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Greta Thunberg: a voz de uma juventude com sede por justiça climática
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Greta Thunberg: a voz de uma juventude com sede por justiça climática

Conciliando a escola e o ativismo, a sueca Greta Thunberg dedica a vida pelas causas ambientais e lutas sociais, inspirando crianças e adolescentes de todo o mundo — que este ano concentram-se em Belém, para a COP 30 pelo Clima
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Greta Thunberg (Foto: Reprodução/Instagram)
Foto: Reprodução/Instagram Greta Thunberg
As preocupações de uma criança não são mais as mesmas. Se antes o mundo infantil circundava brincadeiras, escola e amigos, atualmente ele está permeado por um presente em risco pelo aquecimento global.

Crianças e adolescentes de todo o mundo mobilizam-se na 30ª Conferência das Partes pelo Clima (COP 30), em Belém (PA), para discutir os efeitos da crise climática na infância e cobrar dos líderes ação imediata e justa, que considere as vozes dos jovens.

"Vivemos em um mundo estranho, onde crianças precisam sacrificar sua própria educação para protestar contra a destruição de seu futuro", disse uma das vozes mais inspiradoras e mais incidentes a nível mundial quando o assunto é infância e clima — a sueca Greta Thunberg.

Aos oito anos, sua mãe, a cantora de ópera Malena Ernman, e seu pai, o ator Svante Thunberg, começaram a instruí-la sobre as mudanças climáticas que o mundo estava enfrentando.

Nascida em Estocolmo, no dia 3 de janeiro de 2003, Greta Tintin Eleonora Ernman Thunberg cresceu em um contexto de popularização da luta climática. Ter conhecimento da catástrofe ambiental desde cedo fez com que Greta tivesse preocupações diferentes das outras crianças e pré-adolescentes.

Em 2018, aos 15 anos, Greta faltou à aula e foi até o parlamento sueco com uma capa de chuva amarela e um único cartaz escrito “SKOLTREJK FÖR CLIMATE” (greve escolar pelo clima, em tradução livre). A partir deste dia, uma ativista ambiental surgiria e seria reconhecida no mundo inteiro.

Aos 22 anos, Greta possui cerca de 16 milhões de seguidores no Instagram e 5 milhões no X, antigo Twitter — e ela usa essa visibilidade para pautar o que acredita. A vida da moça é movida pelo sentimento de melhorar o mundo para o todos, não para alguns ou para muitos. Sobre sua vida pessoal, porém, Greta é muito reservada.

Por isso, seu ativismo não se limita às causas ambientais. Durante a guerra em Gaza, em 2025, Greta Thunberg foi detida pelas tropas israelenses a caminho da Palestina para prestar serviço social ao povo palestino, juntamente de uma flotilha com 170 outros ativistas, incluindo o brasileiro Thiago Ávila, coordenador internacional da Coalizão da Flotilha da Liberdade de Gaza, e a deputada federal Luizianne Lins (PT).

A sensibilidade de Greta perante o genocídio em Gaza foi mais forte que a própria necessidade de segurança. Greta e as outras pessoas presentes na flotilha tinham noção dos riscos.

Os ativistas foram deportados de Israel após a captura no dia 6 de outubro. Após tantos dias presa, Greta relata ter sido torturada pelos soldados israelenses, como conta em coletiva de imprensa em outubro de 2025. Nem isso a a calou sobre a situação em Gaza.

“O que aconteceu aqui foi que Israel está tentando apagar uma população inteira. Deixe-me ser muito clara, há um genocídio acontecendo diante de nossos olhos. Um genocídio ao vivo transmitido em todos os nossos telefones. Ninguém tem o privilégio de dizer que não estamos cientes do que está acontecendo”, declarou em coletiva de imprensa.  

A vida com o Transtorno de Espectro Autista

Quando Greta começou a ter holofotes virados para ela e ficou reconhecida na internet e no mundo, apresentou também outra vertente de si mesma: como é viver com o Transtorno de Espectro Autista (TEA).

Em 2019, quando se recusou a viajar de avião pela emissão de gases de efeito estufa (GEE), Greta foi criticada na coluna de Andrew Bolt, da Australian News Corp. Referenciando sua saúde mental, Bolt afirmou que Greta era “profundamente perturbada” porque "ela se recusa a voar e aquecer o planeta com os gases de efeito estufa de um avião".

Quando o iate da viagem ancorou, Greta foi criticada por se enrolar nas palavras em uma entrevista, na qual declarou a razão por decidir não voar, mais uma vez utilizando de comentários capacitistas sobre seu autismo.

Respondendo os comentários ofensivos, Greta finalmente veio à tona para falar sobre o autismo aos 16 anos. No X, ela falou pela primeira vez sobre como era sua vida antes dos movimentos ambientalistas. “Eu não tinha energia, amigos e não falava com ninguém. Eu ficava sozinha em casa, com um transtorno alimentar".

Mesmo assim, ela demorou para falar sobre o TEA, pois sabia que se colocaria vulnerável para comentários ruins sobre ela. Segundo ela, "muitas pessoas ignorantes ainda veem isso como uma 'doença' ou algo negativo".

 No entanto, desde que ela falou abertamente sobre o autismo em 2019, ela entendeu que o TEA poderia ajudá-la no ativismo, dado o senso de justiça aguçado pelo TEA.

Apesar disso — ou, talvez, por causa disso —, políticos contrários aos tópicos defendidos por Greta mantêm comentários capacitistas à jovem. Entre eles, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Usando a hashtag #aspiepower, Greta reconhece que o diagnóstico pode ter limitado-a antes, mas hoje ela o enxerga como um superpoder. Na tradução livre, "poder aspie", em referência ao termo antigamente utilizado para definir um dos graus do TEA: Síndrome de Asperger. O termo caiu em desuso.

"Às vezes isso me torna um pouco diferente do normal. Ser diferente é um superpoder", declarou nas redes sociais.

O que antes a levou para um internamento graças à seletividade alimentar (também comum em pessoas neurodivergentes), pode ser um impulso para Greta continuar na luta de causas sociais, e assim, ser a voz ativa, o rosto e a marca de uma luta juvenil para reverter a crise climática no mundo. 

Conflitos e embates com a extrema-direita mundial

Antes do episódio em que foi deportada pelas tropas israelenses, Greta já foi presa algumas vezes durante protestos ao redor do mundo. Em 2024, em Copenhague (Dinamarca), ela foi presa durante um protesto a favor da proteção da Faixa de Gaza.

Já em 2023, foi presa em Londres, em uma manifestação contra a indústria do petróleo. “Desistir não é uma opção”, declarou no episódio, ao ser novamente questionada sobre largar o ativismo.

Para Greta, sua luta é desfavorável para os poderosos que exploram a natureza para aumentar seu capital — ou a influência sobre os donos do capital. Por isso, um dos inimigos de carta marcada de Greta Thunberg é Donald Trump.

Em 2025, após ser liberada por Israel, Greta foi chamada de “encrenqueira” pelo presidente dos Estados Unidos, assim como foi chamada de “pirralha” pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em 2019.

Na época, dois indígenas da etnia guajajara foram assassinados no Maranhão. Após o acontecimento, Greta relacionou o genocídio de povos indígenas como o desmatamento das florestas, provocando a ira de Bolsonaro. No mesmo ano, cerca de 50 protestos contra o genocídio indígena e a favor da demarcação de terras aconteceram no Brasil.

Contrário à Constituição Federal, que garante a proteção de terras indígenas, conforme a Agência Brasil, Bolsonaro declarou que enquanto ele fosse presidente não haveria 'demarcação de terra indígena. Eles têm 14% do território nacional. Imagine a Região Sudeste, uma área maior que essa já é terra indígena, não é área suficiente?”.

Com bom humor, a ativista respondeu ao então presidente brasileiro à altura: simplesmente colocou em sua biografia do X, o antigo Twitter, a palavra “Pirralha”.

Em outubro de 2025, Trump usou as redes sociais para atacar Greta novamente: “Ela não está mais interessada no meio ambiente. Ela é uma encrenqueira. Ela tem problemas de controle da raiva. Acho que ela precisa consultar um médico.”

Em resposta, a ativista agradeceu pela preocupação do presidente com sua saúde mental, afirmando que ele parecia “sofrer dos mesmos problemas”.

Em entrevista ao portal UOL, Greta declarou que “o maior inimigo não é o grupo de negacionistas da crise ambiental, mas sim aqueles que tentam nos driblar quanto às mudanças.”

“Minha ideia de esperança é ter motivação suficiente para levantar e continuar lutando mesmo que as chances estejam contra você. Isso (aumento das consequências das mudanças climáticas) apenas nos dá mais motivação para agir. Ao menos para mim.”  

Fridays for Future: juventude e ativismo

Quando Greta Thunberg “matou” aula para protestar todos os dias letivos até as eleições do parlamento sueco, lá em 2018, outros jovens foram se juntando a ela. Depois das eleições passarem, o protesto virou semanal e, assim, surgiu o movimento “Fridays for Future” (FFF).

Graças a Greta e seus colegas grevistas, que incentivaram outros jovens pelas redes sociais a também se manifestarem, o movimento de greve escolar pelo clima rompeu as barreiras da Suécia e se tornou global.

O ativismo juvenil que inspirou Greta, tornando-a o rosto do movimento, fez com que a atenção mundial voltasse para as mudanças climáticas e as consequências que trazem para a vida na Terra. Protestos de grandes proporções como o de Nova York, em setembro de 2019, foram parte de uma paralisação global que abarcou 139 países. Na época, estima-se que 250 mil pessoas se reuniram somente na cidade estadunidense.

A influência de Greta Thunberg continuou quando, em 2019, viajou durante duas semanas até a sede da ONU, em barcos com emissões zero.

Ela tinha 16 anos e pausou as atividades escolares por um ano para focar no ativismo ambiental. Durante esse tempo, viajou até Nova York para fazer um discurso na abertura do Encontro de Cúpula sobre Ação Climática da ONU, chegando em terra firme no dia 28 de agosto de 2019.

Vestindo uma blusa rosa em contraste aos ternos pretos e cinzas, Greta virou retrato e símbolo da juventude que sente seu futuro sendo roubado aos poucos pela visão da catástrofe climática no mundo.

Ao discursar para 60 líderes mundiais, ela se emocionou e enraiveceu perante a discursos de políticos pedindo esperança para os jovens: “Como vocês ousam?”, questionou incisiva, repercutindo na internet.

A voz da ativista, desde muito nova, representa o choro e o pedido por um futuro no qual a juventude se veja bem e viva em um mundo igualmente saudável. Afinal, o discurso não é somente em prol da vida dos ecossistemas, mas também da humanidade.

 

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