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Moda negra no Ceará tece afetos e resistência no fio da ancestralidade
Reportagem Especial

Moda negra no Ceará tece afetos e resistência no fio da ancestralidade

O ato de vestir-se ganha contornos afetivos e políticos pelo olhar de quatro designers cearenses que pensam a relação com a moda fora dos padrões convencionais. Trabalhando para elevar a autoestima de clientes e modelos que não se encaixam na lógica tradicional, as marcas Mancuda, Negro Piche e Sil de Deus mostram a força do empreendedorismo negro aliada à potência da cultura negra nordestina

Moda negra no Ceará tece afetos e resistência no fio da ancestralidade

O ato de vestir-se ganha contornos afetivos e políticos pelo olhar de quatro designers cearenses que pensam a relação com a moda fora dos padrões convencionais. Trabalhando para elevar a autoestima de clientes e modelos que não se encaixam na lógica tradicional, as marcas Mancuda, Negro Piche e Sil de Deus mostram a força do empreendedorismo negro aliada à potência da cultura negra nordestina
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Um dos eventos mais prestigiados do setor de moda, o Met Gala trouxe como tema, em 2025, o dandismo negro. Destacando como a alfaiataria refinada se tornou ferramenta de sofisticação, o encontro anual foi co-presidido pela primeira vez por homens negros.

Colman Domingo, Lewis Hamilton, A$AP Rocky e Pharrell Williams dividiram as responsabilidades com Anna Wintour, que convidou LeBron James para ser presidente honorário.

MET Gala reuniu celebridades, dentre elas, Anna Wintour (ex-toda poderosa da Vogue), Colman Domingo, Lewis Hamilton (Foto: ANGELA WEISS / AFP)
Foto: ANGELA WEISS / AFP MET Gala reuniu celebridades, dentre elas, Anna Wintour (ex-toda poderosa da Vogue), Colman Domingo, Lewis Hamilton

Mas enquanto os Estados Unidos lutam para encontrar formas de reescrever narrativas raciais através da moda, o Nordeste já desenha suas próprias respostas há tempos.

No Ceará, o ato de vestir-se já se mostra estar muito além da estética. Os artistas do Estado pensam o estilo como gesto de resistência, construção de memória e forma de existir no mundo com dignidade.


Nas mãos deles, o vestir se torna instrumento de afirmação da diáspora negra que ecoa profundamente nos ateliês e nas ruas de Fortaleza.

É nesse espírito que marcas como Sil de Deus, Negro Piche e Mancuda produzem suas peças. Iury Aldenoff, por exemplo, ressignifica o racismo que viveu e o transforma em estética de resistência.

Já Nair e Carl criam roupas que vestem corpos historicamente marginalizados com imponência e beleza. Em comum, todos operam em uma interpretação da moda e da beleza tropicalizada, periférica, negra — e absolutamente autoral.


 

Estar bem vestido é um ato político 

A relação entre vestuário e resistência para a população negra no Brasil é anterior a qualquer passarela.

Um exemplo contundente são as "joias de crioula", que surgiram na Bahia do século XIX. Como aponta a pesquisa de Lorena Cordeiro, essas peças, desenvolvidas por ourives negros com conhecimento ancestral, eram mais do que adornos.

Em uma sociedade que negava aos negros o direito a propriedades ou contas bancárias, as joias funcionavam como uma "moeda de troca de fácil transporte", utilizadas para comprar bens e, crucialmente, cartas de alforria.

Retrato de Florinda Anna do Nascimento, conhecida como Dona Fulô(Foto: Acervo do Instituto Feminino da Bahia)
Foto: Acervo do Instituto Feminino da Bahia Retrato de Florinda Anna do Nascimento, conhecida como Dona Fulô

Elas marcavam não apenas uma posição social, mas uma estratégia de resistência econômica e afirmação de identidade.

No período pós-abolição, a moda continuou sendo um campo de batalha simbólico. Foi nesse contexto que emergiram os primeiros "dândis negros" brasileiros, figuras que, como explica o pesquisador Felipe Vasconcelos, estavam "intimamente ligadas à intelectualidade".

Homens como os jornalistas e abolicionistas José do Patrocínio e Luís Gama utilizaram a alfaiataria e o apuro visual como uma forma de reivindicar seu lugar e sua voz em uma sociedade que ainda lhes negava espaço.

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O cuidado com as roupas era uma extensão de seu projeto político e intelectual.

A exposição "Superfine: Tailoring Black Style", do Metropolitan Museum of Art, explora justamente a trajetória afrodiaspórica, questionando o surgimento do dândi negro na moda.

Monica L. Miller, curadora da mostra e autora de "Slaves to Fashion: Black Dandyism and the Styling of Black Diasporic Identity", destaca que o dandismo ofereceu a homens e mulheres negras algo raro: a oportunidade.

O livro de Monica Miller é o primeiro a contar a história do dandismo negro (Foto: Amazon/Divulgação)
Foto: Amazon/Divulgação O livro de Monica Miller é o primeiro a contar a história do dandismo negro

“Eles passaram a usar roupas, gestos, ironia e inteligência para transformar suas identidades e imaginar novas formas de incorporar possibilidades políticas e sociais”.

Essa sofisticação, inicialmente imposta em alguns contextos pela escravidão de luxo, transmutou-se em símbolo de emancipação e autoexpressão.

Se no imaginário europeu o dandy era um homem branco aristocrata, que usava a elegância para conquistar respeito e ascensão, no contexto da diáspora negra o dandismo foi apropriado como ferramenta de resistência.

No Brasil — e particularmente no Nordeste — esses códigos ganharam expressões próprias, tropicais e vibrantes, traduzidas em estética, história e corpo.

A moda negra nordestina incorpora elementos de alfaiataria, sim, mas também os tecidos leves como o linho e o algodão, as cores vibrantes herdadas das religiões de matriz africana, e o cuidado com a silhueta que valoriza corpos diversos.

A distinção buscada pelos criadores negros por aqui não é só sobriedade e paletó. É uma construção que usa bandanas, lenços, turbantes, colares, estampas, crochê, fuxico e renda.

O refinamento, nesse caso, não busca se igualar à elite branca, mas afirmar outra forma de presença: a elegância que vem do povo preto e da periferia.


 

Moda pra quem se veste 

É no espírito de valorizar as raízes que marcas como Sil de Deus, Negro Piche e Mancuda produzem suas peças.

Trabalhando para ressignificar o racismo, transformando em estética de resistência o que um dia foi usado como ofensa, os designers cearenses criam roupas que vestem corpos historicamente marginalizados com imponência e beleza.

Em comum, todos operam em uma interpretação da moda e da beleza tropicalizada, periférica, negra — e absolutamente autoral.

Mancuda completa três anos desde a criação oficial em 7 de maio. Iniciativa começou na pandemia e tem na cultura das favelas a principal expressão(Foto: Nair Beatriz e Carll Souza / divulgação)
Foto: Nair Beatriz e Carll Souza / divulgação Mancuda completa três anos desde a criação oficial em 7 de maio. Iniciativa começou na pandemia e tem na cultura das favelas a principal expressão

O que está em jogo não é só o tecido, mas a narrativa. O que essas roupas dizem? Que corpos negros têm estilo, têm história e têm o direito de existir com brilho.

Em Fortaleza, Iury Aldenhoff, da marca Negro Piche, personifica a ressignificação como ato de resistência.

A marca, que surgiu em 2017, nasceu da decisão de Iury de se apropriar de um termo racista usado como xingamento e transformá-lo em afirmação.

Em uma sala com parede laranja, Iury Aldenhoff  - CEO da Negro Piche - está de pé, e sorri com a mão no ombro de sua mãe e sócia Ionete, que está sentada em uma cadeira. Ele usa camisa e calça brancas e ela, um vestido longo laranja (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Em uma sala com parede laranja, Iury Aldenhoff - CEO da Negro Piche - está de pé, e sorri com a mão no ombro de sua mãe e sócia Ionete, que está sentada em uma cadeira. Ele usa camisa e calça brancas e ela, um vestido longo laranja

"Decidi pegar o nome como uma afirmativa: 'Sim, sou negro'. Se você quiser buscar algo para me ofender, terá que buscar outra coisa, porque a minha cor não me ofende”, disse.

Este processo de dar um novo significado a uma ofensa é, em si, um ato político que se reflete na identidade da marca.

A Negro Piche, para Iury, tornou-se um local de conhecer um pouco mais sobre a própria história e ancestralidade.

Ele reconhece que não pode representar todas as pessoas negras, dada a diversidade de vivências.
“Mas em todas as decisões, eu busco representar pessoas semelhantes a mim, que têm histórias semelhantes à minha", relata.

Essa consciência se traduz em um compromisso de "devolutiva para a comunidade", contratando pessoas pretas, utilizando modelos diversos – "negras magras, gordas, heterossexuais, bissexuais, gays, lésbicas, pessoas com deficiências" – e criando estampas que contam histórias sobre sua vivência, sexualidade e a ancestralidade religiosa afro-brasileira.

Enfrentando o racismo estrutural cearense, Iury relata dificuldades desde a compra de tecidos até como parcerias são propostas, muitas vezes colocando pessoas brancas em um pedestal.

Sua moda, que prioriza o conforto e a praticidade, constrói modelagens pensadas para o corpo cearense como uma forma de afirmar sua identidade e a de sua comunidade.


Negro Piche - Conheça a marca

 

 

 

Original da Favela

No século XX e XXI, o epicentro da explosão cultural negra deslocou-se, em grande parte, para as periferias urbanas - como no Renascimento do Harlem.

O streetwear, como analisa a pesquisadora Laísa Pigozzo da Silva, passa de ser apenas um estilo, para "uma manifestação social e política que surge das periferias, unindo diferentes elementos culturais e trazendo debates importantes por meio das vestimentas".

Movimentos como o hip-hop e o funk tornaram-se centrais na construção de uma nova estética, onde marcas e peças específicas ganham status de símbolos.

Na foto, o rapper A$AP Rocky e sua esposa, Rihanna; A$AP Rocky é copresidente do Met Gala deste ano.(Foto: Reprodução/Vogue)
Foto: Reprodução/Vogue Na foto, o rapper A$AP Rocky e sua esposa, Rihanna; A$AP Rocky é copresidente do Met Gala deste ano.

A influência é tão forte que, como observa Laísa, as simples menções a marcas como a Nike nos raps de Mano Brown geraram um movimento de consumo e pertencimento.

As periferias não apenas consomem, mas também ressignificam. Um caso emblemático é o da Lacoste, marca historicamente elitista que foi culturalmente ressignificada por jovens periféricos, que passaram a vinculá-la ao universo do funk.

A popularização do apelido "Lalá" nas comunidades foi tão forte que levou a própria empresa a renomear uma de suas lojas, num reconhecimento tardio do poder da periferia em ditar códigos e transformar símbolos.

Tasha ENTITY_amp_ENTITYTracie(Foto: Steff Lima/Divulgação)
Foto: Steff Lima/Divulgação Tasha ENTITY_amp_ENTITYTracie

É nesse espaço que figuras como a dupla Tasha & Tracie se autointitulam "It Favela", subvertendo o conceito de "It Girl" e reivindicando a favela como centro de produção de estilo e cultura.

Neste contexto, direto do grande Pirambu, a Mancuda carrega no próprio nome a potência da gíria periférica e a leveza de quem faz política a partir do corpo.

Criada durante a pandemia como tentativa de sobrevivência, a Mancuda se transformou em projeto de afirmação negra e periférica.

ParaTodosVerem: Em um ambiente urbano com um pilar de concreto e uma parede pichada ao fundo, os idealizadores da Mancuda posam, em pé. Ambos vestem roupas da marca. Carll, à esquerda, tem cabelo loiro descolorido, usa óculos escuros, uma corrente prateada, camiseta preta e bermuda branca e preta. Ele está apoiado no pilar. Nair, à direita, tem cabelo preto, longo e cacheado, e veste uma camiseta preta curta e um shorts branco e preto.(Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal ParaTodosVerem: Em um ambiente urbano com um pilar de concreto e uma parede pichada ao fundo, os idealizadores da Mancuda posam, em pé. Ambos vestem roupas da marca. Carll, à esquerda, tem cabelo loiro descolorido, usa óculos escuros, uma corrente prateada, camiseta preta e bermuda branca e preta. Ele está apoiado no pilar. Nair, à direita, tem cabelo preto, longo e cacheado, e veste uma camiseta preta curta e um shorts branco e preto.

As roupas da marca são feitas com corpos reais em mente: corpos pretos, gordos, trans. Modelos que, muitas vezes, nunca tinham se sentido bonitos diante de uma câmera — até vestirem uma peça da Mancuda.

Carll explica que, quando ser fala em moda de favela, não quer dizer somente uma tendência ou conjunto de roupas casuais, mas uma manifestação social e política que surge das periferias, unindo diferentes elementos culturais e trazendo debates importantes.

“A moda periférica transforma elementos do cotidiano periférico em símbolos de estilo e resistência”, acrescenta.

ParaTodosVerem: Na imagem, Carl e Nair, idealizadores da Mancuda. Nair, à esquerda, é uma mulher negra de cabelos cacheados, usa óculos de grau e uma camiseta amarela. Carll, à direita, é um homem negro, de cabelos também cacheados, usa óculos e, veste uma jaqueta esportiva vermelha e preta(Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal ParaTodosVerem: Na imagem, Carl e Nair, idealizadores da Mancuda. Nair, à esquerda, é uma mulher negra de cabelos cacheados, usa óculos de grau e uma camiseta amarela. Carll, à direita, é um homem negro, de cabelos também cacheados, usa óculos e, veste uma jaqueta esportiva vermelha e preta

“Itens como óculos, unhas longas, acessórios chamativos ou até mesmo camisas de futebol e anéis vendidos em comércios populares, são carregados de significados que se tornam símbolos de resistência cultural e celebração das raízes da periferia”, finaliza.

A costura, ali, também é cuidado. Co-criadora da marca, Nair relata que só na universidade entendeu que não precisava se envergonhar de seu cabelo crespo, de seu nariz, de sua cor.

“Não importa o quão arrumado um negro esteja, se uma pessoa branca aparece, ela vai ser vista como mais arrumada”, reflete. A moda, para ela, é forma de devolver autoestima e abrir janelas para novas percepções de beleza.

Conheça a marca - Mancuda


 

Da Praia de Iracema para o mundo

A crescente visibilidade da estética negra, no entanto, expõe uma tensão constante: a linha tênue entre celebração e apropriação.

A rapper Tasha sintetiza o dilema: "Todo mundo ama nossa cultura, mas ninguém quer ver a gente vestindo a nossa cultura. Eles preferem pegar uma pessoa branca e pintar de preto do que chamar quem realmente criou".

Essa dinâmica é o que o antropólogo, doutor em ciências sociais pela PUC-SP Rodney Willian, descreve como uma apropriação que ocorre "sem um mínimo de comprometimento com as lutas e reivindicações dos grupos permanentemente desumanizados".

Rodney William é babalorixá, antropólogo e doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Rodney William é babalorixá, antropólogo e doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

"A moda mainstream, ao absorver esses elementos, arrisca esvaziá-los de seu significado político original, transformando a resistência em mero produto", explica. 

Essa superficialidade é refletida na grande mídia, como aponta a pesquisa “Moda, diversidade e Instagram: um olhar para as seis principais revistas de moda no Brasil", feita na Universidade Federal do Maranhão.

As autoras, Thaisa Bueno e Leila Lima de Sousa apontam que, nas principais revistas de moda do País, embora haja avanços, a diversidade ainda ocupa um "espaço reduzido", e a mídia é a maior responsável por reforçar "modelos-padrão de beleza idealizados".

ParaTodosVerem: Na imagem, Iury Aldenhoff, CEO da Negro Piche. Ele é um homem negro, com barba, bigode e cabelo escuro estilizado em tranças finas, e está sentado no parapeito de uma janela. Ele veste uma camisa de botão amarela e calças largas com listras verticais bem coloridas em tons de vermelho, amarelo, verde e azul(Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal ParaTodosVerem: Na imagem, Iury Aldenhoff, CEO da Negro Piche. Ele é um homem negro, com barba, bigode e cabelo escuro estilizado em tranças finas, e está sentado no parapeito de uma janela. Ele veste uma camisa de botão amarela e calças largas com listras verticais bem coloridas em tons de vermelho, amarelo, verde e azul

Quando isso acontece, é muito comum que se reforce o "fenômeno do negro único", quando uma única pessoa negra é colocada em destaque "como se pudesse representar toda uma raça", apagando a pluralidade de vivências.

Iury Aldenhoff faz questão de pontuar a problemática nessa questão.

“Não tem como uma pessoa negra ou uma marca negra representar toda uma comunidade. Eu represento pessoas semelhantes a mim, que têm histórias semelhantes à minha, mas que, de uma forma geral, a comunidade acolhe por sermos da mesma raça, por estarmos ali querendo construir algo juntos”, coloca.

Estilista e militante, Silvania de Deus é pioneira em mistura moda, arte, música e afeto(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Estilista e militante, Silvania de Deus é pioneira em mistura moda, arte, música e afeto

É dentro desse complexo cenário de herança, reinvenção e disputa que a moda negra brasileira, e em particular a cearense, continua a tecer sua história.

Com mais de 40 anos de trajetória, Silvania de Deus talvez seja a ancestral viva desse movimento.

Artista, estilista e militante, ela comanda um dos ateliês mais antigos de Fortaleza, fincado na boêmia Praia de Iracema. De lá, criou o Fuá da Sil, um evento que mistura moda, arte, música e afeto — e movimenta a cena cultural cearense desde 2020.

Para Silvania de Deus, moda é política e espiritualidade(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Para Silvania de Deus, moda é política e espiritualidade

Silvania cresceu no bairro Carlito Pamplona, filha de uma costureira e de um mestre de obras. Aprendeu a costurar aos 12 anos, quando decidiu que não queria mais vestir as roupas da mãe.

Para ela, moda é política e espiritualidade. “Vestir-se é um encontro com a gente. Podemos até sair com fome, mas não saímos nus.”

As peças que cria dialogam com o continente africano, com as cores da negritude, com Exu — entidade que, como ela mesma diz, "tem capacidade de conversar com a casa grande".

Conheça a marca - Ateliê Sil de Deus

Sua moda é agênero, feita para qualquer corpo, e profundamente ligada à sustentabilidade: retalhos viram alças, sobras de tecido viram calcinhas, e embalagens são feitas de pano. "O pobre sempre foi mais sustentável", resume.

As histórias de Silvania, Iury e Mancuda anunciam que vestir-se é verbo de identidade negra — conjugado com força, criatividade e afeto.

A moda negra no Ceará não é tendência: é território e resistência cotidiana em um país onde a estética branca ainda pauta o mercado, as vitrines e os padrões de beleza. 

E cada peça carrega essa multiplicidade. Uma roupa que foi costurada no Pirambu, vestida na Paupina e que saiu para um rolê na Praia de Iracema é mais do que vestimenta — é documento vivo, contra-narrativa e memória de um povo que insiste em permanecer.

 

>> Quer ler mais sobre raça, diversidade e direitos humanos, que tal acessar as colunas do jornalista Rubens Rodrigues

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