A cerca de seis meses para acontecer a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), entre os dias 10 e 21 de novembro, em Belém (PA), boa parte da população não tem conhecimento de que evento ocorrerá no Brasil.
Um levantamento feito a pedido do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, pelo instituto Opinion Box, aponta que apenas 50% da população brasileira tem conhecimento de que o país será o anfitrião do evento. Mas o que é e o que representa o evento?
A COP, considerado um dos principais eventos do tema no mundo, é um encontro global anual onde líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil discutem ações para combater as mudanças do clima.
Linha do tempo da conferência das partes
Essa é uma oportunidade histórica para o Brasil reafirmar seu papel de liderança nas negociações sobre mudanças climáticas e sustentabilidade global e para apresentar projetos de energias renováveis, biocombustíveis e agricultura de baixo carbono.
A terceira carta aberta publicada pelo presidente da COP30, André Correa do Lago, reitera a urgência climática com desafios geopolíticos e socioeconômicos crescentes e reforça, como prioridade, o multilateralismo e o regime climático mais próximo à vida real das pessoas e a aceleração à implementação do Acordo de Paris, tratado internacional adotado em 2015, para limitar o aquecimento global e combater as alterações climáticas no mundo.
Com esse evento, o Brasil tem um potencial gigantesco que o mundo ainda não conhece, defende Tarin Frota Mont’Alverne, professora da Universidade do Ceará (UFC) e coordenadora de projetos internacionais relacionados ao clima.
Glossário da COP
“O Brasil tem muitos brasis, por isso é importante potencializar o papel da Amazonia Azul nas discussões internacionais, além de garantir que suas especificidades e desafios sejam incorporados nas políticas públicas e nos fóruns climáticos globais, sobretudo considerando que o Brasil tem uma grande área marinha”, defende Mont’Alverne.
Originalmente eram 3,6 milhões de km², em uma área costeira de cerca de 7 mil km, com a solicitação de redesenho da área marinha brasileira à Comissão de Limites da Plataforma Continental da ONU, a dimensão desse espaço chegará aos 5,7 milhões de Km². Há dois meses saiu uma resolução da comissão aprovando a ampliação da margem equatorial, o que demonstra a importância do tema na COP30.
Para a especialista, a chamada Economia Azul tem se consolidado como um motor fundamental do desenvolvimento regional, em diferentes regiões do mundo.
“O Brasil poderá incluir a pauta azul nas negociação da COP30. Os chamados ecossistemas de Carbono Azul têm se mostrado aliados naturais no combate às mudanças climáticas, pois sequestram e armazenam mais carbono por área do que as florestas tropicais”, sugere Mont’Alverne.
Em outra frente, o presidente do Sebrae, Décio Lima, celebra os 15 anos do Centro Sebrae de Sustentabilidade (CSS), que para ele ganha uma relevância nas soluções de economia verde esse ano com o evento mundial.
Com ele, a entidade dissemina em todos os estados iniciativas e boas práticas entre os pequenos negócios para o enfrentamento das mudanças climáticas. Para Lima, a integração entre sustentabilidade, inovação e inclusão social contribui para um mundo mais justo socialmente, ambientalmente e economicamente, gerando renda e transformando realidades.
A presidente da Comissão de Direito Ambiental da OAB-CE, Beatriz Azevedo, acredita que o evento será a chance do Brasil de consolidar como potência verde.
“Temos uma matriz energética majoritariamente renovável, um enorme potencial para fontes como eólica, solar e hidrogênio verde — especialmente no Nordeste — além de oportunidades para gerar empregos verdes e restaurar nossos ecossistemas”, aponta.
E para o Ceará, ela vislumbra a oportunidade de colocar a Caatinga no centro do debate, pois é o único bioma exclusivamente brasileiro, altamente vulnerável às mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, estratégico para o desenvolvimento de soluções baseadas na natureza e tecnologias limpas.
Transição energética, recatingamento e valorização dos ativos ambientais são os três eixos prioritários da Câmara Técnica do Meio Ambiente do Consórcio Nordeste, coordenada pela titular da Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima (Sema), Vilma Freire.
Na fim de maio, a secretaria esteve em Brasília com os responsáveis pela COP30 para alinhar a presença do Brasil nas zonas verde e azul da Conferência.
“A ideia é falarmos para o mundo e não somente para os brasileiros. No mês de agosto cada região fará eventos para ampliar as discussões com os demais atores - sociedade civil, setor privado e povos tradicionais. Esses eventos serão conduzidos pela presidência da COP juntamente com os consórcios”, informa Freire.
Já o secretário da Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) de Fortaleza, João Vicente Leitão, tem a expectativa de uma atuação ativa e integrada da Capital no evento climático mundial.
“Com certeza temas como adaptação urbana às mudanças climáticas, transição energética justa, justiça socioambiental e financiamento climático para cidades em desenvolvimento ganham destaque. Fortaleza tem trabalhado com políticas públicas integradas que unem urbanismo sustentável, planejamento resiliente e inclusão social”, declara Leitão.
Artur Bruno, superintendente do Instituto de Pesquisa e Planejamento de Fortaleza (Ipplan), enfatiza que a capital do Ceará chegará à COP30 com resultados concretos, fruto de ações coordenadas que têm o nosso Plano Local de Ação Climática (Plac) como base para impulsionar a agenda climática.
O plano está em processo de revisão – numa parceria entre Seuma e Ipplan com apoio da C40 – e pretende chegar em novembro com metas mais ambiciosas e construído com ampla participação social, reforçando nosso compromisso com a gestão municipal inclusiva e participativa.
“Projetos inspiradores, que atuam em políticas de Primeira Infância, Inclusão, Adaptação, Resiliência Climática, Mobilidade Sustentável e Gestão de Resíduos serão o foco dos projetos que estão em andamento e serão apresentados Queremos inspirar e ser inspirados por meio do intercâmbio com cidades e trocas importantes, levando projetos inovadores e estratégicos para deixar nossas cidades mais adaptadas, saudáveis, inclusiva e resilientes”, detalha.
Cada vez mais fica evidente a importância dos oceanos no clima do planeta. Eles atuam como um regulador climático e um sumidouro de carbono, segundo o diretor-geral do Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas (INPO), o diretor-geral do Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas (INPO), professor Segen Estefen.
E, com isso, toda e qualquer mudança que aconteça nos mares, alteram o clima e vice-versa, eles são interdependentes. Entre 1971 e 2020 os oceanos absorveram aproximadamente 89% do excesso de calor gerado pelo aquecimento global. “O oceano funciona como uma espécie de ar-condicionado do planeta. Sem o oceano a temperatura global do nosso planeta seria insustentável.”, explica o diretor-geral.
Segundo o Programa de Observação da Terra da União Europeia (Copernicus) publicou em 2024, a temperatura do oceano foi a mais alta da história com média diária global da superfície do mar atingiu 21,09°C. O que comprova que o oceano está cada vez mais quente, mais ácido, com menos oxigênio, e o nível do mar aumenta a cada ano.
O professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Cientista Chefe de Meio Ambiente, Luis Ernesto Arruda Bezerra, concorda que os oceanos exercem papel fundamental na regulação do clima do planeta. E essa absorção do calor atmosférico é redistribuída pelas correntes, influenciando efeitos climáticos globais como eventos de La Niña e El Niño.
No Brasil, o clima é fortemente influenciado pelo Atlântico Sul e por evento de El Niño e La Niña e no Ceará, por exemplo, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) que causa chuvas no nosso estado é influenciada pela temperatura da água do mar.
“Quando a temperatura está alta, a ZCIT fica mais ao norte, próxima ao equador, o que causa secas no Nordeste e na Amazônia. A ocorrência de secas periódicas no Nordeste são influenciadas pela temperatura da água do mar”, explica.
Bezerra acredita que os observatórios marinhos podem ser a base para o desenvolvimento de políticas públicas a partir do momento que monitoram e identificam as principais ameaças, principalmente locais, promovendo o diálogo entre as diversas partes interessadas e buscando soluções que tenham por base a ciência, a tecnologia, a inovação e a preservação.
A poluição por plástico é uma das formas mais importantes de poluição dos oceanos, causando uma séria de problemas tanto para o ecossistema marinho quanto para os seres humanos.
O cientista Chefe de Meio Ambiente detalha que o macroplástico impacta a fauna e flora marinha, uma vez que animais como tartarugas, aves marinhas, peixes e cetáceos ingerem plásticos confundindo-os com alimento, causando obstrução do desnutrição e morte e redução da capacidade reprodutiva.
Já o microplástico também é ingerido pelos organismos marinhos. Estudos recentes têm demonstrado que os seres humanos já têm microplástico dentro do corpo, obtido na alimentação.
“Esse microplástico pode causar câncer e diversas outras doenças. Inclusive, foi demonstrado recentemente microplástico atravessando a placenta, ou seja, a criança ainda nem nasceu e já está contaminada com microplástico. Estimativas da ONU apontam que em 2050 terá mais plástico do que peixe no mar”, afirma Bezerra.
Porém, ele ressalta que quer dizer, com isso, que se deve abandonar completamente o uso do plástico, pois ele é importante para tornar os carros, aviões e outros meios de transporte mais leves, reduzindo o consumo de combustível e, consequente, a emissão de CO2.
“O problema é o mau uso do plástico e o chamado plástico de uso único. A pessoa usa o plástico por 5-10 minutos para tomar uma água de coco ou comer uma pizza e esse copo, canudo ou luvinha vai passar 500 anos para se degradar, se tornando microplástico "voltando" para contaminar os seres humanos e organismos marinhos”, convida a reflexão do uso no dia a dia do plástico.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), o setor, quarto maior empregador da indústria de transformação no Brasil, deve investir R$ 31,7 bilhões entre 2025 e 2027, com média anual de R$ 10,5 bilhões.
Os aportes estão com foco na modernização de plantas industriais, no desenvolvimento de embalagens alinhadas a padrões internacionais de sustentabilidade e no avanço da reciclagem, tanto mecânica, como química.
Estima-se que, até 2026, a capacidade de recuperação de resíduos do setor possa crescer 36%.
Uma das características mais perversas da crise climática é como os menos responsáveis por ela são os mais impactados, analisa o especialista em Clima e Meio Ambiente do Unicef no Brasil, Danilo Moura.
No caso de povos indígenas e de outros povos e comunidades tradicionais, como quilombolas, seus próprios modos de vida e culturas têm relação direta com o ambiente em que vivem, interligados de forma muito próxima à natureza.
A população negra é desproporcionalmente representada entre os mais pobres, sendo a grande maioria da população que vive em áreas de risco e exposta às piores consequências de catástrofes relacionadas a eventos extremos.
“Esses eventos extremos, como secas e enchentes, destroem vidas, moradias, a saúde e os meios de subsistência dessas populações; e a poluição decorrente de queimadas aumenta os riscos para grupos vulneráveis dentro dessas populações – especialmente crianças.
Além disso, hoje, a adaptação climática depende de recursos que essas populações mais pobres já não têm, ou que têm mais dificuldade de acessar. Por isso, elas precisam ser priorizadas pelos governos federal, estaduais e municipais.
“Elas precisam ser priorizadas e incluídas em todos os planos de investimento e financiamento (dos setores públicos e privados) e reconhecidas também sobre como podem apoiar no desenvolvimento de soluções”, opina Moura.
Ele ainda ressalta que o Unicef espera que seja uma COP, no Brasil, em que a justiça intergeracional e as vulnerabilidades específicas de crianças e adolescentes estejam na mente dos negociadores e tomadores de decisão.
Cerca de 242 milhões de estudantes em 85 países tiveram a sua vida escolar impactada por eventos climáticos extremos em 2024, incluindo ondas de calor, ciclones tropicais, tempestades, inundações e secas, exacerbando uma crise de aprendizagem existente, de acordo com relatório Panorama global das interrupções escolares relacionadas ao clima em 2024.
No Brasil, pelo menos 1,17 milhão de meninas e meninos tiveram os estudos interrompidos em 2024 por eventos climáticos, em especial enchentes e seca.
10 principais descobertas do Panorama global das interrupções escolares relacionadas ao clima em 2024
As enchentes no Rio Grande do Sul, que afetaram mais de 2 mil escolas da rede estadual de Educação - com isso 741 mil estudantes não tiveram acesso às aulas no período das enchentes.
E a seca na região amazônica, que fez com que cerca de 1.700 escolas, incluindo mais de 100 localizadas em áreas indígenas, ficassem sem atividades por tempo prolongado - impactando 436 mil estudantes.
Já Rui Aguiar, chefe do escritório do Unicef em Fortaleza enfatiza que os impactos da crise climática são sentidos por todos, mas de forma desigual.
No caso do Ceará, eventos climáticos extremos e mudanças nos padrões de duração e intensidade dos períodos de seca afetam a segurança alimentar, o acesso à água e a saúde dessas populações mais vulnerabilizadas.
“Especialmente para crianças e adolescentes, que têm vulnerabilidades específicas mesmo dentro dos grupos mais expostos a riscos. O Unicef trabalha para mitigar esses riscos e impactos, promovendo políticas públicas que assegurem direitos fundamentais e incentivem a adaptação e soluções sustentáveis e serviços resilientes”, informa.
Para promover uma discussão pautada na informação, no conhecimento e nas principais questões relacionadas ao clima, o Grupo de Comunicação O POVO realiza gratuitamente o 2º Fórum ESG O POVO no dia 25 de junho na Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).
Como temática deste ano COP30 - 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, evento global que acontece anualmente e este ano será no Brasil, em Belém do Pará, será o destaque, pois a proposta é abrir o debate sobre o que realmente está acontecendo no planeta e como as negociações das ações irão mitigar os problemas vindos das mudanças climáticas.
Para a diretora-executiva de jornalismo do Grupo de Comunicação O POVO, Ana Naddaf, produzir esta nova edição do Fórum ESG é reforçar o propósito do O POVO em apoiar e incentivar o conhecimento, a implantação e o desenvolvimento de práticas e políticas socioambientais e de governança empresariais. Através deste projeto, a ideia é mostrar o Ceará como um exemplo de avanço nas pautas alinhadas com as bases do ESG (ambiental, social e governança, em tradução para o português).
“O tema central do fórum deste ano, COP30, é um convite a pensar de forma inovadora nossa responsabilidade ambiental e nosso compromisso com a agenda climática. Do presenciar histórias e cases de pequenas e grandes empresas a conversas que incentivam políticas públicas a gerar impacto positivo na sociedade, nos negócios e no meio ambiente”, reforça a executiva.
O 1º Fórum ESG O POVO, que aconteceu em julho de 2024, reuniu empresários, gestores, jornalistas, além de representantes da academia e de movimentos sociais, no auditório da Fiec, para abordar cada pilar da sigla ESG e as principais soluções sustentáveis. Na ocasião foram apresentados cases que reforçaram que é possível ter negócios com lucro, mas propósitos socioambientais.