#IrritatorBelongsToBR: abaixo-assinado pede repatriação de dinossauro cearense
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Editora-adjunta do O POVO+ especializada em ciência, meio ambiente e clima. Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é premiada a nível regional e nacional com reportagens sobre ciência e meio ambiente. Também já foi finalista do Prêmio Einstein +Admirados da Imprensa de Saúde, Ciência e Bem-Estar na região Nordeste
#IrritatorBelongsToBR: abaixo-assinado pede repatriação de dinossauro cearense
O Irritator challengeri é um fóssil escavado no Cariri cearense e traficado para a Alemanha nos anos 1990. Atualmente, ele está no acervo do Museu Estadual de História Natural de Stuttgart (SMNS) e sucede disputa impulsionada pelo caso Ubirajara jubatus
Foto: Reprodução/Twitter Darren Naish
Crânio do Irritator challengeri coberto por massa plástica usada em cimento, antes do tratamento
Paleontólogos brasileiros e sociedade civil mobilizam novamente as redes para conquistar a repatriação de mais um fóssil cearense. Dessa vez, é o movimento #IrritatorBelongsToBR, pedindo a devolução do Irritator challengeri, crânio de um dinossauro escavado no Cariri e retirado ilegalmente no País nos anos 1990.
Desde 1991, ele está no acervo do Museu Estadual de História Natural de Stuttgart (SMNS), na Alemanha. Então, em 1997, o paleontólogo britânico David Martill — persona non grata entre os pesquisadores brasileiros — e a equipe Cruickshank, Frey, Small e Clarke publicaram a pesquisa que descrevia e dava nome ao Irritator.
O nome do dinossauro virou uma piada de mau gosto. Ocorre que o fóssil foi alterado por contrabandistas para alongar o focinho do animal, o que deixou a equipe irritada com o desafio (challenge, em inglês) para preparar e descrever o material.
Depois do sucesso na repatriação do Ubirajara jubatus com o movimento digital #UbirajaraBelongsToBR, os pesquisadores brasileiros querem impulsionar a devolução do Irritator com um abaixo-assinado. Até o começo da tarde de 11 de abril de 2024, mais de 11 mil pessoas assinaram a petição.
“Após dois anos esperando, seguimos sem uma resposta por parte do museu e das autoridades alemãs. Não podemos mais aceitar esse comportamento como normal”, defende Leonardo Troiano, um dos autores do abaixo-assinado. Os casos de tráfico de fósseis do Brasil, especialmente comuns no Cariri cearense, são um exemplo da persistência do colonialismo científico.
Em julho de 2023, os paleontólogos que encabeçaram o movimento #UbirajaraBelongsToBR, entre eles a professora Aline Ghilardi (UFRN), enviaram uma carta aberta ao Ministério da Ciência, Pesquisa e Arte do estado de Baden-Württemberg, na Alemanha.
Foto: Fred Wierum
Reconstrução da vida de corpo inteiro do Irritator
A carta teve cerca de 2 mil assinaturas e foi endereçada à ministra Petra Olschowski, “solicitando providências para a devolução do exemplar ao Brasil”. “Já estamos em abril de 2025 e, até agora, não houve qualquer retorno oficial”, declaram os pesquisadores.
A resposta da ministra seria um bom indício de sucesso na repatriação, já que foi a partir da positiva da ex-ministra Theresia Bauer que o Ubirajara jubatus foi devolvido.
“A restituição de Irritator challengeri ao Brasil e ao Araripe, contudo, é muito mais que uma questão de legalidade, mas de justiça e respeito ao Brasil, ao patrimônio cultural nacional, e seu povo”, finalizam os mobilizadores.
A Alemanha é um dos principais destinos de fósseis traficados do Brasil. Os museus alemães guardam em seus acervos 10 holótipos de vertebrados, 13 de plantas e pelo menos 47 holótipos de insetos, aracnídeos e quilópodes. Holótipos são os fósseis utilizados para descrever novas espécies — são, portanto, muito especiais.
Ao analisar três décadas de publicações paleontológicas envolvendo macrofósseis do Cariri, uma pesquisa latinoamericana identificou que 59,15% delas (o total é de 71 artigos) foram lideradas por pesquisadores estrangeiros.
A maioria (57,14%) desses estudos gringos não tinham nenhuma evidência de parceria com pesquisadores brasileiros ― obrigatório quando se estuda fósseis brasileiros fora do País, segundo a Portaria nº 55/1990 do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
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