Com explosões de energia e cores, confrontos coreografados e estratégias em equipe, o universo de Valorant vai muito além de partidas intensas e disputas online.
Criado pela Riot Games, o jogo de tiro em primeira pessoa (FPS) tem se consolidado como um importante fenômeno cultural entre o público jovem brasileiro apaixonado por jogos eletrônicos. Em 2025, a obra completa cinco anos de existência impactando vidas, rompendo barreiras e inspirando novos caminhos dentro e fora das telas.
Com uma estética vibrante e personagens carismáticos, Valorant se destaca não apenas pela sua gameplay, mas pela construção de um mundo onde representatividade e inclusão são mais do que detalhes.
Essas características são parte do DNA do jogo que é composto por quase 30 agentes jogáveis com origem de diferentes países, como Marrocos, Filipinas, Alemanha, México, China e, claro, o Brasil.
O País é representado pela Raze, uma icônica personagem baiana que caiu nas graças da comunidade. Com seu sotaque marcante, gírias locais e uma atitude irreverente, ela é mais do que uma agente explosiva: é também símbolo de pertencimento e representação para milhares de jogadores brasileiros.
Esse compromisso com a diversidade se expande para além dos passaportes, já que Valorant abriga personagens de diferentes expressões de gênero e orientações sexuais. A escocesa Clove, por exemplo, é uma agente não-binária e dublada por uma pessoa trans, enquanto a própria Raze e a alemã Killjoy formam um casal lésbico na
Todo esse impacto, porém, não fica só nas telas. Ao redor do mundo e, em especial, no Brasil, o jogo tem impulsionado carreiras e transformado vidas. No cenário profissional, é um dos FPS mais assistidos do planeta e vem moldando o futuro dos e-sports.
É nesse terreno fértil, inclusive, que surgem histórias marcantes, como a de Renata “Vermelha” Brito, influenciadora cearense apaixonada pelo universo competitivo, e Nathália “Daiki” Vilela, jogadora da Team Liquid Visa que encontrou no jogo uma chance de brilhar nos maiores palcos do mundo. Ambas, com trajetórias distintas, são exemplos de como o título pode abrir portas, seja nos streamings, seja nas arenas internacionais.
Nas artes, Valorant também inspira criadores, como a ilustradora Lexy Senpai, a encontrar nos personagens uma fonte inesgotável de criatividade.
O POVO+ apresenta como, além do alto desempenho e do glamour dos torneios, Valorant tem promovido experiências afetivas ao permitir que jogadores se vejam representados, fortalecendo laços e promovendo um senso de comunidade.
Por meio da estética visual, dos eventos ao vivo ou das narrativas envolventes, seguir nessa leitura é um convite a entender como o público consegue imaginar um futuro no qual diversidade e talento caminham lado a lado.
Com uma trajetória que une paixão, autenticidade e representatividade, Renata Brito, conhecida nas redes como Vermelha, é uma das vozes mais reconhecíveis da comunidade brasileira de Valorant.
Natural de Canindé, no Sertão Central, ela se destaca como apresentadora, criadora de conteúdo e parceira da Riot Games, uma conquista que é reflexo direto do seu compromisso com o jogo e a comunidade.
Atualmente com mais de 10 mil seguidores no Instagram e 63 mil no TikTok, Vermelha é conhecida não apenas por seu carisma e senso de humor, mas também por entrevistas marcantes com nomes de peso do cenário competitivo, como os brasileiros Erick "Aspas" e Gustavo "Sacy", além do canadense Tyson "TenZ" Ngo, um dos jogadores mais populares do mundo.
Sua conexão com Valorant começou em 2020, e desde então o jogo se tornou parte central da sua rotina. Foi com ele que Vermelha encontrou uma transformação real.
"Foi especificamente o Valorant que me fez colocar tempo e dedicação e de fato fazer com que a 'Vermelha' se tornasse uma parte permanente da minha vida", destaca, apontando que o estilo visual do jogo, os agentes com histórias diversas e a dublagem em português foram decisivos para esse envolvimento.
Mesmo sem se identificar como cosplayer profissional, seu trabalho incorporando a agente Skye chamou a atenção nas redes, ajudando a consolidar sua presença na comunidade.
A identificação com os personagens do jogo vai além da estética: Vermelha valoriza a diversidade e a representatividade presentes em Valorant, especialmente com a brasileira Raze, que considera um acerto por fugir dos estereótipos e apresentar gírias, sotaques e características autênticas da cultura baiana.
A virada de chave na sua carreira veio acompanhada de mudanças concretas. Em 2022, decidiu se mudar para São Paulo, impulsionada pelo desejo de acompanhar de perto o cenário competitivo. A decisão foi certeira: no ano seguinte, participou do Lock/IN, evento internacional da Riot, e em 2024 recebeu seu primeiro convite para um teste antecipado de uma agente.
O reconhecimento não parou por aí. Esteve presente no mundial inclusivo em Berlim em 2025 e, no ano seguinte, viajou até a Tailândia, como convidada da própria Riot para cobrir as finais do Masters Bangkok (torneio internacional da modalidade). Sobre essa última experiência, não esconde a emoção.
"Foi a experiência mais surreal que já tive com games. Uma mulher nordestina, do Sertão Central do Ceará, ser reconhecida e levada para o outro lado do mundo por causa do jogo que ama. É algo que nunca vou esquecer,” afirma.
Com presença constante em eventos oficiais, seja como repórter, entrevistadora ou influenciadora, Vermelha segue abrindo portas para outras criadoras de conteúdo nordestinas. "Eu faço questão de falar sempre de onde eu vim. Joguei meus primeiros games em Canindé e tenho muito orgulho disso", reforça.
De um hobby na adolescência aos palcos internacionais do e-sports, ela tem se tornado referência para uma nova geração de fãs, mostrando que talento e dedicação não têm CEP fixo e que é possível, sim, sair de Canindé para o desbravar o mundo.
“Eu já falei diversas vezes que o Valorant mudou minha vida e, por mais que pareça, não é exagero. Eu comecei a investir na internet, mudei de ‘mala e cuia’ para São Paulo, estou conhecendo o mundo pelo jogo. É incrível viver tudo isso através de um jogo que amo jogar”, continua, apontando ter boas expectativas para o futuro sobre o qual diz estar pronta para viver.
Aos 20 anos, a paulista Nathália Daiki já construiu um dos currículos mais impressionantes do cenário
Jogadora da Team Liquid Visa desde 2021, ela é uma das figuras centrais na consolidação da hegemonia da equipe nas Américas e uma referência para jovens talentos que buscam espaço no competitivo. Com uma carreira marcada por consistência, protagonismo em finais e conquistas expressivas, Daiki representa uma geração que transformou o jogo em vitrine de alto nível técnico e impacto social.
Antes de integrar a Team Liquid, uma das maiores organizações de esportes eletrônicos do mundo, Daiki atuou pela Gamelanders Purple, equipe com a qual acumulou vitórias em torneios regionais e chamou atenção pelo desempenho consistente. A mudança de patamar veio com o convite da Liquid, e desde então sua trajetória passou a ser escrita com números impressionantes.
Ao todo, são mais de 30 títulos conquistados entre competições de séries C, B e A, além de presença constante nas etapas do VCT Game Changers Brazil (o campeonato nacional da modalidade). Entre 2022 e 2025, venceu múltiplas edições do campeonato brasileiro, superando adversárias históricas como MIBR GC e Loud Female.
No cenário internacional, Daiki foi peça-chave nas campanhas da Team Liquid que levaram o Brasil ao pódio nas duas primeiras edições do Valoant Game Changers Championship: em 2022, a equipe ficou em terceiro lugar, e em 2023, avançou à grande final e ficou com o vice-campeonato mundial após confronto contra a Shopify Rebellion, dos Estados Unidos.
Sua postura em jogo, somada à capacidade de decidir sob pressão, transformou Daiki em um símbolo da excelência competitiva no cenário feminino. Mas seu impacto vai além das vitórias.
Com frequência, ela compartilha como o jogo transformou sua vida e reconhece a responsabilidade de servir como inspiração para outras meninas que veem nos esportes eletrônicos uma possibilidade real de futuro.
A trajetória de Daiki, a propósito, se confunde com o projeto que a Team Liquid tem desenvolvido no Brasil. Desde que chegou ao País, em 2018, a organização estabeleceu como prioridade atuar de forma estruturada em segmentos que historicamente ficaram à margem do cenário competitivo. O investimento no Valorant inclusivo é um dos exemplos mais bem-sucedidos dessa estratégia.
Segundo Rafael Queiroz, general manager da Liquid no Brasil, a escolha de abraçar o torneio organizado pela Riot Games foi uma resposta direta à ausência de oportunidades no ecossistema para jogadoras mulheres e LGBTQIA+.
A equipe formada em 2021 já era destaque no Brasil e compartilhava da ambição de ir além do inclusivo. “As jogadoras queriam atuar não só pelo feminino, mas porque viam no projeto uma chance real de competir no cenário misto e chegar ao topo”, afirma Queiroz.
Além da preparação tática e técnica, a Team Liquid oferece um departamento de performance dedicado à saúde mental e bem-estar das atletas, com psicólogos, planejamento de rotina e suporte emocional. A proposta é garantir que o alto desempenho não comprometa a saúde individual.
“Competição de alto nível não pode ser sinônimo de estresse constante. A gente trabalha para que a rotina seja equilibrada”, completa o gerente.
O trabalho da Team Liquid também se estende à formação de base e à comunidade. Projetos como a Copa Cavalaria e o Resenha das Minas aproximam novas jogadoras do ambiente competitivo, promovem inclusão e diversidade e ajudam a moldar o futuro do cenário.
Para Daiki, esse apoio se reflete em mensagens que recebe de jovens fãs, que lhe veem como referência. "Me dizem que começaram a jogar por minha causa. Isso me emociona, porque eu sei o quanto o jogo mudou a minha vida e pode mudar a delas também", afirma.
Com ambições que incluem o título mundial e uma transição futura para o cenário competitivo misto, Daiki e Team Liquid seguem como protagonistas não apenas de campeonatos, mas de uma transformação mais ampla: a de tornar o Valorant um espaço mais justo, diverso e representativo.
Ao completar cinco anos em 2025, Valorant celebra mais do que sua trajetória como um dos jogos de tiro mais populares do mundo. Com personagens diversos e um estilo visual marcante, o jogo da Riot Games tem inspirado fãs em múltiplas frentes, inclusive fora das telas.
É o caso da artista cearense Lexy Senpai (@inlovewitha.flower), que encontrou no universo do jogo não apenas uma forma de entretenimento, mas um ponto de partida para sua produção artística e contato com o público.
Ilustradora digital e aquarelista, Lexy começou a vender suas artes ainda na adolescência. Aos 22 anos, estuda Biologia na Universidade Federal do Ceará (UFC) e participa de eventos como o Sana desde os tempos de escola.
Mesmo tratando a arte como uma ocupação secundária, ela tem se consolidado entre o público jovem geek com produções inspiradas em personagens de jogos, especialmente Valorant.
O primeiro contato com o jogo veio no final de 2020, por meio de um convite de um amigo. Durante a pandemia, o interesse cresceu e, com o tempo, a admiração pelo universo do jogo foi se traduzindo em ilustrações.
Ela elogia a direção de arte como “incrível” e se encanta com o sombreamento colorido e as composições inspiradas em outros trabalhos da Riot, como Arcane.
O envolvimento com Valorant também se conecta à representatividade que o título promove. A artista destaca a diversidade de nacionalidades, sotaques e modos de falar entre os agentes, o que considera muito importante para o sentimento de identificação entre os jogadores.
Ela lembra da relação imediata que teve com a personagem Viper. “Eu tinha o cabelo super curto igual ao dela e sou branca. Eu olhava e pensava: ‘Meu Deus, eu quero ser ela’.”
Essa identificação visual e simbólica se refletiu em sua produção. Um desenho mais elaborado da Viper marcou o início de uma série de pedidos. Desde então, Lexy já retratou outras agentes, como Reyna, que chegou a ser tema de um quadro físico baseado em um card do jogo, e viu sua arte se espalhar entre fãs do universo de Valorant. Um dos elogios que mais a marcaram foi o de que sua arte “parecia a da própria Riot”.
Participando de feiras culturais a partir de 2022, Lexy notou que os produtos de Valorant eram ainda pouco comuns, o que gerava reações de surpresa e entusiasmo no público. “A galera vinha falando: ‘Tem arte de Valorant, que massa, ninguém mais faz’”, lembra, reforçando como o jogo cresceu em popularidade e influência nos últimos anos.
É pelas mãos de Lexy, portanto, que a estética de Valorant ganha um novo espaço de expressão, onde os traços digitais também narram histórias de pertencimento, paixão e representatividade.
Talvez seja justamente essa atenção da Riot à diversidade racial, de gênero e de orientação sexual um dos aspectos que mais despertam admiração pelo universo do jogo. Esse cuidado tem sido, sem dúvida, essencial para o sucesso e a longevidade do querido – e carinhosamente apelidado por seus jogadores – Vavá.