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A ginástica me fez ser criança outra vez
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Redatora de Capa e Farol do O POVO. Quadrinista e jornalista entusiasta de temas relacionados à saúde e bem-estar. Uma ex-sedentária em busca de se manter em movimento

A ginástica me fez ser criança outra vez

Nutri, quando criança, o sonho de ser ginasta. Adulta, as aulas de ginástica me fizeram criança outra vez
Tipo Crônica
Aulas de ginástica artísticas para adultos (Foto: Julio Caesar)
Foto: Julio Caesar Aulas de ginástica artísticas para adultos

O ano era 1997, cheguei numa escola nova e adquiri um sonho: eu queria ser ginasta. Daiane dos Santos ainda não tinha ganhado nem as primeiras medalhas no Pan-americano de Winnipeg, o duplo twist carpado não fazia parte do vocabulário do brasileiro, e eu, com 9 anos e meu 1,45 m, sonhava com piruetas e coques.

Como criança não conhece a medida do impossível, eu levava a sério: não faltava às aulas de ginástica com o professor Chiquinho, testava pontes e paradas de mão em toda oportunidade, me dedicava nas apresentações. Dois anos depois, no entanto, veio um novo colégio sem as queridas aulas no salão de espelhos, admiti para mim mesma que não tinha talento suficiente para mortais e flic-flacs e aposentei meu collant.

Aulas de ginástica artísticas para adultos
Aulas de ginástica artísticas para adultos Crédito: Julio Caesar
A gente aprende a sonhar outros sonhos. É quase um mantra que meu pai me ensinou e eu repito sempre que a aridez da vida me tira algo. Não está dito, mas há uma entrelinha na lição: o sonho não morre, ele adormece. Fica ali latente, à espreita, esperando o tempo certo ou se entremeando na tecitura dos novos sonhos.

Quando comecei a fazer Crossfit, um exercício me brilhou aos olhos. Conseguir fazer um Handstand Push-Up (ficar de ponta-cabeça e realizar flexões de braço) virou minha obsessão por um ano. O motivo é que ali eu reencontrava a criança de 9 anos que sonhava em ser ginasta. Na última semana, depois de muito pesquisar, encontrei aulas de ginástica artística para adultos — quando eu já considerava passar esse vexame em meio a meninas de 10 anos.

Chão acolchoado, cama elástica, colchões, argolas, barras assimétricas, trave de equilíbrio… Entrar no galpão me pareceu como chegar num parque de diversões. Era um misto de euforia e temor. Reviver um sonho é se deparar com a possibilidade de ter idealizado e a realidade não ser tão boa assim. Fora que 26 anos se passaram, o corpo é outro.

Kássia Mitally da Costa Carvalho é coordenadora técnica da Elite Escola de Ginástica
Kássia Mitally da Costa Carvalho é coordenadora técnica da Elite Escola de Ginástica Crédito: Arquivo Pessoal

Nas horas de aula, na Elite Escola de Ginástica, perdi as contas de quantos “Tô com medo de cair” repeti. Mas também não sei quantas vezes gargalhei, pelas quedas e por cair, mas de pé.

O corpo tem memória e o meu guardou bem algumas coisas: ombros fortes, um pouco de flexibilidade, postura e pés em ponta. Não precisou de muito e lá estava minha criança revivendo o sonho, eu era outra vez a menina de collant vermelho e branco que queria ir para as Olimpíadas.

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Nenhuma experiência é individual, eu sei, mas por vezes parece que o destino nos prega peças. Encontrei, na escola, Raiany Paiva. Aos 36 anos, ela é minha conterrânea, foi aluna do mesmo professor e nutriu por 10 anos o sonho de virar atleta de ginástica olímpica. A vida, assim como para mim, tinha outros planos para Raiany, e a ginástica era uma boa recordação.

Já seriam muitas coincidências. Mas há mais: sem que eu lembre dela, nem ela de mim, para a minha mais absoluta surpresa, uma Raiany pequenina aparece nas fotos que minha mãe mantém das minhas apresentações.

20 anos depois de parada, também na última semana, ela reencontrou o sonho e recomeçou a prática. “Foi a ginástica que me deu foco, disciplina, rotina. Eu nunca trocaria a ginástica por nenhum outro esporte na minha vida”, conta Raiany, que agora incentiva a filha Alicia, de 6 anos, a enveredar pela modalidade que moldou sua vida.

Para crianças, Kássia Mitally da Costa Carvalho, que é coordenadora técnica na Elite e doutoranda em Educação Física na Unicamp, explica que a prática “contribui para o bom desenvolvimento físico e motor, social e afetivo, para uma vida saudável e para a criação de laços afetivos duradouros”. Para adultos, a ginástica favorece no aumento da força, melhora da coordenação motora, da flexibilidade, da mobilidade e da autoestima.

Há uma frase da escritora Lya Luft que diz que "a infância é o chão que a gente pisa a vida inteira", que nos fala sobre como as experiências pueris formam a base do que nos tornamos. As aulas de ginástica que fiz já adulta me fizeram ver que quando o chão é uma cama elástica, a minha criança interior é mais feliz. E você, qual foi a última vez que levou sua criança para brincar e reviver sonhos?

SERVIÇO

Elite Escola de Ginástica

Onde: rua José Mario Mamede, 161 - Edson Queiroz, Fortaleza

Instagram: @eliteginastica

Foto do Domitila Andrade

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