Da coluna social ao esporte, do jornal impresso ao rádio e à televisão, Roberto Sérgio de Barros da Ponte construiu a trajetória de quase 60 anos no jornalismo cearense com o estilo polêmico, incisivo e astuto. Não se furta a dar opiniões — inclusive sobre a própria classe — e nem dispensa informações de bastidores ou uma boa entrevista, o que rendeu muitas notícias exclusivas na carreira.
Guiado pela referência no irmão mais velho, Alan Neto — por quem foi criado como um filho —, ele construiu estilo próprio e tornou-se o Repórter Bi Bola de Ouro, âncora de um programa que já existe há 54 anos ("As Frias do Sérgio", no ar desde 1971) e responsável por uma das principais premiações do esporte brasileiro (Noite das Personalidades Esportivas).
Conviveu com diferentes gerações de jogadores e dirigentes, cultivou amizades com nomes relevantes e colecionou inimizades que prefere não relembrar.
Pai de Renata, Roberta e Rebeka e avô de cinco netos, Sérgio Ponte, sem dúvida, orgulha-se de ser irmão daquele que o introduziu na crônica esportiva e de quem sempre esteve próximo: Alan Neto. Melhores amigos, eles levaram a parceria para o ar em 2011, quando o "Trem Bala" ultrapassou as ondas do rádio e foi para a TV O POVO.
Sérgio não esconde a saudade e a emoção ao falar do irmão mais velho. Depois de 530 dias da última viagem do Trem Bala, o caçula ainda se considera em luto.
As partidas do neto Roberto Sérgio de Barros da Ponte Neto, um ano antes, e do também irmão Helder Ponte, um ano depois, abalaram o Bi Bola de Ouro, que trata as transmissão na Rádio O POVO CBN e "As Frias do Sérgio" como válvulas de escape após encarar uma depressão.
Aos 74 anos, ele admite que sofre pressão em casa para pôr o pé no freio, sobretudo da esposa Inês Helena. Mas entende que ainda não é o momento de desligar o microfone e nem deixar de realizar o evento anual, que chega à 53ª edição em 2025 — já com data marcada e em plena organização.
Munido de anotações e a matéria de um ano da morte de Alan Neto em mãos, Sérgio Ponte recebeu O POVO em casa, puxou memórias e disparou opiniões durante quase duas horas de entrevista.
Do início na profissão à origem do apelido e ao surgimento do Oscar do Esporte Cearense, ele riu, emocionou-se, criticou, elogiou e até revelou o time de coração.
O Bi Bola de Ouro contou que Telê Santana, bicampeão mundial com o São Paulo e ex-técnico da seleção brasileira, adorava sopa de cabeça de peixe em Fortaleza, tratou o pentacampeão Luiz Felipe Scolari como "irmão", apontou "furos" marcantes na carreira e se debruçou sobre a bonita parceria com Alan, dentro e fora dos estúdios, em diferentes momentos.
O POVO - Por que você quis ser jornalista? Você tinha influências em casa, como despertou a vontade de entrar no Jornalismo também?
Sérgio Ponte - Eu acho que já nasci com essa veia. Tem algumas coisas da minha infância, que eu me recordo bem... Por exemplo, eu tinha 7, 8 anos de idade, morava em casa cheia de irmãos, ficava na rede sozinho, narrando futebol. Eu mesmo bolava os times.
Marca de refrigerante, marca de cigarro, jogava um contra o outro. Eu narrava e gritava gol, entendeu? A ponto da mamãe me proibir, porque os punhos (da rede) estavam todos se quebrando.
Mas eu sempre tive essa vontade (de ser jornalista). E aí, lá em casa, tinha o Flávio (Ponte), que, apesar de ser jornalista mais dedicado ao jornal, chegou a ser chefe de redação do O POVO durante muito tempo, tinha o Alan (Neto), que era radialista, tinha o Hider (Ponte), que também estava dando uma ajudinha na rádio, iniciando.... Aí, eu enveredei por esse caminho, sabe? Sempre gostei de futebol, sempre narrei em casa, aí você fica pegando gosto.
Me acostumei a andar com o Alan. O Alan fazia aquelas reportagens dele, tem até uma foto no Jornal O POVO, histórica, do Pelé lá Beira-Mar, e eu gazeei aula do Liceu, um gravador que eu tinha arrumado e fui gravar a entrevista com o Pelé.
Depois, ele foi para o Savanna, e onde ele (Alan Neto) ia, eu era o intruso. Eu ia lá e falava: "Vou contigo". Aí, eu fui ser, sempre quis isso.
Eu fiz vestibular para a Universidade Federal (do Ceará, UFC) e, na época, você era aprovado e escolhia... Você fazia para, por exemplo, Ciências Sociais, Saúde. Aí, você escolhia o que você quisesse ser, desde que tivesse vaga.
E eu me lembro que — isso foi em 1972, 1973 — quando eu cheguei lá, era uma fila com ordem cronológica e tinha um minuto para pensar. "Tem vaga aqui para Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Direito e Comunicação Social". Na mesma hora, eu escolhi Comunicação Social. Eu tinha vontade de fazer e não me arrependo.
OP - Então você sempre gostou de futebol?
Sérgio - Sempre gostei de futebol, sempre acompanhei futebol. Sou fã de programas de rádio, continuo ouvindo, embora o nível esteja mais baixo do que eu imaginava, mas a gente lida com isso.
E eu acho o futebol uma terapia para mim. Terapia. Me aposentei do serviço público e eu costumo fazer, por exemplo... Eu participar da jornada, para mim, é uma terapia. Fazer o que a gente gosta é bem diferente e melhor.
OP - E como essa relação se tornou mais profissional?
Com 16, 17 anos, em 1967, eu participava do "Esporte no Ar", que era o programa que o Alan tinha. Aí, ele me nominava de repórter amador. Eu ia lá para o treino no Ceará, assistia aos treinos e levava as notícias para ele. Aí, ele mandava eu participar do programa.
Naquele tempo, não tinha telefone para usar, eu gravava ou, quando não gravava, eu ia ao vivo, com uma voz fina e falava. Fui tomando gosto com aquilo. Em 1968, eu entrei realmente, me credenciei, me associei na Apcdec (Associação Profissional dos Cronistas Desportivos do Estado do Ceará). Eu sou um dos caras mais antigos da Apcdec.
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Antes, no jornal (impresso), eu fiz várias coisas, não apenas no futebol. Eu fui repórter do Edmundo Vitoriano, que era um baita colunista social da época, de 1969 a 1972, 1973. Ele me pagava e eu trabalhava com ele.
A coluna dele era "Gentes e Fatos", depois ele lançou um tabloide, que eu não me lembro o nome. Ajudava ele a fazer a coluna, telefonava para o pessoal para pedir notícia... Era "foca". Fiz essa área com ele. Fiz também coluna sobre rádio, sobre clubes sociais.
Mas o meu forte mesmo era rádio. Aí, eu fui pra rádio, comecei a participar do programa do Alan. Em 1971, eu tive vontade de fazer o meu programa. Como lá em casa a gente brincava muito que tinham as quentes do Alan e as brasas do Hider, aí eu optei pelas minhas frias.
Comecei fazendo, um dia de outubro, por dez minutos. Não lembro se era o Edson Silva ou o Paulo Oliveira que estava na rádio à noite. Ele abria a exceção de 10 minutos e eu comecei a fazer as Frias, sem me desvincular do programa do Alan.
OP - Isso era na Rádio Iracema?
Sérgio - Iracema. Eu passei pela rádio Iracema, saí de lá, fui para a Rádio Assunção e depois Rádio O POVO.
OP - Quando você tomou gostou pelas notícias de bastidores? Você sempre foi um jornalista de apurações, informações e entrevistas exclusivas...
Sérgio - Puxei ao Alan. Ele começou o esporte lá na Rádio O POVO em 1961 e a coluna dele começou em 1965, na Gazeta de Notícias, depois foi para O POVO... Aquela história das notícias de bastidores, sabe? Eu ficava muito atento à reportagem, à entrevista, o que diferenciava o entrevistado.
Tem a história do Tostão, que ele (Alan Neto) contou muitas vezes na coluna dele, que estava esperando lá no hall enquanto ele (Tostão) almoçava. Aí, depois o sacana foi para o piano (imita sons de notas musicais).
Eu não aguentei e falei: "Rapaz, vai parar de tocar isso não?" (risos). Ele ficou p da vida: "Eu não vou mais dar entrevista, não". "Pois não dê". Aí, o Alan falou: "Tu é doido?", "doido o quê, vou passar a tarde todinha aqui?". Eu com uma fome danada, esse homem comeu, se empanzinou e tocando isso.
Eu gosto dessas coisas, sempre fui repórter. Sempre gostei de ser repórter, não sou comentarista, narrador não tenho condições de ser, não tenho goela suficiente, gogó para narrar futebol. Sempre fui repórter.
Pequenos detalhes, aquilo que o repórter diferenciado, que eu continuo querendo ser — não sou, nunca fui, mas a minha marca é essa —, é que você ouve tudo, de treino, essas coisas todas. Você está acostumado só com aquele blá-blá-blá... Não, eu vou ali no detalhe.
Numa coletiva, eu procuro saber um detalhe que o cara deixa de lado, eu procuro saber qual foi a exigência que ele fez para vir para o Ceará, para vir para o Fortaleza, qual o pormenor dele. Tudo isso eu catalogo e solto.
OP - Ao longo de todos anos, quais os furos de notícia mais marcantes que você divulgou?
Sérgio - Não, eu não me lembro assim, não, dessas coisas. Lembro assim, de queda de treinador... Ah, me lembro, por exemplo, da contratação da dupla Tome Gol, que o Ceará contratou. Perdeu o título (do Campeonato Cearense) do Fortaleza, em 1964, aí o (ex-presidente Elias) Bachá, no dia seguinte, anunciou a contratação do Fernando Carlos e do João Carlos.
Um jogava no Ferroviário e o outro jogava no América-CE. Com isso, esfriou a grita... O Bachá, um dirigente da época, ele e o Otoni Diniz se rivalizavam, um no Ceará, e o outro, no Fortaleza. Ele encontrou uma maneira de dar uma suavizada, consolar o torcedor do Ceará. Quem me deu essa informação foi um funcionário dele, da Casa Bachá.
O Bachá era engraçado, ele administrava o Ceará sem sair de lá, da Casa Bachá, ali na Floriano Peixoto. O Fialho, José Maria Fialho, era o grande assessor dele, o porta-voz dele. Aí, o funcionário dele me disse. Comecei a comprar coisas com ele lá, ele sabia que eu era repórter, aí ele disse: "Olha, o Ceará fechou com dois jogadores".
Ele não sabia muito dos caras: "Um é artilheiro, fez o campeonato pelo América, e o outro é um galalau, moreno, alto. Eu sei que ambos terminam com Carlos". Aí eu disse: "Fernando Carlos e João Carlos". Aí eu soltei essa notícia no início do dia. Eles se apresentavam na segunda-feira à tarde. Foi uma notícia que me chamou muita atenção.
Outra: demissão de treinador. Muito especula fulano, ciclano. Eu, por acaso, estava lá no gabinete do André (Figueiredo) e vi ele fechando com o PC Gusmão. Anunciei na rádio, a concorrência desmentiu e ele (André) disse: "Você está ouvindo a conversa, mas não revela nada". Ora, não revelar nada... Soltei a notícia.
No outro dia, o telefone toca — naquele tempo não tinha celular —, mas era ele, e eu nem atendi, sabendo que era ele. Vai me dar carão? Jornalista não pode guardar notícia. Não pode é inventar, mas furar... A gente vive disso.
OP - Com tantos anos de estrada, você certamente colecionou boas relações e atritos. Com quem você teve uma maior aproximação? Tiveram inimizades também?
Sérgio - Caso de inimizade eu prefiro não falar. Prefiro não falar porque... Deixa para lá. Hoje, o cara é político, está em outra esfera. Eu me dava bem com o Robinson (de Castro, ex-presidente do Ceará), me dava muito bem com ele.
Questionava o Robinson pelo fato que ele não deixava ninguém ir para o "Trem Bala", na época que o "Trem Bala" surgiu, que foi na TV O POVO. Me dava muito bem com Jorge Mota (ex-presidente do Fortaleza), ligava muito para ele, na época difícil que o Fortaleza passou e ele foi obrigado a deixar o cargo, renunciar, eu dei todo o apoio. Nunca o malhei, o critiquei.
Anteriormente, o Péricles Mulatinho, na época das vacas magras, que o Fortaleza e os outros times não tinham o vil metal (dinheiro), ele se sacrificou pelo Fortaleza. Eu me dava muito bem com ele, com o Franzé Moraes, um dirigente acima do tempo e do espaço. Brigar, a gente briga, discute... Às vezes eles se chateavam porque dei notícia. "Eu dei, porque se eu não der, fulano vai dar, ciclano vai dar".
Por exemplo, eu me lembro agora do (atacante) Mota, que ele, André (Figueiredo), trouxe o Mota por conta dele para o Ceará. Ninguém acreditava nisso. Zoaram comigo: "Está inventando coisa". E eu vi a negociação dele com o Mota, vi o Mota entrando no escritório dele, e eu mandei brasa. O Mota estava no futebol da Coreia (do Sul), e veio em 2009, quando o Ceará subiu para a Primeira Divisão, e foi um ribombar danado, a apresentação dele foi um negócio fantástico.
Outra coisa que me recordo: saída do Clodoaldo para o Ceará. Eu anunciei. O Fortaleza esperou que o Clodoaldo terminasse o contrato dia 31 (de dezembro) para tentar renovar com ele a partir de 1º de janeiro. Na época, não tinha pré-contrato, ele fez um contrato direto com o Ceará. Aí, o Ceará lançou na Federação (Cearense de Futebol), no dia anterior, pedindo para botar no protocolo no dia 1º ou dia 2 de janeiro. Esses furos pontuais.
OP - Quem foi o melhor dirigente que você viu no futebol cearense? E o melhor jogador?
Sérgio - Bom, o melhor dirigente, para mim, foi o Ruy do Ceará, do Ferroviário. O Franzé (Moraes, ex-presidente do Ceará) era um bom dirigente, usava muito a voz, era mais um dirigente marqueteiro, sacudia a torcida, na época em que o rádio era primordial na divulgação das notícias, das realizações.
Era o Franzé o Silvio Carlos (ex-presidente do Fortaleza), às vésperas de um Ceará x Fortaleza, os dois se digladiavam. Um usava no microfone na "Hora do Esporte", o outro, em outra rádio... Inventavam a briga para motivar o torcedor.
Agora, dirigente nato era o Ruy do Ceará. Calado, sisudo, tranquilo. Soube da situação na decisão do campeonato, que falaram que o falecido Cícero estava comprado pelo Ceará. Boato. Foram dizer isso a ele, a torcida do Ferroviário pressionou para ele não escalar.
Ele botou o Cícero em campo, o Cícero jogou, o Ferroviário ganhou do Ceará, 1 a 0. Depois desse jogo, dessa decisão, o Cícero nunca mais jogou no Ferroviário. Ele (Ruy do Ceará) soube lidar com a situação.
Outro (caso): Urubatão Nunes, treinador na época, foi treinador do Ferroviário. Ele, Ruy do Ceará, que não era um homem rico, era funcionário da Rffsa (Rede Ferroviária Federal), mas era um cara de um pensamento, de uma agilidade impressionante. Depois de uma derrota do Ferroviário para o Fortaleza, o Urubatão Nunes, ex-treinador, que era tipo jacaré, adorava falar, meteu o pé:
"Não vou mais continuar nesse Ferroviário, os jogadores não se empenham, eu estou gastando é meu tempo aqui. Vou pensar duas vezes se vou continuar ou não. Amanhã eu vou conversar com a diretoria e vou expor meu ponto de vista".
Isso foi na saída do túnel — diferente de hoje, hoje ninguém faz mais entrevista com ninguém. Disseram para ele (Ruy). Ele chegou depois do jogo, chamou o Urubatão e disse: "Você passa lá, põe suas contas. Você não é mais treinador do Ferroviário". [...] O Ruy sempre foi um dirigente muito correto, de palavra.
Outro dirigente que a palavra dele valia mais do que o documento: Antônio Góis, do Ceará. Era uma pessoa que se ele desse a palavra... "Precisa de assinar mil papéis", não precisa. Deu a palavra dele.
Agora, jogador de futebol tinha muito, né? Gildo, o grande Gildo. Gildo foi o cara da minha época. Gildo Pernambuquinho, fez um gol do meio de campo, extraordinário. Mozarzinho, da época do América, sem se falar no Fortaleza.
E jogador de fora (estrangeiro) que mais me impressionou foi um argentino chamado Sanfilippo, do Bahia. Ele era baixinho, centroavante, muito bom jogador.
Teve um jogo, final, decidiram América e Bahia, foi 0 a 0 no PV, o estádio, nessa época, tinha mais de 30 mil pessoas, foi um jogão. E ele levava porrada de todo jeito, do Cícero, do pessoal do Ferroviário, Vila Nova, ele jogava contra o Fortaleza, era pau em cima dele, do Zé Paulo. Um grande jogador.
OP - O Alan Neto te deu a alcunha de "repórter Bi Bola de Ouro", que você acabou adotando. Por que Bi Bola de Ouro?
Sérgio - É o seguinte, o José Jorge era repórter, era jornalista lá da Sport Press, no Rio de Janeiro. E trabalhava, se associava ao dono do Jornal dos Sports, que era cearense. E o José Jorge tinha uma promoção anual, Bola de Ouro. E ele fazia (o prêmio) Bola de Ouro, só que ele era muito pelo atacado.
Fazia uma festa englobando gente de futebol, jogador, repórter, artista, dirigente... O rapaz era um vendaval, uma coisa extraordinária. Ele sempre mandava notícia pra mim, eu sempre tinha muita ligação com ele, com o cara da Sport Press (José Dias), através dele eu conheci o Zé Jorge.
Aí, o Zé Jorge ligou pra mim, perguntando como é que eu via a escolha. Alguém deve ter... Deve ter sido o cara da Sport Press que sugeriu. "Olha, eu quero lhe homenagear como repórter de rádio". Tudo bem. Eu me lembro que ele fez uma festa, em 1970, no Jockey Club do Rio de Janeiro. Era uma festa com mais de 100 homenageados.
Claro, nem todo mundo estava presente, mas ele tinha muito prestígio, a Sport Press, na época: estavam (ex-presidente da CBD e da Fifa, João) Havellange, Francisco Horta, grandes dirigentes, aquela turma toda. Aí, anunciavam. Primeiro, você ia lá, recebia o troféu: "Repórter esportivo, o melhor repórter do Nordeste, Sérgio Ponte, da Rádio Iracema, de Fortaleza".
Fez a primeira festa, eu fui. Um ano depois, ele repetiu. Só que a festa não foi mais no Rio, eles faziam itinerante, vendiam a festa. Fez em Foz do Iguaçu (PR), no hotel. E eu fui bater lá. Bi Bola de Ouro. Aproveitei o fato e me rotulei, sabe? Repórter Bi Bola de Ouro. Aí pegou.
OP - E como surgiu a Noite das Personalidades Esportivas? Essa premiação serviu de inspiração também?
Sérgio - Bom, eu tinha sido homenageado em 1970 e 1971, como Bi Bola de Ouro. Eu comecei As Frias em 1971. O programa era dia de domingo, dez minutos, e eu sempre querendo inovar... "Rapaz, eu vou prestigiar, não vou deixar passar a limpo essa data, não".
Pedi ao Zé Leite Jucá, que eu o assessorava: "Zé Leite, me ajuda, vou homenagear um cara na Noite das Personalidades, vou fazer a primeira festa. Me consegue um troféu lá da BD Sports". Fui lá, o Eladio me deu uma medalha de honra ao mérito. Aí eu chamei, na época, o Paulino Rocha. Foi o primeiro que eu homenageei. Lá no estúdio da Rádio Iracema.
[...] Segundo (ano), já não era mais um (homenageado), eram dois. Um, eu me lembro que era o Gilberto Ferreira. Depois, três. Aí, você começa a pegar corda, no bom sentido...
O programa foi crescendo, já não ficou mais num horário de 10 minutos, estendeu mais, não era mais domingo, era sábado... O Alan fazia o programa de segunda a sexta, na Rádio Iracema, e eu fazia aos sábados. O Alan disse: "Eu não vou fazer (aos sábados), dou o horário para o Sérgio". Levei "As Frias do Sérgio" para lá.
Me lembro que o primeiro grande evento foi na pérgula do BNB Clube, em 1996. Aí, eu já homenageei dirigente, um jogador, um treinador, um árbitro, dirigente amador, dirigente sindical e dirigente de clubes sociais.
Como o doutor Dionísio Torres Filho era presidente do BNB Clube e era advogado do Ceará (Sporting Club), e eu me tornei amigo dele, pedi o apoio dele. [...] Fiz no BNB, depois eu levei a festa para o Regatas. [...] Dois, três anos lá, e já ia aumentando. De cinco (homenageados) passou para seis, de seis passou para oito, foi aumentando, aumentando, aumentando.
Anos lá no Clube do Regatas. Eu sei que a última festa que eu fiz em clube foi no Líbano, que já tinha 80 pessoas (convidados), na boate do Líbano. Só que as 80 pessoas já não dava mais, porque estava gente demais, superlotada a boate do Líbano.
OP - Queria que você contasse histórias marcantes com esses grandes nomes. Você sempre fala da amizade com o Felipão, o Galvão Bueno gravou uma chamada para As Frias...
Sérgio - É a única chamada que ele (Galvão Bueno) fez para rádio. Para rádio, não, eu acho que para todo mundo. Soube, inclusive, que o Paulo Oliveira pediu a ele e ele não gravou. O Paulo Oliveira com uma audiência danada na Verdes Mares e ele não quis gravar. "Rapaz, mas você gravou para o Sérgio", "não, mas o Sérgio me pegou numa ocasião especial".
O Felipão é um irmão. Não é nada daquele turrão. Nada. Absolutamente nada. Vieram ele, a esposa, trouxe os dois filhos, Fabrício e Leandro. Vêm aqui em casa, jantaram aqui, almoçaram. Ele é um... Você não reconhece. É uma simpatia. Ele fez propaganda de graça do Marina.
A gente leva ele para almoçar em casa, jantar em casa. Chamava a secretária de casa... Todo mundo querendo bater foto com ele, que eu faço o jantar com gente da família, dois ou três convidados íntimos a mim. A menina olhava e ele dizia: "Você está com vergonha? Está me achando muito feio? Venha cá". E batia foto. Assim ele fazia onde ele chegava.
Fomos jantar num restaurante ali, na Silva Jatahy, e ele não era mais treinador da seleção. Ele veio para fazer uma palestra, o voo dele foi cancelado e ele só voltou no outro dia. Eu o levei para jantar num restaurante na Silva Jatahy. Quando o pessoal viu que era ele, não parou de gente.
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E aí eu me lembro porque foi uma coisa que marcou muito, ele não era mais treinador da seleção, anunciava que jamais voltaria para a seleção. Quando ele se levantou e foi embora, o pessoal lá do restaurante, de pé, aplaudiu o Felipão. A dona do restaurante foi lá e perguntou se ele podia ir na cozinha, que tinham uns portugueses que trabalhavam lá.
Ele foi na cozinha, bateu foto, deu autógrafo. Eu disse até para ele: "Está aí, Felipão, o fato de você não voltar para a seleção. Não volte, não, meu irmão. Você vai ser sempre lembrado como o homem do pentacampeonato". E ele me garantia que não voltava. Mas voltou.
OP - Uma similaridade em quase todas as suas respostas é a referência ao nome do Alan. Como era sua relação com ele, não só de irmão, mas também profissional?
Sérgio - Eu tenho até uma matéria que você (Victor Barros, jornalista) fez, no (dia de) um ano de morte do Alan. Feito e assinado por você: "Irmão de vida e parceiro inseparável". Eu sempre tive muita afinidade com ele. Lá em casa, nós somos 11 irmãos: uma mulher e dez homens. E eu sempre tive muita afinidade com ele.
Como eu gostava muito de rádio, de esporte, e eu sempre... Ele via que eu tinha essa tendência. O papai trabalhava no Interior, era fiscal de obras e açudes no Interior, vivia muito fora, disse, uma vez, que ele (Alan Neto) tomasse conta de mim. "Eu não vou estar aqui, eduque o Bebeto. Faça de conta que você é o segundo pai dele".
E eu sempre copiava vários exemplos dele, não só como irmão. A maneira como ele economizava dinheiro... Me ensinou uma coisa: "Olha, se você ganhar mil reais, você gasta 900, guarda 100 para uma emergência". Essas pequenas coisas, sabe?
A correção de opinião, a maneira que ele fazia, ele transformava um limão numa limonada. Um fato desse tamanho, o povo esperava as 18 horas para ouvir o "Superlativo", o programa do Alan, depois foi o "Trem Bala". Enfim, eu fui moldando ao estilo dele. Como gastar dinheiro, economizar, sair. Então, nós tivemos uma parceria muito grande, muito mais de amigo do que de irmão.
Alan casou-se, foi morar lá perto do São Sebastião, eu ia todo domingo pegar o dinheiro para comprar o almoço dele. Ele me dava um agrado maior. "Aí, para você voltar de táxi". Eu não era besta, economizava e ia de ônibus mesmo. Tinha algum problema que ele não podia ir buscar a Ivanilde (esposa) no trabalho, perguntava se eu podia ir, botava o táxi à disposição e eu ia.
Quando nós moramos lá no Conjunto José Walter, longe de tudo, carência de ônibus, e eu estudava ainda, fazia pré-vestibular, eu almocei durante nove meses na casa dele, na Senador Alencar. Almoçava lá eu, ele e a Ivanilde, que estava grávida da Alana. Me lembro que o primeiro salário que eu recebi, eu guardei e comprei uma banheira para a Alana.
Profissionalmente, então, nós tivemos uma ligação muito grande. Eu coletava notícias para ele, participava do programa dele. O (João) Dummar (Neto, presidente executivo do Grupo de Comunicação O POVO) adorava o "Trem Bala" na rádio, aí foi uma vez lá na rádio, que era na Praia de Iracema, assistir ao programa no estúdio.
O Alan falando, dando a notícia e tal. Ele (Dummar) ficou empolgado e botou na cabeça de inovar: fazer o "Trem Bala" na TV O POVO. Nessa época, o Alan estava na TV Jangadeiro. Ele comentava, participava do programa lá, também na fase do meio-dia.
Aí, o Dummar me chamou e disse: "Eu vou lhe dar uma missão importantíssima, mas não falhe, não. Convença o Alan a fazer o programa aqui. O que você acha da ideia?". E eu disse: "Acho a ideia magnífica". "Nós vamos sacudir a cidade e nada melhor do que trazer o Alan, com toda a equipe, aqui para a TV. Convença ele a vir".
Aí, eu comecei a fazer a cabeça dele. TV Jangadeiro, audiência extraordinária; TV O POVO, iniciante. Eu fiz a cabeça dele, foi difícil. O tiro certeiro foi: "Tu sempre sonhou em ser o âncora do programa. Tu não é o âncora na TV, na TV tu é o comentarista, o analista. O que tu faz na TV, tu faz todo dia na rádio. Tu precisa se expandir, precisa ser o âncora, precisa ser o nome do programa".
O Dummar ficou morto de alegre, levamos todo mundo da equipe. Desde essa época, (Alan) fez uma espécie de chantagem emocional: "Só vou se você estiver comigo", "estamos junto, meu irmão, para o que der e vier". Nós arrebentamos.
De 2011 a 2017, meio-dia, segunda a sexta, "Trem Bala". Nós passamos lá cinco anos e dez meses. Em de janeiro de 2017, ele nos chamou, eu e o Alan, para dizer que a televisão ia mudar de programação, mas não queria que o programa acabasse. "Vamos fazer o seguinte: vocês podem ir, eu cedo vocês para qualquer emissora. Vocês podem ir, mas com uma condição: vocês vão emprestados pelo Grupo O POVO".
Aí vem a chance da gente ir para a TVC. Comunicamos a ele. Sempre eu, né? Eu ia, comunicava, falava em nome do Alan. "Tem algum problema?", "vocês vão, mas vão por empréstimo, estão cedidos". O programa na TV foi de 2017 a 2023, no dia 25 de agosto. Arrebentou. Foi a maior audiência da TV Ceará em todos os tempos. O fenômeno que o programa era, realmente. No YouTube era no Brasil todo.
OP - Você disse que o Alan era quase seu segundo pai, mas depois você virou uma espécie de porta-voz dele, as pessoas procuravam você para entrar em contato com ele...
Sérgio - Por exemplo, se a pessoa convidava, queria falar com ele, aí ligava para mim, porque ele dificilmente atendia o telefone. Ele não usava celular. Então, a turma ligava pra mim. [...] A pessoa sempre se valia de mim. Recebia um convite para participar de uma solenidade: "Convence o Alan". [...] Eu era muito íntimo dele mesmo.
Trocava ideia de programa. No "Trem Bala", a gente, antes do programa, sempre se reunia. Ele era muito exigente, muito. Ele cobrava, cobrava. "Vamos mandar brasa, aqui ele é proibido elogiar". Às vezes, ele era até grosseiro, que nunca foi o feitio dele. Sempre foi um gentleman, mas, às vezes, ele falava num tom mais áspero.
"Eu quero notícia, vamos trazer quem essa semana?". Sugeria fulano, "não, esse cara não vai dar audiência". Porque uma coisa precisa ser dita e nunca foi dito: O "Trem Bala" foi o programa mais censurado pelos dirigentes de clubes, Ceará, Fortaleza... Ferroviário bem menos.
Não permitiam que os jogadores e treinadores fossem ao "Trem Bala". Raramente eles permitiam ir. Para eles irem, os presidentes irem, precisavam agendar antes. Eles não iam com medo do programa. "Ah, porque fulano mete o pau, ciclano mete o pau". "Rapaz, nós falamos lá o que o povo quer saber. O povo não tem informação nenhuma".
Raramente foi algum jogador, raramente ia. Treinador? Ave Maria. Precisa adular muito. O Lisca foi, (Paulinho) Kobayashi, outros foram... É censurado. Eles não deixavam. Teve um dirigente de clube que disse: "A partir de hoje, ninguém aqui fala mais no 'Trem Bala', nem rádio, nem jornal, nem televisão". Os ditadores da época.
E o programa conseguiu resistir a tudo isso. Me lembro bem a entrevista que o (Osvaldo) Azim (recententemente falecido) deu sobre a SAF (do Fortaleza). Repercussão... Quem ia para lá, repercutia. O presidente do Ceará, JP (João Paulo Silva), foi ao programa. Enfim, nós fomos o programa mais censurado.
Era difícil fazer o programa? Era. Por quê? Porque nós não tivemos apoio dos dirigentes. O treinador dizia: "Eu sou funcionário do clube, não posso ir". Aquela eleição do Ceará, no Conselho Deliberativo, nós botamos quente. Levamos um candidato, levamos outro candidato. Era assim.
Ele adorava isso, eu sempre trocava ideias com ele. Como nem ele (Alan) dirige, nem eu, ia e voltava para a televisão ou Jornal O POVO no mesmo táxi. Muitas e muitas vezes, ele ia chateado: "O programa hoje, quando chegar em casa, a Bette Davis (Ivonilde) vai mandar brasa em mim, a 'ombudsman', ela via tudo".
O pessoal manda muita coisa pelo chat. Aí ela ouvia, né? Esculhambando a gente. Eles botavam quente: diziam que o Alan estava superado, está "broco". Meu amigo, superado? Dando o show que ele dava, sendo uma espécie de homem-show?
Toda notícia que ele dava tinha um fundo de verdade. Toda notícia. Até mesmo ele doente, internado — passou 50 dias lá no hospital, e eu ia visitá-lo quase todo dia, saía de lá pra ir para o "Trem Bala" —, a preocupação dele era como estava o programa. [...] "Rapaz, não se preocupe com isso, não. Eu estou lá".
Eu não gosto de fazer o programa (como apresentador), depois veio o Lucas (Mota, editor do Esportes O POVO). Eu gosto de ser repórter, dar notícias. "Faça como se eu estivesse lá". Ele sempre exigia, sugeria. Uma figura humana extraordinária. Na época, eu dizia que eu estava morto; eu continuo.
OP - Qual era o grande diferencial do "Trem Bala" e do Alan Neto?
Sérgio - A verdade. O zelo, a determinação, a vontade, o tesão que ele tinha pelo programa. Ele queria o programa bem feito. Ele queria, acima de tudo, a verdade. Ele queria polemizar. Ele adorava isso. Polêmico.
"Alan, a turma está te esculhambando", "deixa esculhambar". O Dummar tem uma frase muito interessante, que até hoje está gravada: "O 'Trem Bala', ou o cara gosta ou odeia". E quem odiava o "Trem Bala" ou a figura do Alan, não deixava de assistir. E quem gostava, duplicava. Quantas pessoas foram naquele "Trem Bala", na Cadeira Elétrica (bloco de entrevista do programa), e sofreram na mão da gente não está no gibi. O pau cantava.
[...] O Alan é uma pessoa... Até hoje, sinceramente, eu tenho uma lembrança dele total. Entrei numa depressão, já perdi nove quilos. Nada, para mim, tem mais sentido. Terminou, o Alan morreu, aí o Dummar nos chamou para falar do futuro do "Trem Bala".
"Dummar, quer minha opinião? Acaba o programa. Não tem o menor sentido. O programa "Trem Bala" foi criado por você para ele. Ele, Alan Neto, é o carro-chefe do programa. Alan Neto é audiência, é o repórter acima de qualquer suspeita. Quer vai assistir o "Trem Bala", vai assistir esperando o furo dele, a maneira dele criar, a Cadeira Elétrica, olha o dedo...".
Por exemplo, eu jamais me sujeitarei a fazer o "Trem Bala" no lugar dele. Fazia quando ele estava doente. E eu não gostava, a prova é tanta que o Lucas depois assumiu. Eu gosto de estar na bancada. Mas agora, ele morto, nem na bancada eu vou mais. Acabou. Ele disse: "É, você tem razão, eu estava pensando nisso".
Vai devagarzinho acabando, justifica. É como o programa do Faustão, o pessoal vai pelo Faustão. Chacrinha, eu vi o Chacrinha. Bota o filho do Chacrinha para fazer, não tem sentido. E a turma cobrava para eu fazer "olha o dedo do Trem Bala", interinamente. "Manda o Sérgio imitar o irmão". Imito nada. Isso aí não tem sentido para mim, não.
OP - Quando vocês foram para a internet, muitas coisas viralizavam. Apesar de vocês não terem tanta intimidade com tecnologia, as repercussões chegavam para vocês? Esse carinho chegava para o Alan?
Sérgio - A Alana gravava o que aparecia, passava para ele. Eu tenho um irmão que mora há muito tempo em São Paulo. "Mata a saudade do nosso irmão, veja aí no YouTube". Ele acompanhava a mandava: "Fabuloso, maravilhoso". Ele (Alan Neto) tomava conhecimento. Eu apenas dizia para ele: "O fulano ligou, o YouTube está bombando". "Rapaz, isso não é 'corda', não?".
[...] Depois que o Trem Bala acabou, eu vou ao jornal, não passo ali. No estúdio da rádio, eu dobro à direita. Nunca mais tive condições de ir até onde era o estúdio do "Trem Bala". Me marca muito ele.
Um dia, eu me lembro que quando fomos voltar para o jornal, no YouTube, os funcionários abraçando ele, festejando, pedindo selfie... Aquilo deixava ele muito feliz, muito feliz mesmo. "Está vendo aí, Alan? Esse pessoal está aqui para te ouvir. Tu é um grande nome, vai abrir portas, vai ser visto no Japão no YouTube".
Por mais que a gente dissesse para ele, ele ficava com um pé na frente e outro atrás, mas a filha, Alana, fazia isso, a Júlia, os irmãos, os parentes, os meus amigos... "Estou gostando do programa. Vocês não têm medo de apanhar?". "Tem nada, rapaz. Depois de velho, não tenho medo de apanhar coisa nenhuma".
OP - Qual legado você acha que deixa? Você tem arrependimentos na carreira?
Sérgio - Não tenho arrependimento, não. Costumo dizer que Deus me deu mais do que eu precisava. Não tenho arrependimento nenhum. Às vezes a gente se chateia com campanhas direcionadas à minha pessoa, à pessoa do Alan, aquilo machuca a gente. "Alan está demente", "Sérgio Ponte está no caminho dele". Nós somos humanos. Arrependimento, não, porque os cães ladram e a caravana passa.
O legado que eu deixo é a pessoa ser perfeccionista. Eu sou perfeccionista. Quem trabalha comigo na festa sabe disso. Eu sou perfeccionista. Primeira coisa que eu adotei, dita por ele, Alan: "Nunca queira que ninguém trabalhe pra você de graça, por favor. Não queira. Porque, um dia, o cara vai cansar". E é verdade, você pede favor a uma pessoa, dois, três, quatro... "Pague as pessoas". E eu botei isso na cabeça. Então, eu exijo muito.
O programa, todo dia eu faço uma parte aqui, penso, convidados (para a Noite das Personalidades Esportivas)... Eu estou ligando para várias pessoas. Uns não responderam, tenho outros nomes em vista. Infelizmente, vai coincidir com a tabela (do Campeonato Brasileiro), até a CBF está contra a festa. Mas eu não mudo, a data é dia 8 (de dezembro). É na segunda segunda-feira do mês. [...]
Eu deixo o legado do perfeccionismo. Você tem que ser perfeccionista. Dizer e fazer obstinado e perfeccionista. Obstinado é saber o que você quer. Se você quer, você vai conseguir. E perfeição, porque tudo tem que sair correto. Um detalhe que pegue mal na festa, acaba a festa. Que detalhes? Mau serviço, comidas péssimas, bebidas poucas, som horroroso, nível de homenageado.
OP - Você sempre foi muito ácido, um estilo contundente para criticar, mas sempre manteve boa relação com fontes para obter informações e entrevistas. Como você consegue equilibrar isso? As pessoas entendem?
Sérgio - Eles entendem isso. O Robinson (de Castro) tinha me dito, um caso mais específico, eu tinha muito contato com ele, de que o João Paulo seria o candidato dele (à presidência do Ceará). Foi outro furo também que eu dei.
"João Paulo é o meu candidato". Era o diretor financeiro. Aí, uma vez, nós estávamos tomando café, eu e o Alan, e convidei o Robinson para ir, para ele passar umas ideias. E ele gostava muito de ouvir a gente. Aí, ele levou o João Paulo.
Eu disse para ele: "O Robinson é tido como um homem mau pela torcida de Ceará, por uma série de fatores, e muitos desses fatores ele não teve culpa nenhuma, foi vítima. É a sua maneira de pensar, de agir. Primeiro, traga a torcida para junto de você".
"A gente vai criticar você. A gente critica o presidente, não a pessoa". É assim que eu lido com as pessoas. Eu faço alguma crítica, não é ao cidadão. Diferente de muitos que criticam o ser humano. Não, eu não critico o ser humano.
O presidente do Ferroviário é o Aderson Júnior. O pai dele foi meu grande amigo, Aderson Maia, meu guru, meu amigo, amigo meu, de minha família, foi amigo do Flávio, trabalhou com o Flávio, meu amigo. Eu jamais terei condições de criticar o Adersinho, que conheci menino, pequeno.
Eu acho até que, para ele, assumir o Ferroviário foi em homenagem ao pai. Você assumir o Ferroviário na situação que estava... E ele tem o jeito do pai, muito calado. Sim, tem um lado meu pessoal. [...] Aí, eu traço essa ideia, porque as pessoas me conhecem. Sabem que eu sei ser crítico, eu sou polêmico.
OP - No começo da entrevista, você falou sobre o nível da imprensa esportiva hoje e disse que ainda acompanha muito. Como você avalia?
Sérgio - Eu já fui presidente da Apcdec. Fui presidente por cinco anos da Apcdec. Fui vice-presidente da Abrace, me candidatei a presidente da Abrace, perdi, porque era de idade inferior ao meu concorrente, que era o Sérgio Carvalho, lá no Congresso de Campo Grande (MS), em 1979. Eu acho o seguinte: nós estamos perdendo espaço. O repórter, a função... A função do repórter está se extinguindo. Lamentavelmente.
Do que adianta você ter um setorista cobrindo Ceará, cobrindo Fortaleza, se você não pode entrar, se você não pode assistir nada? Eu falo muito isso para os dirigentes com quem eu tenho acesso, e eles dizem: "Não posso liberar, não. O treinador pede...". Rapaz, saiba conduzir.
Eu, fosse assessor de imprensa de um clube desse, diria: "Eu só assumo esse cargo se tiver liberdade de botar em ação os meus planos". Um deles era esse. Chegar o repórter lá, o setorista do Jornal O POVO. Reuniria os setorista lá: "É o seguinte: vocês vão cobrir o treino. Os primeiros 30 minutos, vocês ficam à vontade. Depois, vocês vão se retirar, porque o treinador vai montar o treino. No final, vocês voltam".
Mas hoje é diferente. Como é que o Miguel Júnior (setorista da Rádio O POVO CBN) pode dar notícia, um furo do Fortaleza, se ele não entra lá? Se ele é proibido de entrar lá? Como é que você pode ver o jogo, dentro do estádio, se não pode ultrapassar determinado limite?
Jogo da Conmebol não tem repórter detrás da trave. Jogo do Campeonato Brasileiro, o pessoal é credenciado com a seguinte advertência: não pode passar da linha. Passar o pé assim, o cara... Então, o que adianta? Do que adianta você ter um repórter cobrindo o clube?
Adianta se você tiver uma fonte. E, normalmente, eu tinha sempre uma fonte. Já teve um caso que uma das minhas fontes era um jogador do Ceará, que pedia, pelo amor de Deus, para eu não dizer quem era ele. [...] Não há um movimento que faça com que a crônica esportiva vivencie.
O torcedor, de maneira geral, toma conhecimento das atividades do seu clube através da gente, principalmente no rádio. Ele quer ouvir o ídolo, quer ouvir a voz do ídolo. Aí você barra isso? Estão trabalhando na contramão.
Nós (imprensa) levamos o público pro estádio, nós acendemos a rivalidade do torcedor do Ceará, do torcedor do Ferroviário, do torcedor do Fortaleza. O torcedor quer saber qual é o time (a escalação). [...] Então, nós estamos perdendo o nosso espaço.
A imprensa está perdendo sua força, seu espaço, sua notoriedade. Está vivendo de quê, o repórter? Depois do jogo, ele passa uma hora e meia esperando que fulano chegue na coletiva para uma entrevista besta, sem sentido nenhum. No nosso tempo, a gente entrevistava jogadores saindo do gramado.
[...] O que é que falta? E não se mexe nada, uma palha. Como é que a gente pode divulgar? Como é que eu posso saber notícias do clube? Quer dizer, por não ter isso, os programas tornam-se repetitivos. E essa era uma forma de o Alan não entrar nessa canoa, não embarcava.
Os repórteres que cobriam o clube, os setoristas, ele dizia: "Miguel, três notícias de impacto do Fortaleza". Ele não seguia a norma. [...] Você amanhece o dia ouvindo uma notícia, termina o dia ouvindo a mesma notícia. [...] O repórter se habituou a não buscar uma informação.
OP - Hoje há um movimento, até de jornalistas mais experientes, de revelar o clube do coração. Você já pensou em fazer isso?
Sérgio - Na intimidade, eu sou Ceará. Mas aposto, duvido, quem, por acaso, veja eu fazer uma crítica ou elogiando o Ceará em detrimento dos outros. De maneira nenhuma. Na hora de elogiar, eu sei separar o joio do trigo. Na hora de criticar, eu critico. Na hora de elogiar, eu elogio.
Vale para o clube, vale para o dirigente. Eu não faço campanha acirrada contra fulano, beltrano, ciclano, de jeito nenhum. Para ninguém pegar nessa munheca. "Ah, porque o Sérgio Ponte...", não, não pega na munheca. Eu tenho livre arbítrio. Eu não critico o cidadão, critico o dirigente. Se não quer receber críticas, saia do futebol.
OP - Você quer ser lembrado com o Sérgio das Frias, o Sérgio da Noite das Personalidades ou o Sérgio irmão do Alan Neto?
Sérgio - O Sérgio repórter. É o que me marca. "Ele fez 'As Frias do Sérgio'"... Uma coisa interessante: já faz um ano que o Alan morreu. Não se viu ninguém, nenhum vereador, apresentar um projeto de lei dando o nome de uma rua, de uma praça. Sabe por quê? Porque nós, da imprensa esportiva, somos relegados a plano inferior.
O que esse homem fez em prol do futebol... Nunca, até hoje. Já passou um ano e três meses. Uma rua, um nome de uma praça esportiva, uma Areninha. Poxa, será que esse homem não deixou um legado? É por isso que eu criei a comenda Alan Neto: para imortalizar o Alan, para deixar viva a memória dele.
Café da manhã
Sérgio Ponte tratou como "honra" ser lembrado e entrevistado para as Páginas Azuis, conteúdo que costuma ler semanalmente. Recebeu a equipe com um café da manhã, providenciado pela esposa Inês Helena, e brincou que saiu de "entrevistador para entrevistado" antes dos gravadores serem ligados
Data da festa
Na entrevista, Sérgio lamentou que a Noite das Personalidades Esportivas de 2025 seria realizada ainda em meio ao Campeonato Brasileiro, que estava previsto para acabar em 21 de dezembro. No entanto, a CBF antecipou para dia 7, justamente um dia antes da festa
Primo e produtor
Um dos entrevistadores destas Páginas Azuis, Victor Barros foi produtor do "Trem Bala" no YouTube do O POVO. O sobrenome em comum, à época, chamou atenção de Alan e Sérgio, que descobriram o parentesco e passaram a chamá-lo de "primo"
No rádio e no YouTube
Sérgio Ponte apresenta jornadas esportivas na Rádio O POVO CBN e Rádio O POVO CBN Cariri, que também são exibidas no YouTube do O POVO e do Esportes O POVO. Além disso, aos sábados, das 18 horas às 20 horas, comanda As Frias do Sérgio, também com transmissão na rádio e na internet
Grandes entrevistas