No começo da pandemia, uma comunidade inteira no bairro Bom Jardim foi expulsa de suas casas por uma facção. Foram 38 famílias que tiveram de deixar as moradias e cujas residências foram tomadas por criminosos. O caso dos moradores da 7 de Setembro foi exemplo extremo de uma realidade que se repete nas periferias pelo Ceará. Já foram mais de 200 famílias expulsas que foram atendidas na Defensoria Pública do Ceará. Não se sabe quantas outras podem ter sido vítimas e não buscaram atendimento. Esse é o drama investigado no primeiro episódio da nova temporada de Guerra Sem Fim, série original O POVO Mais que estreia nesta segunda-feira, 5 de julho. ASSISTA AQUI AO EPISÓDIO
A partir dos depoimentos de quem estuda o fenômeno, de quem tem o papel de dar suporte a essas famílias e, principalmente, quem sofre na pele a violência, a série vasculha a forma como a situação atinge os moradores de favelas, bairros e áreas vulneráveis. São os impactos para as comunidades do fortalecimento das facções criminosas no Ceará.
Os casos se espalham pelas cidades do Ceará inteiro. Mas, principalmente, na periferia de Fortaleza. No Bom Jardim, mas também na comunidade do Gereba, bairro Passaré, ou no Sítio São João, bairro Jangurussu.
Às vezes as pessoas improvisam uma mudança para levar o que conseguem de pertences. Porém, há casos que são autorizadas a ir embora apenas com a roupa do corpo. Os criminosos negociam as casas e apartamentos que confiscam, mas também os objetos pessoais que as pessoas são obrigadas a deixar para trás.
A rede de proteção às famílias ainda é precária. Na série, Leonardo Rodrigues, educador social, conta o caso de uma pessoa que teve a casa tomada há mais de dez anos. Buscou apoio nos órgãos de assistência social. Até hoje não teve resposta pública.
O retorno ao local de onde saíram na maioria das vezes não é seguro. Resta buscar parentes com quem possam se abrigar. Se não houver essa alternativa, entidades de apoio tentam por vezes aluguéis para abrigar essas pessoas. Muitas famílias deixam a Cidade. Vão para a Região Metropolitana de Fortaleza, para o Interior de onde saíram ou onde tenham familiares. Outros passam à situação de rua.
Em 2019, Defensoria Pública do Ceará e Comitê Internacional da Cruz Vermelha acompanharam 15 famílias expulsas no Ceará. Em 2020, foram 34. Número mais que dobrou.
A presença das facções não afeta apenas o direito à moradia. Ela atravessa a vida das comunidades e interfere em diversos direitos fundamentais. Crianças não podem estudar na escola se ficar do outro lado da rua que demarca a fronteira entre territórios. A família não pode ir ao posto que fica no quarteirão vizinho se for área de outra facção. Não podem nem pegar ônibus que passe por ruas sob controle de grupo rival ao do local onde essa família mora, conforme explica no documentário o jornalista especializado em segurança pública Thiago Paiva.
Na próxima semana, será lançado o segundo episódio da nova temporada de Guerra Sem Fim.
Confira os episódios a seguir:
Episódio 2: “GDE: como nasce uma facção”. Discute a origem de um grupo armado nascido na periferia de Fortaleza.
Episódio 3: “Juventude sobrevivente”, que revela casos de jovens que conseguem sobreviver nesses territórios dominados pelo terror por meio da arte.
Direção
Demitri Túlio e Cinthia Medeiros
Coordenação de produção
Cinthia Medeiros
Direção de fotografia
Fco Fontenele
Julio Caesar
Assistência de direção e edição
Arthur Gadelha
Edição
P.H. Diaz
Abertura
Raphael Góes
Primeira temporada contou a ascensão e o funcionamento interno das facções
1ª temporada, episódio 1: A onda de violência (aberto para não assinantes)
Quando as facções criminosas no Ceará se uniram contra as ações rígidas dentro das penitenciárias, gerando a maior onda de violência do Estado. Como isso aconteceu?
1ª temporada, episódio 2: Tribunais do Crime
O funcionamento interno das facções criminosas no Ceará: como punem seus próprios integrantes?
1ª temporada, episódio 3: Caminhos do Crime
A entrada em organizações como as facções é um dos caminhos trilhados pelo crime. O que influencia esse cenário? Como é possível fugir do crime?