Ela lidera, no Brasil, uma empresa que praticamente virou sinônimo das transformações digitais experimentadas pelo mundo nos últimos 40 anos, tendo experiências anteriores em gigantes do setor elétrico.
Uma visão múltipla sobre o mundo faz com que Tânia Cosentino, presidente da Microsoft Brasil, trate com a mesma naturalidade temas como igualdade de gênero, sustentabilidade, necessidade de capacitação profissional, desafios do mundo corporativo, família, paixão por animais de estimação e por esportes.
A propósito, ela recebeu nossa equipe na mesma data e quase no mesmo horário em que a badalada equipe do Flamengo deixava um dos principais hotéis da orla da Capital cearense para enfrentar o Fortaleza.
Sua trajetória, de certo modo, se assemelha a de grandes histórias esportivas de superação, mas também de tantas meninas e mulheres que lutam diariamente para ocupar espaços de liderança em ambientes predominantemente masculinos.
Tânia estudou em escola pública, começou a trabalhar aos 16 anos e teve de conciliar faculdade com o emprego. Formou-se em Engenharia de Produção pela Universidade de São Paulo (USP) e trabalhou por 19 anos na Schneider Electric, na qual chegou a ser a presidente para a América Latina, antes de topar o desafio de comandar a Microsoft Brasil em 2021.
A experiência internacional, aliás, trará uma nova oportunidade de alçar voos na esfera continental em 2025, quando assumirá um novo cargo na gigante da Tecnologia de Informação: o de gerente geral com foco em vendas para o setor de segurança.
Essa visão global não a deixa desatenta às potencialidades locais. A executiva acompanha com atenção o crescimento do Ceará, por exemplo, em energias renováveis e desenvolvimento de um ambiente tecnológico avançado.
Tendo sido a primeira mulher a presidir a Microsoft Brasil, Tânia passará o bastão para outra mulher, Priscyla Laham, tendo plena consciência que ambas ainda são minoria nesse universo.
Tânia é reconhecida nacional e internacionalmente pelo seu compromisso com a chamada agenda ESG, que inclui desde a meta de tornar a Microsoft uma empresa ‘Net Zero’ Carbono, ou seja, que consegue neutralizar suas emissões de gases de efeito estufa, mas também incluir mais mulheres em carreiras tecnológicas e cargos de liderança.
“Hoje, menos de 20% dos profissionais de TI são mulheres, o que é um número muito baixo. Isso é um desafio muito grande”, constata. Isso, contudo, não tira dela a convicção de que esse cenário pode e deve mudar para que o Brasil se desenvolva enquanto sociedade.
“Tento sempre passar essa mensagem para as meninas: agarrem-se ao seu sonho e sigam em frente! Para as mulheres, eu digo: nunca confie em quem disser que você não pode ou não vai conseguir”, incentiva.
Considerando tudo que a executiva construiu, da escola pública até a Microsoft, alguém duvida de que ela esteja certa? Confira a entrevista na íntegra!
O POVO - A senhora gosta de esportes e vê semelhança entre o universo do esporte e o da Tecnologia da Informação?
Tânia Cosentino - Eu posso dizer que gosto de esporte. Gosto de praticar alguns esportes, gosto de futebol, mas não tive tempo de acompanhar neste ano.
Sou corintiana, mas, neste ano, deixei o meu Timão um pouco de lado. Adorava a Fórmula 1 até o Ayrton Senna falecer, e aí me desconectei. A grande referência, lógico, é Ayrton Senna e os pilotos da geração dele são os que vêm mais à cabeça.
E acompanho o vôlei brasileiro, principalmente o vôlei feminino, que é uma super referência, apesar de eu ser péssima com qualquer esporte de bola. Então, não sou uma referência, mas amo demais.
Então, assim, gosto de esportes, adoro curtir as Olimpíadas, adoro ver a nossa skatista medalhista brasileira (em referência à Rayssa Leal), e o poder dos esportes.
Não comparo os esportes apenas com o mundo da tecnologia da informação, mas com o mundo dos negócios. Hoje, a gente fala muito em profissionais de alta performance.
Como você transforma a sua organização promovendo essa cultura de alta performance? Você faz muitos paralelos com os esportes e o treino, aquela intencionalidade, sempre praticar para ser melhor, mas também buscar aquele equilíbrio, porque não é só de treino que vive um bom atleta.
É treino, condicionamento físico, alimentação, fazer pausas para descanso para você poder ter repouso. Então, tudo isso combinado é que faz o atleta chegar e atingir seu potencial máximo.
E a gente busca esse paralelo no mundo executivo. Promovendo dentro do nosso mundo, é a mesma coisa, que é o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Como você está trabalhando as outras partes, não só o seu conhecimento técnico, mas como você está trabalhando outras áreas da sua vida, para ser um profissional completo, feliz e, assim, realizar seu potencial máximo.
O POVO - E como trabalha isso internamente? Como faz para conciliar esses aspectos? E também, como transmite isso para as pessoas com quem trabalha mais diretamente?
Tânia Cosentino - Bom, a primeira coisa que eu acredito é que você tem que fazer o seu trabalho com algo que você goste. Porque, todo trabalho, inclusive os esportes, exige escolhas. Você tem que ter intensidade, e a dedicação é muito grande. Então, se você não tiver a realização e se não tiver satisfação com o que faz, a carga será muito mais pesada.
A primeira coisa que eu falo para o meu pessoal é: goste muito do que você faz! Goste muito da empresa onde trabalha! Tenha conexão dos seus valores com os valores da empresa, porque aí você consegue desenvolver o que chamamos de propósito, que é o que me faz levantar cedo todos os dias, mesmo nos dias ruins!
É fácil quando você tem sucesso, está crescendo, se motiva no seu trabalho, mas, às vezes, temos dias ruins. Então, tem que ter algo maior que te faça levantar da cama. E, aí, conectar sua missão pessoal, seus valores, com a missão e valores da empresa acaba sendo gratificante.
Então, eu sempre falo, uso isso para mim e sou uma pessoa apaixonada pelo que faço. E sempre promovo isso para os meus colaboradores: Escolha um trabalho em uma empresa que realmente te motive, que te traga energia, e busque fazer o que você gosta. Aí, o resto fica mais fácil de administrar.
O POVO - E como surgiu essa paixão? Começou bem jovem, não foi?
Tânia Cosentino - Eu sou apaixonada por tudo que eu faço. Acho que isso veio até do meu pai, que valorizava muito o que era nosso. Então, o que é nosso, nós temos que gostar, temos que valorizar.
E eu gostava dos meus estudos, da minha escola, dos meus trabalhos. Comecei minha carreira profissional aos 16 anos. Estava cursando, fazendo um curso de eletrotécnica no meu segundo grau, que foi técnico.
Me identifiquei com a área elétrica e consegui um trabalho aos 16 anos. E aí me conectei demais. Era uma super empresa, uma multinacional alemã, a Siemens, que me trouxe, acho que, toda a bagagem, a fundação de um bom profissional. Aprendi muito naquela empresa.
E segui aquele negócio, meu, de conexão com o trabalho, de querer fazer a melhor entrega e de buscar energia positiva, isso me realimenta, e eu consigo dar o meu melhor. Comecei a criar projetos.
Dentro do projeto básico, do que se esperava de mim, comecei a criar outros projetos, e essa foi a minha história. Eu fui criando coisas dentro de coisas que foram trazendo entregas interessantes, diretas e indiretas para o negócio e me motivando a seguir em frente.
O POVO - Essas pautas de sustentabilidade e diversidade são muito caras para a Microsoft e também são muito presentes na sua carreira. Hoje, se fala muito em ESG… Como foi essa sinergia? E fale um pouco dos projetos que estão desenvolvendo nessa área...
Tânia Cosentino - Temos um projeto antigo já, chamado AI for Good (Inteligência Artificial para o Bem).
Acredito que a inteligência artificial faz sentido se for para causar impacto positivo na sociedade e na economia. Então, estamos muito focados em ganhos de produtividade, mas também temos muitos ganhos de inclusão social.
Eu falo de sustentabilidade, muito antes de existir o termo ESG, mas governança, para a Microsoft, começando pelo "G", é um pilar fundamental da nossa organização, porque acreditamos que só existe uma relação sólida com os nossos clientes e parceiros quando há confiança na tecnologia, confiança no parceiro.
Quando falamos do "S", o social, em todo o lado interno, cuidamos dos nossos funcionários, com programas de diversidade e inclusão, benefícios que oferecemos aos nossos colaboradores, e o nosso compromisso de eliminação da diferença salarial entre homens e mulheres, porque, infelizmente, isso ainda é uma realidade.
Então, não só temos menos mulheres no mercado de trabalho do que homens no mundo executivo, como também as mulheres, na mesma posição, de forma geral, ganham cerca de 30% a menos do que os homens.
E isso evoluiu muito pouco nos últimos anos. Então, a Microsoft tem o compromisso de resolver esse problema social da eliminação do gap (lacuna) salarial.
Para o público externo, temos vários programas de capacitação profissional. Porque a inteligência artificial vai impactar a vida de todos nós.
Então, o que precisamos fazer é garantir que a pessoa comum, que pode ter seu emprego transformado pela IA, possa ter condições de buscar um emprego melhor, com melhor remuneração, e que traga maior satisfação. Temos um programa chamado Conecta Mais, que lançamos em 2020.
De 2020 até hoje, mais de 13 milhões de brasileiros acessaram nossas plataformas online de capacitação, que trabalham desde o letramento digital até ciência de dados. Mais de 3 milhões de pessoas se formaram em pelo menos um curso, e várias outras estão ainda na jornada de treinamento. E há cursos com recorte para mulheres, pessoas trans, pessoas negras, e pessoas com deficiência, atingindo diferentes grupos da sociedade.
A Microsoft investirá R$ 15 bilhões em data centers no Brasil, mas também investirá na capacitação de 5 milhões de brasileiros e brasileiras em IA. De novo, isso ajuda a fortalecer a economia e prepara as pessoas para a adoção de tecnologia.
No terceiro pilar, o ambiental, a gente tem o compromisso de atingir Net Zero (atingir equilíbrio entre emissões de gases geradores de efeito estufa e a quantidade removida da atmosfera) em carbono até 2030. Já temos o compromisso de, até 2025, comprar 100% da nossa energia de fontes renováveis.
No Brasil, assinamos um contrato com a AES Brasil, há quase 2 anos. Esse contrato começou a operar agora, em julho deste ano, e 100% da energia consumida pela Microsoft vem de um parque eólico no Nordeste, em Cajuína, no Rio Grande do Norte.
Dentro do programa AI for Good, que é a inteligência artificial para o bem, nós construímos alguns projetos, e um deles é o de monitoramento da floresta amazônica, um projeto chamado PrevisIA, em parceria com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e com o Fundo Vale. É um projeto de monitoramento da floresta com satélites.
O POVO - O AI for Good é um conceito interessante porque, quando tivemos aquela explosão digamos assim, do ChatGPT, num primeiro momento, vimos previsões até catastróficas. Claro que a inteligência artificial é um conceito que vem sendo discutido e utilizado há décadas, mas para o público leigo, a chegada do ChatGPT, é quando a coisa realmente emerge. Como tem acompanhado esse processo de desmistificação do que é a IA?
Tânia Cosentino - Bom, a IA, como você falou, é uma tecnologia muito antiga. Só se começou a falar de inteligência artificial nos anos 1950. Mas quais eram os limites? Primeiro, como eu construo um algoritmo para rodar um software, e onde está a capacidade computacional necessária para rodar esse software?
Então, tínhamos uma capacidade computacional limitada e criamos programas adequados a essa capacidade. E o que a IA tenta fazer é copiar a forma de decisão do cérebro humano. Começamos com um modelo de inteligência artificial que vem evoluindo.
A Microsoft investe há muitos anos nesse tema e conseguimos atingir paridade de visão, por exemplo, para conseguir reconhecer objetos como o ser humano reconhece.
Conseguimos também a paridade da fala, de articular como o humano fala. A gente vem fazendo isso ao longo de vários anos, mas, mesmo assim, o machine learning, que é a aprendizagem de máquina, com o algoritmo aprendendo com os dados, estava restrito ao universo da TI.
É claro que já existiam grandes filmes de ficção científica, como o "Terminator" (O Exterminador do Futuro), mostrando que a IA acabaria com o mundo porque nos despreza como humanos e nos destruiria, mas isso é pura ficção.
A IA é uma ferramenta que está aqui para empoderar o ser humano. E é isso que a Microsoft acredita.
Mas, mesmo assim, a IA continuava na sala da equipe de tecnologia. O que aconteceu foi que trouxemos uma tecnologia nova, a IA generativa com linguagem natural. Agora, o ser humano comum consegue interagir com o algoritmo por meio da sua linguagem coloquial.
Isso tem um poder transformador. E esse algoritmo também tem o potencial de avaliar e analisar volumes gigantescos de dados. Então, você treina o algoritmo com dados em grande escala, e ele começa a criar, por exemplo, programas de computação, textos, imagens, vídeos e até pode "alucinar".
Quando ele começa a criar coisas e recebe comandos em linguagem natural, ele se aproxima da pessoa comum. E aí, naquele momento, em que ainda não existiam os "guardrails" (limitações ou controles), vimos a IA ultrapassar alguns limites, fazendo respostas totalmente equivocadas ou até antiéticas. Foi nesse momento que reforçamos o conceito, que para a Microsoft não é novo, de IA responsável. Então, a IA não é apocalíptica. Ela não vem para destruir o homem, vem para ajudar.
Não será, por exemplo, um piloto automático. Por isso, criamos esse modelo, em que a IA é um copiloto, e não um piloto automático. Ela está aqui para me ajudar a tomar decisões, mas eu preciso garantir que coloque os "guardrails" na construção desse algoritmo. Por exemplo, eu preciso garantir que ele não aumente os preconceitos que já existem na sociedade.
Afinal, quem programa o algoritmo é o homem, e é natural que eu transfira meus preconceitos ou minha visão de mundo para o algoritmo. Por isso, falamos muito e promovemos um ambiente diverso na tecnologia. A diversidade ajuda a ter um olhar diferente do meu, e isso acaba ajudando a construir um modelo melhor.
O POVO - Sei que investem fortemente em data centers e com a IA eles passam a exigir cada vez mais energia. Fortaleza é uma das cidades que mais recebe cabos de fibra óptica no mundo. Têm olhado para isso? Fortaleza é um mercado que têm acompanhado, com a possibilidade de talvez construir um data center aqui?
Tânia Cosentino - Sim, porque, para você ter uma ideia, os data centers vão consumir 6% da energia do mundo até 2027/2030. Isso é muita coisa. Por isso, as empresas estão buscando fontes renováveis de energia. E o Brasil — não vou falar apenas da Microsoft nesse momento, mas do Brasil em geral — tem uma forte vocação para isso.
Somos muito bons em commodities, mas a próxima vocação do Brasil poderia ser o fornecimento da IA verde. Eu não preciso desenvolver um algoritmo brasileiro, mas posso, sim, construir data centers aqui no Brasil para rodar IA de empresas que estão em diferentes partes do planeta.
O Brasil tem uma posição geográfica privilegiada. O Ceará, por exemplo, está perto da Europa e conectado aos Estados Unidos, com esse Sol maravilhoso, com eólicas que podem reduzir esse custo de energia. Tudo isso combinado pode ser um fator para atrair investimentos. Mas o que acho que falta é promovermos mais o nosso País nesse sentido.
A questão é: quais são os atributos que uma empresa busca ao escolher um local para instalar um data center? Lógico que energia renovável, conectividade, mão de obra qualificada e logística são fatores essenciais, porque você tem a construção e expansão dos data centers, hardware que chega todos os dias. Então, tem uma série de atributos que essas empresas buscam.
Então, o que precisamos fazer aqui no Brasil? Qual é o plano do País. Eu tenho falado muito sobre isso e gostaria de ver mais ação nesse sentido. Nosso vice-presidente da República esteve em um evento nosso e compartilhou essa visão, o que me deixou muito feliz. A chave é transformar essa visão em ação.
Precisamos criar uma estrutura que traga investimentos para o setor e promover os atributos que o Brasil já possui, como energia renovável e custo competitivo.
E, claro, não podemos deixar de considerar Fortaleza, que tem todas essas vantagens, como um destino ideal para tais investimentos.
O POVO - Como vê os avanços ou a necessidade de avançar ainda mais na inclusão de mulheres no universo da TI? E como enxerga seu próprio papel enquanto CEO, uma mulher à frente de uma das maiores empresas do mundo? Como isso pode inspirar outras mulheres que têm esse interesse e paixão, e pensar: "Eu também posso chegar lá"?
Tânia Cosentino - Primeiro, a gente precisa mostrar para as meninas que elas podem construir uma carreira sólida na área de TI. Infelizmente, o Brasil forma poucos engenheiros, tecnólogos, matemáticos, físicos e profissionais da área de exatas ou STEM.
Isso é um ponto interessante porque eu escuto desde menina que o Brasil seria o país do futuro, que não chega. Mas não se constroi um país forte, sem engenheiros. Por exemplo, na China, 40% dos graduados são engenheiros; na Índia, 32%; e na média mundial, 24%. No Brasil, menos de 15%.
Isso é um problema. A primeira reflexão é: por que há tanto desinteresse dos jovens brasileiros em seguir essa área? Fico feliz em ver que o estado do Ceará tem se destacado nos índices educacionais, especialmente na formação de profissionais de exatas.
O que precisamos, então, no Brasil? Fazer com que mais jovens se sintam atraídos pelas áreas de exatas, e em especial pela área de TI. Todo mundo vai ter que conhecer um pouquinho de TI nesse novo mundo de IA. Com mais jovens vindo, nós precisamos fazer com que mais mulheres se sintam atraídas por essas áreas.
Hoje, menos de 20% dos profissionais de TI são mulheres, o que é um número muito baixo. Isso é um desafio muito grande. Precisamos de mais jovens da TI porque é uma área que temos pleno emprego, hoje.
O movimento é do giro que os profissionais fazem no mercado hoje. Então, nos falta pessoal de TI e nos faltam mulheres na TI. Precisamos promover mais mulheres nesse segmento.
Qual é o meu papel como executiva? Eu percebi isso logo ao assumir a presidência da Schneider Electric em 2009. Quando eu olhei para o lado, percebi que as mulheres representavam apenas 4% da liderança da empresa. Daí, eu entendi que precisava fazer algo diferente para que mais mulheres pudessem sonhar e ter a oportunidade de chegar onde eu cheguei.
Desde então, venho me empenhando e criando programas internos, além de participar de programas externos, para criar dentro das empresas processos e benefícios que ajudem no desenvolvimento da carreira da mulher.
Então, me posiciono como CEO e crio dentro da Microsoft processos ou apoio a processos que incentivem a atração de mais mulheres. Isso exige muita intencionalidade, porque, como nos faltam mulheres nesse setor, já que no público geral somos apenas 20%.
Para termos um número maior, exige muito esforço. Tenho me dedicado a atrair um grande número de mulheres para a nossa empresa. Hoje, meu time de liderança é composto por 70% de mulheres. Não foi de graça. Isso exigiu um esforço considerável. Essa é a minha busca constante.
Eu sou uma pessoa simples, que estudou em escola pública, fez faculdade à noite, trabalhou durante o dia para pagar a faculdade e, com muito trabalho, cheguei à presidência da Microsoft. Foi uma vida de muito esforço, dedicação e escolhas, como qualquer outro profissional, mas é possível chegar lá.
Tento sempre passar essa mensagem para as meninas: agarrem-se ao seu sonho e sigam em frente, e, principalmente, para as mulheres: nunca confiem em quem disser que você não pode ou não vai conseguir.
O POVO - São muitas lutas, esforços e responsabilidades. Mas, como desconectar de tudo isso de vez em quando? Quais são os seus hobbies? Qual a sua relação com a família e amigos, e como isso ajuda a recarregar as energias?
Tânia Cosentino - É fundamental, porque não existe uma vida completa sem equilíbrio. Tudo funciona como um tripé, ou uma cadeira com várias perninhas. Se você não tem equilíbrio, não vai ficar legal.
E o equilíbrio não é algo matemático, tipo: "10% do meu tempo para a família, 10% para amigos, 10% para trabalho, 10% para estudos", porque isso geraria estresse e desequilíbrio.
Cada pessoa tem seu próprio equilíbrio. Para mim, a flexibilidade é o mais importante. Eu poder cuidar da minha família no momento em que ela precisar de mim. Eu poder largar tudo e correr atrás da saúde da minha mãe, que teve um problema, isso me dá segurança. Esse é o tipo de flexibilidade que é importante para mim.
Então, a família é fundamental para mim. Tenho uma relação muito próxima com a minha mãe, que ainda está viva, graças a Deus. Sou casada, não tenho filhos, mas tenho dois cachorrinhos, que são minha paixão. Sinto muita saudade deles. Minha família é pequena, mas super importante para mim.
Tenho amigos fundamentais, e amigos de décadas, com os quais compartilho experiências, perrengues, sucessos e celebrações. Isso também me energiza. Não estou com meus amigos todos os dias, mas penso neles todos os dias.
Tenho paixão por animais, especialmente os cachorros. Eu apoio ONGs de animais porque, infelizmente, o ser humano pode ser cruel.
Infelizmente, ainda estamos longe de uma evolução verdadeira. Vejo muitos animais sofrendo maus-tratos e, apesar de não conseguir contribuir ativamente, apoio financeiramente algumas instituições que cuidam deles, para que esses bichinhos tenham uma vida melhor.
Eu também busco fazer ginástica, yoga e pilates, que são as atividades que faço atualmente. Tento incluir isso na minha agenda, que é um pouco complicada, mas isso me traz equilíbrio e satisfação.
Cuidar do corpo é fundamental, porque, se o corpo não está bem, fica difícil. É preciso cuidar do espírito. Agradecer, olhar para cima e agradecer a Deus por todas as conquistas também faz parte da minha rotina.
Sou muito grata por tudo o que conquistei. Como eu disse, nada veio de graça, mas veio com o apoio de muita gente.
Programas pró-mulheres
Na Microsoft, Tânia é líder dos programas HeForShe e Women Empowerment Principles (WEP), da ONU Mulheres e do Pacto Global. Ela também criou o programa Women Entrepreneurship (WE), que visa desenvolver empreendedoras em startups de tecnologia
Iniciativas socioambientais
Sob seu comando, a Microsoft Brasil também impactou mais de 3,5 mil ONGs e capacitou quase 13 milhões de pessoas, além de ter investido em tecnologias de captura de carbono e reflorestamento, removendo quase 4 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera
Contratação via LinkedIn
O processo de contratação dela para a vaga de presidente da Microsoft Brasil começou por um contato no LinkedIn, rede social com foco em emprego e networking, mais precisamente com um “oi”. À época, ela presidia a Schneider Electric na América Latina
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