jornalista, com pós-graduação em Propaganda e Marketing (Uni7) e em Moda e Comunicação (Universidade de Fortaleza). Já atuou como assessora de comunicação, repórter do Núcleo de Revistas do O POVO, jornalista na área de branding e design, e produtora de conteúdo no Penteadeira Amarela, um dos primeiros blogs de comportamento do Ceará. A ligação com a moda surgiu ainda na faculdade, quando teve contato com os bastidores da moda, passando a vê-la como forma de expressão individual, de manifestação cultural e de reflexão social. Atualmente, é editora-adjunta de projetos do O POVO.
Há 26 anos, a Pantone fecha o calendário apresentando uma cor com apelo emocional e comercial em diversos segmentos. Mas poucas geraram tanto burburinho quanto Cloud Dancer, o branco prometido para 2026
Foto: Pantone/Reprodução
Poucas cores lançadas pela empresa foram tão polêmicas quanto a Cloud Dancer, a aposta de 2026
Dezembro chegou e a empresa norte-americana Pantone anunciou a sua tradicional Cor do Ano, uma promessa baseada em pesquisas e análises realizadas ao longo de 2025 nos quatro cantos do mundo. Até aí, nada de novo.
Mas é possível que nem a própria imaginava que sua aposta traria tanta polêmica quanto a Cloud Dancer, que nada mais é que um branco. A sugestão anual é um reflexo que desde 1999 impacta na forma de criar, produzir e consumir design, em suas mais diversas expressões, da moda à decoração, da arquitetura à tecnologia.
E por que tanto questionamento em cima de uma cor - ou, no caso, na ausência dela? Bianca Cipolla, representante de tecidos e professora de arte e moda, não se lembra de ter presenciado uma escolha de Cor do Ano tão polêmica quanto a recém-anunciada pela empresa que é referência em paleta de cores.
"Vi de tudo nas redes, inclusive designer queimando cartela Pantone, chamando a escolha de 'perversa' e relacionando a racismo e 'hegemonia branca'. Eu, sinceramente, não vejo dessa forma. Posso mudar de ideia no futuro, mas por enquanto considero essa leitura uma grande confusão de estações", relata.
Foto: Motorola/Reprodução
A Motorola traz a Cor do Ano no modelo edge 70
Bianca, que diz viver em uma casa com móveis e paredes cheios de cores, diz ter gostado da escolha e que a mesma potencializa a força dos tons "off-neutros" que estão entre os campeões de vendas há uns anos no setor de tecidos.
"Gosto do 'não cor': o neutro tem uma função essencial, que é criar respiros", conta. E justifica o uso de tons neutros, como gelo, off e branco em ambientes, por exemplo, com o intuito de impedir que fiquem pesados e que conversem com o festival de cores escolhido para o próprio lar.
A professora conta ainda que o off seguirá hegemônico em seu guarda-roupa, por valorizar seu tom de pele. Porém, o tom é também importante para o momento que estamos vivendo, onde é necessário um mergulho no presente sem ruídos nem interferências, conectando-se à essência.
O branco gelo do Cloud Dancer, ao contrário do estouro do branco puro, transmite tranquilidade e toda a simbologia da nuvem, de calma e criatividade, pode ser interpretada também como uma tela em branco, de oportunidades de ser colorida como quiser.
"O respiro na cor é tão importante quanto o espaço vazio, quanto o silêncio, qto a sombra. Por isso, tanto pessoalmente quanto comercialmente, considero sim uma escolha acertada e chique. Eles podem errar também, mas não acredito nesse erro. E acho bom que eles estejam sustentando a aposta", conclui.
Para Allyson dos Reis, diretor criativo da Abracadabra Design, precisamos olhar para essas apostas com um certo cuidado. Ele explica que, como estratégia de marketing, a escolha da Cor do Ano da Pantone é, em geral, um sucesso. E que o branco Cloud Dancer, que foge do comum, tornou o anúncio um verdadeiro hype.
Foto: Pantone/Reprodução
Até a Play Doh, marca de brinquedos fabricante de massas de modelar, está entre as parceiras da Pantone.
"Então, precisamos separar as coisas. A escala de cor Pantone é, tecnicamente, fundamental para a indústria gráfica, da comunicação, da moda e de produtos. Suas evoluções e pesquisas são importantes para o mercado. Mas sua Cor do Ano é só a cereja vermelha e brilhante em cima do bolo, colocada lá para chamar a atenção. O que deveria nos importar mesmo, como profissionais criativos, era a receita do bolo", sugere.
O "bolo", ele explica, consiste em uma pesquisa global baseada em trend forecasting (previsão de tendências), desenvolvida por especialistas espalhados por todo o planeta, para entender os sinais de comportamento.
É respirar em um mundo frenético, é ter clareza diante de todos os excessos, é ter foco em meio ao caos. É parar. E entender esses sinais, segundo o designer, nos ajuda a tomar decisões criativas. "É sobre tom de voz, sons e silêncios, texturas, tamanhos, luzes e sombras, vazios… E não sobre sair usando um tom de branco discreto em tudo", detalha.
Pelo contrário. Allyson é um entusiasta da cor e da nossa cultura, onde questiona o colorido do nosso País e a manifestação natural e diária dos nossos tons na cultura popular, nas artes visuais, nosso audiovisual, no nosso design. "Precisamos mesmo que uma empresa de Nova Jérsei, na América do Norte, nos diga qual é a nossa cor do ano? Acho que não é bem por aí."
Para o designer, Cloud Dancer é uma grande campanha da Pantone para criar reforço e reconhecimento de marca e falar sobre tendências de comportamento que irão impactar o universo criativo. Já a cor, você escolhe a sua!
E essa tal de Pantone?
A empresa norte-americana Pantone causou uma revolução colorida. Em 1963, lançou no mercado uma inédita ferramenta que tornou possível universalizar a linguagem das cores por meio de um sistema de numeração próprio.
Foto: Pantone/Reprodução
A colaboração exclusiva Joybird e Pantone visa cultivar a calma e o relaxamento de forma harmônica nos itens de casa através de tecidos táteis
Em resumo, deu nome e um CPF onde é possível selecionar, comunicar e reproduzir, de forma fiel, precisa e consistente, uma determinada cor em qualquer lugar do mundo. Na prática, você pode criar um produto no Brasil, prototipá-lo nos Estados Unidos e produzi-lo na China, com a certeza de que em nenhuma etapa a cor passará por uma alteração.
O Sistema de Cores então adentrou em diferentes universos, do vestuário à arquitetura, do mundo da beleza ao design industrial. São mais de 10 mil padrões de cores que podem ser aplicados nos mais diferentes materiais: papel, tecido, plástico, revestimentos e o que a imaginação permitir.
Em 1999, o Pantone Color Institute, que customiza padrões de cores, presta consultoria para empresas (tanto na área de identidade visual de marca quanto de coloração de produtos) e estuda tendências globais, passou a apresentar também a Pantone Cor do Ano, com base no que está acontecendo no mundo.
O projeto foi criado com o intuito de promover um debate sobre o uso das cores, relacionando-as às culturas, locais e globais, principalmente entre designers e entusiastas da cor. Na ocasião do lançamento, a Pantone percebeu sua influência e o impacto do seu trabalho no mercado, tanto no desenvolvimento de produtos quanto na decisão de compras das indústrias.
A definição da Cor do Ano é coletiva e não acontece em um único dia, mas de forma longa e contínua, a partir da análise de especialistas da Pantone que atuam em todos os continentes, em profissões que giram em torno do design e da cor.
Vem da indústria de entretenimento, das ruas, da moda, de viagens aspiracionais, dos estilos de vida que estão sendo traçados. E também do que pode surgir na tecnologia, no mundo dos esportes, nas plataformas de mídias sociais. Presente e futuro, tudo influencia.
Foto: Divulgação/Pantone
A cor do ano de 2025 escolhida pela Pantone foi 'Mocha Mousse'
Os debates conectam tendências, psicologia de cores, mood global, aspectos emocionais e a família de cores correspondente. A cor escolhida deve ser interessante e atraente para todas as áreas do design, além de carregar consigo uma emoção, uma mensagem.
Já o nome escolhido traduz o que a Pantone quer passar, a imagem a qual se refere e o sentimento que deseja transmitir.
Mais que cor, um estilo de vida
A Pantone detém ainda um setor de Estilo de Vida, unindo cores, estética e design. O resultado são produtos licenciados, em colaboração com diferentes empresas.
Foto: Motorola/Reprodução
Após anunciar a Cor do Ano, a Pantone apresentou alguns produtos licenciados, em parceria com grandes marcas, como a Motorola
Logo após anunciar a cor de 2026, por exemplo, a Motorola anunciou uma edição exclusiva do modelo edge 70, branco com cristais Swarovski. O licenciamento inclui itens de vestuário, beleza, acessórios de casa, móveis etc.
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