* A jornalista viajou a São Paulo a convite do Instituto Unibanco.
O tema ambiental, que inclui a descarbonização, deixou de ser um assunto que gera uma preocupação unilateral, associado somente às questões de sustentabilidade, nas áreas internas das companhias que lidam com sustentabilidade, para vir para área do negócio.
Essa é a principal mudança que está acontecendo nos últimos anos, sobretudo nas maiores empresas, diz o economista João Marcelo Borges, que gerente de Pesquisa e Inovação do Instituto Unibanco e pesquisador do Centro de Desenvolvimento da Gestão Pública e Políticas Educacionais, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
"É uma economia mesmo porque o negócio está em risco em função das mudanças climáticas. Deixou de ser só um tema de lidar lateralmente para virar um componente, uma variável do negócio. Óbvio que isso varia de setor para setor", esclarece.
Borges cita que há setores onde a variável climática é muito mais relevante. Por exemplo, no Nordeste, quando o assunto é turismo, pois, ele analisa que toda indústria de turismo depende muito do funcionamento do clima.
"Fortaleza é a terra do sol, se as mudanças climáticas começarem a gerar, por exemplo, um aumento do nível do mar, se isso avançar sobre a orla de Fortaleza, boa parte da indústria de turismo vai sofrer. E isso é uma fonte de renda paras as pessoas, para as empresas e para o governo. Existe outros setores em que esse tema talvez não seja tão diretamente ou imediatamente associado", diz Borges.
Por outro lado, ele avalia que outros setores talvez não tenham o tema diretamente ou imediatamente associado. Por exemplo, indústrias de tecnologia, mas muitas delas geram soluções para outras empresas.
"Acho que a medida que isso tudo vai começando a decantar, vai saindo das maiores empresas, que já estão associadas às grandes questões, até porque existe uma maior visibilidade sobre elas e muitas têm que responder para os acionistas em bolsa. Então eu acho que esse movimento está acontecendo", observa.
A presidente do Instituto Talanoa, Natalie Unterstell, que atua com políticas climáticas, compartilha da mesma opinião e complementa, ainda, que a agenda de descarbonização é civilizatória, pois ela não é só das empresas.
"Na verdade a gente está empurrando para as empresas, pois já tinha que ter começado há muito tempo. Temos que chamar atenção o porquê que a gente precisa fazer a chamada descarbonização e, literalmente, chegar a zero emissões até a metade do século, em 2050?", alerta Tatalie.
Ela responde que a população agora vivendo em um momento de uma instabilidade planetária, instabilidade climática e está todo mundo está invulnerável a isso. Com secas no Norte do País, e em outros locais com chuvas de mais de 700 milímetros.
"Estamos tendo fenômenos muito extremos, a gente precisa descarbonizar porque é um único seguro que a gente tem de verdade de que a coisa não vai ser totalmente selvagem, incontrolável. A gente perdeu totalmente a capacidade de lidar com o lugar que a gente vive, com o clima", ressalta.
Natalie afirma que essa é a virada, saber o porquê que é necessário descarbonizar. "É porque senão não vamos aguentar e vai ficar intolerável. Descarbonizar traz muitas oportunidades. A gente está vendo, por exemplo, eu acho que a região Nordeste, em geral, tem muito potencial para nova geração de energia e vai ser ótimo se for para abastecer a população local, além de ser vendida Também".
E isso tudo depende de um novo modelo de educação e de como treinar e formar pessoas para lidar com esse mundo com clima mais instável e essa nova economia. "Estamos vendo o mercado puxando muito essa mão de obra. É uma transição que já está acontecendo e ela é rápida", observa.