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Alódia Guimarães: a voz que comanda as maiores festas do Ceará
Reportagem Seriada

Alódia Guimarães: a voz que comanda as maiores festas do Ceará

| Alódia Guimarães | Cresceu em um ambiente de criatividade e beleza. Desenvolveu um senso de ousadia e exotismo em seu estilo pessoal. Transformou seu nome em uma marca que está associada a grandes eventos
Episódio 35

Alódia Guimarães: a voz que comanda as maiores festas do Ceará

| Alódia Guimarães | Cresceu em um ambiente de criatividade e beleza. Desenvolveu um senso de ousadia e exotismo em seu estilo pessoal. Transformou seu nome em uma marca que está associada a grandes eventos
Episódio 35
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Assista ao vídeo com Alódia Guimarães

 
 

Mesmo antes de nascer, Alódia Guimarães já era sinônimo de celebrações. Filha temporã de Carmelita Moreira Guedis, uma modista, e de Rui Garcia Guedis, um filólogo apaixonado pela língua portuguesa, chegou à família quando a irmã tinha 17 anos e foi considerada uma alegria para todos.

Na infância e adolescência, detentora de uma voz que dispensava microfone, destacava-se pela organização dos eventos que se envolvia e pela criatividade dos figurinos. Foi presidente de Grêmio estudantil e promoveu desfiles de fantasias carnavalescas. Vestiu preto quando não estava de luto e serviu de modelo para as criações exóticas da mãe.

Sem saber, tornou-se promotora, organizadora, maestrina de celebrações. Independentemente de como o talento é chamado, o transformou em profissão após, exatamente do seu jeito, organizar o próprio casamento com Paulo Sérgio e os aniversários vindouros.

Aos 8o anos, Alódia é referência na organização de eventos no Ceará(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Aos 8o anos, Alódia é referência na organização de eventos no Ceará

E não faltaram motivos para grandes festas. Mãe de quatro filhas, Indira, Samyra, Lacira e Aloyra, esteve à frente dos quatro bailes de debutantes, seguindo a personalidade e o desejo de cada uma.

A formalização do negócio e o crescimento das filhas possibilitaram a criação de uma equipe uniformizada, comprometida e principalmente, alinhada aos valores que afirma ter herdado dos pais e que transmitiu às crias em casa e durante os eventos que realizavam.

Nos bastidores, as filhas falam com orgulho dos aprendizados da mãe, que, segundo elas, transborda uma elegância natural e uma energia que poucos dispõem.

Indira, Aloyra e Samyra passaram a infância e a adolescência organizando eventos com a mãe(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Indira, Aloyra e Samyra passaram a infância e a adolescência organizando eventos com a mãe

De herança, dizem ter recebido o amor pela dança. Mas também ensinamentos como etiqueta, protocolo, criatividade, resolutividade e pensamento estratégico, adotados até hoje em suas respectivas vidas e profissões.

Hoje, aos 80 anos, atuando com uma filha e uma neta, diz não haver conflitos geracionais e revela sentir orgulho por ter construído uma história de compromisso, exatidão e ética. Enfatiza ainda o valor sentimental e a singularidade de cada uma das celebrações da qual fez parte.

 

 

O POVO - Como foi a sua infância e adolescência? A senhora acha que essas fases contribuíram para a senhora seguir o caminho escolhido?

Alódia Guimarães - Eu acredito que sim. Eu fui filha de pais já mais velhos. A minha irmã tinha 17 anos quando eu apareci na barriga da minha mãe, ela achando que estava na menopausa.

E nesse momento já se tornou uma festa, porque 17 anos depois da primeira filha, eu estar surgindo, era uma coisa bem diferente. Acho, então, que desde que eu fui concebida, a meu ver, foi onde começou essa palavra “festa”.

Alódia participou, em 2022, de desfile do estilista Kallil Nepomuceno no DFB Festival(Foto: Roberta Braga e Cláudio Pedroso/Divulgação)
Foto: Roberta Braga e Cláudio Pedroso/Divulgação Alódia participou, em 2022, de desfile do estilista Kallil Nepomuceno no DFB Festival

Eu tive uma influência muito boa e eu tinha duas figuras que eram cheias de talento. Meu pai era um homem que era muito ligado às letras. Era filólogo, amante da língua portuguesa, sabia a fundo toda a gramática, lia muito e a minha mãe era uma artista. Foi uma influência bem natural.

A minha mãe, naquele tempo, não se chamava estilista, chamava-se modista. Ela havia feito o curso na casa Canadá, que era Paris no Brasil, lá no Rio de Janeiro, de costura. Ela tinha um talento nato, criava coisas maravilhosas. E eu tive essa infância dentro de uma casa onde existiam dois talentos diferenciados.

Eu gostava muito do ateliê, gostava muito daquela vida de beleza que a minha mãe criava. Ela criava roupas lindíssimas, naquele tempo que não tinha nada pronto para você comprar, tudo era feito. Existiam duas grandes lojas no Ceará, a Ceará Chique e a A Cearense.

Minha mãe não trabalhava às segundas para olhar o que tinha de beleza, de tecido e criava muita coisa. Quando adolescente, era a modelo da minha mãe, porque eu tinha um jeito exótico, gostava de coisa diferente, e ela, por sua vez, também.

Eu fui a primeira mocinha adolescente a vestir preto, que nem era luto e nem era luxo. Era uma roupa casual. Na outra semana todas as adolescentes estavam de preto também. Então tinha toda essa coisa do exótico, da ousadia. E eu fui criada com essa coisa festiva, as fantasias lindíssimas, os blocos de fantasia.

Fiz parte de três anos seguidos do desfile de fantasia do Rotary Club. Eu abri e fechei todos os três desfiles. O primeiro desfile eu desfilei de colombina cantando na passarela do Náutico, que era imensa. ‘A Colombina entrou num butiquim, bebeu, bebeu, caiu assim, assim’ (ela canta).

 

Sobre a empresa

 

Fundação

Fundação

Nome: Alodia Guedis Guimarães Eventos LTDA

Fundadora: Alódia Guimarães

Presidente: Alódia Guimarães

 

Produto

Produto

Tipos de produtos: Organização de eventos sociais e corporativos

Unidades (quantidade e cidades): uma em Fortaleza


Passei a minha infância e adolescência dentro do Ideal Clube. Sem querer, querendo, organizei meu baile de debutante. Sou apaixonada por aquele clube, cheguei ao ponto de ter coragem de me lançar como candidata à Presidência nessa última eleição.

Lamentavelmente perdi, mas estou feliz porque a pessoa (Fernando Esteves) que foi eleita está dando conta do recado de forma muito boa. Minhas filhas todas frequentaram o Ideal, desde que abriram os olhos, ainda no moisés, e debutaram todas lá.

Todas as minhas festas foram feitas no Ideal, com exceção dos meus 80 anos, que escolhi, muito bem escolhido, o Palatium Buffet & Lounge, que foi muito maravilhoso, me senti realmente num palácio.

Ainda hoje Samyra está ao lado da mãe na execução de casamentos, 15 anos, bodas e demais eventos(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Ainda hoje Samyra está ao lado da mãe na execução de casamentos, 15 anos, bodas e demais eventos

OP - E de onde a senhora acha que veio essa sua criatividade, essa sua liderança, esse seu dom de organização? De maestrar, mesmo?

Alódia - Meu colégio Imaculada Conceição foi outro potencial em cima de mim de criatividade, porque não existia antagonismo de conduta. Eu nunca fui frustrada porque o colega não deixava, porque era eu mesma. Me evidenciei muito cedo, tinha uma voz forte, falava sem microfone. Inventava, fazia e acontecia.

Essa coisa da criatividade e de achar que cada vez você pode se superar fazendo algo diferente, algo melhor. Fui presidente do Grêmio, já envolvia todo esse fuxico.

OP - Então essa movimentação toda é de sempre...

Alódia - É de sempre. Eu sempre fui assim e sempre gostei. E meus pais sempre apoiaram, apesar de serem muito rígidos. A primeira vez que eu fui beijada na boca, que foi pelo meu marido, eu não conseguia dormir porque eu achava que tinha sido um pecado mortal.

Paulo Sergio e Alódia Guimarães estão juntos desde 1969(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Paulo Sergio e Alódia Guimarães estão juntos desde 1969

OP - A senhora se incomoda de dizer com quantos anos foi?

Alódia - Eu tinha 20 anos. Eu dançava muito, eu tinha muitos amigos, mas eu era toda enquadrada. Dançava muito, mas não deixava dançar colado. Era todo um ritual. E não tinha frustração de nada, porque eu levava a minha vida de uma maneira muito natural, muito leve, porque era a criação que eu tinha, o colégio também.

A coisa era tão diferente, que no terceiro ano normal que eu terminei o colégio, terminaram na nossa turma uns nove noivados, namoros, porque a nossa professora de Psicologia disse que o beijo era o prenúncio do ato sexual. Então as meninas todas ficaram apavoradas e todo mundo terminou o namoro.

Eu como não tinha nenhum namorado, porque eu não queria namorar com ninguém, que era para poder eu dançar com todo mundo, tava numa boa, mas foi um transtorno porque era um pecado. Então as coisas mudaram demasiadamente.

 

Conheça o legado familiar: descendentes

Filhas: Indira, Samyra, Lacira e Aloyra | Netos: Sarah, João Paulo, André, Alodinha, Isabela, Lucas e Arthur

E não sei se para melhor, para pior, algumas coisas para melhor, algumas coisas para pior, mas é a vida. Aí você tem que ir sabendo conviver, sem ficar apavorado.

OP - E sua carreira como cerimonialista começou quando, oficialmente?

Alódia - Com o meu casamento. Eu sou devota de São Judas Tadeu. E aí eu fui casar na igreja São Judas Tadeu. Fiz todas as minhas fotos com o meu marido antes do casamento, o que era inédito.

Meu casamento foi às 9 horas da noite, que naquele tempo, 1969, era meia-noite. E eu saí da Igreja 7 horas da noite, depois que a deixei toda pronta, decorada e iluminada. Saí para me arrumar. Me arrumei sozinha, com ajuda da minha mãe, mas eu fiz o meu cabelo, eu me maquiei, apenas com uma pessoa para me ajudar a segurar o espelho.

Alódia organizou o próprio casamento(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Alódia organizou o próprio casamento

Então tudo foi feito dessa forma. Eu fiz a roupa das minhas damas na minha boneca, pra minha mãe entender o que eu queria, uma saia de gorgurão verde e uma blusa de lingerie branca. Desenhei e fiz o camafeu. E foi uma coisa linda. E tudo aconteceu.

Não tive festa porque eu tinha tanta gente amiga. Apelei para um jantar na sexta-feira anterior, só para os padrinhos e as damas. E no dia do meu casamento, beijo e abraço. Obrigada pela presença. Tava lotada a igreja e foi um sucesso, graças a Deus.

Depois fui fazendo todas essas festas, comecei a fazer os 15 anos das amigas das meninas.

OP - Mas a senhora enxergava como uma profissão ou era um hobbie?

Alódia - Ainda não era como uma profissão. Eu trabalhava com o meu marido na construtora, eu dava aula na Escola Técnica. Fui professora durante muitos anos da Escola Técnica.

Alódia e família nos 15 anos da neta Sarah Guimarães Portela(Foto: Jocilene Jinkings/Divulgação)
Foto: Jocilene Jinkings/Divulgação Alódia e família nos 15 anos da neta Sarah Guimarães Portela

Burramente deixei o meu emprego da Escola Técnica, que hoje eu poderia estar muito bem aposentada, mas eu tive um uma tristeza com o meu coordenador, porque a minha mãe morreu, eu tive a Lacira em dezembro, a minha mãe morreu em fevereiro.

Eu fui tomar posse da minha volta à sala de aula em março. Quando cheguei lá, o meu coordenador tinha me dado todas as aulas noturnas, tinha tirado o meu horário nobre, de manhã, tinha botado pra noite e quando eu fui reclamar com ele deu “piti”.

E eu estava muito vulnerável, muito sofrida, recém-parida e minha mãe tinha ido embora. Eu comecei a chorar e o Paulo Sérgio foi até a escola chamado por um dos coordenadores e lá o Paulo Sérgio disse: ‘Você não vem mais’.

Naquele tempo você ser bancada pelo marido, dizer ‘Você não vem mais’, era sucesso. Mas não é. Tanto que eu digo para minhas filhas, nunca hajam debaixo de emoção. Foi uma grande lição. Hoje eu estaria aposentada numa boa.

Tornou-se uma profissão remunerada no primeiro (aniversário de) 15 anos para uma amiga das minhas filhas. Eu não sabia cobrar. Aí o pai dela deu o preço, falou: ‘Alódia, você precisa saber cobrar, você vai cobrar tanto’. E eu horrorizada, porque ele cobrou bastante.

Quando terminou os 15 anos, ele veio até mim e disse: ‘Alódia, vamos atualizar o seu preço, porque eu nunca vi ninguém trabalhar igual a você’. O rapaz da iluminação tinha dois canhões. Na hora só acendeu um. Ninguém percebeu, só eu percebi.

Alódia já assinou 15 anos, aniversários e casamentos, como o de Wesley Safadão e Thyane Dantas, em 2016.(Foto: Clécio Albuquerque/Divulgação)
Foto: Clécio Albuquerque/Divulgação Alódia já assinou 15 anos, aniversários e casamentos, como o de Wesley Safadão e Thyane Dantas, em 2016.

Na hora de acertar a conta do canhão, eu deixei que ele pagasse só um, já que o outro não tinha acendido. Comecei a cobrar ensinada por ele. E era uma coisa simplória.

Hoje eu fico horrorizada de ver pessoas que estão começando, cobrando muito mais do que eu cobro hoje em dia. E uma das coisas que eu levo e passei para minhas filhas e tenho muito orgulho: nunca recebi uma comissão de ninguém.

‘Alódia, quanto eu posso te remunerar de comissão?’. Com o seu trabalho, com a sua responsabilidade de entregar aquilo que você prometeu no seu contrato, eu digo. Nunca recebi. Então isso, para mim, é um orgulho, porque a prostituição no mercado está terrível.

Para Alódia, o evento mais esperado é os 15 anos da sua neta mais nova, Isabela, daqui a 4 anos. (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Para Alódia, o evento mais esperado é os 15 anos da sua neta mais nova, Isabela, daqui a 4 anos.

Eu gostaria de ter um emprego onde eu estivesse sendo paga para criar e ser ouvida e eu administrar a criação. Porque antigamente a decoração tinha muito a ver com o que o cerimonialista, o idealizador da festa, criava.

Hoje houve uma disassociação. O decorador está assumindo praticamente a festa toda. Primeiro é o mais valioso. Por ser o mais valioso, muitas vezes até mais valioso do que a própria estrutura alimentar e de bebidas, se torna o ‘dono do pedaço’. E é muito mais ouvido de quem tem uma experiência vivida e de criar, de quem faz o diferente.

OP - O que a senhora acha que torna um evento memorável, único e icônico?

Alódia - Aquele que não tem ‘mas’. Quando termina tudo e uma pessoa chega e diz: 'Foi lindíssimo, mas…’ Esse mas é uma punhalada que deixa o coração sangrando. Não tem como. Você não pode esperar um evento ser icônico se ele ter um ‘mas’ no final.

A família no casamento de uma das filhas, Lacira Guimarães(Foto: Abin Rocha/Divulgação)
Foto: Abin Rocha/Divulgação A família no casamento de uma das filhas, Lacira Guimarães

E todos os componentes do grupo têm que estar comprometidos com resultado redondo, fechado, sem aresta. Aí ele vai ser perfeito e icônico.

OP - A senhora já foi chamada para fazer eventos mais excêntricos, diferentes?

Alódia - Fiz o casamento da filha de uma grande amiga. Ela entrou com um repertório nordestino, não foi na igreja, porque era o segundo casamento dela. E ela entrou cantando “Terral” (conhecida na voz de Fagner).

E foi totalmente diferente de tudo. Um evento caro, exótico. Terminou dentro da piscina, de vestido de noiva, feliz. Foi um sucesso.

Alódia dorme pouco. Para ela, dormir é uma "perda de vida"(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Alódia dorme pouco. Para ela, dormir é uma "perda de vida"

OP - E algum evento que a senhora ainda tenha na cabeça e não conseguiu realizar?

Alódia - Eu quero fazer os 15 anos da Bela (neta). E também tive o sonho de fazer uma festa de formatura de Medicina, logo depois da formatura da Aloyra. Porque a formatura dela me trouxe vários elementos novos em formatura.

Aí eu fui chamada para fazer uma entrevista para uma formatura de Medicina, mas como não dou comissão nem recebo comissão, era uma verdadeira compra. É uma máfia. Muito dinheiro corre.

E eu ainda disse: ‘Eu faço o evento de vocês. E não vou cobrar X mil reais, vou cobrar 10% do que vocês gastarem na festa. E vocês vão gastar um valor tão irrisório que vão tomar um susto, porque vão contratar tudo comigo, o músico, a decoração, porque não vamos dar comissão a ninguém. Então vocês vão ter uma formatura barata, bela, diferente e honesta’.

Não quiseram. Porque eu não dava o que eles estavam querendo. E eu não fiz, mas o meu projeto era lindo. Hoje eu não tenho mais essa vontade de fazer.

OP - A senhora investe bastante na sua educação. Acredita ser esse o caminho e o segredo do sucesso do seu trabalho?

Alódia - Eu não sei lhe responder isso, não. Porque eu faço de uma forma tão natural que eu não sei. Eu fiz alguns cursos por bel prazer. Aprendi muita coisa interessante, principalmente com o convívio e a experiência dos outros. Com a Cláudia Matarazzo, a Cris Ayrosa, o Roberto Cohen.

Alódia Guimarães e Cláudia Matarazzo, jornalista especialista em etiqueta e comportamento, na festa de lançamento da Revista O POVO Noivas, em 2016(Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR Alódia Guimarães e Cláudia Matarazzo, jornalista especialista em etiqueta e comportamento, na festa de lançamento da Revista O POVO Noivas, em 2016

Quem conviveu comigo no MBA Eventos Sociais de Luxo, me trouxe uma grande bagagem de experiência. E quando eu fui para os bastidores do Oscar. Foi muito interessante.

Estava tão fascinada para poder pegar tudo, que entrei no caminhão de flores, sem falar nada em inglês, o homem mandando eu sair e eu dizendo que era só para olhar. Foi uma experiência sensacional. Depois eu fui com o Roberto Coren para um curso em Portugal para Destination Wedding.

OP - E quanto tem da Alódia, das suas referências, da sua personalidade, nos projetos que você assina?

Alódia - Agora mesmo eu vivenciei um problema sério. Eu fiz o aniversário de um senhor no ano passado e fui procurada pela filha dele para fazer o casamento dela. E ela disse: ‘Só tive suas escolhas para a minha festa. Você e o decorador’.

Alódia Guimarães possui 50 anos de carreira(Foto: Samuel Gomes/Divulgação)
Foto: Samuel Gomes/Divulgação Alódia Guimarães possui 50 anos de carreira

Nesse casamento eu dei várias opiniões. Não dei mais porque hoje em dia a figura do decorador absorve muito do todo do evento. Você rege a orquestra, mas essa orquestra é quase negada de ser montada por você. Da escolhas dos músicos serem suas. Então se torna mais difícil porque eles não gostam da opinião.

Principalmente quando é uma pessoa que quer crescer custos, que não sabe tirar proveito de coisas mais simples. Eu sou assim, eu gosto de usar o que eu tenho, fazer e acontecer de uma forma preciosa.

E o que é que acontece hoje em dia? As clientes são muito preparadas para o que está na moda. Às vezes eu me abstenho de ter esse tipo de conduta, de dizer se o que está na moda vai ficar sensacional ou se só vai dar certo se for feito dessa maneira.

Pessoalmente, Alódia também adora festas. Quando as filhas eram adolescentes, a casa vivia cheia(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Pessoalmente, Alódia também adora festas. Quando as filhas eram adolescentes, a casa vivia cheia

Mas quando a noiva me solta, até no vestido da noiva eu opinava. Quando a Simone Jucá tinha o ateliê, eu pegava na tesoura e fazia o recorte, porque eu fui criada dentro de ateliê e eu entendo tudo de costura.

E hoje em dia tudo é muito engessado. Muito padrão. Não tem aquela coisa da criatividade, de lançar o novo. As pessoas só estão acostumadas com o que está na moda. A moda tornou-se um padrão de obediência. Se você não estiver daquele jeito, você está fora de moda. E não é por aí.

OP - A senhora planeja se aposentar?

Alódia - Nem penso nisso. Mas só quero fazer hoje eventos que me dão muito prazer. Que não seja muito cansativo. Que eu sinta que a cliente está feliz comigo, isso é muito importante.

Alódia Guimarães trabalha hoje com a filha Samyra e a neta Alodinha (Foto: .)
Foto: . Alódia Guimarães trabalha hoje com a filha Samyra e a neta Alodinha

Você ter um relacionamento de amor com o seu cliente é, sem sombra de dúvidas, o melhor pagamento.

OP - Suas filhas sempre participaram do negócio, mas hoje, oficialmente, está a Samyra e a sua neta, a Alodinha. Como foi a entrada delas? Foi orgânica ou houve um planejamento?

Alódia - Na verdade, não houve nenhum planejamento. Eu trabalhei com as quatro (filhas) de início. Todas iguais. Relógio igual, anel igual, em um vestido tubinho preto. E aí a coisa foi levando, cada uma seguindo o seu destino.

Quem não gostava foi saindo. E a Samyra, que tinha mais características de gostar do que eu fazia, foi ficando. Ela está como secretária da Associação dos Jovens Empresários. Com a pandemia, as coisas rarearam e aí precisava de um dia a dia remunerado, melhor.

Alódia Guimarães trajou modelo do estilita Kallil Nepomuceno em seu aniversário de 80 anos(Foto: Glauber Albuquerque/divulgação)
Foto: Glauber Albuquerque/divulgação Alódia Guimarães trajou modelo do estilita Kallil Nepomuceno em seu aniversário de 80 anos

Ela foi fazendo outras coisas, e hoje permanece comigo. Me dá um respaldo naquilo que eu não sei nem gosto de fazer, que é essa parte nova, de computador, de mídia, dessas coisas que eu não sou afeita. E no dia do evento, ela entra junto.

A Alodinha começou como recepcionista e leva a sério. É respeitada, porque ela tem um posicionamento corajoso. Quando defende uma ideia, defende com certeza do que está dizendo, aí é respeitada.

E hoje está como produtora da banda do Ivo Brown, que já era uma pessoa que trabalhava conosco. Mas não deixa de ser a minha recepcionista nos meus eventos.

OP - A senhora vê um embate geracional nessa relação com sua filha e sua neta?

Alódia - Não, não tem. Como elas sabem o que eu vou dizer, o que eu vou exigir, foram criadas dentro desse contexto de fazer o que é o certo, não há esse embate. Pelo contrário, procuro saber delas o que estão achando, nesse cenário atual. E a coisa é bem tranquila, graças a Deus.

OP - O que representa para a senhora o fato de fazer parte da história de muitas famílias cearenses?

Alódia - Eu não gosto de usar a palavra vaidosa, mas eu me sinto com orgulho de mim. De ter me feito ser respeitada e ouvida pela pelos meus posicionamentos. Eu herdei dos meus pais essa ética profissional muito forte, essa exatidão, essa transparência.

E tudo isso vem da verdade, uma pessoa verdadeira, e ser natural. A espontaneidade é uma coisa extremamente natural. Quando você tem essa ética, essa verdade, esse comprometimento e que você tem essa resposta de valorização por essa razão, você se sente feliz.

É pela experiência de vida. Nada melhor na vida do que a experiência, a vivência que você tem no dia a dia. Eu vou fazer 50 anos de eventos, eu tô com 80. Então é uma felicidade muito grande.

Com 50 anos de carreira e 80 de idade, Alódia não pensa em se aposentar(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Com 50 anos de carreira e 80 de idade, Alódia não pensa em se aposentar

Quando eu chego, por exemplo, em uma feira em São Paulo, e as pessoas dizem: ‘Ah, você é a Alódia, do Ceará’. Isso não é à toa, é porque você faz uma história com verdade.

OP - A senhora fala muito dos eventos da família, principalmente das festas de 15 anos. O que mais marcou essas celebrações?

Alódia - A vida inteira eu preparei minhas filhas para 15 anos. À época, as pessoas estavam indo para a Disney. E a Disney você vai em qualquer época, em qualquer idade, de qualquer jeito, em qualquer momento. E 15 anos você só faz uma vez.

 

Linha do tempo: conheça a trajetória de Alódia Guimarães

 

Eu botei na cabeça da Indira querer 15 anos, que era a primeira filha, depois da Samyra, enfim, e preparei todas elas para isso. Quando foi nos 15 da Sarah (neta), criei uma caixa onde a tampa era a poesia que ela tinha feito. E dentro tinha bouganville com o perfume dela. A saia do vestido da mãe (Indira) serviu como forro.

Nos 15 anos da Alodinha, ela vestiu o vestido que foi dos 15 anos da Samyra que eu já tinha transformado em vestido de 15 anos para a Aloyra. Ele era um um produto que se fazia chapéu. Chama-se crinol. E eu vi um vestido assim em uma vitrine em Paris. Esse vestido ficou na minha cabeça.

Fui pro Rio, conversei com o homem que fazia chapéus e comprei. Caríssimo. Ele vinha como um rolo, uma fita. Fizemos, ficou a coisa mais linda do mundo. Quando foi nos 15 anos da Aloyra, peguei essa mesma roupa. Como a dela era uma coisa espanhola, comprei umas flores, introduzi nos babados de crinol, umas flores e coloquei também dourado.


Guardou-se. Quando chegou a Alodinha, mudamos a blusa e incrementamos a saia de uma outra maneira. Botamos um babadinho de tule por baixo porque o crinol já tava meio morto. E tudo ficou lindíssimo. E ela deu um show e eu fiz as damas de preto, que foi um boom.

Logo depois as amigas delas lá estavam copiando para fazer igual. Enfim, o que é bonito se copia. E agora vem o da Bela, da minha outra neta, que é a última neta menina. Está com 11 anos e eu já estou planejando usar o vestido da Alodinha, de forma diferenciada, com outro tipo de crinol que vai ficar um sucesso.

Isso aí, para mim, vai ser uma grande jogada, e talvez eu encerre todo o meu potencial de criatividade de tudo nos 15 anos da Bela. Eu vou estar com 85, e eu espero estar bem. Todo dia peço a Deus para que esteja lúcida, beleza, show de bola para poder caminhar bem na minha vida, com sabedoria, com resignação, procurando mudar o que a gente pode mudar e aceitar o que a gente não pode.

Desde seu primeiro evento, Alódia se dedica 100%, com o objetivo de entregar um trabalho perfeito, sem "mas"(Foto: Samuel Gomes/Divulgação)
Foto: Samuel Gomes/Divulgação Desde seu primeiro evento, Alódia se dedica 100%, com o objetivo de entregar um trabalho perfeito, sem "mas"

OP - Qual o legado que a senhora acha que deixa para o mercado e principalmente para para a relação das famílias cearenses?

Alódia - Eu gostaria de deixar um legado maior em termos de ética, de compromisso, de exatidão, de não ver o cifrão na frente da realização, porque isso é que te engrandece. E eu lamento muitas vezes nesse nosso segmento as coisas não fluírem mais como quando eu comecei.

As coisas estão se tornando, não sei se eu deveria dizer, mas estão se tornando banais, de qualquer jeito. Tanto que eu não gosto quando se diz assim: ‘Não, vai dar certo!’, Ninguém sabe se vai dar certo. Vai acontecer. Vai dar certo é quando o compromisso que você fez vai ser realmente cumprido em todos os detalhes, ditos e confirmados que iriam acontecer.

A não ser que Deus não nos deixe cumprir. Mas, diante da vontade do homem e do seu compromisso profissional, tem que acontecer, bem acontecido e bem feito.

 

Bastidores


Projeto Legados

Esta entrevista exclusiva com a organizadora de eventos Alódia Guimarães para O POVO integra a quinta edição do projeto Legados: A tradição familiar como pilar dos negócios.

São cinco entrevistas com grandes empresários para contar a base que sustenta seus princípios, valores e tradições familiares que estão sendo passados para as novas gerações. E, ainda, o legado empresarial para o Ceará.

No próximo episódio, conheça a história do diretor da Flora Pura, Jonas Oliveira Neto, que a partir de receitas familiares executadas na farmácia da família, criou uma fábrica de cosméticos no Centro-Sul do Ceará que produz 25 mil itens por dia.

Expediente

  • Coordenação, produção geral e textos Larissa Viegas
  • Edição Economia Beatriz Cavalcante
  • Edição OP+ Catalina Leite
  • Edição de Design e Identidade Visual Cristiane Frota
  • Fotografia FCO Fontenele
  • Pesquisa Roberto Araújo e Miguel Pontes / OPOVODOC
  • Ilustrações Carlos Campus
  • Recursos Digitais Catalina Leite
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