eu não quero horário de trabalho. Então aqui todo mundo aqui sabe disso, todo mundo tem a liberdade de entrar, de conversar, todo mundo tem seus problemas para resolver. Eu entendo todo mundo, mas eu quero a entrega, a responsabilidade com o nosso cliente.
Não é fácil fazer essa gestão de pessoas, eu tô me policiando para deixar de ir pro operacional e transferir isso mais para o pessoal de criação, o pessoal de estratégia de mídia e eu tô ficando mais na parte de planejamento e na parte de relação com os clientes.
Mas a criação é o meu berço, é o meu dia a dia. Quando eu tô aqui, fico criando jingle, letra, slogan, logomarca... Como eu tive um aprendizado de todas as áreas, se você deixar aqui, eu faço a campanha, eu crio o texto, eu crio o logomarca, crio o projeto, seja lá o que for, a gente bota para vender, leva pra equipe, mas a gente faz acontecer. Mas se o Bob não tiver aqui, qualquer um também vai fazer essa entrega.
Para você ter ideia, quando eu comprei a agência do meu pai, da minha mãe, e das minhas irmãs que eram sócias, eu assumi com 35 pessoas. Dessas 35, nós temos cinco hoje dentro de casa. Hoje nós estamos com 57 colaboradores qualificados, a grande maioria das pessoas aqui tem pós-graduação, estão sempre buscando conhecimentos e eu tô sempre motivando.
Tem gestor que diz: "Ah, não vou qualificar meu time, senão ele vai embora". Eu tenho a seguinte visão: Você vai ficar aqui e enquanto você estiver aqui prestando serviço, eu quero que você dê o melhor. E eu acredito muito na qualificação das pessoas como resultado.
Sem querer desqualificar qualquer outro pensamento, mas quem pensa que qualificar time, porque tem medo de investir e perder para o concorrente, tá perdendo tempo. Como é que você atende seu cliente hoje? O mercado está cada vez mais acirrado.
Nos últimos 20 anos, a quantidade de agências que surgiu é grande e o tamanho do bolo é praticamente o mesmo. As fatias foram diminuindo. Então eu tenho que qualificar meu time, eu tenho que investir nos meus equipamentos, eu tenho que investir na minha estrutura para que eu possa ter um resultado melhor e consiga manter os meus clientes e atrair novos. Eu não vejo outro caminho a não ser através da qualidade da entrega. Fora isso, não se sustenta uma relação.
OP - A SG completa 50 anos em 2025 e está anunciando novidades. Mas umas das marcas é a fidelização de longa data...
Bob - Temos alguns, mas grande parte dos nossos clientes são clientes novos. Nós temos Câmara Municipal, Prefeitura de Sobral, Prefeitura de Maracanaú, Prefeitura de Caucaia, todos esses nos últimos 4 anos através de licitações que a gente há muito tempo não participava.
Então, eu me sentei com o pessoal e decidi que iríamos começar a participar de licitações, já que fazia muito tempo que a gente não participava. Reuni o time e todo mundo comprou essa ideia. Hoje a gente tem essa linha de contas públicas, mas nós temos clientes como a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Fortaleza há 10 anos, o Natal de Luz é um projeto que passa pela SG também, mas esse já é um pouco mais longevo, tem 19 anos.
Mas temos novos clientes, como por exemplo, a Yamaha Nordeste. A gente está responsável pela comunicação das motos Yamaha no Nordeste. Estamos indo para a segunda campanha, já tivemos a campanha em outubro e nós vamos entrar, após o Carnaval, com a segunda campanha no Nordeste.
Tem a Guanabara, que é uma cliente nacional, que pra gente foi uma surpresa muito grande, porque a gente tinha a Guanabara local e através dos resultados nós avançamos e passamos a cuidar da comunicação da Guanabara no Brasil inteiro. São clientes novos, ou seja, a gente tá constantemente mudando, sempre evoluindo e com novos projetos.
Por exemplo, a Federação da Agricultura do Estado do Ceará (Faec) para a gente foi uma grata surpresa que nós caímos ali para executar um projeto grande que era a PEC Nordeste, um grande desafio. Um evento que há três anos tinha 60 stands, depois passou para 300.
O ano passado teve 1.100 stands, esse ano vai ter 1.200 stands. O próprio Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-CE) é um cliente que nós vencemos a licitação e estamos trabalhando com o Syara Tech Summit, que é um produto deles, um evento que nós pegamos na primeira edição, eles tiveram 3 mil inscritos.
O nosso desafio era 5 mil pessoas inscritas, nós colocamos 8 mil inscritos. No ano passado a nossa meta era 13 mil inscritos, nós fomos para 24 mil e agora eles querem 50 mil inscritos. Mas vamos lutar para que esse ano a gente atinja um público cada vez maior e melhor, porque é um público qualificado.
Então, esses desafios vão aparecendo, vão motivando todo o time. Logicamente, a comunicação dos clientes dentro da casa, a gente tem uma constância de reuniões, com Casa Pio, com Totolec, com CDL Fortaleza, enfim, a gente tem um time de pessoas que atendem tanto o segmento off como online. São pessoas que a gente tá tentando trabalhar mais ainda nesse mercado. Agora a gente recebeu essa semana um selo de “Agência Silver” da RD Station, que é uma ferramenta aqui pra gente muito bacana.
Quando o cliente acessa através do WhatsApp ou no Instagram, busca alguma coisa, a gente pega toda a jornada do cliente, sabe quando é que ele entrou, como ele foi atendido. Então, a relação do digital já é diferente, ela vai além, por isso, preciso estar investindo.
No digital, se o cliente não for bem atendido, em poucos minutos ele vai embora. A gente precisa mergulhar, precisa entender muito disso, dessa relação. O digital ele deu uma uma guinada muito grande em termos de comunicação. Porque era muito fácil, muito cômodo ter uma grande tela onde todo mundo sentava à frente e assistia o que você passasse.
Hoje não, a gente escolhe o que a gente quer assistir, onde a gente quer assistir, em que momento, o formato, tudo... Assim, essa relação de comunicação precisa ser entendida, as grandes agências precisam entender.
As grandes agências que já estavam estruturadas baseadas somente na receita da mídia, isso virou. Então, a agência tem que entender de produção, tem que entender de digital, tem que buscar novas fontes de remuneração para que mantenha a qualidade que ela se propõe a ser o seu diferencial no mercado. As grandes agências que tinham no Brasil viviam simplesmente da compra de mídia.
Hoje não, nós temos que mensurar isso. Cada agência vai buscando o seu formato, a gente tá intensificando muito essa parte agora de produção de eventos, que é uma coisa que eu sempre fiz também, eu sou muito inquieto. Eu fui um dos criadores do do do da época do Fortal, eu fui criador da Meia Maratona de Fortaleza. Então, fui criando sempre algumas coisas porque é o meu hobby fazer isso.
"As grandes agências que já estavam estruturadas baseadas somente na receita da mídia, isso virou."
Sempre fui dessa coisa de evento. Então, quando o cliente quer e a gente tem oportunidade, investimos bastante. Criamos alguns projetos e a gente acompanha a produção, projetos, como a gente tá fazendo agora da PEC Nordeste e em 2025 a gente vai intensificar isso.
O primeiro grande evento nosso vai ser agora a Feira dos Municípios dentro da PEC Nordeste. É um projeto que estamos cuidando desde a elaboração da campanha, elaboração de cenário, de tudo. E é um projeto que a gente tem começo, meio e fim, inclusive até acompanhamento de venda, de receita. E acredito que vai ser o grande diferencial nosso a partir agora dos 50 anos.
OP - Sobre o mercado da propaganda, a SG sempre foi uma agência muito engajada no orgulho de ser nordestina, de ser cearense. Como o senhor observa o impacto das empresas locais no mercado nacional?
Bob - É um desafio. Tem muita empresa de fora que vem com sotaque diferente e quer vender aqui no Ceará. Bem, existem casos de erros que são crassos, assim como se a gente fosse do Ceará e chegasse em São Paulo sem fazer uma imersão. Com certeza a gente iria cometer também o mesmo erro. Então é preciso ter um olhar local.
Quando a gente ganhou a concorrência da Yamaha Nordeste, esse olhar foi o diferencial. Eles vieram buscar uma agência que tivesse o olhar regional, sem ser o pejorativo, sem ser a coisa assim de achar que que a gente só fala "oxente", "bichinho"... Não foi isso, mas o olhar de comunicação, como chegar nas pessoas, como ser efetivo.
E, logicamente, a gente não precisa pensar que só podemos criar a partir de xilogravuras. Chega disso e o olhar não pode ser esse. A gente não pode estereotipar o cearense e o nordestino, que ele é só aquilo. Então vem o pessoal de fora que acha que botar um chapéu de couro e achar que o nordestino anda de chapéu de couro aqui e ali, sendo que a realidade é completamente diferente.
Esse olhar tem que ser mais atento, porque, na verdade, a comunicação não é o que a gente fala, é o que a pessoa do outro lado entende. Então você não estabelece comunicação se não tiver duas vias.
Eu acho que a questão de você ter acesso a influenciadores locais, às vezes, micro, às vezes, macro, dependendo da estratégia, mas que fale realmente a língua do cearense... E as grandes empresas estão percebendo isso. Aqui já temos empresas que cuidam só de influencers com sotaque, por exemplo.
OP - Qual o impacto dos influenciadores para a realidade das agências?
Bob - A gente tem utilizado bastante (parcerias com influenciadores). Casa Pio, C. Rolim, Totolec, Sebrae-CE também. Temos utilizado bastante porque é um canal bastante efetivo. O que a gente sempre tem a preocupação é o formato que ele comunica.
A gente não quer jamais através de uma campanha mudar o formato que o cara comunica. Nós temos que adaptar a nossa campanha para o formato, senão fica uma coisa falsa. Ele sai da forma do que ele foi reconhecido pelo público dele para ler um texto, alguma coisa desse tipo, que é totalmente fora. Não gera engajamento. As pessoas percebem.
"A comunicação não é o que a gente fala, é o que a pessoa do outro lado entende."
OP - Olhando para o atual contexto, qual o impacto já existe e qual deve ser o futuro das agências com a evolução da inteligência artificial? Podem haver demissões de profissionais criativos?
Bob - Não, pelo contrário. Eu tô atrás de gente que entenda de inteligência artificial (IA). Nós tivemos o privilégio de vivenciar muitas etapas dentro da SG. Já tivemos área para dez, 15, 20 pranchetas, reservada aos desenhistas que faziam os anúncios na mão. Com a chegada dos computadores, do Photoshop, aquele melhor desenhista que não se adaptou, saiu do mercado.
A mesma coisa digo para os profissionais criativos: "Vamos buscar nos adaptar, mergulhar e buscar saber do que for de IA". Eu tenho um carma meu que é todo dia procurar aprender, olho muito para frente. Não era para ser, mas aqui na agência eu sou a pessoa que mais entende e pesquisa sobre IA. Já fiz muita coisa com IA, facilita muita coisa, como nas apresentações para clientes, jingles, vídeos 100% feitos com a tecnologia.
Em termos de referência para fotógrafos, por exemplo, conseguimos encaixar o ângulo, a iluminação, dar o movimento e referenciar melhor o profissional. A tecnologia vem evoluindo bastante e não vejo como fechar vagas para profissionais, mas vamos procurar profissionais que entendam das ferramentas. É uma evolução rápida e preciso que os profissionais estejam atentos.
As pessoas se preocupam muito com a criação, mas entendo que as apresentações que vão mudar e a produção que vai ser adaptada, a informação precisará ser repassada pelo profissional de uma nova forma, pelo comando da máquina, vai acabar aquela coisa de página a página, Powerpoint. É um processo que estamos passando, aprendendo e faz parte do nosso DNA. Constantemente estou olhando ferramentas, fico até de madrugada, não consigo parar porque isso me motiva. Porque talvez esse seja o diferencial entre as agências daqui para frente.
OP - Neste mundo de fluidez constante, em que é preciso criar coisas novas todo ano, todo mês, toda semana e todo dia. O quão importante é ter exemplos como a campanha "Pá-Pé-Pio", que ficam na memória coletiva? Falta esse olhar no mercado hoje?
Bob - Com certeza falta. Vivemos num mundo muito efêmero. Antigamente, tínhamos músicas que duravam décadas, como os Beatles. Hoje parece que o tempo está diminuindo, o sucesso de uma música dura três dias de Carnaval. Nem lembramos mais qual a música que bombou no Carnaval do ano passado. Na geração anterior, era diferente, as marchinhas duravam décadas, por exemplo. Na comunicação não é diferente.
Esse desafio é constante porque a mídia também é muito curta, portanto não tem o período para a fixação necessária para que tenha uma memória coletiva. E a cobrança por tempos mais curtos para desenvolvimento da campanha, não é possível entregar o que era para ser feito.
"Pá-Pé-Pio" é um exemplo, a "Segunda do Papoco, Zenir" são campanhas que saíram daqui e estão aí e fazem sucesso porque tem uma referência. Mas quando é preciso fazer várias coisas na mesma semana, pulverizar comunicação para atender a demanda de profissionais que estão ali somente na execução, comprando template, deixa de ser criatividade, deixa de ser campanha e deixa de ter efetividade.
Eu fico preocupado quando vejo um outdoor com template comprado e de ver que grandes empresas estão indo por esse caminho. A nossa essência é a de fazer o diferente, de criar ou mudar uma fonte, buscar novas ferramentas para ter um diferencial. Não é simplesmente fazer num formato que fique bem no Instagram.
Delegar
Inquieto e sempre disposto a estar pensando novidades, Bob iniciou 2025 com uma reestruturação na SG. Novos diretores foram anunciados e ele passou a ter mais tempo para desenvolvimento de projetos e relacionamento com os clientes, delegando a rotina de criação.
Juventude
"Você chega numa agência como a SG, que tem seus 50 anos, mas não parece ter", diz Bob. Ele exalta o time com mais de 50 profissionais, a maioria jovens.
50 anos
A SG Propag completa meia década de fundação no próximo dia 15 de junho, mas mudanças, como na identidade visual, serão apresentadas neste mês de março. Neste ano, a agência mudou de endereço, localizada agora no Varanda Mall, no cruzamento das avenidas Dom Luís e Senador Virgílio Távora.
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