A crise desencadeada pela pandemia impôs uma série de transformações em diversos setores econômicos. A maior parte delas incluiu o uso intensivo de tecnologia. E é em meio a esse cenário que têm crescido as oportunidades para startups no Ceará. Um mapeamento feito pelo Ambiente Local de Empreendedorismo (ALE) mostra que as iniciativas de apoio às startups cresceram 30% no Estado, em relação ao período pré-pandemia.
Estruturado em sete grandes verticais (capital humano, rede de crescimento, rede de conhecimento, rede de apoio/consultoria, rede de inovação, acesso a capital e negócios), o ALE identificou 316 iniciativas ativas no Estado. Ou seja, são equipamentos, hubs de inovação, projetos, empresas ou instituições parceiras (públicas ou privadas) que as startups, em diferentes estágios de maturação, têm hoje à disposição no Ceará para se desenvolver e ganhar mercado.
“Em algumas áreas, essa tendência de crescimento é ainda mais expressiva. Se antes de 2020, por exemplo, a gente tinha no Ceará apenas cinco grandes empresas que investiam de forma mais consistente em inovação aberta (quando empresas tradicionais se associam a startups para produzir inovação), hoje, esse número chega a 19”, afirma o consultor em inovação, Moisés Santos, responsável pelo mapeamento.
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O ecossistema de startups no Ceará também ganhou reforços importantes no último ano. A Universidade Federal do Ceará (UFC), por exemplo, lançou o Condomínio de Empreendedorismo e Inovação, que se propõe a ser uma ponte de conexão entre a academia e o setor produtivo. O Instituto Atlântico, Núcleo de Tecnologia e Qualidade Industrial do Ceará (Nutec), ICC Biolabs (agência de consultoria na área de saúde) e o CriarCE (hub de hardware do Governo do Estado) se juntaram para lançar o Programa em Rede de Apoio à Incubação e Aceleração (Praia), oferecendo, por meio de editais, treinamentos, tecnologia, mentorias e possibilidades de financiamento.
Além de abrigar startups, estimular o empreendedorismo, inovação e as relações com o mercado, o espaço abrigará o futuro Centro de Pesquisas em Inteligência Artificial que será criado na instituição.
Em Juazeiro do Norte, está sendo estruturado o hub de inovação Cuida. E o Polo Químico de Guaiúba, que deve entrar em operação em maio deste ano, está estruturando um novo hub de inovação, o Orbitar Labs, previsto para ser inaugurado em 2023, voltado para as áreas de química, biotecnologia, nanotecnologia, inovação e tecnologia.
“É um movimento interessante que está ganhando força. E a pandemia acelerou um pouco mais esse processo porque trouxe a transformação digital como necessidade urgente. E para se adequar as empresas só têm dois caminhos: ou produz inovação dentro dela ou incentiva e se aproxima de quem faz isso de forma mais rápida e assertiva, que são as startups”, afirmou Moisés.
Ele, que ajudou a estruturar o hub de inovação do Banco do Nordeste (BNB), conta que decidiu fazer esse mapeamento, junto a mais de cem agentes públicos e privados que atuam nesta área, justamente pela carência de uma base de dados mais sólida sobre esse cenário no Ceará. O nome ALE é uma homenagem ao professor do Centro Universitário Fametro, o cearense Alexandre Hollanda, entusiasta do empreendedorismo, e que faleceu em março deste ano em decorrência da Covid-19.
O levantamento identificou 166 startups em fase de tração no Estado. Esta é considerada a última etapa antes da startup se consolidar de vez no mercado, quando a empresa já tem produto bem definido, uma base de clientes e já possui algum tipo de faturamento.
Das 165 startups mapeadas, 157 têm sua sede na região metropolitana de Fortaleza. Mas foram identificadas também empresas com esse grau de maturação nas regiões Norte, no Cariri e no Litoral Leste.
Quando se trata de área de atuação, a maior parte das soluções tecnológicas propostas pelas startups no Estado são voltadas para as “dores” do setor educacional. São 25 startups em fase de tração nesta área. Em seguida, aparecem aquelas que atuam no segmento de vendas e varejo (15); finanças (15); e serviços para empresas, o chamado B2B (12).
O Ceará, apesar de ter apenas 2,2% de participação na economia nacional, e ainda estar muito distante daqueles ecossistemas de inovação mais robustos como o encontrado em São Paulo, tem produzido bons frutos.
A Arco Educação, por exemplo, está no seleto grupo de startups brasileiras consideradas unicórnios, como são chamadas as startups que alcançam o valor de mercado acima de R$ 1 bilhão. Criada em 2004, a startup cearense de soluções educacionais atingiu a marca de R$ 1,2 bilhão quando se lançou na Nasdaq, em 2018.
Do ano passado para cá, outras quatro startups cearenses, que já vinham com grande destaque nacional, fizeram o “exit”, expressão que se refere ao “ponto de saída” de uma startup. Ou seja, quando ela é vendida. São elas: Ivia (adquirida em julho de 2020 pela indiana Wipro); Agenda Edu (adquirida em setembro do ano passado pela Eleva Educação); Mercadapp (vendida em novembro do ano passado para Linx); e mais recente a Casa Magalhães (vendida neste mês para o grupo O Boticário).
Investimentos em startups bate recorde no Brasil
Investir em empresas de base tecnológica está em alta no Brasil. O estudo Insire Venture Capital, feito pela Distrito Dataminer, mostra que no primeiro trimestre deste ano as startups brasileiras atraíram mais de R$ 11 bilhões em investimentos. É quase quatro vezes mais do que o apurado no mesmo período do ano passado (R$ 3 bilhões).
E é bom que se diga que o ano de 2020 já tinha sido o melhor resultado apurado desde o início da série histórica, em 2011. Foram R$ 19,9 bilhões em captações. Alta de 17% em relação ao ano anterior.