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A Segurança Pública como capital político: o debate eleitoral no CE em 2026
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Paula Vieira, socióloga e cientista política. Professora. Pesquisadora do Laboratório de estudos sobre política, eleições e mídia (Lepem-UFC)

Paula Vieira política

A Segurança Pública como capital político: o debate eleitoral no CE em 2026

E se a Segurança Pública for o tema balizador das eleições de 2026, como estão os discursos políticos dos nomes cogitados para disputar o Governo do Estado do Ceará?
Canindé tem a intervenção policial com o maior número de mortos no CE desde 2018
 (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Canindé tem a intervenção policial com o maior número de mortos no CE desde 2018

Na semana passada, uma amiga me perguntou sobre o posicionamento de um possível candidato diante das últimas ações de segurança pública, mais especificamente sobre os discursos em torno das mortes em confrontos. A questão é clara: há adesão ao discurso de "bandido bom é bandido morto"?

Elmano de Freitas (PT) tem mudado o direcionamento de seu discurso quando o assunto é o enfrentamento às facções. Pontuou, com ênfase, não ter havido morte de inocentes nas últimas ações.

Curiosamente, a comunicação em suas redes sociais tem adotado vídeos que se aproximam da linguagem dos programas policiais de TV aberta, populares entre aqueles que buscam informações sobre o cotidiano da violência.

O governador petista, ainda, falou sobre a ausência de integração entre os âmbitos nacional e estadual e um descompasso entre as prisões efetuadas pelos policiais e os processos judiciais que acabam por liberar os acusados, sinalizando a dificuldade de sustentação da política de segurança nas esferas superiores.

André Fernandes (PL), como liderança que agregou capital político à direita bolsonarista, mantém-se vinculado ao discurso da ostensividade na segurança pública como estratégia principal de combate ao crime organizado.

Não houve, até então, uma postura discursiva propositiva para além da estratégia de combate à violência com mais violência.

Capitão Wagner (União Brasil) tem o combate ao crime como sua pauta principal, uma característica vinculada à sua trajetória e responsável por ele ter agregado capital político.

Mas, como candidato ao Executivo, com referência a eleições anteriores, ele parece desidratar e perder tração ao tentar se posicionar no mesmo espectro da direita mais radical e bolsonarista, cuja retórica é dominada por nomes como André Fernandes.

A comunicação via redes sociais saiu de uma suavização da imagem policial após as eleições de 2024, quando foi candidato à prefeitura de Fortaleza.

Desde então, o discurso de denúncia das ações das organizações criminosas e de crítica à política de segurança do Estado foi recrudescido. Correr a tela de seu perfil é similar a acompanhar uma série de "novelas verticais".

Se antes víamos Roberto Cláudio (PDT), ex-prefeito de Fortaleza, com atenção constante às demandas de Saúde, seu perfil em rede social tem trabalhado, principalmente, em críticas à Segurança Pública, em um observável movimento semelhante ao de Wagner. O alinhamento para a guinada à direita, no tema central, se consolida.

Por fim, Ciro Gomes, recém retornado ao PSDB, até então, não fazia da segurança pública objeto de sua atenção, mesmo sendo este o ponto sensível da esquerda petista a qual faz ferrenha oposição.

No entanto, diante da semana do massacre no Rio de Janeiro e do endurecimento da ação policial no Ceará em Canindé, Ciro se colocou não mais como um candidato, mas como nome para a Segurança Pública cearense em um eventual governo de Roberto Cláudio, se posicionando como "solução" para o desafio.

O que se observa, portanto, é a guinada da tese política em território cearense, com todos os protagonistas da disputa de 2026, da esquerda à direita, convergindo para a retórica do endurecimento.

Aqui, particularmente, há uma preocupação inevitável: o tema da Segurança Pública deixar de ser um problema complexo a ser resolvido com políticas públicas integradas para se tornar o campo de batalha e o principal fator de diferenciação eleitoral.

Há de se ter atenção para que essa tática não ameace sepultar a discussão sobre as raízes sociais da violência e a importância da inteligência e da prevenção, mantendo o Ceará preso a uma competição retórica sobre quem é o mais duro com o crime, e não sobre quem oferece o melhor plano para a paz.

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