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H2V: energia que traz protagonismo mundial para o Nordeste
Reportagem

H2V: energia que traz protagonismo mundial para o Nordeste

| Exclusivo | Estudo do Plano Nordeste Potência e SAE Brasil aponta os nove estados nordestinos como um dos ambientes mais adequados para o desenvolvimento do hidrogênio verde no planeta
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Hub de H2V do Pecém é destacado no estudo (Foto: CIPP/Divulgação)
Foto: CIPP/Divulgação Hub de H2V do Pecém é destacado no estudo

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O hidrogênio verde (H2V) será o responsável pelo mais novo e amplo ciclo de desenvolvimento do Nordeste brasileiro, projetado até agora como um dos mais sustentáveis e amplos da história do Brasil, segundo indica o estudo Mapeamento das Cadeias de Mobilidade, o qual O POVO teve acesso com exclusividade. Com 84% da energia gerada renovável, a Região apresenta as melhores condições de desenvolvimento da nova economia formada pelo H2V, aliando ativos verdes, localização e infraestrutura.

Ao citar o Nordeste, o texto diz que, "em vez de o Brasil pensar em exportar o hidrogênio verde, deve-se incentivar as empresas multinacionais para que prefiram se estabelecer no País, fazendo com que esse hidrogênio verde seja um diferencial produtivo e ambiental, gerando empregos e renda, assim como divisas e aumento de arrecadação de impostos."

Feito sob encomenda para o Plano Nordeste Potência pela SAE Brasil a partir de bases de dados nacionais e internacionais, o documento defende a formação de uma cadeia produtiva local, na qual a economia do H2V se desenvolva e torne o Nordeste brasileiro o polo de produção do insumo no mundo.

"O Nordeste reúne essas potencialidades que já estão rendendo e que a gente acredita que vão render muito mais nos próximos 5 a 10 anos", ressalta Cristina Amorim, coordenadora do Plano Nordeste Potência.

Hoje, a produção hidrogênio no País é praticamente centralizada na Petrobras (95%), em refino ou na aplicações em fertilizantes nitrogenados. Segundo a GIZ (2021), a produção média anual de H2 no Brasil é de 6.251.530.000 metro cúbicos normais por ano (Nm3 /ano).

Mas o estudo focou em sugerir ações que possam reverter esse cenário a partir da articulação dos nove estados nordestinos, como ressalta Camilo Adas, presidente da SAE Brasil.

Pontos de atenção

Preço, transporte e distribuição e armazenamento foram alvos de sugestões. É sobre os três eixos que devem ser feitas as principais ações de políticas públicas e também da iniciativa privada para que todo o potencial da Região seja aproveitado e o Nordeste se torne o ambiente de desenvolvimento de H2V no planeta.

O estudo atesta que "não há no mundo nenhuma introdução de novas tecnologias sem a presença de financiamento governamental e uma iniciativa privada pujante que responda de maneira inovadora os desafios disruptivos." "Não tem nada extraordinário, são questões claras que precisam ser levadas adiante", diz Cristina.

"Existe uma clara definição mundial, principalmente na Europa, da criação da economia de hidrogênio que vai depender de uma cadeia de produção, transporte e aplicação. Ou seja, cadeia de oferta e demanda", afirma Camilo Adas.

Crescimento conjunto

"O mais avançado, com contratos assinados, é o hub do Porto do Pecém, no Ceará", reconhece o documento. No entanto, a diretora do Plano Nordeste Potência e o presidente da SAE Brasil apontam a necessidade de uma articulação entre os nove estados da região para a elaboração de um planejamento estratégico para fundamentar a economia do H2V.

"O hidrogênio verde tem uma capacidade transformadora da Região, desde que seja feito com planejamento adequado e todas as questões que apontam sejam atendidas", diz Adas.

Já Cristina Amorim adiantou que o documento foi entregue a diversos candidatos aos governos dos estados da Região. Ela aponta o Consórcio Nordeste como um fórum adequado para esse debate e afirmou que o grupo vai tratar do tema com os eleitos em janeiro.

Salto no desenvolvimento regional

Outra "virada" mencionada pelos dois foca no desenvolvimento industrial do Nordeste. O impulso dado na produção de hidrogênio verde deve ser capaz de acabar com as desigualdades entre os polos industriais locais e os do Sudeste.

A formação de um ciclo completo instalado é um dos pontos essenciais, de acordo com o presidente da SAE Brasil. Produção e consumo devem estar no Nordeste para que haja riqueza gerada e consumida, estimulando toda a economia.

Ele reconhece a estratégia inicial de alguns estados, como o Ceará, cujos projetos miram a exportação do H2V para o mercado europeu, mas considera isso apenas uma das oportunidades desta nova economia.

"Na economia de baixo carbono que a gente precisa desenvolver, temos dois grandes ativos que fazem sentido: (1) a floresta amazônica e (2) as energias renováveis, especialmente solar e eólica, que estão concentradas no Nordeste. São regiões historicamente relegadas a um segundo plano e são justamente as duas regiões que possuem os principais ativos ambientais do século XXI", destaca Cristina.

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Envolvidos

O Plano Nordeste Potência é resultado de uma coalizão de quatro organizações civis: Centro Brasil no Clima (CBC), Fundo Casa Socioambiental, Grupo Ambientalista da Bahia (Gambá) e Instituto ClimaInfo, com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS).

Espectro de cores do hidrogênio

Hidrogênio marrom:

extraído de combustíveis fósseis, geralmente carvão, por gaseificação.

Hidrogênio preto/cinza:

extraído do gás natural por queima do vapor-metano.

Hidrogênio azul:

Hidrogênio cinza ou marrom com seu CO2 sequestrado ou reaproveitado.

Hidrogênio branco:

Produzido como subprodutos de processos industriais.

Hidrogênio amarelo:

Produzido por eletrólise usando eletricidade da rede.

Hidrogênio rosa/púrpura/vermelho:

Produzido por eletrólise usando energia nuclear.

Hidrogênio turquesa:

Produzido pela separação térmica do metano (pirólise do metano). Em vez de CO2, carbono sólido é produzido.

Hidrogênio musgo:

Reformas catalíticas, gaseificação de plásticos residuais ou biodigestão anaeróbica de biomassa ou biocumbutíveis com ou sem captura ou armazenamento de carbono.

Hidrogênio verde:

Produzido por eletrólise da água, usando eletricidade de fontes renováveis ​​como energia hidrelétrica, eólica e solar. Zero emissões de carbono são produzidas

Hidrogênio Verde: sugestões para o desenvolvimento

  • Preço

O valor atual do H2V é de aproximadamente US$ 7,00. Há um grande desafo de baixar os custos de produção para o preço ficar em torno do atual US$ 1,00 do H2 cinza.

Políticas públicas

Incentivar o uso de H2 verde nas empresas de economia mista como a Petrobras para estimular a economia de mercado, além de taxar o carbono emitido e regulamentar o mercado de carbono no País. Incentivar a produção do H2 verde, inclusive no refino do petróleo. Isso ajuda no aumento de escala e diminuição dos custos de produção.

Iniciativa privada

Promover pesquisas de novos materiais e ou processos que diminuam os custos de produção. investir em aumento das eficiências na cadeia produtiva do H2

  • Distribuição e armazenamento

O hidrogênio normalmente é produzido onde é consumido, o que diminui as perdas energéticas ou do próprio gás que deve ser armazenado em tanques com altas pressões. As três principais opções de armazenamento/distribuição são: liquefazê-lo (alto gasto energético), dilui-lo em gás natural (“enriquece” a mistura, já que o gás natural tem quatro moléculas de hidrogênio e pode ser utilizado como fonte de hidrogênio, mas é emissor de carbono), agregar na amônia, facilitando o transporte para depois extrair o H2 no destino.

Políticas públicas

Incentivar empresas multinacionais a abrir filiais no Brasil e produzir com uma menor pegada ambiental utilizando H2 verde. Dessa forma, em vez de exportar o hidrogênio puro, já o exporta beneficiado, gerando emprego e renda no País. Criar parâmetros de segurança para o transporte de H2 na rede de distribuição de gás natural.

Iniciativa privada

Priorizar a utilização de H2 na sua produção mesmo que em forma de porcentagem, utilizando o marketing verde para conscientizar o consumidor a escolher um produto um pouco mais caro, porém com uma proteção ambiental maior.

  • Transporte

O modal de transporte atual é responsável por cerca de 25% das emissões mundiais de gases de efeito estufa, e a opção pela eletrificação parece um passo sem volta. Porém, os veículos elétricos têm uma questão importante que é a autonomia e o tempo de recarga conhecido na mobilidade como “range anxiety” (medo de ficar parado sem ter como abastecer o veículo). Dessa forma, o hidrogênio pode ser um grande aliado da eletromobilidade, gerando energia embarcada e aumentando o range ou a autonomia dos veículos elétricos.

Políticas públicas

Incentivar e financiar grupos de pesquisas para viabilizar o uso de hidrogênio como vetor de energia na eletromobilidade. Incentivar empresas que trabalham com H2 e células a combustíveis a se estabelecer no Brasil para adaptar um powertrain compatível com as distâncias e singularidades brasileiras.

Iniciativa privada

Viabilizar a demanda elétrica e energética na eletromobilidade utilizando o hidrogênio como vetor de energia.

  • Os potenciais do Nordeste

Área total: 1.554.291 km2

Região com maior número de estados: Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Paraíba, Pernambuco, Sergipe e a Bahia

População: 57 milhões de pessoas

Segundo maior colégio eleitoral do País;

As médias de ventos no litoral: 27 km/h a 32,4 km/h (a 50 metros de altura)

Geração: 84% renovável

  • Térmica: 15.756GW (16%)
  • Solar: 3.643 (4%)
  • Hidrelétrica: 30.082 (31%)
  • Eólica: 48.706 (49%)

Portos

A infraestrutura portuária é de extrema relevância para uma possível exportação do H2 verde produzido no Brasil, isso porque o Nordeste brasileiro é a rota mais próxima do mercado consumidor europeu

MA
Porto de Itaqui
Porto de Ponta da Madeira

PI
Porto de Luís Correia

CE
Porto do Pecém
Porto de Fortaleza

RN
Porto de Areia Branca
Porto de Natal

PB
Porto de Cabedelo

PE
Porto de Suape
Porto do Recife

AL
Porto de Maceió

SE
Porto de Barra dos Coqueiros

BA
Porto de Salvador
Porto de Aratu
Porto de Ilhéus

Fonte: Estudo Mapeamento de Cadeias de Mobilidade - SAE Brasil e Plano Nordeste Potência

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