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Flora Pura: a pequena farmácia do Ceará que virou uma fábrica de 25 mil produtos por dia
Reportagem Seriada

Flora Pura: a pequena farmácia do Ceará que virou uma fábrica de 25 mil produtos por dia

Jonas Oliveira Neto: Filho de farmacêutico, deu seguimento e inovou uma empresa de cosméticos que está presente em mais de 20 estados brasileiros. Com percepções do mercado e o desejo de crescer, transformou duas lojinhas em 200 empórios padronizados, com produtos feitos em Iguatu por profissionais de Cariús
Episódio 36

Flora Pura: a pequena farmácia do Ceará que virou uma fábrica de 25 mil produtos por dia

Jonas Oliveira Neto: Filho de farmacêutico, deu seguimento e inovou uma empresa de cosméticos que está presente em mais de 20 estados brasileiros. Com percepções do mercado e o desejo de crescer, transformou duas lojinhas em 200 empórios padronizados, com produtos feitos em Iguatu por profissionais de Cariús
Episódio 36
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 Assista ao vídeo com Jonas Oliveira Neto

 

 

Imagine-se entrando em uma máquina do tempo e optando por uma viagem a um destino aleatório. O equipamento o faz aterrissar em Cariús, localizado no Centro-Sul do Ceará, a 420 quilômetros da Capital. Se hoje a cidade possui apenas 17 mil habitantes, segundo dados do Censo de 2022, é possível supor a precariedade em 1949.

No cenário, está a recém-inaugurada farmácia Nossa Senhora de Lourdes, com Jonas Oliveira Lopes à frente. Não há prateleiras e os medicamentos são manipulados de acordo com as demandas, a partir do conhecimento popular de Jonas, tendo como matéria-prima ervas naturais. É comum ver o filho Jourdam Alencar Lopes, de 14 anos, aplicando injeções e ajudando nas manipulações.

A segunda passagem no tempo avança alguns anos. Em 1959, Jourdam se casa com Zélia Boaventura, já de volta a Cariús, após cursar Farmácia em Fortaleza. 'O doutor chegou!', espalham os moradores também aos municípios vizinhos. Pelas próximas décadas, Jourdam atua como médico e prefeito, por três mandatos. Foram mais de 1.500 partos e a inauguração do primeiro hospital da cidade.

Jonas Oliveira Neto está à frente da Flora Pura, empresa no interior do Ceará que produz cosméticos e suplementos(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Jonas Oliveira Neto está à frente da Flora Pura, empresa no interior do Ceará que produz cosméticos e suplementos

Com a morte do pai, Jourdam assume a farmácia, que continua como um centro de tratamento dos moradores de Cariús, com géis, elixires, xaropes e outros medicamentos ainda produzidos pelo farmacêutico, agora genitor de quatro filhos: Debora, Robério, Jordana e Jonas Oliveira Neto.

Robério, fisioterapeuta, decide fabricar em maior escala o próprio gel de massagem para alívio de dores e tensões musculares. Também entram na linha de produção algumas das manipulações feitas pelo pai para tratar as pessoas, a partir da mesma fórmula utilizada pelo avô.

A produção dá origem a uma pequena fábrica em uma casa de 150 metros quadrados (m²) e seis funcionários. Os produtos recebem a marca Flora Pura e Jonas Neto atua como distribuidor. Porém, antes mesmo de registrar a marca na Anvisa, Robério sofreu um acidente de carro. O ano é 2008.

Sobre a empresa

 

A perda causou um grande impacto na família. Em respeito e admiração ao trabalho do irmão, Jonas Neto segue o trabalho e, por alguns anos, a Flora Pura era vendida de porta em porta, mercearias e pequenas lojas multimarcas. Até que, em 2016, com a esposa Isnaênia, modificaram o modelo da empresa.

De volta ao presente, Jourdam está na contagem regressiva para os seus 90 anos. Os seis primeiros funcionários da Flora Pura seguem atuando na empresa, que também criou outra marca, a Vegetal do Brasil.

Os processos se modernizaram, mas a essência artesanal permanece. E a fabricação diária chega a 25 mil produtos, que saem da fábrica de Iguatu e seguem para as mais de 200 lojas Empório Flora Pura e por consultoras de Brasil, além da unidade em Portugal.

Confira a seguir um pouco mais dessa história de uma família contada por pai e filho, Jourdam e Jonas Neto.

 

 

O POVO - Quando começou a Flora Pura?

Jourdam Alencar Lopes - A Flora Pura deu início em 1949, através dessa farmácia. Essa farmácia foi criada no dia 31 de dezembro de 1949, pelo meu velho pai. Eu já estava com ele nessa época, aos 14 anos.

Foi a audácia, porque da maneira que a gente foi começando a crescer, vieram as intuições, as lembranças, a vontade de crescer. Então, procuramos crescer a partir da flora brasileira e transformando-a em extratos fluidos, em tinturas, aí daí, começar a fabricar o produto natural.

Foi querendo crescer, evoluir, que transformamos a pequena farmácia daquela época na grande indústria de hoje que é a Flora Pura.

A primeira foto tirada na farmácia, em 1949. O jovem Jourdam atendendo um cliente, com o pai Jonas ao fundo(Foto: Acervo pessoal/Divulgação)
Foto: Acervo pessoal/Divulgação A primeira foto tirada na farmácia, em 1949. O jovem Jourdam atendendo um cliente, com o pai Jonas ao fundo

OP - Pode falar da relação com os seus pais, o que aprendeu com eles e que não abriu mão de passar para os seus filhos?

Jourdam - Falar de meu pai, Jonas Oliveira Lopes, é muito importante para mim. Meu pai foi tudo na minha vida, foi o meu amigo, meu companheiro. Comecei menino, aos 14 anos, trabalhando com ele, mexendo o remédio, as manipulações, os julepos gomosos, que são produtos para diarreia, para infecção intestinal.

Naquele tempo não tinha remédio na prateleira. Na época, só tinha remédio manipulado pela gente. E meu pai era um exímio manipulador. Era farmacêutico, foi tudo na minha vida. Minha mãe me deu muita educação, foi professora, eu estudei com ela no meu tempo de garoto. Meu pai foi quem me deu o começo de vida, quem me ensinou a viver, a trabalhar.

Depois fui para Fortaleza fazer Farmácia. Nossa farmácia já tinha crescido, só tínhamos nós, a gente monopolizava o comércio.

Jourdam Alencar Lopes tem 89 anos ainda hoje está à frente da farmácia que deu origem À Flora Pura(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Jourdam Alencar Lopes tem 89 anos ainda hoje está à frente da farmácia que deu origem À Flora Pura

OP - Essa mudança para Fortaleza veio do senhor ou foi seu pai quem falou que o senhor precisava estudar?

Jourdam - Foi ele. Eu não tinha ninguém lá em Fortaleza. Ele me colocou no hotel, me lembro até o nome, hotel Rio Negro, de frente ao QG. Em 1957. Eu vivia dentro do hotel, só estudando. Menino pobre, só tinha um par de tamanco, um pijama, duas calças e duas camisas. A minha missão era estudar, eu fui para estudar e foi isso que eu fiz.

OP - Assim como seu pai, o senhor sempre atuou em prol das pessoas, seguiu nos atendimentos da população, criou produtos que visavam o bem-estar. Por que foi para a política?

Jourdam - Quando você se destaca em uma cidade, que você é o farmacêutico querido, o parteiro querido, o homem do povo, o homem que se dá totalmente de si para o povo como missão divina, você cresce politicamente involuntariamente, sem querer.

Eu me tornei o jovem querido do povo, que descobriu que o homem ideal para ser o prefeito de Cariús era Jourdam Alencar. Na primeira vez só tive 4 mil votos. Eu fui eleito com 405 votos de maioria (de diferença). A segunda vez já cresceu um pouco para 900 votos (de diferença). E, geralmente, quando você é administrador de uma cidade, você cai.

Principalmente naquela época que era a prefeitura, era pobreza, era dar esmola, era dar comida, era dar feijão aos pobres. Existia seca, existia fome. E a terceira vez eu fui eleito com 1.050 votos de maioria. Depois disso ainda fiz sete prefeitos.

OP - Seu pai acompanhou essa sua trajetória política ou ele já tinha partido?

Jourdam - Só a primeira vez. Eu era o orgulho do meu pai. Fui o único filho de cinco que ficou com ele, trabalhando com ele. Os outros foram estudar, saíram daqui e eu fiquei no batente. Era o mais próximo, o mais novo, mais querido.

OP - Para o senhor, quais foram os melhores momentos da Flora Pura, desde o seu surgimento?

Jourdam - Um dos melhores momentos foi o crescimento dessa empresa, que hoje está no apogeu. É uma empresa que cresce a todo minuto, toda hora. Ela vem crescendo graças ao trabalho maravilhoso, dinâmico do seu diretor Jonas, que é o meu filho.

Pai e filho correspondem à segunda e terceira geração. Desde sempre a família primou pelo cuidado ao próximo(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Pai e filho correspondem à segunda e terceira geração. Desde sempre a família primou pelo cuidado ao próximo

Ele foi o baloarte, ele foi tudo nessa empresa, ele fez crescer estupidamente. E ainda hoje está crescendo. É um negócio extraordinário. Eu não sei como o sujeito une várias coisas ao mesmo tempo.

E eu só posso sentir muito orgulho de ter um filho dinâmico à frente do que eu entreguei para eles. Eu não tenho mais nada, eu entreguei tudo para meus filhos. Eu só tenho a cabeça. Aos 90 anos, só tem a dinâmica da minha cabeça.

OP - Como foi essa entrega, essa divisão da empresa? Ao que se deve essa decisão e como foi o processo?

Jourdam - Na proporção que a gente vai crescendo, você vai querendo dividir. Eu cheguei ao ponto que eu não poderia trabalhar só. Então, chamei meus filhos, dei condição para que eles pudessem trabalhar também. Então, dividi com eles todos.

A fábrica da Flora Pura produz 25 mil produtos por dia(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES A fábrica da Flora Pura produz 25 mil produtos por dia

Hoje cada um tem seu quinhão, como diz o matuto, tem sua parte. Jonas ficou com a Flora Pura, que foi a herança do meu outro filho que morreu em um acidente. Então, ele procurou dinamizar, crescer, aumentar cada vez mais e hoje está com a Flora Pura que nós temos hoje.

A Jordana, minha filha mais nova, ficou com a indústria (de suplementos) da Flora Pura aqui em Cariús, a Debora, que é a filha mais velha, ficou com a indústria de mel na chácara que nós temos aqui pertinho da cidade (da Cariús). Então ficou Flora Pura para os três.

É muito importante você saber a quem entrega suas coisas, como vão conservar, como vão amar. Foi o que eu fiz de importante na minha vida, foi entregar minhas coisas aos meus filhos. Eles souberam segurar e conservar tudo que eu dei para eles.

Jonas e Isnaênia são casados há 12 anos e estão à frente da Flora Pura(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Jonas e Isnaênia são casados há 12 anos e estão à frente da Flora Pura

Hoje eu me sinto orgulhoso e agradecido a Deus por ter feito tudo isso. Não tenho saudade de nada, de bens materiais, de maneira alguma. Só tenho orgulho de dizer que eu cumpri o meu dever. Foi só o que eu fiz de bom.

Eu não tenho nada mais, nem quero. Meu conforto é uma casa boa. É dormir bem, é rezar. pensar em Deus, servir, trabalhar, sair, andar, ter um carro bom. É isso. E para se ter vida longa você tem que ocupar a mente, você tem que ocupar o corpo.

Eu faço caminhada todo dia na praça para criar mais coragem, criar mais perna, criar mais vigor, para viver. E fumar meu charuto. Fumo meu charuto toda noite. Meu filho brigava que eu fumava, mas ele deixou, porque eu não obedeço. Então tem que aceitar.

Jourdam começou trabalhando na farmácia do pai, manipulando os medicamentos. Ainda hoje, seu estabelecimento ocupa a mesma loja da inaugurada pelo pai. (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Jourdam começou trabalhando na farmácia do pai, manipulando os medicamentos. Ainda hoje, seu estabelecimento ocupa a mesma loja da inaugurada pelo pai.

OP - A família de vocês é visionária?

Jourdam - Muito, muito. Principalmente meus filhos. Eu ensinei tudo o que eu sabia, que eu aprendi com o meu pai, e eu ensinei a meus filhos. Mas o que eu ensinei mais foi ser humilde, foi dar amor, foi dar emprego, foi dar sabedoria.

OP - A fábrica fica em Iguatu, mas os funcionários são de Cariús. Por quê?

Jonas - A gente tem a cultura de todo mundo fazer parte de uma família. É a família Flora Pura. Todos são conterrâneos, fiz essa opção. Cariús é uma cidade muito pequena, não tem fábrica nenhuma.

Eu nunca tive problema com a nossa mão de obra. É tanto que eu sempre falo o seguinte: "Vocês são o maior motivo para cada dia gerar cada vez mais empregos". Ninguém é obrigado a chegar aqui sabendo de tudo. Aqui também funciona como uma escola profissionalizante.

A fábrica da Flora Pura fica em Iguatu e emprega os moradores de Cariús, cidade de origem da família(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES A fábrica da Flora Pura fica em Iguatu e emprega os moradores de Cariús, cidade de origem da família

A nossa fábrica não é automatizada. Eu nunca vejo minha fábrica assim. É cultura de todo fabricante industrial automatizar. Se pudessem, seria 100% automatizada. Mas eu produzo algo para as pessoas e quero que seja fabricado por pessoas.

O que eu fabrico leva bem-estar às pessoas. O bom consumidor está começando a se preocupar com aquilo que ele está recebendo. E quer que alguém também receba algo em troca.

Somos uma empresa familiar, todos precisam cuidar dela. E chegamos a uma dimensão que ela não pode se acabar no dia que eu me for. Precisamos ter o sentimento de gratidão a ela. É quem alimenta nossas famílias.

 

Conheça o legado familiar: descendentes

Filhos: Paulo Éric, Ravy, Maralina e Zélia

OP - E esses são valores que seu pai te passou?

Jonas - Pode ter certeza. É a formação que meu pai nos deu, mas principalmente a minha mãe. Ela foi fundamental nesse pensamento, porque papai era um político, altamente dedicado às questões públicas e sociais. Ele prescrevia o remédio. Se tivesse o dinheiro, levava. Se não, levava do mesmo jeito.

Meu pai levantava três, quatro vezes numa noite para atender um paciente. Naquele tempo, o político tinha aquele amor às pessoas, porque as pessoas também tinham a gratidão de tornar ele um líder.

Meu pai entrou bem financeiramente na política e saiu mal. O pessoal pelejou para se candidatar (novamente) a prefeito da cidade. A dona Zélia não queria de jeito nenhum. chegou a dizer a Isnaênia: ‘Minha filha, nunca deixa o Jonas entrar na política. Jourdam entrou na prefeitura rico e saiu pobre’.

Jourdam e Zélia com os filhos Jordana, Jonas e Debora. A Flora Pura sempre foi uma empresa familiar(Foto: Acervo pessoal/Divulgação)
Foto: Acervo pessoal/Divulgação Jourdam e Zélia com os filhos Jordana, Jonas e Debora. A Flora Pura sempre foi uma empresa familiar

Naquela época a indústria farmacêutica não era como hoje, o farmacêutico era de manipulação. Por isso que muitas coisas que nós fabricamos vieram do papai, do meu avô, que também era farmacêutico.

Papai fazia a pomada, o gel, a cápsula, o elixir, o xarope… Os remédios básicos dos problemas de saúde popular. Para uma dor, de uma pancada, uma luxação, um ferimento. Se não fosse ele, isso aqui com certeza não existiria. Eu sou apenas um impulsionador.

OP - E a sua mãe nesses cenários, nessas aventuras?

Jonas - Papai era um homem dedicado ao povo e minha mãe era quem cuidava da gente, mostrando as coisas que papai fazia. Eu sei da maior parte das coisas do meu pai pela minha mãe. Era uma mulher altamente dedicada na casa, como esposa, como dona de casa.

A Flora Pura Mel é dirigida pela Debora, irmã de Jonas e filha de Jourdam(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES A Flora Pura Mel é dirigida pela Debora, irmã de Jonas e filha de Jourdam

Ele construiu tanto a profissão dele, que naquela época não existia médico em Cariús. Papai tem mais de 2 mil afilhados. Quer dizer que ele era um homem completamente dedicado à causa humana naquele tempo. Naquele tempo fazia medicina para salvar vidas, hoje é para encher o bolso.

OP - O que vocês acham que ele sente quando vê a Flora Pura?

Jonas - Eu acho que ele sente muito orgulho, claro. Quando você é filho, é obra do pai. E quando se faz algo de bom, ele sente que uma parte dele fez aquilo, um dever cumprido.

Ele sente muito apego a mim, porque as meninas toda vida moraram fora, mas eu e o meu irmão, a gente toda vida ficava perto do papai e de mamãe. Estudei em Fortaleza por 9 anos. Estudei no Colégio Cearense e no Lourenço Filho.

Pai e filho têm em comum o cuidado e o respeito aos seus conterrâneos(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Pai e filho têm em comum o cuidado e o respeito aos seus conterrâneos

OP - Para o senhor, qual é o marco, o divisor de águas da Flora Pura?

Jonas - A Empório. E a Empório não veio por um impulso, veio por um uma coisa que aconteceu. A gente tinha uma loja simplérrima, duas lojinhas com prateleiras de supermercado, com nossos produtos. Montei uma pra mim e outra para o Ravy, meu filho, no Crato.

Tinha desencontro no caixa, as contas não batiam. E a gente decidiu vender as duas lojas. Um distribuidor se interessou e comprou por R$ 200 mil, aproximadamente. As duas. E essas lojas a gente montou com R$ 6 mil, R$ 7 mil.

Então a gente já reparou na força da marca. Se a gente tiver uma loja melhor apresentada, mais bonita, por que ela não vai vender se a gente tá vendendo uma loja que a gente nem investiu na beleza dela?

Logo depois a gente foi pra Bolonha, na maior feira de cosméticos do mundo, na Itália. Em um dos maiores centros de eventos da Europa. Passamos 3 dias andando, “secando as pernas”. E depois fomos para Paris, olhar loja de cosméticos.

Zélia sempre acompanha Isnaenia e Jonas nas viagens de pesquisa(Foto: Acervo pessoal/Divulgação)
Foto: Acervo pessoal/Divulgação Zélia sempre acompanha Isnaenia e Jonas nas viagens de pesquisa

A gente já chegou com a ideia de como montar a loja. Chamamos arquiteta e ela casou no nosso pensamento. A ideia da Isnaênia era fazer o cliente se sentir em um spa, em outro lugar. Algo de altíssima qualidade.

Montamos a primeira loja em dezembro de 2016. Tinha cliente, distribuidor, que falava: ‘A mulher de Jonas vai quebrar Jonas. Quer concorrer com a Natura, com O Boticário. Tá é doido’.

O intuito era que os distribuidores que já vendiam flora pura, que eram homens na sua grande maioria, tornassem aquele ponto de venda muito simples, que eles tinham em um empório, para deixar o negócio mais bonito, mais atrativo.

As lojas Flora Pura são padronizadas e todos os móveis são fabricados no Iguatu(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES As lojas Flora Pura são padronizadas e todos os móveis são fabricados no Iguatu

Mas nós fomos totalmente surpreendidos porque não foram eles que compraram essa ideia, foram pessoas que consumiam um produto. A primeira loja foi vendida e montada em 2017, por uma advogada que era cliente. E começaram várias pessoas que eram consumidores querendo investir no produto.

OP - Vocês já foram procurados por outras marcas?

Jonas - Fomos procurados pela Ipê, que queria fazer uma parceria para produção de desodorantes. E teve uma época que uma grande marca nos acusou de plágio, falando que a cor da nossa linha de rosa mosqueta estava muito parecida com a deles, porque era pink.

Depois começaram a implicar com o arabesco da manteiga hidratante para mãos, dizendo ser parecida com a da manteiga deles. Tudo isso começou, porque a gente tinha um quiosque em um shopping que ficava a uns 70 metros da loja.

Isnaenia está sempre atenta às tendências do mercado e levando inovação para a Flora Pura(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Isnaenia está sempre atenta às tendências do mercado e levando inovação para a Flora Pura

As nossas manteigas custavam R$ 18 de 100 g. E a manteiga dele de 60 g custava, se eu não me engano, na época R$ 32. A pessoa da outra empresa formalizou uma notificação à fábrica, dizendo que a gente estava vendendo muito e que ela não estava vendendo nada.

Quem nos contou foi uma funcionária dentro da loja dessa grande marca, que era a consultora da Flora Pura. Disse que tinha se desligado, porque a dona da empresa tinha falado um monte com ela e que ia pegar o dinheiro da rescisão para comprar um triciclo nosso.

Eles também reclamaram da história da Flora Pura, porque deles também tinha começado com uma farmácia. Mandaram e-mail dizendo que a gente precisava mudar a história. Mas ninguém muda a história! Ela existe. Eu não tenho culpa se o seu dono começou numa farmácia e o nosso também.

Vista aérea da fabrica da Flora Pura, em Iguatu-CE(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Vista aérea da fabrica da Flora Pura, em Iguatu-CE


OP - Quais são os principais pontos de inovação, renovação e atualização da Flora Pura?

Jonas - A Flora Pura se transformou, mas sem perder a sua essência. Pegamos aquilo que existia há 50 anos e transformamos.

Percebemos que o que o meu pai fazia há 50 anos ainda é demandado hoje: produtos para aliviar dores musculares, hidratação, óleos essenciais, coisas desse tipo. É transformação em todos os sentidos

OP - O que é a Flora Pura hoje?

Jonas - Hoje temos a Flora Pura cosméticos, que está nas minhas mãos, mas que veio através do meu irmão Robério, ainda é muito presente na empresa. Nas fábricas, também produzimos a Vegetal do Brasil.

Para facilitar a logística, a Flora Pura possui seus próprios caminhões(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Para facilitar a logística, a Flora Pura possui seus próprios caminhões

A fábrica de suplementos era do meu pai e veio para minhas mãos também com muita força, crescendo bem, desenvolvendo bem. Está no nome da Jordana, minha irmã, que faz a distribuição em São Paulo. Uma garota muito desenvolvida, muito ligada dentro dos negócios.

Tem ainda a Flora Pura Mel, através da minha outra irmã Debora, uma pessoa altamente capacitada naquilo que ela imagina, que ela pensa. Trabalha com agrofloresta, é muito entusiasmada nessa área.

E agora a terceira marca está nascendo, que é a Viva o Sertão. Vai ser uma nova fábrica, que vai nascer neste ano, no segundo semestre. Na área de alimentos: molhos, temperos, condimentos, doces, farinhas, chás, barras de cereal. Vai ficar em uma casa centenária que era da minha avó.

E estamos trabalhando muito bem também nas fazendas e futuramente, a partir do próximo ano, já estamos em produtividade do espaço físico, que é o laticínio Viva o Sertão.

Toda fazenda que a gente abre, a gente bota o nome Fazenda Viva o Sertão Gameleira, Fazenda Viva o Sertão Boa Vista. Ela nasceu da Flora Pura, a gente tem uma linha spa chamada Viva o Serão.

OP - O que desejam à empresa nos próximos anos?

Jonas - Crescer. Mas crescer de uma forma sustentável, humanitária. É fundamental esse pensamento, essa cultura que nós temos dentro da nossa empresa. É um pensamento de agregar cada vez mais pessoas dentro da nossa produção e o mínimo de máquinas. Mais pessoas, menos máquinas.

E as pessoas que hoje manuseiam os produtos Flora Pura são pessoas da nossa cidade. Temos essa cultura. E a gente costuma dizer que é a família Flora Pura. Eu sou de Cariús e as pessoas vêm de Cariús até aqui para produzir produtos para pessoas. Esse é o elo que nós temos em toda produção.

Nós ainda somos muito pequenos, muito pequenos. Mas tem uma coisa muito interessante na gente, nós temos a cara, o pensamento, o produto de grande. Por outro lado, a gente tem medo de crescer 300%, 500%. A gente sabe como é que faz isso.

A Flora Pura não faz teste em animais e aposta em embalagens recicláveis(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES A Flora Pura não faz teste em animais e aposta em embalagens recicláveis

Hoje existem as facilidades para transformar uma empresa. Mas eu acho que não é saudável, ela não cresce organizadamente. Ainda estamos sendo descobertos. Ano passado crescemos 72%. E crescimento é uma coisa que precisa ter muita responsabilidade, muita maturidade, muito trabalho.

Não é só faturar e ver o dinheiro entrando. São várias questões. Estamos bem conectados com (as novidades dos) cosméticos, mas estamos em um lugar muito distante, as dificuldades são muito grandes. E isso a gente a gente tem como desafiador. Tudo para gente é desafio. E a gente gosta.

OP - O fato de estarem no Interior... O senhor acha que freia esse crescimento?

Jonas - Não, eu acho que não. Uma coisa que dificulta muito no mundo dos negócios é a logística. E eu tenho a minha própria logística. Eu tenho a minha transportadora, eu entrego, eu deixo, e eu busco.

Carmem Debora é irmã de Jonas e está à frente da Flora Pura Mel(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Carmem Debora é irmã de Jonas e está à frente da Flora Pura Mel

Isso, pra gente, fortalece muito. Meus fornecedores, todos estão em São Paulo. Eu mando duas carretas para São Paulo até Curitiba. Se eu não tivesse isso, com certeza iria ser uma dificuldade gigante. É por isso que eu tenho e não vou deixar de ter. É um custo grande.

OP - Como planejam a administração da empresa no futuro, a sucessão do negócio?

Jonas - Estou com 59 anos, trabalho desde os 17. É muito tempo. Isso desgasta muito a gente. Para se manter num negócio desse, que exige que a gente seja atualizado, não é fácil. Com certeza eu tenho muita força dela (Isnaênia). É muito atualizada no mundo cosmético, de bem-estar.

Isso aqui tem que continuar, já passei do meio pro fim. Mas papai está com 90 anos e está se achando um menino. Todo santo dia ele acorda com espírito de fazer aquela rotina que ele faz há 75 anos.

Tem a minha mulher, tem um filho que trabalha comigo nas fazendas e um outro já tem a loja dele. Para estar aqui dentro tem que estar na linha. Ser filho do líder não é tudo. É tanto que eu cheguei a demitir os dois.

Toda vida pensei da seguinte forma: para você ficar aqui dentro, você tem que ser melhor do que eles. Tem que ser o melhor exemplo, o espelho. Eu tive minhas falhas, como qualquer pessoa. Fui muito casador. Tenho quatro filhos, de quatro mães.

Mas de 12 anos para cá, eu mudei, transformei o meu pensamento familiar. Com a minha parceira, eu mudei completamente. Isso trouxe muita coisa boa. Me transformei por mim, por quem estivesse perto e por eles, que iam seguir aquele caminho que não leva a nada.

A minha ideia é fazer a empresa continuar. A gente sente uma responsabilidade muito grande de continuidade, prolongamento.

Ravy, Paulo Éric, Jonas, Isnaenia e Zélia: terceira e quarta gerações juntas(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Ravy, Paulo Éric, Jonas, Isnaenia e Zélia: terceira e quarta gerações juntas

A ideia nossa é tentar formar Zélia (a filha caçula, com Isnaênia), mas o futuro só Deus sabe. Se ela vai gostar mesmo disso aqui. O que eu tento fazer nessa empresa é que ela continue. E temos colaboradores que nos ajudam muito.

Quando o líder, o chefe da família não sabe conduzir a pessoa certa, acha que em uma empresa todos têm o direito por serem filhos. Eu já penso diferente. E digo para os meus filhos: "Quer ter? Você vai ter que conquistar." Eu tenho isso aqui hoje porque eu conquistei.

Eu soube absorver tudo aquilo que meu pai e minha mãe me ensinaram, me deram tudo isso, me ajudaram completamente. Mas não posso pegar um filho que não gosta, que não ama, que não conhece, que não tá nem aí e que quer só o dinheiro disso aqui.

Linha do tempo

 

Hoje a gente se sente responsável por cada loja que se abre, por cada emprego que a gente gera, por cada produto que é lançado. É o nosso trabalho que está aqui dentro, que a gente quer que cada dia se transforme.

OP - Qual o legado que a Flora Pura deixa pra economia cearense, principalmente para a região?

Jourdam - A Flora Pura hoje emprega a região todinha. Os trabalhadores são filhos de Cariús. Nós primamos por empregar os filhos de Cariús, os nossos irmãos.

Isso é o que fez e o que faz a Flora Pura crescer. E isso é o nosso orgulho.

 

 

Bastidores


Projeto Legados

Esta entrevista exclusiva com o diretor da Flora Pura, Jonas Oliveira Neto, para O POVO encerra a quinta temporada do projeto Legados: A tradição familiar como pilar dos negócios.

Sãocinco entrevistas com grandes empresários para contar a base que sustenta seus princípios, valores e tradições familiares que estão sendo passados para as novas gerações. E, ainda, o legado empresarial para o Ceará.

 

Expediente

  • Coordenação, produção geral e textos Larissa Viegas
  • Edição Economia Beatriz Cavalcante
  • Edição OP+ Catalina Leite
  • Edição de Design e Identidade Visual Cristiane Frota
  • Fotografia Aurélio Alves
  • Pesquisa Roberto Araújo e Miguel Pontes / OPOVODOC
  • Ilustrações Carlos Campus
  • Recursos Digitais Catalina Leite
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