
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Foi mais uma semana dura para o governo Lula, com destaque para a série de derrotas sofridas em votações importantes no Congresso Nacional. Uma inédita (pelo volume) derrubada de vetos em bloco e até a incômoda leitura do requerimento que instala uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para apurar o escândalo das fraudes no INSS.
O discurso oficial é de que a investigação não mete medo, mas seria desnecessária diante do que já vem sendo feito, desde a descoberta do esquema e das fraudes, por instâncias como a Polícia Federal e a Controladoria Geral da União (CGU). O circo político que tende a se armar, é o argumento, pode mais atrapalhar do que ajudar na busca dos responsáveis pelos desvios que tinham como alvo principal a população de aposentados do País.
Enfim, a semana fechou deixando um saldo bastante negativo para a articulação política do Palácio do Planalto. O que vale discutir, diante disso, é o comportamento ausente do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se manteve à distância de tudo, não se conhecendo qualquer gesto dele concreto e objetivo para ajudar no convencimento aos parlamentares ligados à base de que não deveriam alimentar movimentos que fortalecem, no aspecto político, a oposição.
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O gosto de Lula pela política, por participar das fases agudas de mobilização dos seus governos, especialmente aqueles que exigem um corpo-a-corpo na ação de convencimento pessoal, sempre foi apontado como uma de suas características mais eloquentes, como qualidade. O embate destes últimos dias no Congresso estava anunciado, com expectativa geral de que seria desafiador reverter o cenário, e chama atenção que não se conheça movimentos do presidente, para além das falas públicas genéricas, no sentido de colocar seu "charme político", já elogiado até por adversários, à disposição do esforço de reverter as coisas.
Em outros tempos, certamente a tarefa não seria, como foi, completamente terceirizada para ministros e lideranças governistas. Havia um prazer pessoal do Lula em participar desses momentos com um entusiasmo que ele parece ter perdido, o que até pode ser visto como natural diante da clara perda de qualidade da representação parlamentar em nosso País. Deve ser mesmo duro olhar para o Congresso e encontrar em papéis importantes e decisivos algumas das tristes figuras que hoje controlam sua pauta e a própria agenda.
É um rebaixamento que dá sentido real àquilo que por muito tempo circulou como uma espécie de anedota política. Diz-se que alguém do meio empresarial conversava num dia qualquer de 1991 com o lendário Ulysses Guimarães, deputado paulista do PMDB histórico que presidiu a Câmara em momentos capitais, reclamando da má qualidade dos parlamentares com mandato à época, definindo-os como os piores da história. A resposta do sábio político teria sido cortante: "calma, se acha que está ruim espere a turma que vem depois dessa".
Lula, que conviveu com o velho político nos seus tempos gloriosos, precisa também refletir agora sobre a verdade que a história embute, tendo acontecido ou não o diálogo. O próximo Congresso, voltando aos dias atuais, ameaça vir ainda mais pior do que este atual em termos de qualidade na representação, significando que dirigir o Brasil poderá ser uma tarefa ainda mais desafiadora na perspectiva do mandato que começa em 1º de janeiro de 2027.
Mostrar desânimo agora pode ser perigoso para alguém, como o atual presidente, que segue sinalizando vontade de buscar reeleição em 2026.
Ainda sobre o caso da Comissão de Anistia Wanda Sidou, o advogado Marcelo Uchôa garante que o episódio da escolha de outro nome para presidi-la, pelo governador Elmano de Freitas, que optou por José Ernesto Sales, está superado. Seu foco agora é manter o trabalho de ativista dos direitos humanos no próprio núcleo e na OAB, onde dirige a Comissão da Memória, Verdade, Justiça e Defesa da Democracia, e, no plano pessoal, se voltar um pouco mais para o seu escritório de advocacia que, admite, andava meio esquecido entre as prioridades cotidianas. Quanto à indicação do seu nome para comandar a importante comissão, esclarece que não era um pleito pessoal, que houve uma mobilização de entidades e pessoas em torno dela, mas diz que o governador usou de suas prerrogativas para a decisão final. De sua parte, assunto encerrado.
A "briga surda" entre Carmelo Neto e André Fernandes pelo comando do PL no Ceará, ganha por este último conforme está anunciado nos últimos dias, embute um aspecto que há sido pouco destacado: o controle de parte da verba milionária do fundo partidário. A sigla que abriga o bolsonarismo tem direito, neste 2025, a R$ 194 milhões, e, para se ter uma ideia melhor, um volume muito maior deve ser destinado no próximo ano como fundo eleitoral, para os gastos de campanha. Estar bem posicionado nas instâncias diretivas é importante para disputar o dinheiro que animará as campanhas com forças de outros estados, o que justifica o esforço do deputado federal para atropelar acordos anteriores e, alegando ser um desejo das lideranças, assumir a executiva cearense. Segurar a paz interna é possível, mas vai dar um pouco de trabalho.
Júnior Mano anunciou, na semana, mais cinco prefeitos no grupo, já expressivo, que apoia seu nome como pré-candidato ao Senado. Assim vai acumulando capital político que, agregado ao apadrinhamento forte de Cid Gomes, será fundamental para hora de decidir os dois nomes que farão parte da chapa governista na disputa pelas duas vagas ao Senado. Vale dizer que na nova lista está inserido o nome da prefeita de Crateús, Janaína Farias (PT), uma das figuras políticas mais próximas do ministro Camilo Santana, de quem foi assessora no governo e no MEC, além de ter integrado a chapa dele como 2ª suplente.
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Uma lei aprovada no ano passado na Câmara Municipal previa um aumento de 73% nos vencimentos dos vereadores de Juazeiro do Norte. Em valores, o ganho mensal da turma passaria de R$ 10.012,50 para R$ 17.388,32, convenhamos um bom salto. Só que o juiz da 1ª Vara Cível, Luiz Sávio de Azevedo Bringel, acolheu pedido do advogado Francisco Adrian Márcio de Souza, em ação popular, e suspendeu a farra. A questão é que os bacanas criaram uma equivalência, que o juiz procurou na lei e não encontrou, entre seus ganhos e os dos deputados estaduais, estabelecendo um índice referencial de 70%. Uma invenção, pura e simplesmente.
A política na horizontal
Chiquinho Feitosa, do Republicanos, tem repetido aos interlocutores com os quais conversa nos últimos dias que dá sua situação como definida dentro da chapa majoritária governista em 2026. Sua candidatura ao Senado estaria assegurada, conforme diz, pelo ministro Camilo Santana, na presença, inclusive, do presidente da executiva nacional, o deputado federal Marcos Pereira (SP).
Ciro Gomes tem conversado mesmo com gente do PSDB para uma possível volta ao partido caso, de fato, decida deixar o PDT, decisão que ainda não tomou e que parece ainda longe de fazer. Fonte tucana assegura, porém, que com Tasso Jereissati há apenas contatos esparsos e, por exemplo, nenhum tipo de acerto sobre candidatura ao governo, diferentemente do que se começa a fazer circular no mercado da especulação política local.
Cristina Kirchner, ex-presidente da Argentina que segue sendo a principal líder da oposição ao controverso governo de Javier Milei, acaba de ser condenada a 6 anos de prisão, além da proibição perpétua de disputar cargos públicos. Inclusive, ela já começou a cumprir a pena em regime domiciliar. Pois bem, sabe qual o compromisso que seus aliados tentam arrancar de um futuro presidente eleito por forças progressistas? Isso mesmo, que, seja quem for, coloque entre os primeiros atos depois da posse um indulto à ex-presidente. Lembra algo ou alguém?
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