De segunda a sexta-feira, a agenda das manhãs e tardes está marcada para o colégio Christus. À noite, os corredores da Unichristus tornam-se o habitat de José Rocha.
O tempo para os hobbies fica para quando está em casa. O mais recente é o estudo e o uso de ferramentas de Inteligência Artificial (IA). Este conhecimento é aproveitado na otimização do trabalho pessoal e da sua equipe.
Em cinco décadas à frente da instituição de ensino, uma recordação na linha do tempo do empresário é que seu berço já foi abrigado em uma das salas de aula da escola, batizada depois de Instituto Christus pelo pai teólogo, Roberto de Carvalho Rocha, em 1951.
O primogênito de uma “escadinha” formada por 10 filhos, estudou na escola do pai e seguiu uma trilha que o levava à realização do sonho de ser médico-cirurgião plástico.
Mal sabia que, tantos anos depois, ainda estaria à frente e dando continuidade a um desejo que não lhe pertencia, mas que manteve vivo, pela memória e pelo legado dos pais.
Hoje, ao lado de irmãos, filhos e sobrinhos, compartilha a liderança a partir de um modelo de gestão criado pela segunda geração do grupo educacional.
A família e demais profissionais de diferentes áreas são responsáveis por unidades em cinco regiões de Fortaleza, além de uma universidade com cinco campus em Fortaleza e no Eusébio.
Com olhar para os próximos anos, José fala da importância de manter os valores familiares na educação e da busca constante pela qualidade do ensino, colocando verbos neste objetivo: formar, instruir e educar.
Para além de querer ver bons profissionais, o empresário utiliza da doutrina cristã para construir nos alunos que pelo Christus passam o lema de "seres humanos exemplares". Agora, a equipe do colégio se prepara para uma parceria internacional e manter vivo o plano de sempre seguir em expansão.
O POVO - Professor, pode começar nos contando como tudo começou, a criação do colégio, o objetivo do seu pai, a entrada da sua mãe na instituição?
José Rocha - Em 1951, meu pai iniciou a escola. Depois de alguns anos, a minha mãe começou a trabalhar na escola também. Foi onde eles se conheceram, ele como diretor e ela como professora.
Mas, antes disso, ele já tinha estudado Teologia, Filosofia e recebeu solicitações para estabelecer uma escola, em um bairro que estava começando aqui em Fortaleza, que depois veio a se chamar Aldeota.
Foi quando começou a funcionar a primeira sede do colégio Christus. Portanto, essa era a ideia inicial, fortemente baseada em uma filosofia cristã.
Sobre a empresa
Fundação
Nome: Colégio Christus
Data da fundação: 1951
Fundadores: Roberto de Carvalho Rocha
Presidentes: José Lima de Carvalho Rocha
Produtos e unidades
Tipos de produtos: Educação – Do Infantil 1 ao Pré-Universitário
Unidades do Colégio em 5 regiões de Fortaleza: Aldeota, Benfica, Dionísio Torres, Parquelândia, Sul
Número de funcionários: 1.600
Principais ações de ESG
Projetos interdisciplinares que envolvem temáticas ambientais e de desenvolvimento sustentável; Projeto Social anual de doações para crianças de comunidades carentes; Digitalização de documentos: redução da utilização de papel; Acompanhamento Psicopedagógico e orientação familiar; dentre outros.
OP - Vocês são 10 filhos. Como foi crescer com pais educadores? O senhor acha que eram valores diferentes àquela época?
José - Eu acho que toda família tem valores diferentes. Nenhuma família tem os mesmos valores umas das outras. Os da minha eu conheço muito bem. Justamente aquilo que era ensinado e praticado na escola também acontecia dentro de casa.
A história de temer a Deus, de ler pelo menos uma vez por semana o Antigo Testamento, o Novo Testamento, aulas de inglês ainda na primeira fase da nossa infância. Então, não via muita diferença em termos de valores na escola e o que acontecia em casa.
O diferente era ter realmente mais nove irmãos, que aos poucos foram chegando. Muitas famílias só tinham dois ou três filhos e a gente, por ser de uma família de 10, sempre escutava: 'Vixe, é muita gente'. Então me acostumei e depois tirei vantagem disso também.
OP - Como?
José - Por que não fazer uma equipe? Um time de futebol não dava, porque são 10, não tinha os 11, mas podíamos trabalhar juntos, podíamos enfrentar o mundo unidos. Uma das histórias que eles sempre me contavam era do Antigo Testamento, que tinha um Zé que tinha um bocado de irmão.
Depois ele me estimulou a ler o livro de Thomas Mann, um alemão, sobre José e seus irmãos. Eu digo: “Bom, ele já devia saber da minha vida, que eu não tinha vivido ainda!”. Mas daí fui estudando, vendo aquilo e vi que uma equipe pode ter um resultado muito melhor do que um trabalho individual.
Eu nunca acreditei em um trabalho individual, mesmo quando isso ainda não era um lugar comum. Hoje todo mundo sabe que precisa de uma equipe para trabalhar bem. Então, foi muito bom aproveitar essa quantidade de irmãos. Às vezes, eu digo para a minha mãe, mas ela fica meio chateada: “Mãe, era melhor se tivessem sido 20” (risos).
OP - O senhor pode contar como foi a sua infância, como foi crescer com tantos irmãos próximos?
José - As famílias treinam muito com o mais velho, erram mais com o velho. Então, eu senti que a forma como me educaram foi um pouco diferente dos que vieram depois, treinaram comigo, umas coisas deram certo, outras não.
E aí depois foi sendo aperfeiçoado. Mas foi ótimo, uma casa muito animada. Sempre moramos em Fortaleza, E naquela casa lá da (rua) Silva Paulet com (rua) Catão Mamede (onde hoje é uma unidade do colégio).
Então, minha vida toda foi lá. Minha mãe disse que o primeiro local que colocaram o berço foi dentro de uma sala de aula. E de manhã tinha que tirar tudo. Mas dessa parte eu não lembro (risos).
E depois foi crescer com esses irmãos que, por sua vez, cada um de nós atraía primos e amigos. Então, a casa esteve sempre muito cheia, muito animada, com muita gente. Então, gostei muito da minha infância.
E acho que essa interação com outros da minha idade ou mais novos do que eu me ajudou muito a entender, a saber lidar com pessoas, a saber trabalhar em equipe.
OP - Seus pais desejaram muito que vocês seguissem nesse ramo de educação ou foi algo muito natural também?
José - Não! Tanto que eu fiz Medicina, outro irmão meu fez Engenharia Mecânica, outro fez Engenharia Civil… Quer dizer, fomos para diversas áreas do conhecimento.
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Filhos: Priscila Brasil de Carvalho Rocha e Murilo Brasil de Carvalho Rocha | Netos de José: Julia e Marina
O que surpreendeu foi que meu pai passou por dificuldades econômicas na escola, por conta de empréstimos que tinha feito para ampliar a escola, e daí ele não conseguia mais pagar o que ele estava devendo.
Calculou de uma maneira e os juros subiram. Isso no fim dos anos 1970. E aí a minha mãe chegou e pediu ajuda. Ele não chegou para pedir ajuda.
Tanto que não pediu para trabalhar na escola, pediu ajuda para salvar a escola. Na verdade, a gente escutava na hora do almoço, na hora do jantar, as dificuldades que ele enfrentava, que não conseguia superar.
Ele nunca escondeu nada. A gente ia com ele pedir empréstimo ao banco, criança. E também dentro da escola, a gente sabia tudo que acontecia, a gente era aluno, cada sala de aula, cada série tinha um filho. Então, ficava fácil a gente saber tudo que acontecia e quais eram os problemas que tinham.
Então, não foi um estímulo. Ele nos orientava, nos capacitava para sermos adultos, profissionais e responsáveis. Era essa conversa. A passagem foi mais por uma necessidade do que por uma vocação.
Se você conversar com qualquer um que terminou Medicina comigo, eles vão contar a mesma coisa. Que o que eu queria era Medicina.
OP - Seu pai estudou fora do País, na Universidade de Washington, o curso de teologia. Ele falava muito sobre essa experiência?
José - Ele quase todo ano ia lá, visitar os amigos. E depois alguns vinham sempre nos visitar. Até que eles foram morrendo e na última reunião tinham só três. Aí disseram que não fosse mais. O que deixou ele muito triste. E pouco tempo depois os outros morreram também.
Ele manteve o vínculo. É muito parecido com a minha história, porque eu deixei a Medicina, mas ela nunca me deixou. Eu acho que foi muito parecido com a história dele, com a vocação religiosa dele.
OP - Quando a educação passou a ser vista como um legado pessoal e profissional dos seus pais?
José - A gente aprendeu a gostar da escola, que de qualquer forma fazia parte da nossa vida, por estar vivendo nela, por estar lá o tempo todo. Então, a gente aprendeu a gostar e não queria ver aquilo se acabar.
Porque ele chegou a dizer assim: "Vou vender, vou alugar. Não aguento mais”, mas a gente ficou esperando algo acontecer, porque ele não pediu ajuda.
Cada um já estava com o seu caminho traçado nas diversas profissões. Eu já trabalhava com Medicina, os dois logo depois de mim com construção civil.
E embora eu estivesse estudando Medicina, a gente construía casa, vendia casa, e a gente já tinha começado a formar um capital. Porque podia quebrar, então a gente tinha que ter como sobreviver.
Mas aí quando ele veio, chamei o pessoal e falei: “Vamos trabalhar juntos para recuperar”. E nós temos uma regra de ouro: nunca tiramos alguém que trabalhe conosco para colocar alguém da família. As pessoas não se sentem ameaçadas.
Esse sentido profissional, de desenvolver bem o talento de cada um, não só da família como os que não são da família, foi muito importante.
OP - Como foi a sua trajetória no colégio, da entrada e até a chegada à Direção?
José - Em 1975 eu comecei a cursar Medicina. Imediatamente, passei a trabalhar na escola. Porque tem uma coisa, um detalhe importante. Esses nove irmãos, 10 comigo, nós nunca recebemos mesada. Precisávamos trabalhar.
Tínhamos que fazer alguma coisa, como meu pai dizia, uma coisa útil, para receber. Então, podia ser leitura de um livro no qual ele nos arguía. Depois ajudava na pintura de parede na escola, limpeza de carteiras, sempre “trabalhou, ganhou. Não trabalhou, não ganha”.
E com essa necessidade de trabalhar, logo que eu entrei na universidade, eu precisei ter também de algum dinheiro para me deslocar, colocar gasolina. Comecei auxiliando professores nas aulas de ciências e assim fui avançando.
Depois de alguns anos, ainda cursando Medicina, à noite eu fazia Pedagogia. E quando eu concluí a Medicina, em 1980, e a Pedagogia, um ou dois anos depois, eu comecei a ser formalmente o diretor da escola. Trabalhei no setor pedagógico, na parte de coordenação, mas o meu sonho maior era exercer a Medicina.
Tive que alterar minha trajetória por conta de necessidades de trabalho e de necessidade econômica que meus pais viviam à época.
Foi solicitada a minha ajuda para trabalhar lá e então tentei conciliar por mais alguns anos, eu ainda era professor lá da (Universidade) Federal, que entrei em 1981, até uns oito anos depois. Conciliava essa dupla jornada, mas aí não deu mais, porque os dois lados absorviam muito.
OP - Então, até na Medicina o senhor ia para a área de educação?
José - Exatamente. Meu sonho na Medicina era ser cirurgião plástico e ser professor da Federal e, aos sábados, ajudar meu pai. Só que essa questão do sábado foi ampliando, ampliando e acabei não ficando só no sábado e não dava para conciliar as duas atividades.
Tanto que primeiro eu fiz a residência médica em cirurgia geral. Comecei essa residência, também fiz o mestrado, depois, mais recentemente, terminei o doutorado, tudo na área da saúde. E na Pedagogia eu fiz também especialização em administração escolar.
Então conciliei essas duas atividades o quanto foi possível. À medida que era mais solicitado dos dois lados, não era só de um, eu tive que fazer uma opção.
E aí a necessidade e o desejo de que minha família, principalmente meu pai e minha mãe, tivesse uma velhice mais tranquila, seguindo o sonho da escola funcionar bem, eu resolvi, pelo menos momentaneamente, abdicado meu. Na época era momentaneamente.
OP - Sobre a relação com a senhora Valéria, pode nos contar como ela começou?
José - Eu era estudante de Medicina. Uma professora e mais duas coordenadoras levavam os alunos (do Christus) para excursão em Salvador, no ônibus. Os alunos se juntavam, era término de curso, que antigamente era o oitavo ano, hoje é o nono.
E em uma dessas excursões a gente estava lá. E a gente começou a conversar, a se conhecer. São 42 anos de casados. Ela se queixa que a gente namorou por cinco, seis anos, mas eu tinha que terminar a faculdade primeiro, não é?
Me formei, passei no concurso (da Universidade Federal do Ceará) e foi aí que o pai dela autorizou a gente a casar, porque nesse tempo era assim, você tinha que ter emprego para poder casar.
No dia a dia é desse jeito que você viu. Acredito que a gente tenha uma vida boa, tem algumas vontades diferentes, ela gosta de viajar, eu não gosto tanto. Aí tem outras coisas que os gostos já se equivalem, mas a gente se entende.
OP - Parte da sua família também atua no Christus. Como foram definidas as funções? Houve um marco, onde cada um escolheu sua área de atuação ou foi algo mais orgânico?
José - As pessoas têm vocações, as pessoas têm talentos e as pessoas têm vontade de trabalhar, uns mais, outros menos. Então, não houve uma determinação para que cada um ocupasse determinadas funções.
No nosso processo de sucessão e de desenvolvimento de trabalho existem algumas regras gerais, que ainda hoje são seguidas. Isso começou em 1979, 1980. Era um acordo entre irmãos.
Eu tinha 22, 23 anos, os outros mais novos, daí para baixo. Raquel, por exemplo, é 17 anos mais nova do que eu. Essa distribuição de atividade, como aconteceu essa sucessão, é diferente de outros tipos de sucessão que acontecem com outras famílias que trabalham na mesma empresa.
Participamos, eu e outros irmãos, de vários cursos, de vários planejamentos de sucessão e a gente descobriu que nenhum desses dava certo para a gente. Então, a gente adotou o próprio modelo de trabalho. Cada um foi ocupando espaços que estavam sendo criados à medida que a escola avançava.
Não só a escola, como outras atividades também. Nós trabalhamos com construção civil, com confecção, com gráfica e outras atividades que foram se desenvolvendo e os outros foram ocupando os espaços.
Não há exclusão de quem pode entrar e quem não pode, há exclusão daqueles que não cumprem o que promete entregar. O Brasil é um país difícil de se trabalhar empresarialmente, porque as regras mudam muito, às vezes até retroativamente.
Então, temos que ter uma equipe ágil, coesa, que possa resolver dificuldades e pensar também para a frente, no futuro. Foi feito dessa maneira, não tivemos nenhuma orientação.
Posso dizer que a segunda geração ainda segue o sonho de adolescentes que deu certo e que, talvez, a gente não tenha conseguido ainda se libertar desse sonho inicial.
Eu espero que a próxima geração, que a gente chama de G3, consiga ter os próprios sonhos e segui-los, porque já, já, daqui a alguns anos, a gente não vai estar por aqui para acompanhá-los.
OP - Os esportes, as artes e até o meio ambiente sempre fizeram parte da educação do Christus. Para o senhor, o que eles representam hoje? Vê como algo que foi visionário, vanguardista do colégio?
José - Eu entendo a educação como algo que integra muitas atividades humanas. Nós não formamos matemáticos, nós não formamos especialistas na língua portuguesa. O ensino médio, o ensino fundamental, até a educação infantil, forma pessoas para um conhecimento básico de tudo, com a formação para o trabalho ou para prosseguir os seus estudos no superior.
A arte é essencial para desenvolver criatividade, saber trabalhar em equipe. E tudo isso foi utilizado dentro de um objetivo maior, para formar esse cidadão e desenvolver talentos, alguns inatos, outros não, que ele vai necessitar no ensino superior e depois na vida profissional.
O esporte é a mesma coisa. Novamente, ajuda muito a trabalhar em equipe. E não existe uma mente que funciona bem, sem o corpo funcionando muito bem. Isso que é importante, que a gente pense nas artes, pense no esporte, como atividades que integram um eixo central, que é educar.
Educar tem a ver com essa formação e envolve tudo isso. Se você ficar preso só a ciências, história, geografia, química, física, você não está formando cidadão. Você está instruindo alguém com alguma informação que poderá até usar para fazer as coisas erradas.
OP - Hoje, crianças e jovens passam muito tempo na escola. Qual é a percepção que o senhor e toda a equipe do Christus têm do papel dela hoje para as famílias?
José - Tirando essa questão da educação integral, a maior parte das crianças e adolescentes, mesmo que passem 6 horas, 8 horas por dia aqui, o resto do tempo é em casa.
Ou seja, temos que trabalhar juntos, escola e família. A nossa responsabilidade é muito grande no sentido de orientar as famílias a como educar seus filhos dentro dos seus próprios valores. Nós respeitamos e precisamos respeitar a forma como as famílias querem educar seus filhos.
As famílias já sabem como a escola funciona quando nos procuram. Explicamos mais algumas coisas para que não haja esse choque, vamos chamar, cultural, ou de objetivos. De querer que a escola seja de uma maneira, que forme de um jeito, e a escola tá formando de outro.
Se não houver essa coesão, vai existir um grande conflito na mente de uma criança ou de um adolescente. O que eu noto de diferente hoje é que nós temos que trabalhar com os valores de uma forma mais intensa e mais forte do que era trabalhado no passado.
OP - O senhor, pessoalmente, é um admirador da inteligência artificial. Como o colégio tem lidado com essas mudanças tecnológicas, o uso de IA? O senhor acha importante introduzir isso na educação?
José - Estamos vivendo uma mudança tecnológica muito intensa. E isso tem um crescimento exponencial, vai crescendo muito rapidamente. É crescimento em cima de crescimento e é como se fosse um juro composto.
Vai aumentando muito rápido. Então aumenta a produtividade em todas as profissões, desde que você saiba trabalhar com a inteligência artificial. Primeiro que você não pode brigar com ela. Tem que entender, tem que aprender a gostar, e utilizar no que você quer desenvolver.
Eu gosto muito de ler, já tive outras preferências, mas quando surgiu (a IA), é como se eu tivesse esperando há muito tempo. Quando veio, eu disse: “pronto, me alcançou. Eu estou vivo e com consciência para aproveitar isso”.
Então, estou utilizando na educação. Tanto para elaborar programas de aula, elaborar questões de prova, corrigir questões de prova. Estou estudando uma forma de corrigir redações do Enem, dos alunos, para ver se fica parecido com a nota que eles dão.
Nunca vai ser igual, porque duas pessoas diferentes corrigem duas redações diferentes, quanto mais um cérebro desse de uma inteligência artificial, que também é muito construído da forma como nós raciocinamos.
Agora, temos que preparar os alunos para isso. Em vez da gente fugir da inteligência artificial, a gente tem que ensinar os alunos a usar, porque vai ser um diferencial competitivo no trabalho deles.
Faço imagens, faço muita coisa. E como meu tempo lúcido vai diminuindo, eu tenho que correr para aprender isso com muita rapidez e tirar melhor benefício para o meu trabalho. Seja no ensino básico, seja no ensino superior.
OP - E outras mudanças na educação, Novo Ensino Médio, Enem… Como que o colégio tem lidado?
José - O Novo Ensino Médio é muito interessante, é muito bom. Nós começamos a praticá-lo ainda antes dele virar lei. A gente já está estabilizado, possibilitando que os alunos escolham o caminho que eles possam querer.
Uma das coisas que diferencia: aqueles que gostam mais de matemática e física, tem uma trilha para eles. Aqueles que gostam mais de português, geografia, história, já tem outra trilha. E assim vai.
Então, a gente criou essas trilhas, como depois foi batizado, antes mesmo de estar valendo, uns dois, três anos antes da pandemia, que aconteceu essa efetivação. E se mudar, a gente muda de novo.
OP - E como foi a aceitação dos pais?
José - Existem várias maneiras de você aplicar mudanças. Uma delas é ser lenta e gradual e explicando direitinho e mostrando os benefícios que essas mudanças vão trazer.
Na hora que o aluno que gosta mais de física e matemática vai para uma área que tem outros como ele que gostam, isso ajuda muito ele a desenvolver esse caminho. A mesma coisa na área de humanas.
Embora eu tenha começado profissionalmente depois no colégio, eu peguei muita coisa da experiência que aprendi com meus pais, com os professores que vieram antes da gente... E a gente adotando e implementando isso aos poucos, não tem dificuldade nenhuma e nem tem reação negativa.
O que os pais acham ruim são mudanças rápidas. Qualquer mudança envolve reação.
Se você também age lentamente, a reação vem lenta, você vai dando para desmanchar isso devagarzinho e mostrando que é melhor.
OP - A Unichristus surgiu em 1994, como faculdade. Foi uma demanda dos alunos para darem continuidade à educação que eles já tinham no colégio ou vocês viram mais como uma oportunidade de mercado?
José - Se não tivesse possibilidade de funcionar, não teria sentido. Então, tinha essa possibilidade, como você chamou, de mercado.
Mas realmente era uma demanda das famílias que queriam que a educação dos filhos continuasse, assim como de pessoas que nunca tinham estudado no colégio, mas queriam uma educação de nível superior de qualidade.
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Tanto que eu digo que o que nos diferencia é essa qualidade que a gente imprimiu no ensino superior. O meu primeiro pedido, em 1994, era que os alunos tivessem aula, só isso. Isso não tem na universidade ainda hoje.
Essa preocupação com o dia a dia da aula funcionou muito bem para que, em pouco tempo, a gente conseguisse se diferenciar das outras instituições que já existiam na cidade.
OP - O que planejam para o Colégio Christus para os próximos anos?
José - Nós firmamos uma parceria com a embaixada francesa no Brasil, onde a gente pretende fazer uma sessão francesa na escola, para ajudar o aluno a entrar no ensino superior no exterior, caso ele deseje.
Isso vai ser implantado aos poucos. Como a gente sempre fez tudo aqui, lento e tranquilo, para que a gente também prepare os professores, capacitando eles. Deverá começar no próximo ano com o infantil III, com crianças de 3 anos de idade.
E aos poucos vai progredindo, não só a língua francesa, mas a cultura francesa. E continuamos com as aulas de inglês e as experiências que eles têm em inglês, como sempre tiveram. Então isso é para 2026.
OP - E quais são os planos de sucessão? Seguem no plano, na estrutura que vocês montaram?
José - É, vez por outra querem mudar e eu sou a favor, mas não vem a mudança. Fica nessa conversa. Aí se adaptaram, se acostumaram com o plano de adolescentes, do começo dos anos 1980.
Nossa forma de trabalhar é muito próxima de um Kibutz, de Israel. É um coletivo que trabalha muito para produzir determinados serviços ou produtos. Somos muito parecidos nesse aspecto.
Em trabalhar juntos, um por todos, todos por um. Mas assim, eu não defendo que seja eternamente desse jeito, eu acho que a gente tem que se adaptar às circunstâncias, às mudanças, como as coisas funcionam e como elas são e deixam de ser.
E um dos segredos para não ter conflito foi crescer. Se a gente para de crescer, a gente vai ter dificuldade, porque não cabe tanta gente nesse kibutz com um perímetro pequeno, tem que ampliar.
Então temos que, necessariamente, crescer para abrigar todos e todos poderem trabalhar junto e se ajudar.
OP - Na sua avaliação, qual o legado que o Chistus deixa para a educação cearense?
José - Eu não sei como é que vai ser a quarta geração, mas a terceira está indo muito bem. O que deixa hoje é uma formação que envolve uma construção de valores do que é certo e do que é errado, e instrução.
Instrução que eu me refiro é saber os diferentes conteúdos das disciplinas, português, matemática, geografia, história, inglês… Mas isso não é suficiente, porque alguém muito instruído nessas disciplinas pode utilizar essas informações para prejudicar a si e as outras pessoas.
Então, inspirado no que vem desde a nossa fundação, que é uma filosofia cristã, principalmente no Novo Testamento, ou seja, amar uns aos outros, ajudar os que mais precisam e outros valores, é uma lição já testada e aprovada por mais de 2000 anos.
Nessa formação, a gente pode colocar essa construção de valores onde o aluno, durante a sua vida escolar, aprende no colégio Christus que é o certo e o que é que não deve fazer, ou seja, o errado.
Tecnologia
No dia anterior à entrevista, a Apple havia lançado a atualização do sistema operacional. José já sabia das novas funções da IA e estava ansioso para testá-las, mas ainda não tinha tido tempo de experimentar
Escola
Os alunos ficaram eufóricos com a presença de José Rocha, tanto no parquinho quanto em sala de aula. Durante a visita, o diretor brincou e declamou poemas para as crianças. Ainda, foi preciso interromper as gravações por um momento: por morar muito próximo de uma das sedes do Colégio, o sinal do intervalo ressoa dentro da casa do diretor
Eucaristia
Até hoje, a matriarca e fundadora do Christus, Maria Lucia, 94 anos, participa de todas as reuniões de preparação para a 1ª Eucaristia.
Esta entrevista exclusiva com o diretor do Colégio Christus, José Rocha, para O POVO integra a quinta edição do projeto Legados: A tradição familiar como pilar dos negócios.
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