#UbirajaraBelongstoBR influenciou debate público sobre colonialismo científico, diz pesquisa
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Editora-adjunta do O POVO+ especializada em ciência, meio ambiente e clima. Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é premiada a nível regional e nacional com reportagens sobre ciência e meio ambiente. Também já foi finalista do Prêmio Einstein +Admirados da Imprensa de Saúde, Ciência e Bem-Estar na região Nordeste
#UbirajaraBelongstoBR influenciou debate público sobre colonialismo científico, diz pesquisa
Pesquisa publicada nesta sexta-feira mostra como o movimento de repatriação do fóssil cearense Ubirajara jubatus furou a bolha da paleontologia e sacudiu opiniões nacional e internacionalmente
Foto: @valent801
Artistas brasileiros engajaram o movimento pela repatriação do Ubirajara com ilustrações de protesto. Na imagem, arte do @valent801
Por três anos, o Twitter (agora X) do Brasil foi tomado por um movimento quase inédito: a hashtag #UbirajaraBelongstoBR. Oriunda de um grupo de paleontólogos brasileiros, ela protestava pela repatriação do fóssil do ‘Ubirajara jubatus’, dinossauro cearense traficado para a Alemanha.
Entre mutirões de tweets, cartas oficiais, posicionamentos institucionais e muito barulho, o Ubirajara foi finalmente repatriado em 2023. Agora, uma pesquisa publicada nesta sexta-feira, 11, na revista científica Geoscience Communication, indica o verdadeiro impacto dos protestos nas redes sociais.
Ao analisar 39.728 tweets, os autores Mohammad Ali Rahimi Fard Kashani, Nussaïbah B. Raja e Chico Q. Camargo concluíram que a hashtag #UbirajaraBelongstoBR conseguiu transcender a bolha paleontológica e influenciar o debate público e científico sobre práticas coloniais e antiéticas na ciência.
Mais ainda, o movimento engajou a comunidade internacional. Ainda que 61,76% dos tweets tenham sido em português, outros 32,34% foram em inglês, com direito a uma pequena parcela de falantes de alemão (0,32%) e espanhol (1,88%).
“O caso #UbirajaraBelongstoBR ilustra como as plataformas digitais podem facilitar a defesa internacional contra práticas científicas antiéticas, destacando o potencial das mídias sociais para promover mudanças na governança científica e padrões éticos”, apontam os pesquisadores.
Encabeçado pelos paleontólogos Aline Ghilardi (UFRN) e Juan Cisneros (UFPI), a hashtag instigou 16 comunidades no Twitter. Além de paleontólogos e cientistas, o #UbirajaraBelongstoBR foi bem-sucedido em engajar a imprensa nacional — e não somente os jornalistas de ciência —, a classe artística e as instituições públicas e oficiais dos países envolvidos.
Foto: AURÉLIO ALVES
Fóssil do Ubirajara chegou ao Ceará em junho de 2023
Outro dado interessante é a de hashtags menores que coexistiram com o pedido de repatriação do Ubirajara: ao lutar pela devolução do fóssil, as comunidades engajaram também outros eventos políticos internacionais, como a guerra da Ucrânia (#stopwarinukraine) e o genocídio palestino (#freepalestine).
Houve também menções diretas à política brasileira, com as hashtags #Bolsonarogenocida, #Bolsonarovagabundo, #Bolsocaro, #Forabolsonaro e #Lula.
“Esse transbordamento do protesto para outros tópicos políticos pode ser interpretado como uma indicação da inclinação política dos usuários do Twitter que estavam preocupados com #UbirajaraBelongstoBR”, sugerem os autores.
Não é à toa que os tweets tendiam a estar relacionados com sentimentos “negativos”, como raiva e criticismo em relação ao tráfico de fósseis, ou ao colonialismo na paleontologia.
Mesmo que a maioria dos tweets tenha sido categorizada como “reações neutras”, os sentimentos negativos foram duas vezes mais frequentes que os positivos.
“Esses momentos de aumento do desvio padrão no sentimento indicam um alto número de tuítes positivos apoiando o movimento e celebrando pequenas vitórias”, pontuam.
Foto: Reprodução/Twitter Archesuchus
Ilustração publicada no twitter Archesuchus mostra uma conversa entre o Irritator challengeri e o Ubirajara jubatus. Irritado? Eu também, eu também, diz o Ubirajara
A pesquisa demonstra que fazer barulho na internet faz uma grande diferença nos processos de repatriação de fósseis. Não somente por colocar o assunto em alta, mas principalmente por engajar a sociedade civil e pressionar os países com fósseis contrabandeados.
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