Redatora de Capa e Farol do O POVO. Quadrinista e jornalista entusiasta de temas relacionados à saúde e bem-estar. Uma ex-sedentária em busca de se manter em movimento
Redatora de Capa e Farol do O POVO. Quadrinista e jornalista entusiasta de temas relacionados à saúde e bem-estar. Uma ex-sedentária em busca de se manter em movimento
“Quando vi teu vídeo, fiquei com muita vontade de surfar também, mas morro de medo de mar”. Essa frase me rondou por dias. Surfe, bodyboard e natação em mar aberto foram algumas das práticas que já testei e, apesar da inabilidade natural de quem é iniciante em algo, nunca senti medo da braveza da água. À procura de entender esse sentimento de fascínio e pavor, esse desejo que esbarra no temor, vasculhei o que em mim replicaria isso.
Eu tenho muito medo de altura. Uma paúra irracional que não me deixa ver vídeos de desafios em coisas muito altas, estar ao ar livre em prédios de muitos andares, andar sobre pontes… E foi assim que inventei de fazer aulas de acrobacia aérea.
Como gosto de abraçar minhas contradições, sonho com um passeio de balão de ar quente, assisto encantada a vídeos de pessoas se enrolando em tecidos lá em cima, e o trapezista sempre foi o meu circense favorito. Parece que o encantamento e o medo são separados por uma linha muito tênue. Então, ignorei a pele arrepiando toda vez que comentava sobre a aula com alguém e fui me dependurar.
Acho que nunca fiquei tão feliz de ser iniciante em algo. Isso porque, como uma metáfora das coisas que valem a pena na vida, para fazer acrobacia, você começa de baixo e vai galgando centímetro por centímetro de tecido, com o passar das aulas. Ou seja, não subi mais que dois metros nessa minha aventura. Ainda assim, compreendi o que é ter o medo se entremeando no que poderia ser só diversão.
As aulas aconteceram no Quintal Aéreo e quem guiou pacientemente minha escalada nos tecidos foi a Lívia Soares, co-diretora do espaço, professora de acrobacias e profissional de Educação Física. A aula começa com um aquecimento com foco nos membros superiores e abdômen, para preparar para o que vem a seguir. Lívia me entregou o tecido e me instou a conhecê-lo, puxar, entender a elasticidade, tentar me segurar sem os pés no chão.
Ela me ensinou quatro possibilidades de acrobacias iniciais, para que eu fosse me habituando. Um mortal para trás amparada pelo tecido (e por ela); uma subida com o auxílio de uma trança com alguns movimentos, inclusive um de cabeça para baixo; um com um nó que parece um calço em um dos pés, em que me lancei em um pequeno voo a 40 cm do colchão; e uma subida de corda.
Nesta última, mesmo com o colchão logo abaixo de mim, senti vertigem e um nervosismo que não me é habitual. Sinto que, diferentemente de outras experiências, em que meu foco se fixava em ouvir e replicar o que os professores me ensinavam, ali, minha atenção se dividia: metade ouvia e a outra metade lutava contra o medo.
A psicóloga clínica Monique Braz me lembra que o medo e a ansiedade não são sentimentos ruins. “Eles são desconfortáveis, mas eles são protetores, são biologicamente saudáveis, se não for em excesso. Eles servem para proteção e para a nossa existência”, pontua. Ela ressalta que, sim, é importante que nós enfrentemos os nossos medos e indica que seja um processo gradual de dessensibilização.
“O ideal é sistematizar esses medos em pequenos enfrentamentos. Enumerar de um a dez, por exemplo, do que você tem menos medo para o que você tem mais medo. E fazer isso lentamente”, ensina. Sistematizar esses desafios pode ir gerando a cada passo vencido as sensações de prazer, por se sentir capaz.
Além disso, é importante, no caso de atividades físicas, procurar sempre ambientes seguros e profissionais responsáveis para conduzir o aprendizado e a dessensibilização. “Se chega com medo, a gente vai devagarzinho, cada um no seu tempo. E os riscos aqui são mitigados. É de fundamental importância que você se desafie se sentindo seguro. A vontade de aprender é o principal, mas é preciso que você se sinta amparado por essa experiência”, conta Lívia Soares.
Mesmo que eu tenha, com o perdão do trocadilho, me enrolado toda para repetir cada um dos exercícios nos tecidos, e que minha coordenação motora tenha estado ainda mais ausente, terminei as aulas com a sensação de que, ao enfrentar meu medo, reconheci a potência do meu corpo e estive com os olhos atentos, mas de coração aberto. Quem sabe um dia eu não pule de paraquedas?
Leia mais
A ginástica me fez ser criança outra vez
Futevôlei: pé na areia, bola no ar e minha marra à prova
Se exercitar é terapêutico, mas talvez você precise de terapia
Pedalar e o reencontro com uma antiga paixão
Cardio: para viver mais e fugir de zumbis
Tinha uma mudança no meio da corrida
O yoga que habitou em mim saúda o yoga que pode habitar em você
O que vai te fazer começar?
Saúde. Bem-estar. Rotina. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.