Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).
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Na linha traçada desde agora pelas forças de oposição para desgastar a gestão de Elmano de Freitas (PT), buscando enfraquecê-lo para um projeto de reeleição em 2026, o quadro cearense da segurança pública parece já estar definido como alvo prioritário. E por que parece importante acentuar isso logo agora? Porque os indicadores da área têm melhorado nos últimos meses, embora não percebamos, e caso se deixe para atacar o tema e explorar o medo das pessoas apenas no período eleitoral pode ficar mais difícil usar as estatísticas da área. Existem chances de a oficialidade dispor, mais à frente, de números mais favoráveis para oferecer ao cearense.
É uma coisa complexa, considerando, repita-se, que a sensação que nos dá o sentimento das ruas e o próprio circular de notícias encaminha no sentido de uma conclusão de que houve piora recente no campo da segurança. Um olhar frio sobre as estatísticas, algo nem sempre possível quando a gente lida com uma realidade que segue muito desafiadora, confirma que a tendência atual é mesmo de queda no registro de homicídios, roubos e outros tipos de eventos violentos que formam o quadro do Ceará (e do Brasil) permeado por notícias ruins. Melhores numéricas à parte.
O Capitão Wagner explora cada morte, especialmente quando de agente público ligado à área, com a propriedade que sua própria trajetória de vida legitima. E, veja, uso aqui o termo "explora" no seu sentido mais puro, reconhecendo nele um porta-voz autorizado de uma parte do problema que exige mesmo atenção permanente do governo, no caso, os agentes de segurança ligados às polícias Civil e Militar.
Muito embora a condição política que ostenta atualmente também determine que sua participação no debate seja considerada, para lhe dar o peso correto, no contexto de quem prioriza desgastar aquele que está no poder, e não ajudá-lo na busca de soluções, como forma de pavimentar sua própria caminhada no rumo esperado de tomá-lo para si. É, portanto, uma crítica interessada.
Chama mais atenção, nesse sentido, o comportamento de agora do ex-prefeito Roberto Cláudio, do PDT, que Elmano de Freitas também derrotou dois anos e pouco atrás para chegar ao Palácio da Abolição. Um político cuja trajetória permite definir como humanista, de formação médica, ainda ligado a um partido que historicamente compreende a problemática da segurança num contexto mais amplo, mas que adota, hoje, uma forma de reagir aos eventos de violência que o aproximam da maneira como o Capitão Wagner os enxerga.
No seu discurso, o Ceará está entregue às facções, como explicação mais fácil sobre o que acontece na área e que busca minimizar os contornos nacionais, e até internacionais, que a crise contempla. Não parece assim um fenômeno social tão fácil de explicar e ele, um político reconhecidamente acima da média predominante entre os atores políticos do cenário cearense da atualidade, poderia ser uma aposta de levarmos o debate a um nível mais elevado e profundo. Poderia, reforçando.
Para ficar nos dramáticos números do ano passado, com o registro de aumento de 32,5 para 35,4 por 100 mil habitantes no número de mortes violentas, não parecerá uma missão fácil para o governo e quem o representa convencer as pessoas de que olhando para um recorte mais recente deu-se foi uma melhora. O que se diz, na voz oficial, é que o período completo de 2024 efetivamente acumulou um resultado ruim, com o crescimento apontado acima, mas o período entre julho e dezembro mostraria, na verdade, uma queda de 3,6%.
Ou seja, a performance ruim do primeiro semestre determinou o resultado final que faz prevalecer a sensação de quadro agravado quando os dados mais recentes apontariam uma melhora. O cidadão precisará ser convencido de que o que era ruim, pelo menos, não piorou mais. Boa sorte aos envolvidos.
O clima não está de todo pacificado no Tribunal de Justiça do Ceará, feita a mudança de comando e empossado como presidente o desembargador Heráclito Vieira, que, em outubro do ano passado, derrotou o colega Raimundo Nonato Silva Santos na disputa pela cadeira onde Abelardo Benevides esteve sentado nos últimos dois anos.
Um tema de incômodo para o momento é a mudança breve de comando no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), com perspectiva de um novo embate entre correntes internas acontecer e de se ampliar o clima de divisão no colegiado que ainda não se desfez por completo depois de resolvido o processo sucessório no TJ, concluído com a posse festiva da última sexta-feira.
Aliás, uma pista importante nesse sentido foi captada na reunião da Corte Especial, quinta-feira passada, quando a desembargadora Lira Ramos de Oliveira fez numa manifestação forte de rejeição à ideia de o TRE voltar a ser presidido pelo desembargador Gladyson Pontes, apesar de todo respeito pessoal que diz ter por ele, e avisando que se a ideia for levada adiante uma saída de consenso estará inviabilizada.
O recado foi claro: confirmando-se o fato haverá disputa pela chefia estadual da justiça eleitoral, lembrando-se que o eleito, ou a eleita, estará à frente do órgão no estratégico ano de 2026.
O senador cearense Eduardo Girão (Novo) teve três votos, além do dele próprio, em sua tentativa de chegar à presidência da mesa da Casa. Performance pífia esperada e, claro, que indica o nível de isolamento que o parlamentar experimenta, talvez como efeito concreto de seu esforço de se apresentar como alternativa à polarização, já que é inimigo aberto do PT e dos petistas, ao mesmo tempo em que se nega a aceitar a condição de aliado do PL e do bolsonarismo.
Resta saber, olhando para o futuro, onde encontrará apoio para a disputa eleitoral que decidir fazer em 2026. Caso tenha planos para isso, claro.
Diante do chororô generalizado com o quadro financeiro difícil, especialmente de quem chegou com discurso de oposição, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) decidiu arregalar seus olhos técnicos sobre o tema dos gastos com a festa carnavalesca nos municípios cearenses neste 2025.
Um Grupo de Trabalho está montado para acompanhar a situação e observar se os recursos envolvidos não farão falta para áreas consideradas de prioridade absoluta, especialmente no quadro alegado, quase generalizadamente, de escassez de dinheiro. E, claro, não adianta suspender a folia para direcionar a verba para eventos religiosos, porque também neste caso os cachês são pagos com dinheiro e o debilitado cofre é o mesmo.
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