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Ponto da Moda: a empresária do varejo que não tem medo de mudanças
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Reportagem Seriada

Ponto da Moda: a empresária do varejo que não tem medo de mudanças

À frente de uma das magazines mais tradicionais do Estado, Ana Ximenes mostra que tempo de mercado não é sinônimo de estagnação, mas que existem valores inegociáveis e já intrínsecos na próxima geração
Episódio 37

Ponto da Moda: a empresária do varejo que não tem medo de mudanças

À frente de uma das magazines mais tradicionais do Estado, Ana Ximenes mostra que tempo de mercado não é sinônimo de estagnação, mas que existem valores inegociáveis e já intrínsecos na próxima geração Episódio 37
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O Ceará conta com alguns ícones da publicidade e do marketing no varejo. Para quem nasceu ou mora no Estado há um certo tempo, é impossível ouvir o nome “Ponto da Moda” e não cantarolar o jingle. Mas, se para alguns a marca remete a memórias, para Ana Luiza Ximenes e sua família ela é sinônimo de presente e, mais ainda, de futuro.

Representando a segunda geração de uma empresa que neste ano completou quatro décadas de mercado, Ana é a CEO do Ponto da Moda. A herança veio do seu pai, Riamburgo Ximenes, empresário que não conseguiu ver suas duas lojas se transformarem em 13 unidades e se desdobrar em um Grupo que atua hoje nos segmentos imobiliário, financeiro e energético.

As férias dentro da loja poderiam ser um prelúdio do que estaria por vir, uma forma de passar valores ou apenas o desejo de um pai de estar mais perto dos quatro filhos. Independentemente do objetivo do sr. Ximenes, Ana se viu, aos 18 anos, com a sua primeira grande adversidade. E bastou uma ligação para ela e os irmãos dizerem: “Vamos ver quem não vai dar conta”.

Ana Ximenes está à frente do Ponto da Moda(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Ana Ximenes está à frente do Ponto da Moda

Sem medo de ousar, mudar e se transformar, a CEO e sua equipe não hesitam em aceitar o novo, ouvir especialistas e aprimorar - serviços, produtos e, principalmente, pessoas. Afinal, ela diz que foi a partir e para as pessoas que a empresa iniciou uma nova fase.

Muito além de preço, perceberam que uma marca precisava levar ainda informação de moda, emocionar e encantar os clientes. Com a terceira geração já na ativa, segue com a certeza de que o respeito é sempre o caminho. E foi assim ao longo de toda a entrevista.

De fala firme, mas gentil, não tem vergonha de sorrir e se emociona com a mesma naturalidade que fala sobre a gestão dos 600 colaboradores que compõem o Grupo Ximenes. Mas se derrete quando o assunto é seu “filho” caçula, o Chico, cão da raça border collie que também esbanja simpatia.

 

Sobre a empresa

 

E se você não vai até as lojas do Centro do Ponto da Moda, não tem problema. Ela está nos shoppings, no WhatsApp, no Mercado Livre, na Shopee.

Continue cantarolando o jingle (o novo ou o antigo) enquanto conhece no O POVO a história de Ana Luiza Ximenes, a mulher que está à frente das lojas Ponto da Moda.

 

 

 

O POVO - Eu queria que a senhora começasse contando um pouquinho de como tudo começou. Como os seus pais se conheceram?

Ana Ximenes - O meu pai é nascido em São Benedito, na Serra da Ibiapaba, e adorava lá, não queria nem vir morar em Fortaleza. Os irmãos, já tinha alguns que moravam aqui. E ele não dava jeito de vir, os irmãos traziam no fim de semana e ele dizia: "Não, mas não é aqui que eu quero, não me sinto bem, eu quero ficar em São Benedito."

Até que um dia ele foi para um São João no Clube Massapeense. E aí, nesse São João, ele encontrou com a mamãe. E chegou pro irmão e disse assim: "Olha, tem uma moça ali bonita, tão bacana, é tão educada, eu gostei tanto dela”.

Em resposta, ouviu do irmão: "Quem é? Aquela ali? Até eu queria também”. E ele: "Tenha calma que eu já estou conversando com ela." E aí conversaram e começaram a namorar. Só assim que ele tomou a decisão de vir morar em Fortaleza. Ela conseguiu trazer ele porque disse que não ia morar na serra, não queria morar no Interior.

Abertura segunda loja Ponto da Moda, na Rua Senador Pompeu, em 1986(Foto: Acervo pessoal/Divulgação)
Foto: Acervo pessoal/Divulgação Abertura segunda loja Ponto da Moda, na Rua Senador Pompeu, em 1986

OP - Como foi a sua infância?

Ana - Foi uma infância sempre ligada ao comércio, porque o meu pai era sócio de um irmão dele, tinha uma loja de vestuário. E o papai negociava com a gente assim: "Metade das férias vocês têm que trabalhar e a outra metade vocês têm o lazer”.

A gente passava metade das férias trabalhando. As do meio do ano a gente ainda negociava, eram 15 dias trabalhando, 15 dias, em lazer, de férias. Mas as de dezembro não tinha negociação, porque o varejo, o comércio, é muito grande em dezembro.

Então dezembro a gente sempre estava trabalhando. Quando era janeiro, a gente tirava essas benditas férias, porque dezembro não podia, ele não abria mão.

OP - Isso vocês com quantos anos mais ou menos?

Ana - Desde pequeno. Desde pequeno mesmo. A partir dos 7, 8 anos de idade, todos eram tratados dessa forma. E o legado do meu pai sempre foi de muito trabalho. Tudo dele era “o trabalho engrandece, o trabalho dignifica, o trabalho transforma, o trabalho que vai dar tudo na sua vida”. Então a gente precisava estudar e trabalhar.

Nós fomos criados nesse ambiente do trabalho. Engraçado que o papai faleceu muito novo. Quando ele faleceu, eu tinha 18. Então parece que a forma que criou a gente, ele tinha certeza que ia cedo porque nos deixou muito prontos para o mundo.

Ele sempre trouxe a gente para esse mundo de trabalho, de responsabilidade, de muito compromisso, de muita seriedade. A gente foi muito criado na responsabilidade.

Tereza e Ana Ximenes, no São João do Ponto da Moda de 2016(Foto: Acervo pessoal/Divulgação)
Foto: Acervo pessoal/Divulgação Tereza e Ana Ximenes, no São João do Ponto da Moda de 2016

OP - E a sua mãe?

Ana - A mamãe era aquela dona de casa dedicada. Muito tranquila, muito de Deus, nos passou muito esse lado da religiosidade, de levar a gente à missa, do laço de família. A gente tinha um sítio e ela fazia as comidas para levar pro sítio.

E o papai era muito família também, muito de estar junto, de estar unido. Ele nos passou também muita união, de estar junto com a família, esse laço da união é muito forte também.

OP - Vocês, filhos, nasceram em Fortaleza?

Ana - Sim, todos nascidos em Fortaleza. Quando o papai veio morar aqui, montou uma loja com o meu tio Wilson. Era uma loja de vestuário, pequena, mas não deu certo. Aí depois ele virou sócio dos irmãos, Zé Augusto e Aluísio, no Armazém do Sul.

Era neste Armazém do Sul que quando a gente era criança, a gente trabalhava metade das férias. Tio Aluísio faleceu também novo. O tio Zé Augusto já tinha saído da sociedade. E quando o tio Aluísio faleceu, ficou ele e os filhos do meu tio, que eram bem jovens. O papai tinha uma parte mínima na sociedade, era um sócio minoritário, vamos dizer assim.

Ana e Renan Ximenes fazem parte da segunda e terceira gerações do Ponto da Moda(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Ana e Renan Ximenes fazem parte da segunda e terceira gerações do Ponto da Moda

E ele sentia que era uma briga de gente que não tinha tanta experiência, e ele queria implantar algumas coisas e os meninos não queriam. Aí ele disse: "Menino, tá na hora de eu ir fundar uma coisa, abrir uma loja minha". E fundou o Ponto da Moda, em 1985.

OP - Como profissional, o que mais lhe marcou nesses 40 anos de trajetória?

Ana - O divisor de águas, eu até me emociono, foi a morte do meu pai, porque ele foi uma figura muito forte entre nós, foi uma pessoa que passou muita coisa boa para nós. A força do trabalho, da dignidade, do respeito.

As lojas do Ponto da Moda seguem o formato de Magazine, onde é possível encontrar roupas masculinas, femininas, infantis, além de cama, mesa e banho(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal As lojas do Ponto da Moda seguem o formato de Magazine, onde é possível encontrar roupas masculinas, femininas, infantis, além de cama, mesa e banho

O trabalho dignifica, o trabalho engrandece. A gente passou a vida inteira ouvindo isso do papai. Era muito forte o legado dele de colocar a gente para trabalhar. E aí o papai faleceu muito jovem, aos 57 anos. Eu tinha 18, o meu irmão mais velho tinha 24, a minha irmã tinha 22 e meu outro irmão, 20.

Quando ele faleceu, a gente tomou um susto muito grande. A gente não esperava. Só tínhamos duas lojas, pequenas. Ele faleceu em um dia, no outro dia a gente abriu a loja, tinha que abrir.

E quando a gente entra na loja, eu lembro que atendo o telefone e digo: "Ponto da Moda, bom dia". E eu ouço uma voz de homem: “Estou ligando para saber qual é o valor das duas lojas, porque eu tenho certeza que vocês não vão colocar pra frente. E eu quero dizer que eu sou uma pessoa que tem interesse em comprar as lojas”.

Eu só fiz desligar, enchi os olhos d'água, fiquei apavorada. Meu irmão mais velho estava próximo, contei a história. E ele disse: “Vamos só ver uma coisa. Vamos ver quem é que não vai dar certo. Aguarda, que nós vamos botar isso aqui pra frente”.

Então foi muito marcante esse dia, porque realmente foi um insulto muito grande, uma falta de respeito. Mas assim, o engraçado foi que essa pessoa nos serviu de propósito, para dizer: “vamos ver quem não vai dar certo”. E a gente fez uma história bonita no varejo do Ceará.

A gente vê o reconhecimento, o recall (lembrança) do nome do Ponto da Moda é muito forte. Quem não conhece a música? O nosso legado é de muito respeito às pessoas. Para nós, são três pilares fortíssimos: o respeito aos nossos clientes, o respeito aos nossos colaboradores e o respeito aos nossos fornecedores.

Rianburgo Ximenes é o patriarca e fundador do Ponto da Moda(Foto: Acervo pessoal/Divulgação)
Foto: Acervo pessoal/Divulgação Rianburgo Ximenes é o patriarca e fundador do Ponto da Moda

A gente tem um lema. As pessoas que chegam até o Ponto da Moda precisam ter alguma coisa positiva. É um legado nosso muito forte de transformar pessoas e lugares. O Ponto da Moda precisa estar perto do cliente, não só para vender, mas para deixar marcas mais fortes, laços mais fortes, experiências com o cliente. Isso é um ponto decisivo, inegociável.

OP - Como a empresa se estruturou após o falecimento do seu pai?

Ana - O Riamburgo é o mais velho, depois a Teresa, depois o Paulo e eu, Ana Luiza. Depois que o papai faleceu, 4 anos depois, o Paulo, que era nosso sócio, nosso irmão, pediu para sair da empresa. Então, tem 30 anos que é Riamburgo, Teresa e Ana. E a mamãe.

OP - E o que vocês fizeram ao longo desses anos?

Ana - A gente enveredou para muitas outras empresas. A gente tem o Grupo Ximenes. E foi para o ramo imobiliário. Só que a mãe do grupo, a raiz, é o Ponto da Moda. Os valores, o legado, o propósito, sempre é inspirado no Ponto da Moda, por isso que a gente tem assim esse valor muito forte com o Ponto da Moda, que foi de onde nasceu tudo.

Eu sou a CEO do Ponto da Moda, a controladoria financeira de todos os ativos do Grupo é com a minha irmã e o meu irmão, o Riamburgo, é da parte imobiliária, de todas as outras áreas do Grupo.

Riamburgo hoje é o presidente do Grupo, eu sou a vice-presidente de negócios e pessoas e a minha irmã é a vice-presidente de ativos. É assim o organograma. E os filhos estão cada um dentro de uma empresa, mas todos estão com ligação com o grupo.

O grupo nasceu de um ano e meio para cá. A gente tinha várias empresas e essas várias empresas eram tratadas todas em seus respectivos lugares. Como a gente fundou o Grupo Ximenes, pegou uma consultoria que falou que nós éramos muito grandes e perguntou porque a gente não se chamava de grupo e se estruturava.

Ana e o "caçula" Chico, o border collie que esbanja simpatia(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Ana e o "caçula" Chico, o border collie que esbanja simpatia

E aí nós estruturamos. E todas as empresas já tinham as pessoas encaixadas. Quando a gente se intitulou como grupo Ximenes, as pessoas continuavam nos cargos.

Agora a gente está montando o Centro de Serviço Compartilhado, que é o CSC, então a gente está respirando esse grupo. A TI, o setor pessoal, o financeiro, a contabilidade e o jurídico serão uma coisa só, do Grupo Ximenes. Mas cada um respira o seu marketing, dá um B2B danado, nas negociações com os veículos, com a própria agência. Mas essas vão respirar o grupo.

E a maior oportunidade é para as pessoas, como a gente tem esse propósito de transformar pessoas e lugares no Grupo Ximenes, que veio do Ponto da Moda, a gente consegue dignificar a vida de muita gente. Você é uma colaboradora do Ponto da Moda, eu sou do Shopping Eusébio.

Riamburgo Ximenes, irmão da Ana, com as filhas Marília e Mariana; e Ana, com Regis e Renan. (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Riamburgo Ximenes, irmão da Ana, com as filhas Marília e Mariana; e Ana, com Regis e Renan.

Então, nessa brincadeira, você pode se ver em qualquer outra empresa do Grupo, você pode se preparar e estar pronta para pegar o cargo de outras gestões de outras empresas de Grupo.

OP -A chance de crescimento em um Grupo é muito maior, correto?

Ana - Pronto. Exatamente.

OP - Vocês falam muito nessa parte do crescimento interno do colaborador. Vocês pensam em ter uma escola, um centro de formação?

Ana - Estamos pensando, ainda não estruturamos, mas está no radar. A gente pega muita gente jovem e está conseguindo implantar uma cultura organizacional forte. E é muito legal, porque a gente consegue fazer com que eles pensem grande. É quebrar o paradigma, ver o trabalho como um prazer, como uma identificação.

Hoje, as lojas de shopping superam as lojas de rua(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Hoje, as lojas de shopping superam as lojas de rua

OP - O Ponto da Moda nasceu como loja de rua. Hoje esse ainda é um forte para a marca?

Ana - Hoje são sete lojas de shopping e seis de rua. Tanto é que tem o jingle: “É no Ponto da Moda que a gente se vê, várias lojas no Centro esperam você”. E agora mudou. Porque são mais lojas de shopping.

Ficou: “É no Ponto da Moda que a gente se vê, nossas lojas esperam você”. Realmente, a mudança do mercado para shopping, a gente evoluiu com isso também.

OP - É muito diferente trabalhar com varejo hoje e como era 20, 30 anos atrás?

Ana - Totalmente. Nós sempre pensamos em inovação. Esse é um valor muito forte nosso. Inovação, crescimento, pensar em como queremos estar no futuro. E a gente veio com esse pensamento dessa mudança.

Há mais de uma década que a marca une informação de moda a preços acessíveis(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Há mais de uma década que a marca une informação de moda a preços acessíveis

A informalidade no Ceará, por ter a vocação da costura, é muito grande. Tem muitas feiras, muito mercado informal. E o Ponto da Moda era aquela loja “pancadão”, era preço, o slogan do Ponto da Moda era “O rei dos preços baixos”.

E a gente viu que não dava mais para estar oferecendo produto e preço. A gente precisava “embalar” o Ponto da Moda com muito mais. Então, começamos a pensar na moda, respirar moda, já que o nome era Ponto da Moda. E a gente quis transformar as lojas realmente em magazines.

A gente começou há 13 anos essa transformação, de repensar quem seríamos nesse futuro. Mudamos a missão para “encantar as pessoas com moda”, chamamos um nome aqui do Ceará que é uma referência, o Cláudio Silveira.

Ele passou uns cinco anos dando consultoria nas lojas e transformando com a gente essa nova história do Ponto da Moda, (para) nos tornarmos referência de vestuário, magazine no Ceará.

Hoje, então, a gente está com essa missão bem focada, de encantar as pessoas com moda e produtos maravilhosos, com preços maravilhosos. A gente não esquece nunca do preço, é produto e preço justo.

OP - A senhora falou que essa mudança veio 13 anos atrás…

Ana - Porque se nós mudássemos da noite para o dia, as pessoas iriam estranhar, porque a gente batia muito preço. A gente estava na TV e nas rádios 365 dias do ano. Era produto, preço, produto, preço. E era um supermercado de roupa. A gente abria a loja com 30 pessoas dentro, fácil.

O cantor Wesley Safadão foi um dos responsáveis por popularizar o jingle do Ponto da Moda(Foto: Acervo pessoal/Divulgação)
Foto: Acervo pessoal/Divulgação O cantor Wesley Safadão foi um dos responsáveis por popularizar o jingle do Ponto da Moda

Era uma coisa bem, bem animada. E o mercado da informalidade foi entrando muito forte e a gente querendo estruturar esse nosso futuro, resolveu transformar realmente em magazine, embalar a loja com visual merchandising de loja, com produto, com preço, com tendência.

Esse foi o nosso pensamento. Isso foi mudando ao longo do tempo. Quando foi em 2019, a marca era bem colorida. E a gente precisava mudar de agência para falar mais em moda. Aí nós abrimos uma concorrência entre três agências. E engraçado que a agência que veio disse que ia mudar inclusive a logomarca.

Aí foi uma virada. Hoje é o círculo com o nome Ponto da Moda, nas cores amarelo e azul, só ficaram duas cores. Tiramos as barras, os coloridos e a gente entregou aí esse novo Ponto da Moda.

A mudança da marca do Ponto da Moda está entre as transformações ao longo dos anos(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal A mudança da marca do Ponto da Moda está entre as transformações ao longo dos anos

OP - Vocês sempre foram muito abertos a mudanças ou havia uma certa resistência?

Ana - Nenhuma resistência. A gente muda por hora lá na loja. Todo dia a gente pensa em mudar. Olhamos se estamos certos, se estamos no caminho certo, perguntamos o que precisa melhorar. Processo, rotina. Muda organograma, a gente muda toda hora que precisar, a gente é aberto total à mudança.

OP - Você é psicóloga com especialização em recursos humanos. Como a sua formação acadêmica impacta no seu dia a dia de gestora?

Ana - Muito, porque o capital humano está nos nossos três pilares: colaboradores, clientes e fornecedores.

E como a gente está no dia a dia com nossos colaboradores, é uma coisa de abraçar, de dignificar, de se colocar no lugar do outro, de olhar no olho do outro, de sentir se eles estão felizes, sentir que aquilo ali é uma grande família, a família Ponto da Moda. Todo mundo que entra precisa ser abraçado dessa forma.

Ana Ximenes na loja Ponto da Moda, no Shopping Eusébio(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Ana Ximenes na loja Ponto da Moda, no Shopping Eusébio

A gente tem GPTW, inclusive ganhou esse ano a 19ª colocação do GPTW de melhores empresas para trabalhar no Ceará. E do varejo cearense, só o Ponto da Moda tem certificado e isso é um orgulho muito grande, porque é uma coisa feita por eles.

OP - Você foi eleita lojista do ano. Para você, falta uma representatividade feminina à frente de grandes empresas no Ceará, ainda?

Ana - Eu acho, eu acho que é uma cultura ainda meio machista. Fomos criados como pessoas e não como homem e mulher. Eu gosto muito de falar isso porque as pessoas gostam de categorizar. Eu vejo a todos como pessoas. Todo mundo tem sonhos, tem ideais, tem propósitos.

Os filhos Regis e Renan fazem parte da terceira geração do Ponto da Moda e do Grupo Ximenes(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Os filhos Regis e Renan fazem parte da terceira geração do Ponto da Moda e do Grupo Ximenes

E eu acho que se você tiver pronta, preparada para brilhar na sua carreira, no teu propósito, no que tu busca, não interessa quem você é e de onde você veio. Independente de raça, língua, religião, gênero, é uma pessoa que está buscando um sonho que ela pode realizar, independente de ser o que for.

Me chamam muito para palestras, "como uma mulher bem-sucedida’" Eu digo que por acaso eu sou uma mulher. Eu nunca botei muro, nenhuma barreira, porque eu sou mulher. E eu não me troco por homem nenhum. Eu acho que tudo que homem pode pensar e fazer, a gente também pode fazer.

O limite está na tua cabeça, então na hora que você tira isso, você pode voar alto. Tem muito isso de, como mulher, como pessoa, buscar o teu espaço, estar preparada para se impor, se empoderar, dentro do teu ser, da tua personalidade. E isso é o que me move, sempre foi.

E eu sempre me coloquei assim, e sempre tive muito espaço. O meu irmão sempre empoderou muito a mim e a minha irmã, sempre foi muito igual. Sempre fomos pessoas tratadas por igual, pesos iguais, tudo igual, então eu sempre me vi assim.

Inauguração Ponto da Moda North Shopping Jóquei 7 de julho de 2023(Foto: Acervo pessoal/Divulgação)
Foto: Acervo pessoal/Divulgação Inauguração Ponto da Moda North Shopping Jóquei 7 de julho de 2023

OP - Como vocês preparam a empresa para as próximas gerações, para esses valores continuarem em alta e para empresa ao mesmo tempo continuar em expansão?

Ana - Hoje nós somos Grupo Ximenes e o Ponto da Moda é uma empresa do Grupo. Os meninos começaram a entrar há 12 anos. Sou eu, o Riamburgo e a Teresa. A Teresa tem dois filhos, o Riamburgo tem duas filhas e eu tenho três filhos.

Assim, a linha de sucessão são sete e os meninos foram criados iguais a gente: desde pequeno vão trabalhar, tem o legado do trabalho muito forte, do respeito, da humildade, do ser gente, de olhar no olho do outro, de se posicionar no lugar do outro. E esses meninos começaram a se ‘encaixar’, no Ponto da Moda, no Grupo Ximenes.

E está muito bonito o trabalho, porque como eu lhe digo, e eu afirmo que isso é inegociável, o respeito pelas pessoas, o respeito em ter uma empresa que fala de propósito e o propósito é muito forte, que é transformar pessoas em lugares. Então eles nasceram nisso. E é incrível como eles se adaptaram.

'Todo mundo teve que subir a escada. A escada da humildade, do respeito, do propósito, do legado, de entender tudo isso, de ter dentro deles essa raiz que foi passada para gente'(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal 'Todo mundo teve que subir a escada. A escada da humildade, do respeito, do propósito, do legado, de entender tudo isso, de ter dentro deles essa raiz que foi passada para gente'

E a coisa mais bonita é saber que o Grupo Ximenes, o Ponto da Moda e a todas as empresas do Grupo, tem sucessão, não por serem nossos filhos, é por meritocracia total. Não existe “o filho da Ana está no cargo porque é filho dela”, nunca.

E os meninos são muito mais cobrados que a gente, porque a gente diz logo: ou entrega resultado ou esftá fora. Então eles correm atrás de resultado. E passaram por todos os cargos também. Nenhum está na na área de gestão por estar. Ninguém chegou lá de paraquedas.

Todo mundo teve que subir a escada. A escada da humildade, do respeito, do propósito, do legado, de entender tudo isso, de ter dentro deles essa raiz que foi passada para gente. Hoje eles estão em cargos de gestão, mas por meritocracia total e toda hora digo que, se não tiver resultado, não dá, porque eu não vou comprometer o emprego de 600 pessoas diretamente. Então, tem que ter entrega, tem que ter resultado.

OP - E se seus filhos não tivessem no caminho do Ponto da Moda, do Grupo Ximenes?

Ana - Tudo bem. Eu quero que sejam felizes. Nunca impusemos nada. E o grupo trata como oportunidades exponenciais. Nós éramos três irmãos, hoje são três irmãos e sete filhos/primos, que é a terceira geração.

E eles dizem muito: nós queremos negócios exponenciais, nós estamos prontos para qualquer negócio exponencial que possa vir agregar o grupo. Essa terceira geração está vindo com um olhar bem aberto para o mundo.

Tanto é que agora abrimos uma securitizadora e vamos inaugurar uma usina fotovoltaica, já ideias dos meninos. Está a todo vapor. Eles têm muito esse sangue de empreendedorismo, eles têm essa sede.

É muito engraçado e isso é muito bom, porque éramos três e conseguimos fazer muito. Agora são sete. A minha filha faz medicina e eu digo muito a ela, que tem que estar pronta para ver esse mercado da medicina como um negócio também. Que ela pode empreender.

Abertura segunda loja Ponto da Moda (Senador Pompeu) 1986 (Foto: Acervo pessoal/Divulgação)
Foto: Acervo pessoal/Divulgação Abertura segunda loja Ponto da Moda (Senador Pompeu) 1986

OP - Quais são os planos de expansão?

Ana - A gente hoje está com 13 lojas, nós vamos para 20 lojas até 2029.

OP - Só no Ceará?

Ana - Aí é a grande pergunta. Se não der, a gente já vai para outro estado. Mas a gente quer eliminar todas as possibilidades do Ceará. Porque a gente tem um nome muito forte no Ceará, é mais fácil o marketing.

 

 

OP - Qual legado o Ponto da Moda deixa para o mercado e a economia cearense?

Ana - Transformar pessoas e lugares. A gente inaugurou uma loja agora no José Walter e quando a gente abriu, as pessoas disseram: "Que coisa boa, chegou um Ponto da Moda", “Era tudo que a gente precisava, uma loja desse estilo, com moda masculina, feminina, infantil, cama, mesa e banho”.

E isso é em cima do nosso legado, do nosso propósito, transformar pessoas e lugares. E a gente transforma muito as pessoas, a gente tem várias histórias de pessoas que começaram como serviços gerais, que hoje são gerentes. Tem pessoas que começaram como vendedoras, hoje são gestoras. Todo e qualquer processo seletivo começa internamente.

A gente só vai pro mercado se realmente a gente não tiver pessoas prontas. Hoje no nosso quadro (de funcionários), 40% têm nível superior ou estão cursando. Nós estamos na era do conhecimento e do trabalho. Se não for o conhecimento e o trabalho, a gente não vai para lugar algum.

Você pode ter a força do trabalho, mas se você não tiver conhecimento, não consegue caminhar. E se você tiver muito conhecimento e não tiver a força do trabalho também não vai. Então acho que o sucesso é feito desses dois laços: conhecimento e trabalho.


Linha do tempo na história do Ponto da Moda

 

O POVO - Renan, a sua entrada foi justamente quando o Ponto da Moda passou por grandes mudanças. Como foram elas, do seu ponto de vista?

Renan Ximenes - Há 12 anos fizemos uma pesquisa de mercado, porque a gente constatou dois movimentos de mercados distintos, mas que acabavam necessitando uma mudança interna de propósito de marca.

Uma era a questão da informalidade, cresceu muito aquela questão de feiras, os centros comerciais. Outra era a forma de consumir moda do nosso público, classes C e D, que mudou muito. Antigamente o cliente não tinha informação de moda, não chegava. Era só a roupa de cinco, seis personagens da novela.

E aí começou um movimento de mudar isso, dele receber estímulo, informação. E acabaram que esses dois movimentos distintos levou a mudanças de focar em moda com preço. E logo depois a gente trouxe o Cláudio Silveira, como consultor.

Renan também cresceu nas lojas(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Renan também cresceu nas lojas

E combinou também com com a nossa entrada, eu e o (primo) George, foi mais ou menos há 12, 13 anos  que a gente entrou. Meio que a gente deu uma oxigenada também. Foi quando entramos de vez, trabalhando fixo mesmo, porque trabalhar, trabalhamos a vida toda.

Daí a gente precisou dar uma atualizada, mas que a gente hoje se sente muito confortável. A gente está aqui (no Shopping Eusébio), está no RioMar Kennedy, no North Shopping e competindo com os grandes magazines de forma super tranquila.

Com essas mudanças a gente conseguiu encontrar um nicho de mercado muito único e muito próprio da marca. A gente não quer copiar as marcas, quer ter a nossa identidade própria e acaba que estamos conseguindo isso.

Os irmãos Renan e Regis fazem parte da terceira geração do Ponto da Moda(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Os irmãos Renan e Regis fazem parte da terceira geração do Ponto da Moda

A marca está com 40 anos, madura, que mostra maturidade, consegue atender vários públicos, passa credibilidade. Hoje a gente conquistou um marco. Antigamente o nosso público sempre foi de 35 a 45 anos. Há 5 anos atrás, o segundo lugar passou a ser dos 25 ao 35, porque, antigamente, o segundo lugar era 45 a 55 anos.

Então, mostra que com esse movimento da marca está conseguindo se comunicar com essas gerações mais novas.

OP - Quais os desafios e as facilidades de se trabalhar com uma marca com quatro décadas de mercado?

Renan - O maior desafio é deixar sempre a marca atual. A gente tem muito essa preocupação dentro de casa de ser uma marca relevante. Ela tem 40 anos, mas permanece jovem. Quando a gente fala de 40 anos, até na nossa campanha, fala muito mais do que vem do que da nossa própria história.

E esse é um desafio muito grande. É fazer com que as pessoas olhem para o Ponto da Moda não com saudosismo, mas sim como uma loja atual que se reinventa e se reconstrói a cada dia. Então esse é o grande desafio.

Mas a oportunidade, e o grande diferencial, é uma marca que está no DNA do cearense. E é um motivo de muito orgulho, muita felicidade, de ser uma marca que está enraizada, no dia a dia das pessoas, na cultura. Prezamos muito por isso. A gente tem um cuidado enorme com todos os detalhes da loja.

Primeiramente com o colaborador, passando pelo relacionamento com o cliente, a forma muito clara, muito direta de conversar, são pilares que a gente mantém e acredita que esse é o grande segredo do sucesso.

OP - Você faz parte da terceira geração. Como você encara esse legado? O que você aprendeu com a geração anterior e o que deseja passar para as próximas?

Renan - Primeiro a gente vê esse legado como uma responsabilidade muito grande, porque todos os três diretores e sócios sempre passaram para gente a questão do compromisso com o colaborador, com o parceiro, com o fornecedor. A gente diz que o que a mais temos orgulho dentro do Ponto da Moda nesses 40 anos é de nunca ter atrasado um boleto.

'E o amor que a gente tem, que carregamos por todos que fazem parte do Ponto da Moda, nos dá muita tranquilidade de pegar toda essa responsabilidade e conduzir a empresa da melhor forma'(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal 'E o amor que a gente tem, que carregamos por todos que fazem parte do Ponto da Moda, nos dá muita tranquilidade de pegar toda essa responsabilidade e conduzir a empresa da melhor forma'

Tem muito essa questão de saber da responsabilidade que a gente carrega dentro de si, porque são várias famílias que impactamos direta e indiretamente. Tem muito o compromisso. E, do outro lado, tem a tranquilidade, nós nascemos aqui dentro. Eu tenho 29 anos de vida e 29 anos de Ponto da Moda.

Eu andei aqui dentro, eu conheço todos os caminhos, a gente vinha trabalhar quando pequeno nas férias. E isso nos dá uma tranquilidade de conhecer, de ter um um acesso a todas as áreas da empresa.

E o amor que a gente tem, que carregamos por todos que fazem parte do Ponto da Moda, nos dá muita tranquilidade de pegar toda essa responsabilidade e conduzir a empresa da melhor forma.

Regis, Ana, Marília e Renan Ximenes(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Regis, Ana, Marília e Renan Ximenes

OP - Como é a presença digital da marca, hoje?

Renan - É muito consolidada. Toda essa jornada digital, de comercialização, iniciou em 2017, então é uma jornada que já tem há muito tempo. A gente iniciou no televendas, a gente fazia televendas com entregas. Logo depois veio o WhatsApp. Quando a gente lançou o WhatsApp foi um sucesso, um pouco antes da pandemia.

Então quando a pandemia chegou, nós já tínhamos um posicionamento muito forte nas mídias sociais e no WhatsApp. E tínhamos as rotas logísticas, as rotas de entrega. Então a gente só deu escala a todo esse trabalho que já vinha sendo feito há muito tempo.

Hoje a gente tem três frentes, que é o WhatsApp, uma frente muito forte. A gente atende hoje no WhatsApp em torno de 300 clientes por dia e garante entrega em até 48 horas num raio de 30 km das nossas lojas, mas chega a entregar em 4 horas, é a nossa média de entrega.

'nós temos também a frente do site próprio, o Lojas Ponto da Moda, que é um projeto que a gente está investindo muito também'(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal 'nós temos também a frente do site próprio, o Lojas Ponto da Moda, que é um projeto que a gente está investindo muito também'

Temos a frente dos marketplaces. Hoje somos parceiro da Shopee e do Mercado Livre. E nós temos também a frente do site próprio, o Lojas Ponto da Moda, que é um projeto que a gente está investindo muito também, onde é muito importante diversificar, não são só as lojas físicas que precisam de diversificação, os canais digitais também precisam ter esse todo esse padrão.

E também estamos trabalhando muito forte com essa nova tendência - ainda não vendemos, mas está no nosso planejamento -, como TikTok Shop, que a gente deve estar entrando no próximo ano.

 

 

Bastidores da entrevista no Ponto da Moda

 

 

Um jingle-patrimônio cultural

O jingle do ponto da moda (“É no Ponto da Moda que a gente se vê, várias lojas no Centro esperam você”) foi criado por Assis Santos, da SG Propag. “Ele era um gênio do marketing, pegava as coisas muito rápido e nessa genialidade dele veio o jingle”, explica Renan Ximenes, diretor de marketing e estratégia do Ponto da Moda.

Logo depois, diz Renan, com a música já consolidada, o Wesley Safadão popularizou a música, entoada no ritmo de forró. Durante seis anos, a marca fez parceria com o cantor.

Recentemente, na comemoração dos 40 anos do Ponto da Moda, a empresa levou todos os colaboradores e parceiros para um camarote de um show do Safadão. “Quando ele cantou (o lingle), chega é de arrepiar, o público cantava como uma música. Então a gente fica muito feliz, dele representar a nossa marca e toda a essência que a gente quer passar como marca”, completa o diretor.

 

 

Projeto Legados

Esta entrevista exclusiva com Ana Ximenes para O POVO dá início à sexta temporada do projeto Legados.

São cinco entrevistas com grandes empresários para contar a base que sustenta seus princípios, valores e tradições familiares que estão sendo passados para as novas gerações. E, ainda, o legado empresarial para o Ceará.

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