
Jornalista, Professora, Empreendedora social, Mestre em Educação (UFC). Nesta coluna Cidade Educadora, escreve sobre os potenciais educativos das cidades, dentro e fora das escolas
Jornalista, Professora, Empreendedora social, Mestre em Educação (UFC). Nesta coluna Cidade Educadora, escreve sobre os potenciais educativos das cidades, dentro e fora das escolas
A frase surgiu durante conversa com uma amiga que dá aulas em alguns bairros da periferia sul de Fortaleza, enquanto pensávamos ações sobre a Década do Oceano. A frase desvela vários contextos, dentre eles, reflete a distância de comunidades, escolas e currículos dos espaços de participação cidadã e de reflexão social de que fazem parte.
É difícil pensar que em uma cidade litorânea, com efusivo potencial turístico de exploração do mar e do sol, muitos dos seus habitantes sequer conheçam espaços que fazem da cidade onde moram um dos destinos mais buscados, em todo o Brasil.
Há crianças fortalezenses, por exemplo, que não conhecem o mar que tanto qualifica a capital do Ceará, me relembrou, dia desses, uma amiga professora da zona Sul. É verdade.
Vivemos desconectados dos nossos espaços. E não apenas moradores da zona sul não conhecem o mar; existem moradores dos bairros chiques da zona Norte que também não conhecem rios, mangues e florestas urbanas da Capital.
O desconhecimento dos espaços em que vivemos gera um distanciamento que se traduz, em boa parte das vezes, na falta de compromisso com a proteção e a preservação dessas áreas.
Sem conhecimento, não há memórias; sem memórias não há vínculos afetivos; sem vínculos, não há sentimento de pertencimento; sem pertença, não há incentivo ao cuidado. O pertencimento nos traz identidade, a principal força que nos move para o exercício pleno de uma cidadania genuína.
Pela prática da cidadania, olhamos, problematizamos, buscamos soluções para as questões coletivas, para além dos anseios individuais.
Nesta discussão específica, trazemos o mar como contexto. Vivemos a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, mais conhecida como Década do Oceano (2021-2030), proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU) e lançada oficialmente em abril de 2021.
O movimento tem como principal objetivo conscientizar a população global sobre a importância dos oceanos e refletir sobre as ações urgentes e necessárias para o uso e a proteção do espaço costeiro e marinho nos países. A Década busca mobilizar atores públicos, privados e da sociedade civil organizada em iniciativas que favoreçam a saúde e a sustentabilidade dos mares.
No último dia 16 de maio, ocorreu o Fórum da Cultura Oceânica, no Iate Clube de Fortaleza, promovido pela Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, que trouxe para o centro do debate a necessidade de inserir a cultura oceânica nas políticas públicas educacionais, por meio do chamado Currículo Azul.
A Aliança é parte das ações pelos oceanos, lideradas pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações, por meio da Coordenadoria de Geociências, Antártica e Oceano (MCTI/CGOA); também pela Unesco Brasil e pela Universidade Federal de São Paulo (Programa Maré de Ciência).
Na ocasião do Fórum, em Fortaleza, estiveram presentes líderes públicos municipais e estaduais, educadores, pesquisadores.
Na fala do presidente do Instituto de Planejamento de Fortaleza (Ipplan), Arthur Bruno, a principal diretriz do Fórum: “Só se cuida daquilo que se conhece”.
Fez-me lembrar do slogan que definia o projeto Vida Ciranda, lançado por mim há 8 anos: “Conhecer para saber cuidar”. Para Arthur Bruno, as escolas precisam reconhecer a importância de ensinar sobre o mar e de incorporar esse conteúdo no dia a dia das salas de aula.
A fala da minha amiga sobre crianças que não conhecem o mar, na terra do mar e do sol, martela na consciência enquanto ouço promessas de aprendizados que precisam estar nos currículos. Essa história é antiga.
À época do lançamento do Vida Ciranda, lembro-me de que um dos motivos que me moveram a lançá-lo foi a total desconexão entre teoria e prática, sentida, principalmente, na minha atuação como professora, durante anos em sala de aula. Os conhecimentos estão nos livros didáticos e paradidáticos.
Mas as crianças e os adolescentes experimentam o impacto positivo da prática em torno deles para instrumentalizá-los em ações transformadoras?
As crianças que não conhecem o mar certamente o conhecem por figuras, sabem dos golfinhos, das conchas, das ondas. Elas aprendem que devem cuidar dessa natureza.
E nada impede que isso, de fato, aconteça por elas, mas são as emoções, as memórias, as experiências que vivemos que, verdadeiramente, nos movem para a preservação, para a problematização de realidades, para o reconhecimento das melhores soluções, para as mudanças mais alinhadas com a realidade que buscamos.
Desde 2023, Fortaleza possui a Agência de Desenvolvimento da Economia do Mar de Fortaleza (Ademfor). Para o gerente de Sustentabilidade da Ademfor, Leonardo Torquato, é preciso formar uma juventude mais comprometida com a pauta ambiental. Sim! É necessário e urgente, mas precisamos engajá-la, efetivamente, para isso. A teoria sozinha não dá conta.
A Década do Oceano é mais um chamado para a ação, diante de tantos problemas ambientais que temos enfrentado no mundo inteiro. Ela deve estar não apenas nos livros e no chão da escola, mas nas interações reais com comunidades e realidades, mediadas pela areia da praia e pelas águas do mar.
Essa década está alinhada ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14 (Vida na Água | Proteger a Vida Marinha), previsto pela ONU na Agenda 2030, um plano de ações mundiais, firmado pelos 193 estados-membros.
A Agenda 2030 reúne 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e 169 metas, criados para erradicar a pobreza e promover a vida digna a todos, a partir das condições que o planeta oferece, sem comprometer a qualidade de vida das próximas gerações.
Neste 2025, a primeira meta do ODS 14 já não dará tempo de ser cumprida: prevenir e reduzir significativamente a poluição marinha de todos os tipos, especialmente a advinda de atividades terrestres, incluindo detritos marinhos e a poluição por nutrientes…
No último dia 27/5, a Câmara dos Deputados aprovou a chamada Lei do Mar, depois de mais de uma década de tramitação.
O projeto de lei 6.969/2013, que segue agora para apreciação no Senado, prevê a criação da Política Nacional para a Gestão Integrada, a Conservação e o Uso Sustentável do Sistema Costeiro-Marinho (PNGCMar).
Seu objetivo principal é promover o uso sustentável dos recursos oceânicos, garantindo que atividades como pesca, turismo, exploração de petróleo e energia renovável possam coexistir de forma equilibrada com a conservação ambiental.
Foi sancionada no fim da tarde desta quinta-feira (5/6), no Ceará, a Política Estadual do Gerenciamento Costeiro e Zoneamento Ecológico Econômico (PEGC/ZEEC), que atualiza as regras para gerenciar o litoral de forma responsável. A Política deve ajudar a melhorar a vida das comunidades tradicionais, proteger a natureza e incentivar a consciência ambiental.
Ontem foi o Dia Mundial do Meio Ambiente. O que você tem feito para ajudar na preservação dos nossos recursos naturais e na concretização de uma sociedade sustentável?
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