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Cocó sem gestor e norte ambiental
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Demitri Túlio é editor-adjunto do Núcleo de Audiovisual do O POVO, além de ser cronista da Casa. É vencedor de mais de 40 prêmios de jornalsimo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. Também é autor de teatro e de literatura infantil, com mais de 10 publicações

Cocó sem gestor e norte ambiental

Há uma ilusão de que o governo do Ceará cuida integralmente dos 1.581,29 hectares do Parque do Cocó. Apenas na "Aldeota/Cocó" ele é parque
Tipo Crônica
Primavera em Fortaleza. Beija-flor-da-barriga-branca (Chrysuronia leucogaster) no ipê-roxo, no Parque Estadual do Cocó (Foto: DEMITRI TúLIO)
Foto: DEMITRI TúLIO Primavera em Fortaleza. Beija-flor-da-barriga-branca (Chrysuronia leucogaster) no ipê-roxo, no Parque Estadual do Cocó

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O Parque Estadual do Cocó está novamente sem um gestor. O agrônomo Narciso Mota deixou de ser o gerente da mais midiática Unidade de Conservação de Proteção Integral do Ceará. É a segunda vez no governo Elmano de Freitas (PT) que o Parque sobrevivente fica sem um chefe florestal.

Depois do fim do governo Camilo Santana (PT) e a chegada de Elmano, o Cocó  experimentou 9 meses sem um gerente. Foi o primeiro sinal de que haveria descontinuidade do que funcionou na gestão anterior.

Narciso Mota, uma indicação da deputada federal Luizianne Lins (PT), estaria insatisfeito com o isolamento em relação às decisões e a falta de encaminhamentos de projetos para o Parque na Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima (Sema).    

 

"Narciso Mota até mostrou disposição para lidar com a floresta de mangue e outros biomas reunidos em um estirão de 1.581,29 hectares"
 

 

O gestor teria antecipado o envio da carta de demissão, à secretária Vilma Freire, quando soube que uma funcionária da Unidade de Conservação havia sido demitida sem seu conhecimento. O pedido de exoneração foi feito no mesmo dia em que a trabalhadora terceirizada foi cortada. 

Funcionário de carreira da Universidade Federal do Ceará (UFC), Narciso Mota até mostrou disposição para lidar com a floresta de mangue e outros biomas reunidos em um estirão de 1.581,29 hectares. Mas reclamava da falta de autonomia e de uma escuta técnica na secretaria. 

Padeceu, também, da mesma ilusão vendida por gestões anteriores, desde a demarcação das poligonais em 2017. A de que o governo do Ceará cuida integralmente da Unidade de Conservação. Uma falácia.    

 

"Santana viu mapas, acochambrou interesses de "donos de terras, do rio e de dunas" e assinou a legalização"

 

No palmilhar, o gestor do Parque do Cocó nem conhece o que foi demarcado no governo Camilo Santana. Nem o próprio Camilo e muito menos Elmano sabe o que de fato é o Parque Estadual do Cocó da nascente, na serra da Aratanha, em Pacatuba, à foz, na Sabiaguaba, em Fortaleza. 

Santana viu mapas, acochambrou interesses de "donos de terras, do rio e de dunas" e assinou a legalização. Teve o mérito de canetar uma reivindicação ecológica que se arrastava desde os anos 1970.

De verdade, os gestores do Parque do Cocó e da Sema, apenas lidam com o "Cocó da Aldeota/Cocó". Ao quadrado privilegiado do perímetro Engenheiro Santana Júnior, Padre Antônio Tomás, Sebastião de Abreu e Iguatemi. E ainda, o Adahil Barreto e alguma coisa do polo gastronômico da Sabiaguaba - que está na beira do rio

 

"Mesmo com pendências e conveniências políticas, Artur Bruno poderia ter continuado à frente da Sema"

 

Fora isso, desde a concepção do Plano de Manejo, o gestor resolve pendengas de areninhas construídas nas margens do Lagamar. E, ano após ano, dá entrevistas desidratadas sobre os incêndios que se sucedem na mata seca do Cocó no período da estiagem. 

Um dos desacertos da gestão Elmano de Freitas foi trocar por razões de acomodação política (e de conterraneidade) Artur Bruno por Vilma Freire. Nenhum dos dois é da área ambiental, mas Bruno teve o mérito de se cercar de técnicos mais eficientes e envolvidos.

Teve equívocos, como a construção de um gatil no Adahil Barreto. Poderia ter convencido Camilo Santana da necessidade de um Centro de Referência e Adoção de Animais Domésticos Abandonados. Fora da Unidade de Conservação.

 

"O Parque do Cocó, quase oito anos depois da legalização, não é tratado da mesma maneira fora do corredor Aldeota/Cocó"

 

Mesmo com pendências e conveniências políticas, Artur Bruno poderia ter continuado à frente da Sema e auxiliado, com mais eficiência, a pauta ambiental no Ceará.

Falta, por exemplo, e Vilma Freire passa longe do assunto, o emperrado desenlace sobre a despoluição permanente do rio.    

O Parque do Cocó, quase oito anos depois da legalização, não é tratado da mesma maneira fora do corredor Aldeota/Cocó. No Conjunto Palmeiras, no Jangurussu, no Dendê (Edson Queiroz), no Lagamar, no Dias Macêdo e em outros bairros da poligonal, o Parque "não existe"... em Itaitinga, Maracanaú e Pacatuba... não há política de sustentabilidade e de preservação ambiental do rio, da floresta e de quem neles ainda insistem existir.  

 

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