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PALEONTOLOGIA | O valor que um fóssil de uma nova espécie tem para a ciência é indiscutível. Todos conseguem entender os olhos marejados dos paleontólogos diante das duas placas de pedra cariri do Ubirajara jubatus, vislumbrando mais uma chave para abrir as janelas do passado. Do tamanho de uma galinha, o dinossaurinho cearense é lindo, aparentemente bem conservado e um grande achado.
Ele também é identidade caririense. Quem já visitou o Cariri sabe muito bem como a região respira cultura — tudo tem tradição e significado. Com os fósseis, não seria diferente. Abençoada por um conjunto de fatores, a Bacia do Araripe cearense dá frutos em pedras de milhões de anos, com incontáveis peixes, insetos e plantas preenchendo um cenário habitado por incríveis dinossauros e pterossauros.
Esbarrando com fósseis desde sempre, os caririenses identificaram neles uma gênesis quase bíblica para o oásis no meio do sertão, compondo mitos sobre os peixinhos de pedra. Lembro também de uma conversa com a artesã e empresária Érica Magalhães, de Santana do Cariri: ela odiava ser do Cariri, acreditava que era o fim do mundo. Quando o Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens (MPPCN) abriu e ela entendeu a história, tudo virou orgulho. "A nossa Santana é privilegiada: é onde tudo começou. Na verdade, eu moro no começo do mundo."
As histórias que o Ubirajara conta ao lado de outros fósseis são, portanto, cultura. São a chave para a identidade de um povo riquíssimo, mas sistematicamente pilhado e roubado de seu patrimônio e da possibilidade de transformá-lo em vida e em renda.
Por isso a repatriação do Ubirajara é tão comemorada: representa a luta contra o colonialismo e demonstra como a ciência também é uma ferramenta de valorização cultural.
Tê-lo no museu é a garantia de que muitos outros caririenses perdidos em acervos internacionais um dia poderão voltar à casa. Certamente, irão contribuir para o quebra-cabeça identitário diverso e colorido que apenas o nosso Cariri tem.