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Entre armas e cartas: mulheres da Confederação do Equador brigaram por espaço na história
Reportagem Seriada

Entre armas e cartas: mulheres da Confederação do Equador brigaram por espaço na história

Em certos períodos históricos, quaisquer registros documentais são gritos poderosos. Em uma "revolução de homens", as mulheres do movimento republicano de 1824 conseguiram menções, prometeram pegar em armas e viveram em fuga. Hoje, cabe o resgate - uma outra forma de revolução
Episódio 5

Entre armas e cartas: mulheres da Confederação do Equador brigaram por espaço na história

Em certos períodos históricos, quaisquer registros documentais são gritos poderosos. Em uma "revolução de homens", as mulheres do movimento republicano de 1824 conseguiram menções, prometeram pegar em armas e viveram em fuga. Hoje, cabe o resgate - uma outra forma de revolução
Episódio 5
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Por muito tempo, no Sertão, quem tinha passado e futuro era rei. Os demais viviam presos ao presente, de uma imensidão semiárida, dura e cruel. Nomes que se perpetuaram na história pertenciam a poderosos, que podiam se dar o luxo de aprender a ler, escrever, registrar os nomes em documentos, e cogitar a luta por um futuro melhor.

Quaisquer vestígios são escassos na Confederação do Equador, ocorrida em 1824. Mesmo que protagonizada pela elite cearense, de fazendeiros e políticos influentes, muitos dos registros foram queimados e alguns dos principais atores - como o revolucionário Tristão Gonçalves - sofreram tentativas de apagamento.

 

Participação das mulheres, por localidade, na Confederação

 

Se o cenário foi assim em uma “revolução de homens”, o tratamento para as mulheres que participaram dela é mais intensificado. Cada mínimo espaço conquistado por elas na luta era envolto de sacrifício.

Por muitos anos, a história as desconheceu. Após décadas de trabalho historiográfico, hoje sabe-se que, nas páginas dos ofícios, cartas ou manifestos, as mulheres aparecem. São discretas apenas no espaço concedido, mas grandiosas nas atitudes que estavam dispostas a tomar: de pegar em armas, de sofrerem as consequências.

É o que o diretor Luiz Carlos Diógenes, do Sindicato dos Fazendários do Ceará e articulista do O POVO+, chama de "pegadas de ativismo". Cada nota de rodapé em que mulheres se mostram presentes na Confederação é, na verdade, um grito. Mas, não precisa ser assim. O movimento pode ser contado com as revolucionárias nas páginas principais.

 

 

As mulheres guerrilheiras do Ceará

O POVO+ contatou três historiadores e teve acesso a cronologias e documentos oficiais da época. A partir do conjunto de informações, foi constatada a participação de ao menos quatro mulheres e dois grupos femininos na Confederação do Equador ou em contextos diretamente relacionados a ela.

Os coletivos em questão são as Patrícias de Quixeramobim e as Patrícias de Icó. Apesar dos nomes semelhantes, ambos não possuem qualquer relação entre si, ao menos não documentada. Além disso, vêm de contextos temporais e geográficos diferentes.

Patrícias de Quixeramobim prometeram pegar em armas para proteger o Brasil(Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos Patrícias de Quixeramobim prometeram pegar em armas para proteger o Brasil

As patrícias de Quixeramobim aparecem na página do Diário do Governo, primeiro jornal do Ceará, referente ao dia 22 de maio de 1824. Ou seja, algum tempo antes do início da Confederação, em 2 de julho.

O grupo de mulheres enviou uma carta para o líder revolucionário da vila de Icó, Padre Mororó, que a publicou no jornal. O manifesto inicia com uma celebração do pronunciamento da vila - que jurou pegar em armas contra a invasão portuguesa que diziam estar por vir.

Mais que isso, elas se incluem no combate, assinam o documento com os nomes completos e dizem estar “ promptas "Utilizamos a grafia da época" ". "Ja nos preparamos das competentes frechas, que devem rechaçar o inimigo, sos Paes, Filhos, e Irmaòs”. Por fim, pedem a Padre Mororó que publique o texto para “público testemunho dos nossos sentimentos”. 

 

Registros oficiais dos grupos de mulheres na Confederação


Não é possível considerar que a carta destas mulheres se deu exatamente na Confederação, segundo explica o pesquisador do movimento revolucionário, Weber Porfírio. Ligado ao Museu do Ceará, ele afirma que, no entanto, o indicador de envolvimento destas mulheres nas questões políticas é, por si só, impressionante.

“Essa participação feminina, no primeiro momento, é pensando que Portugal está para invadir o Brasil. Ainda não tem nada a ver com a Confederação do Equador. Mas, elas estão plenamente cientes do que tá acontecendo e têm posicionamento, se colocam pro conflito, junto às tropas cearenses”, explicou.

A disposição delas foi apreciada na época. Padre Mororó, em uma introdução, as compara aos homens, atribuindo-as mais coragem. Eram guerreiras e espartanas, dispostas a marcar o momento. Ainda assim, essas mulheres sumiram nos caminhos da história.

Este é o único registro das Patrícias de Quixeramobim. Não sabe-se o que aconteceu depois. A própria identidade delas é um mistério: imagina-se que sejam da elite local, tendo em vista as habilidades de escrita. No entanto, há hipóteses de serem mulheres indígenas, devido aos nomes e à menção às flechas.

Patrícias de Icó seriam da elite local. Pediram proteção aos líderes da Confederação(Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos Patrícias de Icó seriam da elite local. Pediram proteção aos líderes da Confederação

Outro grupo, as Patrícias Liberais de Icó aparecem na página de 30 de julho de 1824 no Diário do Governo do Ceará. O professor Weber Porfírio estima que elas também seriam membros da elite local "Icó foi palco de grandes conflitos na Confederação. A cidade recebeu tropas da província em 11 de julho e no mesmo dia a Câmara comunicou não respeitar a Constituição outorgada. Ou seja, a posição das mulheres foi em apoio a esse movimento, poucos dias após ele ocorrer." . No escrito, o grupo faz menção a Tristão Gonçalves e Pereira Filgueiras, ou seja, o contexto já pode ser relacionado ao da Confederação, embora o Ceará só tenha aderido ao movimento em 26 de agosto.

Elas pedem proteção em meio à ameaça de recolonização do Brasil pelo imperador Dom Pedro I, um dos ideais da Confederação do Equador. As mulheres apoiam a ida de Tristão e aliados ao combate para proteger não apenas as vilas e o Ceará, mas o País como um todo. “Isso é interessante, essa leitura já conecta diretamente com o que estava sendo difundido pelos confederados”, reforçou Weber Porfírio.

O grupo de mulheres solicitava métodos extremos e violentos. Em poema publicado, clamam: "Matai os tiranos; Nossos agressores; E tereis da Pátria; Vivas, e louvores". Sob pedidos de uma nação livre, também deixaram os nomes completos e, assim como as companheiras de Quixeramobim, não tiveram mais menções posteriores em registros. Uma existência sob as cortinas. 

 

 

 Esposas de líderes foram revolucionárias por si só

Duas mulheres de líderes se destacaram na Revolução. Ana Lins e Ana Triste atuaram, cada uma à sua maneira, na Confederação.

A primeira, alagoana, chegou a ser presa em 1824. Na revolução pernambucana, de 1817, ela andava a cavalo e ia de engenho a engenho convocando pessoas para lutar por ideias republicanas. Na Confederação, teria aderido ao movimento, segundo alguns historiadores.

Lins era dona de um engenho junto do marido Manuel Vieira Dantas, criador de gado e figura poderosa da época. A casa deles chegou a ser cercada por tropas imperiais, que disparavam balas. Ana e os parentes teriam resistido até os últimos segundos, mas ela acabou presa, junto do filho, João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu.

Ana Lins, alagoana, liderou movimentos revolucionários na província(Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos Ana Lins, alagoana, liderou movimentos revolucionários na província

O marido, Manuel, fugiu pelas matas, acabou capturado e mandando para o Amazonas. Ana, por sua vez, ganhou anistia e, após sair da prisão, conseguiu reeguer, sozinha, o engenho em que morava.

As informações são de um resgate feito pela Secretaria Municipal de Cultura de São Miguel, município de Alagoas em que boa parte dos fatos ocorreu. A cidade rememora a figura de Ana como “brava guerreira”, muito além do que a esposa de um dono de engenho.

Weber Porfírio, no entanto, alega que “falta ainda um aporte documental para atestar de fato o envolvimento na Confederação de fato”, já que a prisão poderia ter ocorrido, antes, no contexto de boatos sobre a invasão portuguesa no Brasil. Ainda assim, ele alega: “É fato, é uma participação feminina que foi presa dentro daquele momento do contexto político da época das das contestações”.

Ana Triste percorreu o Ceará entregando correspondências e mediando apoios(Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos Ana Triste percorreu o Ceará entregando correspondências e mediando apoios

O Ceará também contou com mais uma revolucionária, Ana Triste, esposa de Tristão Gonçalves "A relação de Ana Triste com Tristão é, a princípio, controversa. Professora Raimundinha Feitosa, estudiosa de Bárbara, contou que o casamento foi arranjado pelo fato de Tristão ser o filho "mais danado" de Bárbara. Ana chegou a criar um filho que ele teve fora do casamento. No fim, acabou sendo uma união harmônica." . A participação dela é ainda mais escassa que as demais. Sabe-se que ela é natural do Crato e casou-se com Tristão aos 20 anos de idade. Não há pinturas ou desenhos dela.

Na revolução de 1817, ela participou irrompendo no sertão em direção a Bahia e Pernambuco em busca do marido e de defesa, segundo Luiz Carlos Diógenes, diretor de Cidadania, Inclusão Social e Cultura da Fundação Sintaf. O Sindicato dos Fazendários do Ceará se debruçou sobre a vida de Ana Triste para a produção de uma peça sobre a Confederação, da qual falaremos mais adiante.

A participação de Ana Triste em 1824, segundo Luiz Carlos, foi como articuladora, “rasgando esse sertão para mandar mensagens”. “Não foi na linha de frente, pegando em armas, trabalharam muito mais, vamos dizer, num apoio político. Até porque era uma mãe de família, uma sertaneja, mãe de família ocupada na criação dos filhos”, disse.

Após a morte do marido, em outubro de 1824, Ana - até então Ferreira de Lima - mudou o nome para “Ana Triste”. Apenas em 1833, ela recebeu uma pensão pelo assasinato de Tristão. A mulher teria cuidado na educação dos filhos, que enveredaram para o lado político, como Tristão de Alencar Araripe (filho), que virou presidente da província do Rio Grande do Sul nas décadas finais do Império.

A inglesa Maria Graham documentou a Confederação(Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos A inglesa Maria Graham documentou a Confederação

Por fim, há registros da presença de Maria Graham, escritora e dama de companhia da imperatriz Leopoldina. Maria deixou um legado de documentação histórica da Confederação.

Em 1824, ela foi a Pernambuco, junto da frota da Marinha. Se deparou com Recife sitiada. Maria registrou a chegada de Lorde Cochrane "Militar inglês enviado por Dom Pedro I para "acabar" com a Confederação do Equador"  na costa da província e chegou a falar com ele sobre a situação política brasileira, atualizando-se.


Ela escreveu: "A província queixava-se por ter feito e sofrido muito pela causa da Independência; por ter sido a primeira a habilitar a Bahia a resistir e a expulsar os pés de chumbo, e, contudo, serem todas as suas rendas drenadas para a Capital".


Maria registrou, mas também comentou. Ela constatou em primeira mão a insatisfação de Pernambuco pela dissolução “arbitrária” da Assembleia que levou o povo a “quebrar a prudência e desprezar as conveniências em relação ao Imperador”.

Tão forte seria a ligação de Maria com os confederados que Lord Cochrane teria solicitado que ela atuasse como mediadora nas tratativas entre eles, ainda que sem o conhecimento do imperador. Ela aceitou e teve duas reuniões com Paes de Andrade, líder pernambucano.

No segundo encontro, o Andrade teria dito à escritora que “ela intercedesse junto ao primeiro-almirante para que suas filhas e mãe fossem confiadas aos cuidados “misericordiosos” de Lorde Cochrane”.

Em estudo sobre Maria, a historiadora Denise G. Porto sustentou que o pedido “foi o ato deflagrador para a rendição definitiva de Manuel de Carvalho Paes de Andrade” e, em consequência, para o fim da Confederação.

 

 

A presença onírica de Bárbara de Alencar

De atuação incontestável na revolução pernambucana, a ausência de Bárbara de Alencar em 1824 chama a atenção. Bárbara foi protagonista da revolução de 1817, de caráter separatista. Chegou a ser presa por três anos.

Na rebelião seguinte, da qual os filhos protagonizaram - Tristão Gonçalves e José Martiniano de Alencar - não há documentos que comprovem sua participação, segundo Weber Porfírio, do Museu do Ceará. “Por exemplo, em janeiro de 1825, é pedido uma lista dos sujeitos que mais se envolveram para a difusão da Confederação do Equador aqui na província. O nome dela não é listado”, disse.

Bárbara de Alencar foi protagonista da Revolução de 1817(Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos Bárbara de Alencar foi protagonista da Revolução de 1817

Ele defende que mesmo uma associação indireta seria complicada de defender. Não seria possível vincular totalmente 1817 com 1824, por exemplo, tendo em vista que são dois períodos distintos de Brasil.

“Mas, você tem uma conjectura que pode refletir. Até mesmo a própria ausência dela nesses documentos pode ser um fato de uma escrita, pode gerar sim uma pesquisa. Como é que uma pessoa tão presente em 1817 simplesmente desaparece em 1824?”, questiona Weber.

Luiz Carlos Diógenes é Doutor em Cidadania Ecológica do Estado Socioambiental(Foto: DIVULGAÇÃO)
Foto: DIVULGAÇÃO Luiz Carlos Diógenes é Doutor em Cidadania Ecológica do Estado Socioambiental

Outros pesquisadores têm opinião diversa. Luiz Carlos, do Sintaf, considera que acontecimentos posteriores dão pistas da participação de Bárbara no movimento. “Os filhos dela estavam adultos e tomaram frente. A Bárbara não pegou em armas, não viajou, mas ela estava no centro do furação. Tanto é que sabe-se que foi morta na perseguição ainda, o que significa que estava ativa”, estima o diretor.

Raimundinha Feitosa, historiadora de Bárbara e natural de Campos Sales, vai na mesma toada. Ela considerou que a revolucionária “abria as portas da casa no Crato para abrigar a juventude que se fortalecia”, ensinando-os sobre rebelião. Bárbara, segundo Raimundinha, ainda teria “arrebatado homens no Cariri e entregado sobre o comando de Tristão para que fossem lutar no Piauí na batalha do Jenipapo, do fim de 1823.

Quanto à Revolução, Raimundinha alegou que Bárbara "ficava distante". Segundo ela, "o meio de comunicação era muito difícil, mas ela recebia as notícias. Acompanhava tudo, apesar das notícias chegarem à conta gota, atrasadas.

"Mas, ela estava presente. Então, eu, por tudo isso, eu acho, eu vejo Bárbara de Alencar com uma participação na Confederação do Equador. Ela não estava à frente das batalhas, mas ela estava nos bastidores”, completou a historiadora.

 

 

Das notas de rodapé dos registros, aos poucos parágrafos nos livros didáticos

O presente é um reflexo do passado e, caso nada seja feito, velhos costumes tendem a se perpetuar. Assim, pouco antes de mostrar os esparsos registros coletados e preservados por profissionais do Arquivo Público do Ceará, na sala de cima, a historiadora Eilane Lourenço abriu um livro didático de 2020 e mostrou que a Confederação estava expressa em três parágrafos. A única mulher citada era Bárbara.

Técnica do Arquivo e ex-professora, Eilane explicou que o processo de montagem do livro é uma “disputa”: criterioso e repleto de avaliações dentro do Ministério da Educação. Certos assuntos, propositalmente, são preteridos em prol de outros. Além disso, provas como o Exame Nacional do Ensino Médio nacionalizam os temas e ocorridos como a Confederação do Equador são afastados das “prioridades”.

Eilane Lourenço, historiadora, fala sobre Confederação do Equador. Arquivo Público do Ceará(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Eilane Lourenço, historiadora, fala sobre Confederação do Equador. Arquivo Público do Ceará

A configuração afeta o ensino. “As escolas falam, não cai no Enem? Então não vou dar prioridade a isso. E não apenas eventos “locais”. A ditadura, por exemplo, é como se no resto do país não tivesse tido”, disse. Eilane ainda considerou haver uma distância da pesquisa com a sala de aula.

De novo, se há poucos registros da história cearense nos livros, vestígios da atuação feminina são ainda mais raros. Mas, a ausência grita. Raimundinha Feitosa, historiadora de Bárbara, disse de um dos motivos que a levou a estudar a revolucionária: passava as páginas dos livros e não via qualquer figura feminina.

Apenas na faculdade, ela teria entendido o motivo disso. “São as barreiras do positivismo, de onde se só podia ser registrado fatos com atos heróicos. E como a mulher não era dado o direito nem de sair de casa, então o que ela fizesse era prontamente apagado”.

A historiadora considera que um momento de virada nesta conjuntura foram os movimentos feministas dos anos 1960. Os ocorridos incentivaram uma maior participação feminina no social e, em consequência, novas revisões quanto ao passado, que provocaram constatações de que as mulheres sempre estiveram lá.

Documentos sobre Confederação do Equador estão guardados no Arquivo Público do Ceará(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Documentos sobre Confederação do Equador estão guardados no Arquivo Público do Ceará

Neste sentido, para Weber Porfírio, não basta o espaço “é preciso tratar da forma de contar a história”. Revoluções, defende, não podem se tratar somente dos vencedores, dos “heróis”. “A gente esquece que em outros sujeitos ou grupos estão inseridos e estão entendendo o que tá acontecendo”, diz ele, se referindo não apenas às mulheres, mas à participação indígena e negra.

Não apenas a educação, mas a arte é uma maneira de registrar personagens. Luiz Carlos, do Sintaf, coordenou a peça “Sertão Confederado” que contou a história da Confederação do Equador sob o ponto de vista das mulheres. Ana Triste, a quem ele tanto lamenta a pouca documentação, tornou-se narradora e fio condutor da narrativa.



A peça está viajando o Ceará, com foco nas cidades em que a revolução se deu: passou por Fortaleza e se encaminhou para Aracati, Icó, Sobral, Crato, Quixeramobim e Groaíras. Em paralelo, o Centro Dragão do Mar exibe a exposição “200 Anos da Confederação do Equador: Um Tributo a Bárbara de Alencar”. São 22 telas, muitas delas com foco feminino.

Segundo Luiz Carlos, a exposição é, na verdade, uma “provocação”. “A gente imagina que a a história das vencidas e dos vencidos, não, principalmente das vencidas, não foram contadas”, disse. E completou: “É uma peça de fundamento histórico, sim, não há invenção, mas feita com arte. Então a gente imagina que tem uma proposta pedagógica.”

Raimundinha Feitosa, historiadora de Campos Sales estuda Bárbara de Alencar(Foto: Raimundinha Feitosa/Arquivo Pessoal)
Foto: Raimundinha Feitosa/Arquivo Pessoal Raimundinha Feitosa, historiadora de Campos Sales estuda Bárbara de Alencar

Voltando para a pesquisa, ao mergulhar na história de Bárbara, Raimundinha notou a repetição de fatos, a falta de detalhes sobre a participação dela. “Assim, minha pesquisa não é grandiosa como eu gostaria de ter feito”, disse, modesta.

A historiadora, mesmo assim, prossegue estudando sobre Bárbara e lançará o livro “Bárbara de Alencar, a Presença Feminina nos Movimentos Revolucionários do Cariri", também com apoio do Sintaf. Nele, ela não apenas reforça a figura de Bárbara, como trata da mulher na historiografia brasileira: as “pegadas” e as ausências.

Este ano, ela completa duas décadas de estudo sobre Bárbara. Viu o nome da caririense crescer aos pouquinhos e conseguiu dar destaque à figura antes escanteada. Mesmo assim, quando ouviu a expressão “revolucionária” referida a si mesma, Raimundinha se esquivou: “Diria que eu sou uma pessoa que gosta das coisas difíceis. E tenho a noção de que a gente precisa resgatar e divulgar essas histórias para que essa geração que está aí tenha conhecimento disso.”

"O artista visual Carlos Campus, do O POVO, assina as ilustrações que contam a jornada das mulheres confederadas nesta reportagem. Ante a falta de imagens delas, os traços de Carlos Campus foram inspirados na narrativa e nos documentos"

 

 

Filme do O POVO conta a história da Confederação

Filmes são uma forma de manter viva a memória. Originadas em Pernambuco, as ações contrárias ao extremismo de Dom Pedro I se espalharam pelos estados do Maranhão, Rio Grande do Norte, Piauí, Pernambuco e Ceará. Esse movimento é tratado no novo documentário do O POVO+, plataforma de streaming do Grupo de Comunicação O POVO.

Intitulada "Nordeste Insurgente", a obra reconta o que foi a confederação e destaca a participação cearense no movimento em prol da implantação da República no Brasil. O filme estreia nesta segunda-feira, 24.

Trailer do filme Nordeste Insurgente

 

 

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Sertão confederado

A partir do documentário Nordeste Insurgente, do OP+, série de reportagens aborda a guerra das províncias do Ceará, Pernambuco, Maranhão e Paraíba pela proclamação da República no Brasil e contra o absolutismo de D. Pedro I