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Das brigas entre famílias à guerra entre as facções
Reportagem

Das brigas entre famílias à guerra entre as facções

Conheça as histórias de 46 chacinas ocorridas no Ceará desde 1878, que deixaram, ao todo, 267 mortos
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Chacina das Cajazeiras vitimou 14 pessoas em 2018, maior marca da história da Capital (Foto: Evilázio Bezerra (28/01/2018))
Foto: Evilázio Bezerra (28/01/2018) Chacina das Cajazeiras vitimou 14 pessoas em 2018, maior marca da história da Capital

O ano de 2021 foi marcado pela ocorrência de sete chacinas no Estado, maior número registrado no Ceará desde 2018. O dado consolidou os últimos anos como a Era das Facções no Ceará. Elevou para 32 os números de crimes com quatro ou mais mortos ocorridos no Estado desde 2015, conforme levantamento de O POVO. É mais da metade das 46 chacinas localizadas por O POVO em seu banco de dados, iniciado em 1928.

O período coincide com o avanço das facções do Sudeste, Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), no Ceará, assim como o surgimento da facção cearense Guardiões do Estado (GDE). Neste ano, todas as chacinas cujas autorias e motivação foram identificadas tiveram como o pano de fundo o conflito entre grupos criminosos.

Essa nova configuração do crime organizado no Estado provocou uma mudança nas dinâmicas de assassinatos no Ceará, aponta o sociólogo César Barreira, pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará. Até a metade do século passado, observa ele, a maior parte dos conflitos violentos estava ligada a questões agrárias. Outro espaço de conflito, lembra o pesquisador, eram as disputas políticas. Na virada do século, entram em cena as gangues e, depois, as facções, trazendo consigo a guerra por territórios no contexto da disputa pelo monopólio do tráfico de drogas e de armas.

“Aí entram situações em que os jovens começam a participar dessas disputas. Eles passam a ter acesso a essas armas de fogo, como se fossem pistoleiros, que eram os braços armados dos grandes proprietários de terra e dos políticos. Eles passam a ser os braços armados dos grandes traficantes”, diz o pesquisador.

O professor ainda destaca a participação de agentes de segurança nas chacinas, como na Chacina da Grande Messejana e na Tragédia de Milagres.

Barreira ainda cita o papel do aumento na circulação de armas de fogo para incremento da violência.“Nós tínhamos até, mais ou menos, a década de 1980, homicídios provocados por arma branca em sua maioria e, depois, passam a ser cometidos com armas de fogo, que são mais letais”, destaca. Isso permitiu um aumento no número geral de homicídios, sobretudo, a partir dos anos 2010 e, dentro desses números, há o crescimento no número de chacinas.

Apesar da brutalidade de muitos crimes, as chacinas eram episódios relativamente raros no Estado até 2015. Até então, constavam 14 episódios, até que se inicia a "Era das Chacinas", que acompanha a "Era das Facções". Apenas em 2017 e 2018, foram 13 chacinas. Também foram os dois anos com os maiores números de homicídios já registrados no Ceará: 5.134 e 4.518, respectivamente.

Coordenado pelo pesquisador Miguel Pontes, o levantamento do Data.Doc O POVO, publicado originalmente no O POVO Mais no ano passado, é o mais completo feito até agora. A pesquisa inclui apenas ocorrências com quatro ou mais mortos e não leva em conta mortes por intervenção policial, consideradas sem ilicitude pelo Código Penal; conflitos que deixam mortes em ambas as partes e ações de Estado, como o Massacre do Caldeirão.

Para acessar as informações sobre as chacinas, divididas por décadas, basta clicar no ano da linha do tempo abaixo.


As 46 chacinas da história do Ceará 

1878 — Viçosa — 19 mortos
Dezenove pessoas foram mortas no conflito entre duas famílias, Macacheira e Juritis, iniciado pela criação de porcos que destruía a plantação de um dos clãs. Conforme reportagem do O POVO de 1º de setembro de 1956, baseada nos arquivos do Cartório de Ibiapina, a família Juriti reuniu um grupo armado e dirigiu-se às terras dos rivais, ateando fogo na fábrica de aguardente dos Macacheira e atirando com bacamartes, uma arma de fogo de cano curto e largo, contra os rivais.

"Resultando do tiroteio uma verdadeira chacina, morrendo várias pessoas da família, inclusive homens, mulheres e crianças, não escapando até mesmo 'comboeiros', que ali se achavam para mercadejar aguardente. Foram recolhidos dezenove cadáveres", informou O POVO.

1958 — Quixadá — 6 mortos

Seis pessoas foram mortas em Quixadá a golpes de faca e machado. Três crianças estavam entre as vítimas. O acusado era um empregado da família morta. A motivação do crime seria o roubo de cinco mil cruzeiros, informou O POVO em 25 de agosto de 1959. Um ano depois, O POVO noticiou que o acusado do crime foi preso em Brejo Santo.

1975 — Mombaça — 4 mortos

Chacina de Mombaça, em 1975
Chacina de Mombaça, em 1975 (Foto: O POVO.doc)

Quatro pessoas da mesma família foram mortas a tiros, golpes de faca e roçadeira na zona rural de Mombaça em novembro de 1975. O crime teria sido cometido em "consequência de uma briga de família e de terras", registou O POVO na edição de 29 de novembro daquele ano. As duas famílias "não se cruzam pela mesma estrada", assinalou o jornal, que relatava ainda que, por isso, os cinco acusados foram transferidos para a Capital, já que poderia haver revide por parte da famílias das vítimas.

1976 — Fortaleza (Porangabussu) — 4 mortos

Chacina do Canal, em 1976
Chacina do Canal, em 1976 (Foto: O POVO.doc)

Um aparente surto psiquiátrico levou um cobrador de ônibus a matar quatro pessoas na "Favela do Canal", no bairro Porangabussu. Em seguida, ele foi baleado e morto por policiais. Conforme registrou O POVO em 8 de março de 1976, o homem acordou dizendo que iria matar um barbeiro. Em seguida, esfaqueou a esposa, grávida de nove meses; a sogra e a cunhada, de apenas 15 anos. Em seguida, saiu à rua e matou um comerciante. Uma cunhada do trocador só escapou porque conseguiu pular o muro do Estádio Carlos de Alencar Pinto. "Uma cena trágica que impressionou toda a população de Fortaleza", escreveu O POVO.

1977 — Novo Oriente — 4 mortos

Chacina de Novo Oriente, em 1977
Chacina de Novo Oriente, em 1977 (Foto: O POVO.doc)

Três irmãos invadiram uma casa e mataram um mulher e seus três filhos a golpes de faca. Um dos agressores era genro da mulher. Ele e um de seus irmãos foram mortos na reação da família. Duas outras pessoas ficaram feridas.

1983 — Alto Santo — 4 mortos

O ex-prefeito de Pereiro, João Terceiro de Sousa; sua esposa, Nilda Campo; o soldado da PM, João Oden de Araújo; e o motorista que guiava o carro onde os três estavam, Francisco de Assis Aquino, foram mortos a tiros quando trafegavam pela BR-116. O pistoleiro Idelfonso Maia Cunha, o Mainha, chegou a ser condenado pelo crime, que seria uma vingança pela morte do patrão dele, o fazendeiro Chiquinho Diógenes. Entretanto, o julgamento seria anulado. Mainha acabou absolvido por falta de provas em novo Júri.

2001 — Fortaleza (Praia do Futuro) — 6 mortos

Chacina dos Portugueses, em agosto de 2001
Chacina dos Portugueses, em agosto de 2001 (Foto: O POVO.doc)

A Chacina dos Portugueses. Seis empresários, turistas de Portugal, foram mortos, após serem espancados e enterrados vivos, em um crime arquitetado por um compatriota, Luís Miguel Militão. Outras quatro pessoas também foram condenadas pelo crime.

2003 — Limoeiro do Norte — 7 mortos

Sete pessoas foram mortas a tiros em três pontos do bairro Luiz Alves de Freitas, num intervalo de 10 minutos. Seis das vítimas chegaram a ter as orelhas decepadas pelos homicidas, marca registrada de um dos acusados pelo crime José Roberto dos Santos Nogueira, o “Chico Orelha”. O crime teria sido praticado por pistoleiros em uma retaliação pela prisão de um integrante do grupo.

2004 — Ibicuitinga — 7 mortos

Mais uma chacina provocada pela desavença entre duas famílias. A inimizade vinha de seis anos antes, quando uma das vítimas da chacina, Manuel Rodrigues Oliveira, teve um sobrinho lesionado. O episódio ganhou revide, o que gerou um ciclo de vingança pelos anos que se sucederam. Dias antes da chacina, Manuel e Francisco Hernandes de Oliveira, também morto no crime, teriam tentado praticar um assassinato contra um integrante da família rival. Os dois fugiam quando foram mortos. Quatro das vítimas, porém, não eram da família. Nove pessoas foram acusadas pelo crime.

2004 — Itapajé — 4 mortos

Quatro pessoas da mesma família, um casal e suas duas filhas, foram mortas em Itapajé a golpes de objeto contundente. Antônio Carlos Alves Rodrigues foi condenado a 83 anos pelo crime. Depoimentos apontaram que ele era inimigo de José Arimateia Barbosa, o patriarca da família, já tendo o jurado e a toda sua família de morte.

2008 — Barreira — 5 mortos

Criminosos buscavam suposto traficante que estaria devendo a eles dinheiro. Ao não encontrá-lo, mataram pai e tia dele. Em seguida, foram até um bar que o alvo inicial frequentava e mataram outras três vítimas, que não tinham relação nenhuma com o caso. Duas pessoas são rés pelo crime, mas, até hoje, não houve julgamento.

2013 — Itaitinga — 10 mortos

Dez presos morreram asfixiados na Casa de Privação Provisória de Liberdade (CPPL) I após outros detentos atearem fogo em colchões na porta das celas onde estavam as vítimas. O ato seria uma retaliação por um preso da vivência onde ocorreu o crime ter agredido um outro interno durante dia de visita, o que é proibido pelo "código de conduta" existente entre os presos.

2014 — Fortaleza (Barroso) — 4 mortos

Quatro pessoas de uma mesma família foram mortas a tiros na comunidade da Babilônia, no bairro Barroso. Apesar da suspeita de que o crime ocorreu por disputa entre traficantes, o caso nunca foi elucidado, tendo sido arquivado pela Justiça em 2020.

2014 — Redenção — 5 mortos

Cinco jovens entre 15 e 19 anos foram mortos após serem arrebatados por um grupo de oito homens. Seus corpos, porém, só foram encontrados dias depois. Conforme sentença de pronúncia, o crime teria sido motivado pela "briga por superioridade territorial de domínio da atividade criminosa no Bairro Boa-fé". Dois homens foram pronunciados pelo crime, mas ainda não foram julgados.

2015 — Sobral — 6 mortos

Dois dos acusados do crime queriam se vingar pelo assassinato de um irmão deles, ocorrido meses antes e cuja autoria intelectual era atribuída a uma das vítimas, Maria de Jesus. Ela, a filha, a neta e o namorado da neta foram mortos na ação. Uma quinta vítima, que também morava na casa, também foi morta, assim como um vizinho. Quatro suspeitos do crime foram presos, mas o caso ainda aguarda julgamento.

2015 — Limoeiro do Norte — 4 mortos

Quatro pessoas foram mortas em um bar da Zona Rural de Limoeiro do Norte. Conforme denúncia do MPCE, as vítimas e os denunciados faziam parte do mesmo grupo criminoso, que havia sofrido um racha. A chacina teria sido efetuada porque os criminosos suspeitavam que as vítimas planejavam vingar-se do assassinato do líder do grupo, primo de um dos mortos e que também teria sido assassinado pelos autores da chacina. Cinco pessoas foram apontadas como autores da chacina, sendo que três morreram. Um dos réus foi absolvido pelo Tribunal do Júri, enquanto o outro aguarda julgamento.

2015 — Fortaleza (Cais do Porto) — 5 mortos

As vítimas foram mortas em um cruzamento da comunidade da Estiva, localizada no bairro Cais do Porto. Até hoje, o crime não foi elucidado e nenhum suspeito foi preso. A pedido do MPCE, a Justiça determinou o arquivamento do processo. À época, a PM divulgou que cinco homens teriam participado da execução, que teria relação com a disputa por território para o tráfico de drogas na região. Um homem, uma mulher e uma criança também foram atingidos pelos disparos, mas sobreviveram.

2015 — Fortaleza (Grande Messejana) — 11 mortos

Chacina do Curió, ou chacina da Grande Messejana, em novembro de 2015
Chacina do Curió, ou chacina da Grande Messejana, em novembro de 2015 (Foto: O POVO.doc)

Onze pessoas foram mortas aleatoriamente, em quatro bairros da Grande Messejana, por policiais militares após a morte de um colega de farda, em latrocínio ocorrido um dia antes. Nenhuma das vítimas tinha ligação com o crime. Foram denunciados 45 policiais pelo MPCE; hoje, 34 seguem como réus. O julgamento, porém, não tem data para ocorrer, pois muito deles ainda recorrem no STJ contra a decisão de pronúncia, feita em primeira instância e mantida em segundo grau.

2015 — Fortaleza (Pirambu) — 5 mortos

Quatro pessoas foram mortas na comunidade da Colônia, no bairro Pirambu, enquanto estavam sentadas em um bar. Um adolescente, que estava nas proximidades, também foi morto. Os criminosos estavam em uma moto, conforme testemunhas. O inquérito que investiga o caso segue em andamento, sem elucidação da motivação nem prisão de suspeitos.

2016 — Pacatuba — 4 mortos

As quatro vítimas foram mortas a tiros em uma casa do Conjunto Alvorada, em Pacatuba (Grande Fortaleza). Sete pessoas encapuzadas teriam praticado o crime. Ninguém foi preso e o inquérito segue em andamento.

2016 — Itaitinga — 4 mortos

Crime ocorrido na Casa de Privação Provisória de Liberdade (CPPL) III, em Itaitinga. À época, a então Secretaria da Justiça e Cidadania (Sejus) afirmou que presos quebraram a grade da vivência onde as vítimas estavam e praticaram o crime. Eles ainda tiveram os corpos incendiados. As quatro vítimas haviam sido presas por crimes cometidos em Iguatu. Ninguém consta como réu, nem denúncia do MPCE foi apresentada no processo judicial aberto pelo caso.

2017 — Aquiraz — 6 mortos

Seis pessoas foram mortas em uma mansão localizada no Porto das Dunas, em Aquiraz. As vítimas seria integrantes da facção Guardiões do Estado e os executores, do Comando Vermelho. Até hoje, o inquérito segue em andamento, ainda que duas pessoas tenham sido indiciadas pelo crime. Um outro suspeito de participar da matança morreu em confronto com a Polícia.

2017 — Horizonte — 5 mortos

Cinco pessoas foram mortas em uma festa de aniversário próximo à Praça da Madame. Entre as vítimas, uma crianças de três anos. O alvo, porém, era apenas um homem. O crime foi atribuído pela Polícia Civil à "disputa pelo tráfico de drogas". A ordem para a execução teria partido de dentro de um presídio. Cinco homens são réus pelo crime e aguardam julgamento.

2017 — Paraipaba — 4 mortos

Quatro pessoas foram mortas próximo a um bar por homens que chegaram em um carro, ordenaram que as vítimas deitassem no chão e, em seguida, efetuaram os disparos. Até hoje, não se sabe o que motivou o crime nem suspeitos foram presos. Em junho último, o Ministério Público pediu o arquivamento do caso.

2017 — Fortaleza (Bom Jardim) — 4 mortos

As quatro vítimas do crime foram mortas após serem convidadas por um dos réus para um suposto "acordo de paz". Vítimas e algozes estavam em conflito, mesmo sendo da mesma facção, o Comando Vermelho, após a morte de um comparsa dos autores da chacina. Ao chegar ao local combinado para a reunião, os quatro foram mortos a tiros. Oito foram pronunciados pelo crime e aguardam julgamento.

2017 — Fortaleza (Sapiranga) — 4 mortos

Execuções em centro socioeducativo na Sapiranga, em 2017
Execuções em centro socioeducativo na Sapiranga, em 2017 (Foto: O POVO.doc)

Um grupo ligado ao Comando Vermelho invadiu o Centro de Semiliberdade Mártir Francisca, no bairro Sapiranga, e arrebatou quatro adolescentes que lá cumpriam medidas socioeducativas, assassinando-os em seguida. Os jovens foram identificados pelos assassinos como integrantes da Guardiões do Estado. As vítimas tinham entre 13 e 16 anos. Onze foram acusados pelo crime, mas apenas dois foram pronunciados — a Justiça apontou falta de provas para os demais. O Ministério Público recorreu da decisão e o caso segue aguardando julgamento.

2017 — Ipueiras — 4 mortos

Uma mulher e seus três filhos foram mortos pelo companheiro dela a pauladas. Francisco Cloves Camelo, em seguida, ateou fogo na casa onde o crime ocorreu. Tudo teria ocorrido, conforme denúncia, pelo ciúme do acusado. Ele foi condenado em 2020 a 112 anos de prisão.

2018 — Maranguape — 4 mortos

Quatro pessoas foram mortas dentro de uma casa na localidade de Serra Pelada, zona rural de Maranguape. Os autores do crime seriam ligados à facção Guardiões do Estado (GDE). Quatro homens são réus e aguardam julgamento pela chacina.

2018 — Fortaleza (Cajazeiras) — 14 mortos

Capa do O POVO dia 28 de janeiro de 2018 destaca a Chacina das Cajazeiras, com 14 mortos em Fortaleza
Capa do O POVO dia 28 de janeiro de 2018 destaca a Chacina das Cajazeiras, com 14 mortos em Fortaleza (Foto: O POVO.Doc)

A maior chacina decorrente da disputa entre facções criminosas ocorreu em 27 de janeiro de 2018. Catorze pessoas foram mortas na casa de shows Forró do Gago, no bairro Cajazeiras. As vítimas foram mortas aleatoriamente; o crime só ocorreu porque o espaço recebia festas que seriam patrocinadas pelo Comando Vermelho.

Conforme as investigações, a cúpula da Guardiões do Estado autorizou a matança. Os criminosos usaram fuzil e até mesmo uma granada foi lançada, apesar de não ter detonado. Ainda não houve julgamento dos 15 réus.

2018 — Itapajé — 10 mortos

Dez presos da Cadeia Pública de Itapajé foram mortos por outros presos da unidade. As vítimas seriam ligadas à facção Primeiro Comando da Capital (PCC), enquanto os autores da execução, do Comando Vermelho. O crime ocorreu em uma emboscada, quando as celas foram abertas para banho de sol. As vítimas foram mortas a golpes de faca e tiros de revólver, que havia sido introduzido ilegalmente um dia antes. Oito são réus pela chacina, já tendo sido pronunciados, mas eles ainda aguardam julgamento.

2018 — Fortaleza (Benfica) — 7 mortos

Chacina da Gentilandia (Benfica) ocorreu em março de 2018. Foram sete homicídios e três tentativas
Chacina da Gentilandia (Benfica) ocorreu em março de 2018. Foram sete homicídios e três tentativas (Foto: Julio Caesar / O POVO)

Sete pessoas foram mortas em três pontos do bairro Benfica. Dois dos três réus foram condenados em primeira instância a mais de 100 anos de prisão. O crime ocorreu, conforme a investigação, no contexto da briga entre GDE, facção a que pertenciam os executores, e o CV. O objetivo seria matar o maior número possível de pessoas ligados à facção rival. A Polícia, porém, encontrou indícios de que duas das vítimas foram apenas confundidas com os verdadeiros alvos.

2018 — Quixeramobim — 4 mortos

Quatro pessoas foram mortas no Assentamento Irmã Tereza, em Quixeramobim, por três homens encapuzados, que abordaram as vítimas após chegar em um carro. As vítimas tentaram fugir, mas foram alcançadas pelos criminosos já dentro de um barraco. Conforme o Ministério Público, o crime foi praticado por integrantes do Comando Vermelho, que acreditava que as vítimas pertenciam ao PCC, que teria matado o pai de um dos réus. O trio foi pronunciado, mas o julgamento ainda estar por ser feito.

2018 — Palmácia — 5 mortos

Cinco pessoas foram assassinadas enquanto caçavam na zona rural de Palmácia. A investigação apontou que o crime foi cometido a mando de um integrante do Comando Vermelho, que buscava vingar um estupro de uma menina. Duas das vítimas seriam parentes do acusado de estupro. Os executados também seriam apontados como ladrões de animais, já tendo rixa com o mandante do crime. Pelo menos, cinco pessoas foram apontadas como tendo participação no crime.

2018 — Quiterianópolis — 4 mortos

Quatro pessoas de uma mesma família foram mortas, na localidade de São Francisco, na zona rural de Quiterianópolis, por quatro pessoas de uma família rival. A Polícia Civil apurou que oitos assassinatos já haviam ocorridos em decorrência da rivalidade. Um homem foi denunciado pela chacina, mas demais suspeitos não foram identificados.

2018 — Milagres — 14 mortos (7 resguardadas pelo excludente de ilicitude)

Capa do O POVO de 8 de dezembro de 2018 fala da ação policial que resultou em 14 mortos na Chacina de Milagres
Capa do O POVO de 8 de dezembro de 2018 fala da ação policial que resultou em 14 mortos na Chacina de Milagres (Foto: O POVO.Doc)

Catorze pessoas morreram na tentativa por parte de PMs de evitar ataques a banco em Milagres. Seis eram reféns feitos pelos assaltantes. A morte de seis criminosos foi considerada pelo Ministério Público como morte em intervenção policial, o que é resguardada pelo excludente de ilicitude, mas a morte de dois outros assaltantes ocorreu em execução, conforme o órgão ministerial. Sobre o caso de uma outra refém, o MPCE entendeu que se tratar de "erro de tipo permissivo", durante legítima defesa. Dezenove PMs foram acusados pelos crimes e aguardam julgamento.

2019 — Fortaleza (Mondubim) — 4 mortos

A chacina realizada no bairro Mondubim foi motivada pela vingança de um homem apontado como um dos principais chefes da GDE. Ele teria sofrido um atentado praticado por uma das vítimas, que era ligada ao Comando Vermelho. Todas as vítimas pertenciam à mesma família. Além das três mortes ocorridas dentro de uma casa, João Paulo Fernandes da Silva ainda foi levado dentro de um carro e teve o corpo carbonizado em Maracanaú. Um quinto assassinato, de um irmão de João Paulo, ainda viria a ocorrer um mês depois. O caso ainda aguarda julgamento.

2020 — Maranguape — 4 mortos

Quatro pessoas foram mortas dentro de uma casa do bairro Área Seca. A principal linha de investigação da Polícia era de que o crime tinha ligação com a disputa entre facções. No local, havia pichações da facção Comando Vermelho. Apesar disso, nenhuma das vítimas possuía antecedentes criminais. Até o momento, o inquérito policial não foi concluído e ninguém foi preso.

2020 — Ibaretama — 7 mortos

Sete pessoas foram mortas dentro de uma casa na Zora Rural de Ibaretama, incluindo uma criança de seis anos. Cinco das vítimas teriam ligação com a GDE; o crime teria sido praticado por integrantes do CV. Conforme a Polícia Civil, uma vereadora eleita do município havia dado anuência ao crime, após ter a casa roubada por integrantes da GDE. Ela teria participado da logística. A vereadora e mais seis são réus pela chacina, que ainda aguarda julgamento.

2020 — Quiterianópolis — 5 mortos

Quatro PMs são acusados pela chacina, que deixou cinco mortos. São duas as suspeitas para a motivação, ambas retaliação por roubos que duas vítimas teriam cometido, uma contra um prefeito, outra contra um comerciante. Os quatro PMs aguardam julgamento.

2021 — Caucaia — 4 mortos

Quatro pessoas foram mortas a tiros no bairro São Gerardo por homens que integrariam a GDE. As vítimas, porém, não teriam envolvimento com facções, tendo sido mortas apenas por estarem na rua, localizada em área dominada pelo CV. Cinco foram denunciados pelo crime e aguardam início da instrução processual. Um sexto homem foi morto em confronto com a Polícia.

2021 — Fortaleza (Barroso) — 4 mortos

Integrantes do Comando Vermelho mataram quatro pessoas em uma área dominada pela GDE, no bairro Barroso. As vítimas, porém, não tinham ligação com a facção, apurou a Polícia. O crime ainda seria uma retaliação contra atentado sofrido por um parente de um chefe do CV. Apenas um homem foi denunciado pelo crime.

2021 — Caucaia — 5 mortos

Cinco pessoas foram mortas no contexto do racha ocorrido dentro do CV. Pelo menos quatro das vítimas, segundo os autores do crime, pertenciam à "Tropa do Mago" e teriam expulsado de suas casas alguns dos executores da matança. Quatro homens foram presos, um adolescente apreendido e outros três são procurados pela Polícia.

2021 — Chorozinho — 4 mortos

Quatro jovens, entre 15 e 17 anos, foram encontrados mortos em uma estrada carroçável de uma localidade conhecida como Lagamar. Até o momento, o crime não foi elucidado. Não há presos nem se sabe a motivação do crime.

2021 — Guaraciaba do Norte — 4 mortes

Quatro pessoas foram mortas em uma casa em uma ação atribuída pela Polícia Civil à facção Comando Vermelho. O alvo da ação era um homem apontado como chefe da GDE no Município, que não foi morto, porém. Duas das vítimas seriam ligadas a esse homem. Nove pessoas foram indiciadas pelo crime. 

2021 — Viçosa — 4 mortes

Dois homens e duas mulheres foram mortos em uma casa. Um homem, apontado como chefe de uma facção em Tianguá, município vizinho a Viçosa, é investigado pelo crime, mas ele ainda não foi acusado formalmente pelo crime, assim como outros suspeitos. Ainda não se sabe a motivação para a chacina.

2021 — Sapiranga — 5 mortes

Página 10 da edição de 26 de dezembro de 2021 do O POVO destaca a Chacina da Sapiranga, a mais recente registrada no Ceará
Página 10 da edição de 26 de dezembro de 2021 do O POVO destaca a Chacina da Sapiranga, a mais recente registrada no Ceará (Foto: O POVO.Doc)

A mais recente chacina ocorrida no Estado foi motivada por uma dissidência dentro da facção Comando Vermelho. Antigos integrantes da facção passaram a se considerar "neutros" e promoveram a matança para assegurar o domínio da localidade. A Polícia Civil indiciou 22 pessoas pelo crime. 

Fonte: Banco de dados O POVO.Doc, com levantamento do pesquisador Miguel Pontes.

INFOGRÁFICO

As chacinas por década

1870 - 1

1880 - 0

1890 - 0

1900 - 0

1910 - 0

1920 - 0

1930 - 0

1940 - 0

1950 - 1

1960 - 0

1970 - 3

1980 - 1

1990 - 0

2000 - 5

2010 - 25

2020 - 10

Total - 46

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