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O Rio de Janeiro (e o Brasil) continua lindo. E violento
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Colunista de política, Gualter George é editor-executivo do O POVO desde 2007 e comentarista da rádio O POVO/CBN. No O POVO, já foi editor-executivo de Economia e ombudsman. Também foi diretor de Redação do jornal O Dia (Teresina).

O Rio de Janeiro (e o Brasil) continua lindo. E violento

Naturalizar o que aconteceu no Rio, dar a entender que não há outras alternativas para o enfrentamento de facções criminosas que não seja a matança (e o morticínio) indiscriminada é um erro que nos custará caro no futuro
A pedido dos familiares, os corpos de mortos durante operação policial no Rio de Janeiro foram expostos para registro da imprensa, e depois foram cobertos com lençóis (Foto: FABIO PORCIUNCULA / AFP)
Foto: FABIO PORCIUNCULA / AFP A pedido dos familiares, os corpos de mortos durante operação policial no Rio de Janeiro foram expostos para registro da imprensa, e depois foram cobertos com lençóis

Desconfia-se, e há razões para isso, que o evento violento da terça-feira no Rio de Janeiro, que deixou um saldo assustador de 121 mortes, pode guardar relação com o cenário eleitoral de 2026. Seria demais imaginar que já no planejamento, mas, parece claro, boa parte dos movimentos políticos posteriores à tragédia focam na possibilidade de obter ganhos em projetos pessoais/partidários e, ao mesmo tempo, impor perdas aos adversários.

É a tragédia da tragédia. Boa parte dos corpos ainda em pedras frias à espera de serem periciados e correntes políticas se digladiando, buscando tirar proveito de uma situação que deveria gerar união das, chamadas, forças de bem como única reação aceitável.

Naturalizar o que aconteceu, dar a entender que não há outras alternativas para o enfrentamento de facções criminosas que não seja a matança (e o morticínio) indiscriminada é um erro que nos custará caro no futuro. Independentemente do que as urnas disserem.

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O tema da segurança pública, ou falta dela, dominará o debate eleitoral de 2026 e não há como ser diferente. Faz parte da preocupação cotidiana de todos nós, portanto dos eleitores, esperando-se que os candidatos, partidos e alianças apresentem seus planos para trazer o cenário de volta àquilo que podemos chamar de normalidade, que não há como ser assistir uma operação policial que deixa mais de 100 mortes, inclusive de agentes públicos de segurança, sem que o País reaja alarmado.

A oposição atual, no Ceará e no Brasil, não inova quando explora o medo das pessoas para ganhar votos. Muita gente que hoje é governista assim o fez quando estava do outro lado, restando cobrar que não se invista na lógica perversa do "quanto pior, melhor". O dever de proteção da sociedade impõe que todos assumam suas responsabilidades, de onde quer que estejam na estrutura política do momento.

Do lado de quem governa, aqui no plano federal, exige-se um comportamento que drible provocações e lidere um processo que leve às mudanças que o quadro dramático impõe que aconteçam. Por exemplo, é preciso que se tenha frieza quanto à atitude dos governadores de oposição que correram ao Rio de Janeiro, dois dias depois do acontecido nos Complexos do Alemão e da Penha, para uma espécie de aliança militar entre eles como forma de resposta, digamos que organizada, ao crime organizado.

A ideia de ignorar a existência de um poder federal ou de lembrar dele apenas quando se precisa apontar um culpado não parece um bom caminho, ainda mais quando precisa haver compromisso com a institucionalidade. As saídas possíveis para o que enfrentamos passam por uma articulação mais eficaz e plena das instâncias de Estado e não, como indica o modelo anunciado naquele encontro de governadores, por um contorno do desenho de poder que hoje vigora no Brasil.

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Não é hora de ficar olhando pesquisas e vendo o que funciona e o que não tem efeito na opinião pública para decidir o que fazer. Todas as boas ideias que surgirem precisam ser discutidas e, se aplicáveis, colocadas em prática no imediato. O quadro apresenta urgência e não permite que se espere que a temporada eleitoral chegue para anunciar as soluções mágicas, raras vezes levadas do papel à realidade, que preenchem as páginas de bem elaborados programas de governo. Tanto quanto, em boa parte dos casos, inócuos.

O articulador e o incendiário

Qual André Fernandes prevalecerá na política, afinal? Aquele que, presidente do PL no Ceará, fez todo o esforço de mostrar maturidade política ao participar do café da manhã das oposições na semana e fazer uma série de declarações até equilibradas sobre os planos eleitorais para 2026? Ou, o deputado federal que um dia depois estava na Câmara incendiando as coisas e sugerindo ao plenário uma esdrúxula salva de aplausos para as mais de 100 mortes no Rio de Janeiro, sugerindo uma celebração macabra? Coisa espantosa até mesmo para correligionários e colegas de bancada que o deixaram falando sozinho.

Dois políticos, 2 caminhos

Há quem tenha estranhado a diferença entre uma situação e outra. Enquanto Ciro Gomes chegou ao PSDB com todo barulho que era possível fazer, em reunião aberta ao público, realizada em Fortaleza, com muita gente, líderes locais etc, Roberto Cláudio filia-se ao União Brasil, dia 5 próximo, em evento fechado para poucos e que acontecerá em Brasília. São situações que, mesmo não sendo a intenção, ajudam a fragilizar um ativo político importante que o grupo tem para, mais adiante, o momento da escolha do melhor nome para liderar o palanque oposicionista no Ceará. Até porque, o "preferido" Ciro Gomes segue dando declarações meio descompromissadas com a ideia de candidatura.

Mais armas, mais segurança?

Está previsto que os envelopes sejam abertos na próxima terça-feira, às 9 horas, mas a prefeitura de Sobral decidiu mesmo armar melhor a turma de sua guarda municipal. A licitação aberta prevê a aquisição de pistolas 9 mm para vos integrantes da força, dotando-os, na perspectiva da gestão de Oscar Rodrigues (União Brasil), de melhores condições para prestar um serviço eficiente na proteção à população. Espera-se que também estejam sendo devidamente treinados.

O mistério da Santa Quitéria

A vitória de Joel Barroso (PSB) na eleição suplementar em Santa Quitéria, domingo passado, levou aliados seus a, durante a semana, levantarem uma discussão: o que poderia explicar o salto de 41% para 53,2% na votação de quem representa um grupo que, na situação anterior, foi visto como representante de uma facção criminosa? Os cerca de 500 agentes que teriam sido mobilizados garantem a lisura do novo pleito? Ficam dúvidas mesmo e nos resta concluir que, sim, as mesmas autoridades que viram problemas insanáveis no processo de 2026, ao ponto de anulá-lo, chancelam o que aconteceu agora e atestam a lisura. A população espera que sim.

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O Senado segue na pauta

Aos desavisados, é importante advertir: o projeto de candidatura ao Senado de José Guimarães, pelo PT, segue vivíssimo. Lideranças do Interior, especialmente políticos, têm sido instados a intensificar gestos públicos de apoio ao parlamentar, líder do governo na Câmara, que, claro, retribui em Brasília priorizando pleitos dos aliados nas suas movimentações livres dentro dos órgãos públicos.

 


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