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Quanto de verde sobra numa metrópole? Pressão urbana também fragiliza Cocó
Reportagem Seriada

Quanto de verde sobra numa metrópole? Pressão urbana também fragiliza Cocó

Asfalto, carros e concreto chegam cada vez mais perto dos parques urbanos de Fortaleza, onde o apreço aumenta o preço do limitado verde e quem paga a conta é a natureza — que se tinge de cinzas. Cocó sobrevive a mais um incêndio, mas sobreviverá às queimaduras cotidianas?
Episódio 1

Quanto de verde sobra numa metrópole? Pressão urbana também fragiliza Cocó

Asfalto, carros e concreto chegam cada vez mais perto dos parques urbanos de Fortaleza, onde o apreço aumenta o preço do limitado verde e quem paga a conta é a natureza — que se tinge de cinzas. Cocó sobrevive a mais um incêndio, mas sobreviverá às queimaduras cotidianas?
Episódio 1
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Enquanto segue seu curso natural e umedece com vida o caminho da serra até o mar, o rio Cocó assiste, desde os tempos mais remotos, às transformações urbanas que contornam seu desenho — da nascente, na Serra da Aratanha, em Pacatuba, até a foz, no encontro com o mar da Sabiaguaba, em Fortaleza.

Entre curvas e correntezas, as águas desse importante manancial percorrem 50 quilômetros e atravessam a cidade de uma ponta a outra como testemunhas das mudanças às suas margens: de roças para os povos indígenas (no tupi “kókó”) ao bairro nobre que hoje leva seu nome.

Vista do rio Cocó e mangue (vegetação), ao fundo prédios. Passeio de barco pelo rio Cocó, entre as pontes da Sabiaguaba e da avenida Washington Soares(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Vista do rio Cocó e mangue (vegetação), ao fundo prédios. Passeio de barco pelo rio Cocó, entre as pontes da Sabiaguaba e da avenida Washington Soares

O trecho mais conhecido desse trajeto fica exatamente na região onde, no passado, existia uma enorme salina instalada no manguezal — o verde dava lugar ao branco. Com o fim da extração de sal "Na década de 1970, no rastro da industrialização, a produção salineira nacional passou a se estabelecer no Rio Grande do Norte, onde os salineiros (homens que trabalhavam nas salinas) foram substituídos por máquinas como trator, esteira e colheitadeira. Isso fez com que as salinas artesanais como a que funcionava no sítio Diogo, onde hoje é o Parque do Cocó, fossem às ruínas." naquela área entre os anos 1970 e 1980, a vegetação se regenerou ao redor do rio e deu origem ao que se tornaria o maior parque urbano do Norte e Nordeste: o Parque Estadual do Cocó.

Mas o pulmão verde da Capital mudou de cor mais uma vez — ficou cinza e, em janeiro de 2024, respirou fumaça. A cidade se urbanizou no entorno — chegaram avenidas, universidade, shopping, empreendimentos imobiliários — e todos inalaram juntos. Não permitir que a expansão urbana, a escassez de áreas verdes e as mudanças climáticas ameacem a existência do Cocó é uma luta que veio a rebote.

Rescaldo do incêndio no Parque do Cocó, Corpo de Bombeiros continua no local para controlar o fogo(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Rescaldo do incêndio no Parque do Cocó, Corpo de Bombeiros continua no local para controlar o fogo

O incômodo na respiração pela fumaça que se espalhou pela cidade só não foi mais sufocante que para as plantas e animais dos pelo menos 10 hectares consumidos pelas chamas. 100 mil metros quadrados de fauna e flora atingidos por um incêndio cuja causa e dimensão exatas ainda são desconhecidas.

A recorrência desses episódios e a falta de informações precisas sobre eles, aliás, têm chamado a atenção de ambientalistas que defendem a biodiversidade do Cocó.

Há pouco mais de dois anos, em novembro de 2021, a cena se repetiu: um incêndio devastou 46,2 hectares da Unidade de Conservação (UC) e a perícia concluiu que o fogo foi causado por ação humana "O laudo pericial confeccionado pelos peritos criminais do Núcleo de Perícia em Engenharia Legal e Meio Ambiente (Nupelm), da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), concluiu que o incêndio ocorrido no Parque Estadual do Cocó, entre os dias 17 e 18 de novembro de 2021, aponta para a existência de indícios de ação humana involuntária. Na minuciosa análise dos vestígios e levantamento da dinâmica do incêndio, os peritos engenheiros concluíram que o foco de incêndio se originou em um local em que, possivelmente, pessoas se alimentaram e deixaram uma espécie de fogueira ainda com brasas acesas que deram início ao fogo e, consequentemente, ao incêndio.
"
— ou seja, criminoso, ainda que de maneira culposa.

Área de focos de calor no Cocó em janeiro de 2024


A estimativa após um incêndio que atingiu mais de 40 mil m² na mesma região em 2010 era de que a unidade precisaria de pelo menos 12 anos para se recuperar com a ajuda do replantio de espécies nativas — isto é, levaria até 2022.

Com as sucessivas queimadas que atingiram o local desde então, inclusive em 2022, dificilmente essa recuperação aconteceu.

Em 2021, uma reportagem de dados do O POVO mostrou que o trecho do Cocó tem a maior concentração dos focos de incêndio em Fortaleza, e que o município ainda registrou uma alta de 117% nesses pontos entre 2015 e 2020.

Um incêndio a cada ano: queimadas no Cocó de 2020 a 2024


Ou seja, não é de hoje que se conhece a vulnerabilidade a que está exposta essa unidade de conservação, mas o trabalho para conservá-la não se mostra efetivo para além do nome.

Em nota, o Instituto Verdeluz, representante da sociedade civil no Conselho Gestor do Parque do Cocó, manifestou indignação pelas repetidas ocorrências de incêndios nessa UC e classificou o episódio como “um descaso que se repete há anos” — retratado, inclusive, pelos onze meses em que a unidade ficou sem gestão.

“Por ser de Proteção Integral, é imprescindível que o Poder Público adote medidas para garantir a integridade da biodiversidade do Parque. Contudo, o Estado vem falhando nesse papel em vários aspectos”, disse a organização.

 

 

Um desses aspectos, segundo a ONG, é a falta de uma equipe de brigadistas treinados e em número suficiente para atender esse tipo de ocorrência, já que, “embora os bombeiros estejam atuando no combate às chamas, é fundamental contar com uma equipe especializada em incêndios florestais”.

“Também vale ressaltar a falta de investimento em pesquisa científica na unidade, que poderia nos fornecer dados sobre áreas mais sensíveis a incêndios, como fazer o manejo delas e como recuperar áreas degradadas dentro do Parque”, acrescenta o informe.

“Incêndios podem se iniciar a partir do despejo de resíduos sólidos, podem ser inflamáveis ou intensificados pela luz solar. Cobramos ações de educação ambiental no Parque e em seu entorno para coibir o despejo desses resíduos, medidas que impeçam que o lixo polua o Parque por meio do rio Cocó, que infelizmente acaba sendo uma fonte de contaminação. Barreiras ecológicas deveriam ser instaladas ao longo do rio”, destaca.

Efeitos do fogo em incêndios florestais


O professor universitário Ismar Capistrano, que caminha pelas trilhas do Cocó há quase 20 anos, queixa-se que “lamentavelmente a gestão do Parque não possui uma ação fiscalizadora efetiva dos danos cometidos pelas pessoas. Semanalmente vejo lixo acumulado no chão e não há nenhuma ação punitiva”.

“O policiamento reprime o passeio com os pets nas trilhas, mas não diz nada quando as pessoas jogam todo tipo de dejetos. Certamente entre esses dejetos podem estar pontas de cigarro ou outros materiais combustíveis que causam situações alarmantes como essas”, aponta.

O jornalista e professor universitário Ismar Capistrano caminha pelas trilhas do Cocó há anos — geralmente acompanhado de Bart, seu cachorro(Foto: Ismar Capistrano/Acervo pessoal)
Foto: Ismar Capistrano/Acervo pessoal O jornalista e professor universitário Ismar Capistrano caminha pelas trilhas do Cocó há anos — geralmente acompanhado de Bart, seu cachorro

No entanto, para Ismar, o pior dano é o cumulativo: “Se isso acontece na área do Parque, que é bastante controlada, imagine no resto da Unidade de Proteção Ambiental, que não possui qualquer fiscalização ostensiva”.

“Eu sei que o Cocó vai se recuperar do incêndio, mas não sei se vai sobreviver às agressões cotidianas”, lamenta o professor, que costuma caminhar com Bart, seu cachorro, e fez parte do movimento Cachorros nas Trilhas do Cocó pela liberação do trânsito dos animais domésticos nas caminhadas.

Para amenizar os danos, na opinião do docente, “são muitas frentes: precisa de agentes de educação ambiental permanentemente no Parque e em toda a UC; é necessário uma fiscalização punitiva para quem insiste em agredir a área verde; é preciso uma educação ambiental nas escolas, universidades, empresas, principalmente as que ficam nas proximidades”.

“O shopping trouxe até para sua marca o bosque, mas nunca vi uma ação educativa no Parque — que poderia acontecer ao menos nessa época em que acontecem os incêndios, o que prejudica o próprio funcionamento do shopping”, assinala.

Para o biólogo Victor Conde, membro do Instituto Verdeluz, as mudanças climáticas aumentam a vulnerabilidade a incêndios, mas há pressões urbanas que também estão relacionadas e fragilizam essa região.

“Embora o Cocó seja uma região de manguezal, que costuma ser mais úmida, existem locais de vegetação mais seca que ainda se recupera dos efeitos do sal. Isso se alia ao aumento da temperatura global, diminuição da frequência de chuvas, ao El Niño e potencializa, sim, esses problemas, mas há outros fatores”, afirma.

“Nós temos impactos decorrentes da urbanização acelerada e desorganizada que Fortaleza sofre, considerando que é um parque no meio de uma grande metrópole, uma das maiores do Nordeste, como a especulação imobiliária que vai comendo pelas beiradas”, continua.

Incêndio atinge Parque do Cocó, e fumaça se espalha por bairros de Fortaleza(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Incêndio atinge Parque do Cocó, e fumaça se espalha por bairros de Fortaleza

Isso acarreta em esgotamentos sanitários dentro do rio, despejo de lixo, quantidade excessiva de poços artesianos para retirada de água do lençol freático, entre outros problemas que também são abordados na reportagem “De natureza a mercadoria: como a valorização imobiliária transforma o verde em ouro”, episódio de uma série de reportagens sobre a especulação imobiliária em Fortaleza publicada no O POVO+ em 2023.

A bióloga Marília Brandão acredita que “a parede de edifícios no entorno do Parque separou ele da cidade e é um crime ambiental”.

Brandão é professora aposentada da UFC e membro histórica do SOS Cocó, movimento que contribuiu para a criação da Área de Proteção Ambiental do Rio Cocó (APA Cocó) e fez parte de momentos importantes como a ocupação do parque contra a construção de viadutos que avançariam a área protegida.

 Vista aérea da Ponte da Sabiaguaba sobre o rio Cocó. Pontes de Fortaleza(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Vista aérea da Ponte da Sabiaguaba sobre o rio Cocó. Pontes de Fortaleza

Ela sublinha que há “os imóveis construídos em regime de autoconstrução, que exerce uma forte pressão antrópica [realizada pelo homem] e contribui decisivamente para a degradação, além do interesse de grandes construtoras para a construção de empreendimentos privados e condomínios de luxo nessa região”.

“Eram pequenos incêndios, estamos tendo aumentos notáveis. É preciso investigar a dimensão deles. Eu desconfio das causas que podem ter possibilitado isso. Tem um [prédio] que o quintal é dentro, é claro que tem crime ambiental aí. É preciso investigar e expor. É um trabalho da imprensa, dos ambientalistas, deixar isso tudo escrito para que não aconteça mais”, defende.

“Os próximos anos serão de muito calor, falta d’água, excesso de água, grandes extremos. O momento é de se pensar profundamente. Essa questão da energia nuclear, a produção de urânio aqui no Ceará: não precisamos disso”, destaca.

Homem observa Incêndio no parque do Cocó. Av. Murilo Borges(Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA Homem observa Incêndio no parque do Cocó. Av. Murilo Borges

Brandão adiciona: “O parque tem mais de 1.500 hectares de área verde em uma cidade que já perdeu entre 80% e 90% da sua área verde natural. Integrar a área às atividades da cidade é uma forma de protegê-la. Você não pode proteger aquilo que você não está vendo”.

A bióloga argumenta que “é preciso aumentar a quantidade de funcionários e principalmente treiná-los dentro de uma política de defesa do meio ambiente, transformar esses funcionários em verdadeiros guardiões das áreas verdes e recursos hídricos do nosso Estado. Envolver a comunidade, comprometê-la, trabalhar de forma integrada e dentro de uma ecologia profunda”.

“Tenho sempre citado Fernando Pessoa, quando ele diz: ‘o tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, porque o tejo não é o rio que corre pela minha aldeia’. Se todos se preocupassem com o rio que passa pela sua aldeia...”, manifesta.

 Incêndio atinge Parque do Cocó, e fumaça se espalha por bairros de Fortaleza. Bombeiros informam que passaram a noite do dia 18 para 19 para conter o fogo(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Incêndio atinge Parque do Cocó, e fumaça se espalha por bairros de Fortaleza. Bombeiros informam que passaram a noite do dia 18 para 19 para conter o fogo

Na opinião do ativista e ex-parlamentar João Alfredo, doutor em desenvolvimento e meio ambiente pela UFC, atual superintendente do Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace), “é preciso reativar o Conselho Gestor do Parque e ter uma gestão compartilhada com a Prefeitura e a sociedade”.

“Os ecossistemas da bacia do Rio Cocó comportam outras unidades de conservação, além do PEC; no caso o Parque das Dunas da Sabiaguaba, a APA da Sabiaguaba e a ARIE das Dunas do Cocó (essas três últimas, UCs municipais)”, pondera.

“Penso ser importante constituir um mosaico de UCs da bacia do Cocó, com uma gestão quadripartite: Estado, Município, Universidades e Sociedade Civil. Com todas essas responsabilidades compartilhadas, a fiscalização e a prevenção de queimadas poderia ser mais eficiente do que é hoje”, avalia.


Alfredo observa que “os governos estadual e municipal poderiam aproveitar todo o potencial das comunidades tradicionais que habitam o parque (Boca da Barra e Casa de Farinha) e dos movimentos ambientalistas para criar e incentivar o turismo ecológico-comunitário com trilhas, passeios e contemplação de toda essa importante área verde”.

“Isso garantiria a um só tempo a existência de guardiões do parque, de geração de emprego e renda para as comunidades e de uma ocupação que, não degradando a Natureza, inibiria ações destrutivas”, comenta.

“Acrescentaria, ainda, duas coisas: o incentivo às pesquisas acadêmicas sobre esse rico patrimônio ambiental e a ampliação da área protegida, abarcando outros territórios que, sem proteção, podem ser alvos da ganância imobiliária, como é a Mata do Miriú”, finaliza.

 Na mata do Miriú, na Sabiaguaba, há uma duna florestada que está vizinha à poligonal do Parque do Cocó. Um entorno que inclui ainda o Parque Municipal das Dunas da Sabiaguaba  (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves  Na mata do Miriú, na Sabiaguaba, há uma duna florestada que está vizinha à poligonal do Parque do Cocó. Um entorno que inclui ainda o Parque Municipal das Dunas da Sabiaguaba

Brigadista nas ações das forças de segurança para controlar o incêndio, o biólogo Hugo Fernandes utilizou um drone com câmera térmica para auxiliar na identificação dos focos de calor, inclusive subterrâneos.

Ele explica que as unidades de conservação de Fortaleza enfrentam outros problemas por estarem inseridas em um ambiente urbano, como o adensamento populacional, a poluição sonora e a caça.

O professor de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Ceará (Uece) ressalta que o fogo foi controlado graças ao trabalho do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE), da Secretaria de Meio Ambiente e Mudança do Clima do Ceará (Sema-CE), da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), da Secretaria de Proteção Animal (Sepa), do Batalhão de Polícia do Meio Ambiente (BPMA), brigadistas civis, voluntários e Programa Cientista-Chefe.

Rescaldo do incêndio no Parque do Cocó, Corpo de Bombeiros continua no local para controlar o fogo(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Rescaldo do incêndio no Parque do Cocó, Corpo de Bombeiros continua no local para controlar o fogo

Com investimento superior a R$ 20 milhões, em 2022 o Governo do Estado adquiriu dois equipamentos para fortalecer a atuação do Corpo de Bombeiros em combate a incêndios, principalmente em áreas florestais — mas eles não foram utilizados nesse incêndio do Cocó, ao contrário do que era esperado.

O Ceará foi o primeiro lugar do mundo a receber as viaturas Firefull Aircore e Multistar, de fabricação alemã, com tecnologia de ponta que promete controlar focos de fogo em menos de 30 segundos, além de facilitar em buscas, salvamentos e diversas outras operações.

O POVO+ questionou as brigadas sobre o porquê de esses equipamentos não terem sido usados no combate às chamas e o Batalhão de Busca e Salvamento do CBMCE se limitou a responder que “por razões técnicas”, sem dar mais detalhes.

Incêndio no Parque do Cocó, moradores de diferentes bairros da Capital relatam fumaça e odor forte(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Incêndio no Parque do Cocó, moradores de diferentes bairros da Capital relatam fumaça e odor forte

O governador Elmano de Freitas (PT) determinou “apuração rigorosa” sobre as causas do incêndio e disse que acompanhava “com preocupação” o ocorrido até domingo, 21, quando as chamas finalmente foram controladas.

A manifestação do chefe do executivo estadual, inclusive, recebeu resposta de diversos aprovados no último concurso público "Em novembro de 2022, foi publicado no Diário Oficial do Estado do Ceará o edital do novo concurso da Semace, sob a organização do Instituto de Desenvolvimento Educacional, Cultural e Assistencial Nacional (Idecan). Foram ofertadas 17 vagas imediatas e 170 oportunidades de cadastro de reserva para os cargos de Fiscal Ambiental e Gestor Ambiental da Semace, que aguardam homologação e convocação há cerca de 1 ano. Durante aproximadamente 10 anos não houve concursos públicos para o ingresso de novos servidores no órgão."  da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), que questionaram a demora na convocação dos classificados para atuar no órgão, responsável por executar a política ambiental no Ceará por meio de ações de controle, monitoramento e fiscalização.

“Daí a importância de se convocar os aprovados e cadastro de reserva da Semace para que sejam fortalecidas as ações de combate contra crimes ambientais no nosso Estado. Importante aumentar o número de fiscais e gestores ambientais no Ceará. A prevenção de incêndios, desmatamentos, entre outros impactos ambientais é mais eficiente do que mitigar”, escreveu um deles.

Focos de incêndio em Fortaleza (2020-2024)


Enquanto ambientalistas e população exclamam sua indignação, o processo de revisão do Plano Diretor Participativo de Fortaleza (PDPFor), que deveria ter sido finalizado em 2023, já com três anos de atraso, entra para o quarto ano e segue sem previsão de conclusão.

O documento, que deve ser renovado a cada dez anos, serve justamente para nortear o desenvolvimento urbano da Capital aliado às questões sociais, ambientais e econômicas que passaram a existir na dinâmica da cidade desde 2010, quando foi revisado pela última vez.

As estratégias, diretrizes e regras que vão orientar a política de urbanização de Fortaleza são elaboradas com a participação popular e devem englobar, dentro dos eixos que discutem o meio ambiente, a implementação de políticas como novas Unidades de Conservação, a exemplo das UCs Refúgio da Vida Silvestre (Revis) das Dunas da Mata do Miriú e Refúgio da Vida Silvestre das Tartarugas.

Os parques urbanos de Fortaleza


Outro ponto é que a criação de parques e áreas verdes dentro de uma cidade deve ocorrer de forma igualitária para que possa atender às necessidades de toda a população — questão tão importante que há estudos que discutem a inclusão da paisagem pública no plano diretor dos municípios.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que todos os municípios devem contar com 3 árvores por morador e possuir, no mínimo, 12 m² de área verde pública por habitante, do ideal, que é de 36 m², resultado derivado do cálculo do índice de área verde.

 

 

Mais de 17,3 milhões de hectares queimados no Brasil em 2023

Se toda a extensão territorial do Ceará, que ocupa quase 10% da área do Nordeste, fosse posta em chamas, ainda não seria suficiente para mostrar o tamanho do trecho perdido para as queimadas que atingiram o Brasil em 2023.

17,3 milhões de hectares foram incendiados e quase 2% do território brasileiro virou cinza — perda que aumentou em relação a 2022, quando 16,3 milhões de hectares foram atingidos pelo fogo. Os dados são da plataforma Monitor do Fogo, do MapBiomas.

O pico das queimadas, que afetou principalmente a Amazônia, foi registrado entre os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro — período também marcado por ondas de calor e seca por todo o País.

Pesquisa mede emissão de óxido nitroso na Amazônia e no Pantanal(Foto: )
Foto: Pesquisa mede emissão de óxido nitroso na Amazônia e no Pantanal

“Em 2023, o El Niño desempenhou um papel crucial no aumento dos incêndios na Amazônia, uma vez que esse fenômeno climático elevou as temperaturas e deixou a região mais seca, criando condições favoráveis à propagação do fogo”, avaliou, em nota, a diretora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e coordenadora do MapBiomas, Ane Alencar.

“Se não fosse a redução de mais de 50% no desmatamento, diminuindo uma das principais fontes de ignição, com certeza teríamos uma área bem maior afetada por incêndios na região”, acrescentou.

No mundo, os incêndios florestais duplicaram em 20 anos: nas duas últimas décadas, as chamas varreram cerca de 3 milhões de hectares por ano — o equivalente à área da Bélgica.

Vista aérea mostra casas e edifícios destruídos que queimaram ao redor do porto e da Front Street na histórica cidade de Lahaina após os incêndios florestais no oeste de Maui em Lahaina, Havaí, em 10 de agosto de 2023 (Foto: Patrick T. Fallon / AFP )
Foto: Patrick T. Fallon / AFP Vista aérea mostra casas e edifícios destruídos que queimaram ao redor do porto e da Front Street na histórica cidade de Lahaina após os incêndios florestais no oeste de Maui em Lahaina, Havaí, em 10 de agosto de 2023

Em torno de 70% dessa superfície está concentrada nas florestas ao norte, nas regiões da Rússia, Canadá e Alasca, os maiores depósitos de carbono do planeta. Somente a Rússia perdeu 53 milhões de hectares nas duas últimas décadas, o que equivale à área da França.

Mas a situação também é dramática no Brasil, e dois terços dessas perdas ocorrem em florestas primárias, que são importantes reservas de carbono e biodiversidade. As informações são de um relatório conjunto da Global Forest Watch (GFW), World Resources Institute (WRI) e da Universidade de Maryland.

Para se ter uma ideia sobre a dimensão do que representa essa perda, a vida orgânica na Terra seria impossível sem esse elemento químico e sua capacidade combinatória, cujo movimento cria o ciclo do carbono e cujo desequilíbrio pode desencadear graves problemas.

Os carros são grandes geradores de monóxido de carbono, mas os catalisadores usados na exaustão dos carros diminuem bruscamente sua emissão(Foto: Reprodução/ Freepik)
Foto: Reprodução/ Freepik Os carros são grandes geradores de monóxido de carbono, mas os catalisadores usados na exaustão dos carros diminuem bruscamente sua emissão

Além de fazer parte da estrutura de todas as moléculas orgânicas essenciais para os seres vivos, o carbono está presente em rochas, oceanos e na atmosfera — onde a drenagem do gás carbônico é mediada pela fotossíntese de vegetais terrestres e aquáticos encontrados justamente em regiões como o Parque do Cocó.

Um hectare de árvores, por exemplo, absorve 3,1 toneladas de gás carbônico por ano, quantidade emitida por um carro depois de transitar por 16 mil quilômetros. Uma árvore adulta de tamanho médio produz cerca de 120 kg de oxigênio por ano, e é preciso um hectare delas para produzir a quantidade de oxigênio equivalente à necessidade de 40 pessoas.

Se há um desequilíbrio como as queimadas nesse ciclo, que é composto por diversas outras etapas, toda uma cadeia de seres vivos (o que inclui os humanos) o acompanha.

 Corpo de bombeiros em ação com o helicóptero da Coordenadoria Integrada das Operações Aéreas (Ciopaer), tenta combater incêndio no Parque do Cocó, entre os trechos das avenidas Murilo Borges e Raul Barbosa(Foto: TATIANA FORTES)
Foto: TATIANA FORTES Corpo de bombeiros em ação com o helicóptero da Coordenadoria Integrada das Operações Aéreas (Ciopaer), tenta combater incêndio no Parque do Cocó, entre os trechos das avenidas Murilo Borges e Raul Barbosa

Os incêndios representam, segundo a pesquisa, cerca de um quarto da perda total de massa florestal desde o início do século no mundo. O restante é causado por desmatamento ou causas naturais, como tempestades e inundações.

O estudo ainda alerta que as ondas de calor, que secam as florestas e as fragilizam diante da ameaça das chamas, são cinco vezes mais prováveis hoje do que eram há um século e meio.

Essa dinâmica pode fazer com que as florestas boreais deixem de ser reservas de carbono a médio prazo, por isso pesquisadores pedem aos governos que fortaleçam a proteção florestal e combatam o desmatamento.

Homem atravessa cortina de fumaça em Incêndio no parque do Cocó. Av. Murilo Borges(Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA Homem atravessa cortina de fumaça em Incêndio no parque do Cocó. Av. Murilo Borges

O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMCE) registrou um aumento de quase 50% nos incêndios em vegetação no ano de 2023 em comparação com o mesmo período do ano anterior.

No total, foram 6.724 incêndios até novembro frente a 4.547 em 2022. Setembro de 2023 foi o mês que recebeu o maior número de atendimentos, com 1.757 incêndios.

As autoridades ambientais alertam para o risco dessas queimadas florestais e pedem à população que tome medidas preventivas, como evitar acender fogueiras em locais inapropriados e manter a vegetação limpa.

Dicas de prevenção para evitar ocorrência de incêndios próximo de áreas verdes


No Brasil, o incêndio em vegetação é considerado um crime ambiental e a legislação brasileira estabelece penalidades para aqueles que provocam incêndios em áreas naturais de forma intencional ou negligente.

A principal lei que aborda essa questão é a Lei nº 9.605/1998, conhecida como Lei de Crimes Ambientais. De acordo com essa lei, no seu artigo 41, é crime “provocar incêndio em mata ou floresta”.

É o que explica a advogada Beatriz Azevedo, ambientalista e presidente da Comissão de Direito Ambiental da Ordem dos Advogados do Brasil - Secção Ceará (OAB-CE).


“Se você propositadamente causa dano à unidade de conservação ou ateia fogo numa mata, floresta, o crime está configurado por conta do dolo, mas o crime também se configura na modalidade culposa”, coloca.

“Quando não tinha necessariamente a intenção, mas você faz uma fogueira e deixa a brasa ali perto e isso levado pelo vento causa o incêndio, ou então uma comunidade do entorno queima lixo e deixa lá, uma pessoa que está caminhando e joga um cigarro ainda aceso no chão”, exemplifica.

A advogada conclui: “Existem registros de que boa parte dos incêndios que ocorrem no Parque do Cocó têm focos coordenados. Não estou falando que é esse o caso, mas em outras ocasiões pôde se averiguar que existia uma ação criminosa por trás”.

 

 

O sinistro que ocorreu no Parque Estadual do Cocó pode levar animais silvestres a buscarem refúgio em residências e ruas próximas. Caso isso ocorra ou você se depare com um animal que precise de ajuda, procure um dos seguintes canais:

Batalhão de Polícia do Meio Ambiente (BPMA)
190

Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace)

https://servicos.semace.ce.gov.br/denunciaW

Central de Atendimento da Semace

(85) 3101-5562
(85) 3101-5580
(85) 3254-3083

Disque-Natureza

0800 275 22 33

 

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