Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
Não é blandícia sacrificar pés de jatobás e afins por uma festa, mesmo com o aval da compensação por órgãos ambientais. Um jatobá de 24 metros leva décadas para virar uma árvore-senhora da idade de nossas avós e bisavós
Santo Antônio não é violento. Não ameaça ninguém de morte. Não esbraveja em estado de facção nem tenta territorializar a opinião alheia. O mundo é a Casa Comum de todo bicho de orelha, de folha, de asas, de barbatanas e dos que se arrastam ou dos invisíveis que nem concebemos. Em Barbalha ou na Irlanda é a mesma Terra.
Pois bem, terão minha eterna solidariedade todos os pés de jatobás, de angicos e quaisquer árvores sacrificadas para uma festa que poderia deixar de mão a mata. Festejos, gandaias e troças sempre serão bem-vindas.
E quanto a crônica, esse formato narrativo do cotidianesco, saboreia quem não é lapuz ou quem não se apraz. Não é das minhas pitangas
Dançar Santo Antônio, em qualquer canto da Terra, será sempre um prazer porque o corpo deu a ele a permissão para ser brincante. A violência e o preconceito não têm lugar na folgança.
E quanto a crônica, esse formato narrativo do cotidianesco, saboreia quem não é lapuz ou quem não se apraz. Não é das minhas pitangas, é da vidinha egocêntrica indo e vindo.
Não é mais admissível que por ser uma das mais bonitas árvores da Chapada do Araripe, frondosa, fogosa, a mais grossa e tonelada
Salve a folia de Santo Antônio! Vida desmedida pra ela e seus brincantes não-violentos! Salve também o longevo direito do jatobá.
Não é mais admissível que por ser uma das mais bonitas árvores da Chapada do Araripe, frondosa, fogosa, a mais grossa e tonelada... A mais vigorosa ou uma das mais compridas até o céu... 23, 24, 25 metros...
Que por chamar atenção na mata e ter a promessa natural de chegar aos 40 metros se não for derrubada pela ação do tempo ou, equivocadamente, pela mentalidade antropocêntrica...
Que por ter chegado à idade de nossas avós, de nossas bisavós... por ter sobrevivido 70, 80, 100 anos...
Que por ser uma “senhora” árvore do jatobá, de fruto de gosto forte...
Ofereço a "Laudato Si", do Papa Francisco, para ser lida durante a Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio e nas homilias.
"Laudato si', mi' Signore – Louvado sejas, meu Senhor", cantava São Francisco de Assis. Neste gracioso cântico, recordava-nos que a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços:.
Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la.
A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra-se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que "geme e sofre as dores do parto (Rm 8, 22).
"Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra" (cf. Gn 2, 7). O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e restaura-nos".
Salvem os pés de jatobás, de angicos e de afins nativos e nativas. Nada justifica o humano assassinar uma flor que seja. Convivê-la.
Glorioso Santo Antônio, por favor, interceda pela mata também!
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