Logo O POVO+
#UbirajaraBelongstoBR influenciou debate público sobre colonialismo científico, diz pesquisa
Foto de Catalina Leite
clique para exibir bio do colunista

Editora-adjunta do O POVO+ especializada em ciência, meio ambiente e clima. Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é premiada a nível regional e nacional com reportagens sobre ciência e meio ambiente. Também já foi finalista do Prêmio Einstein +Admirados da Imprensa de Saúde, Ciência e Bem-Estar na região Nordeste

Catalina Leite ciência e saúde

#UbirajaraBelongstoBR influenciou debate público sobre colonialismo científico, diz pesquisa

Pesquisa publicada nesta sexta-feira mostra como o movimento de repatriação do fóssil cearense Ubirajara jubatus furou a bolha da paleontologia e sacudiu opiniões nacional e internacionalmente
Tipo Notícia
Artistas brasileiros engajaram o movimento pela repatriação do Ubirajara com ilustrações de protesto. Na imagem, arte do @valent801 (Foto: @valent801)
Foto: @valent801 Artistas brasileiros engajaram o movimento pela repatriação do Ubirajara com ilustrações de protesto. Na imagem, arte do @valent801

Por três anos, o Twitter (agora X) do Brasil foi tomado por um movimento quase inédito: a hashtag #UbirajaraBelongstoBR. Oriunda de um grupo de paleontólogos brasileiros, ela protestava pela repatriação do fóssil do ‘Ubirajara jubatus’, dinossauro cearense traficado para a Alemanha.

Entre mutirões de tweets, cartas oficiais, posicionamentos institucionais e muito barulho, o Ubirajara foi finalmente repatriado em 2023. Agora, uma pesquisa publicada nesta sexta-feira, 11, na revista científica Geoscience Communication, indica o verdadeiro impacto dos protestos nas redes sociais.

Ao analisar 39.728 tweets, os autores Mohammad Ali Rahimi Fard Kashani, Nussaïbah B. Raja e Chico Q. Camargo concluíram que a hashtag #UbirajaraBelongstoBR conseguiu transcender a bolha paleontológica e influenciar o debate público e científico sobre práticas coloniais e antiéticas na ciência.

Mais ainda, o movimento engajou a comunidade internacional. Ainda que 61,76% dos tweets tenham sido em português, outros 32,34% foram em inglês, com direito a uma pequena parcela de falantes de alemão (0,32%) e espanhol (1,88%).

“O caso #UbirajaraBelongstoBR ilustra como as plataformas digitais podem facilitar a defesa internacional contra práticas científicas antiéticas, destacando o potencial das mídias sociais para promover mudanças na governança científica e padrões éticos”, apontam os pesquisadores.

Encabeçado pelos paleontólogos Aline Ghilardi (UFRN) e Juan Cisneros (UFPI), a hashtag instigou 16 comunidades no Twitter. Além de paleontólogos e cientistas, o #UbirajaraBelongstoBR foi bem-sucedido em engajar a imprensa nacional — e não somente os jornalistas de ciência —, a classe artística e as instituições públicas e oficiais dos países envolvidos.

Fóssil do Ubirajara chegou ao Ceará em junho de 2023(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Fóssil do Ubirajara chegou ao Ceará em junho de 2023

Outro dado interessante é a de hashtags menores que coexistiram com o pedido de repatriação do Ubirajara: ao lutar pela devolução do fóssil, as comunidades engajaram também outros eventos políticos internacionais, como a guerra da Ucrânia (#stopwarinukraine) e o genocídio palestino (#freepalestine).

Houve também menções diretas à política brasileira, com as hashtags #Bolsonarogenocida, #Bolsonarovagabundo, #Bolsocaro, #Forabolsonaro e #Lula.

“Esse transbordamento do protesto para outros tópicos políticos pode ser interpretado como uma indicação da inclinação política dos usuários do Twitter que estavam preocupados com #UbirajaraBelongstoBR”, sugerem os autores.

Não é à toa que os tweets tendiam a estar relacionados com sentimentos “negativos”, como raiva e criticismo em relação ao tráfico de fósseis, ou ao colonialismo na paleontologia.

Mesmo que a maioria dos tweets tenha sido categorizada como “reações neutras”, os sentimentos negativos foram duas vezes mais frequentes que os positivos.

Por outro lado, os sentimentos positivos (de alegria, orgulho e comemoração) equipararam-se aos negativos em alguns marcos de vitória na linha do tempo do #UbirajaraBelongstoBR. Exemplo é julho de 2022, quando a Alemanha finalmente anunciou que devolveria o fóssil ao Brasil.

“Esses momentos de aumento do desvio padrão no sentimento indicam um alto número de tuítes positivos apoiando o movimento e celebrando pequenas vitórias”, pontuam.

Ilustração publicada no twitter Archesuchus mostra uma conversa entre o Irritator challengeri e o Ubirajara jubatus. Irritado? Eu também, eu também, diz o Ubirajara(Foto: Reprodução/Twitter Archesuchus)
Foto: Reprodução/Twitter Archesuchus Ilustração publicada no twitter Archesuchus mostra uma conversa entre o Irritator challengeri e o Ubirajara jubatus. Irritado? Eu também, eu também, diz o Ubirajara

A pesquisa demonstra que fazer barulho na internet faz uma grande diferença nos processos de repatriação de fósseis. Não somente por colocar o assunto em alta, mas principalmente por engajar a sociedade civil e pressionar os países com fósseis contrabandeados.

Acompanhando o sucesso do movimento pelo Ubirajara, os paleontólogos brasileiros seguem na luta pela repatriação do dinossauro Irritator challengeri. Além da hashtag #IrritatorBelongstoBR, criou-se um abaixo assinado homônimo — que já conta com 30.574 assinaturas.

 

Gosta de fósseis? O POVO+ tem um site só para você! Conheça o site Mundo dos Fósseis, com divulgação científica e reportagens sobre colonialismo e tráfico de fósseis

Foto do Catalina Leite

Análises e fatos sobre as pautas ambientais. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?