A configuração do mapa político do Ceará após o resultado das eleições 2020 manteve a hegemonia de grupos políticos tradicionais, mas também alternou o poder em locais importantes. O pleito deste ano foi de desafios e respostas para atores políticos e seus aliados que devem iniciar as gestões dos Executivos municipais.
Enquanto o PDT abocanhou mais de um terço das prefeituras pelo Estado (67), o grupo que faz oposição garantiu Caucaia, Maracanaú e Juazeiro do Norte, municípios importantes do ponto de vista estratégico e simbólico. A partir de agora o foco de vencedores e perdedores passa a ser o fortalecimento de suas bases até as eleições de 2022. Com os resultados da eleição municipal, caciques tradicionais da política cearense terão que se reinventar para a disputa de daqui a dois anos.
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Com a vitória de José Sarto (PDT), Fortaleza seguirá sob o controle do grupo governista pelos próximos quatro anos. Na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), Caucaia, Maracanaú, Aquiraz e Eusébio são municípios onde famílias e grupos, rivais e aliados, enfrentaram-se.
A importância dessas cidades é notória em diversos campos. Sobretudo o econômico, já que todas figuram na lista dos dez maiores PIBs do Ceará. Vitórias ou derrotas são, portanto, determinantes para a sobrevivência dentro do jogo de poder e influência no Estado.
Em Caucaia, o atual prefeito Naumi Amorim (PSD), do grupo de Domingos Filho, perdeu a eleição para Vítor Valim (Pros). A derrota do grupo governista ocorre no município mais relevante administrado pela legenda no Ceará, que mesmo alinhada ao PDT na Capital e compondo a base do governador Camilo Santana (PT) não conseguiu segurar a prefeitura.
Na véspera da eleição, o irmão do prefeito Naumi e pessoas ligadas à administração do município foram detidas pela Polícia Federal com cerca de R$ 600 mil em espécie. A suspeita é o dinheiro seria para financiar prática de crime eleitoral.
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A derrota do PSD foi imposta pelo deputado estadual Vitor Valim (Pros) do grupo de Capitão Wagner (Pros), que, em Fortaleza, foi derrotado neste 2º turno. Principal aliado de ambos, o senador Eduardo Girão (Podemos) investiu bastante nas eleições deste ano e colheu bons frutos. Com as vitórias, o grupo terá o segundo e o terceiro maiores colégios eleitorais do Ceará; Caucaia e Juazeiro do Norte, respectivamente.
O indicativo mais forte com esse movimento é o de que Girão já está de olho em 2022 e em uma eventual postulação ao Governo do Estado. Se não dele, de alguém que possa fazer frente aos planos do grupo governista para a sucessão de Camilo, principal fiador da vitória de Sarto em Fortaleza ao lado do prefeito Roberto Cláudio (PDT).
No Cariri, o candidato apoiado por Girão venceu em Juazeiro do Norte, terceiro maior colégio eleitoral do Estado. O policial civil Glêdson Bezerra (Podemos) venceu o atual prefeito Arnon Bezerra (PTB), apoiado pelos Ferreira Gomes e por Camilo e sua ampla base aliada. O resultado manteve uma tradição na cidade que desde a instituição da reeleição, em 1997, nunca reelegeu nenhum de seus prefeitos.
A influência do grupo dos Ferreira Gomes também esteve presente em Caucaia. O senador Cid Gomes (PDT) apoiou Naumi, tendo inclusive participado de sua campanha, numa coalizão que virou troca de apoio. O PDT encorpou a chapa do PSD em Caucaia e em Fortaleza o contrário ocorreu.
Apesar da derrota dolorida em Caucaia, O grupo de Domingos Filho retornou ao poder em Tauá, na região dos Inhamuns, com a eleição da deputada estadual Patrícia Aguiar (PSD). Em Iguatu, o atual prefeito Ednaldo Lavor (PSD) foi reeleito. Além disso, o partido elegeu mais de 290 vereadores pelo Estado, consolidando sua força nos Legislativos municipais pelos próximos anos.
No Eusébio e em Aquiraz os prefeitos eleitos são da mesma família. Acilon Gonçalves (PL) foi reeleito no Eusébio enquanto seu filho, o deputado estadual Bruno Gonçalves (PL) foi eleito em Aquiraz, estendendo o controle do grupo na região.
Ambos fazem parte da base aliada aos Ferreira Gomes no Estado. Acilon venceu disputa contra Chico do Posto (Pros), apoiado por Capitão Wagner, enquanto Bruno desbancou o atual prefeito Edson Sá (PDT).
Em Maracanaú, segundo maior PIB do Estado, a base do governador Camilo dividiu-se em duas frentes. Com isso, o grupo do prefeito eleito Roberto Pessoa (PSDB), há 16 anos no poder no município, ganhou tração e garantiu a vitória.
Pessoa foi prefeito de Maracanaú por duas gestões (2005-2012) e em seguida emplacou seu vice, o atual gestor Firmo Camurça (PSDB), também por dois mandatos. Agora Pessoa retorna ao poder.
Em Barbalha, cidade natal do governador Camilo, o PT abriu mão de candidatura para apoiar Dr. Guilherme Saraiva (PDT) contra o prefeito Argemiro Sampaio (PSDB). A influência de Camilo funcionou e garantiu vitória em revanche de 2016, quando o então candidato Argemiro venceu Fernando Santana, cunhado de Camilo, com diferença de 178 votos.
Já no Crato, o prefeito José Ailton Brasil, antes do PP e que filiou-se ao PT para disputar a reeleição, venceu o primo, Aloísio Brasil (Pros), que tentou eleição ligado às figuras de Capitão Wagner e Eduardo Girão.
Reduto dos Ferreira Gomes, Sobral terá Ivo Gomes (PDT) como prefeito por mais quatro anos. A disputa no quinto maior colégio eleitoral do Ceará foi, assim como em 2016, com o MDB de Eunício Oliveira.
Há quatro anos, Ivo Gomes derrotou o deputado federal Moses Rodrigues (MDB) e agora disputou com o pai do adversário de 2016, Oscar Rodrigues (MDB). A cidade é tão importante quanto Fortaleza para os irmãos Ciro e Cid Gomes, cabeças do PDT no Estado. Lá, o grupo está no poder desde 1996, quando Cid foi eleito pela primeira vez como prefeito.
Falando em Eunício, este talvez tenha sido o maior derrotado no processo eleitoral. Em Fortaleza, o candidato que o ex-senador decidiu apoiar em Fortaleza, Heitor Férrer (SD), não chegou aos 5% de votos.
Em Lavras da Mangabeira, terra natal de Oliveira, o atual gestor Ildsser Alencar Lopes (MDB) foi derrotado por Ronaldo da Madeireira (PSD). A relação entre os grupos de Eunício e do ex-vice-governador Domingos Filho, presidente do PSD no Ceará, já foi melhor.
Antes da eleição, o PSD avançou pelo Interior atraindo adesões de prefeitos, até então, emedebistas e saiu-se bem melhor que o MDB nas disputas por Executivos.
O PSDB, do senador Tasso Jereissati e do ex-senador Luís Pontes, terá redução de metade dos Executivos sob seu comando após resultado das eleições 2020. Eram oito prefeituras geridas pelos tucanos no Ceará. A partir de 2021, serão quatro. A vitória mais expressiva foi registrada em Maracanaú, com Roberto Pessoa.
No entanto, Pessoa é um tucano que tem se aproximado mais de outras lideranças como Wagner e Girão e se distanciado de Tasso. Em Barbalha, o PSDB registrou uma derrota (inesperada para a sigla) do atual prefeito Argemiro Sampaio (PSDB).
No Legislativo da Capital o PSDB também perdeu representantes da Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor). Antes com dois vereadores, o partido elegeu apenas um nome para a próxima legislatura: Jorge pinheiro.
Série mostra o cenário eleitoral nas macrorregiões do Ceará