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Ceará como laboratório para a disputa nacional em 2026
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Paula Vieira, socióloga e cientista política. Professora. Pesquisadora do Laboratório de estudos sobre política, eleições e mídia (Lepem-UFC)

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Ceará como laboratório para a disputa nacional em 2026

Essas disputas internas antecipam o debate sobre as eleições ao Senado. Com o aumento da competitividade, há mais visibilidade para as candidaturas
Palácio da Abolição, em Fortaleza (Foto: Daniel Galber - Especial para O Povo)
Foto: Daniel Galber - Especial para O Povo Palácio da Abolição, em Fortaleza

O Ceará volta a se posicionar no centro do tabuleiro político nacional. Enquanto Lula recupera fôlego em Brasília, após um semestre de altos e baixos no Congresso, o Estado se prepara para um novo ciclo de disputas que revelam de que é feito, afinal, um projeto político-partidário: alianças locais, estratégias de visibilidade e a busca por capilaridade no território.

Lula abriu uma brecha que o fortaleceu como liderança nacional. Neste segundo semestre de 2025, entre derrotas congressuais, o presidente brasileiro teve vitórias que reduziram sua rejeição e aumentaram sua aprovação: o diálogo com Donald Trump e a vitória na popular medida sobre o Imposto de Renda.

As derrotas não reduziram a força do governo. Pelo contrário. Uma delas ocorreu em projeto de interesse popular e, por isso, ao perder, o presidente também ganhou legitimidade para promover cortes em cargos de segundo escalão ocupados por partidos de oposição em um movimento que sinaliza tentativa de reorganização política. O Congresso, como já apontei em outra coluna, vive momento de alta rejeição.

Assim, não surpreende o espaço que Lula encontrou para subir o tom contra seus opositores.
As entrevistas recentes da principal liderança do governo, José Guimarães (PT), indicam a busca por fortalecer o partido no Legislativo, especialmente no Senado.

A estratégia é garantir presença robusta em 2027, seja como força de governo ou de oposição, conforme o desfecho das eleições de 2026.

Na outra ponta, a direita parece ter dificuldade em consolidar nomes de alcance nacional. Entre Tarcísio, Michelle e Caiado, o projeto conservador concentra-se em fortalecer bases locais e conquistar capilaridade para eleger deputados e senadores.

A meta é manter um Congresso de direita capaz de oferecer resistência ou servir de apoio, a depender de quem vença a presidência.

Em coluna recente no O POVO, Érico Firmo lembrou que as eleições para o Senado no Ceará tendem a acompanhar os votos para o Governo do Estado.

É um ponto de atenção importante para entender os movimentos atuais. De um lado, a chapa governista acumula mais nomes do que vagas; de outro, a oposição, em processo de formação, enfrenta disputas internas.

Alcides Fernandes (PL) era nome dado como certo, mas a articulação nacional, via Michelle Bolsonaro, colocou em jogo o nome de Priscila Costa, abrindo nova frente de competição.

Essas disputas internas antecipam o debate sobre as eleições ao Senado. Com o aumento da competitividade, há mais visibilidade para as candidaturas.

O conflito gera notícia, que gera atenção, que gera visibilidade — e, em política, é necessário ser visto para ser lembrado. No caso cearense, as eleições para o Senado caminham lado a lado com as do governo estadual.

O bloco em torno do governador Elmano de Freitas (PT) constrói sua força a partir das lideranças municipais. As prefeituras alinhadas ao governo tornam-se estratégicas, com o PSB e o PDT garantindo a desejada capilaridade territorial.

A oposição, com menor alcance nas prefeituras, aposta em estratégias mais dispersas, investindo na formação de opinião pública desvinculada da política municipal.

Sua competitividade vem do capital político individual que agora pode ser reforçado pela possível candidatura de Ciro Gomes, com possível filiação ao PSDB.

No fim das contas, o que se desenha é mais do que uma simples disputa de nomes: é o teste de resistência dos projetos políticos em tempos de realinhamento nacional. O Ceará volta a ser laboratório de alianças e rupturas, como tantas vezes na história.

Em 2026, mais do que quem vence, importará entender que tipo de projeto sobreviverá: o da base territorial e institucional do lulismo ou o da narrativa mobilizadora da direita, que investe na opinião pública diante da ausência de base nas prefeituras.

Ciro Gomes pede desfiliação do PDT: qual será o destino político do ex-presidenciável?| O POVO News

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